Blog do Mario Magalhaes

Marisa Letícia ofendeu cultura da casa grande ao virar ‘dona Marisa’
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Mário Magalhães

Marisa Letícia Lula da Silva (1950-2017) – Foto Leonardo Soares/ Xinhua/ Agência Estado

 

Marisa Letícia Lula da Silva (1950-2017), cuja morte cerebral anunciaram hoje, e Ruth Cardoso (1930-2008) foram mulheres de trajetórias diferentes cuja principal semelhança foi terem sido casadas com presidentes da República.

Por oito anos, viveram a condição do que se convencionou chamar de primeira-dama.

Mesmo depois de seus maridos deixarem o Planalto, continuaram a ser tratadas como ''dona Marisa'' e ''dona Ruth''.

Nos últimos tempos, com o Brasil castigado por intolerância e obscurantismo, muita gente deu para desqualificar a denominação ''dona Marisa'' para a mulher de Luiz Inácio Lula da Silva.

Por sinal, muitos que nunca consideraram impróprio se referir à mulher de Fernando Henrique Cardoso como ''dona Ruth''.

Essas não são as críticas _procedentes_ que observam cacoete machista no tratamento de mulheres de governantes. Quando o governante é mulher, seus maridos não se transformam em ''seu'' Fulano de Tal. Continuam a ser Fulano de Tal. Logo, prefiro Marisa Letícia e Ruth, não ''dona Marisa'' e ''dona Ruth''.

Mas a bronca de alguns tem outro motivo, o preconceito: como chamar de ''dona'' uma mulher como Marisa Letícia?

Ela nasceu pobre, em casa de pau a pique, aos nove anos cuidava de crianças para ajudar no sustento da família, na adolescência ralava como operária em fábrica, teve estudo precário.

Ao contrário de Ruth Cardoso, antropóloga com carreira brilhante.

Conheço superficialmente a história de ambas, mas não são poucos os testemunhos de qualidades de Ruth e Marisa Letícia.

A aversão de alguns à segunda se deve à permanência da cultura da casa grande & senzala num dos países mais desiguais do planeta.

Esse atraso um dia rendeu a afirmação de que o Brasil não poderia ter um presidente encanador (na verdade, Lula trabalhou como torneiro mecânico) se havia um Jean-Paul Sartre (FHC) à disposição.

Por isso a transformação da antiga operária em ''dona Marisa'' soou como ofensa a cabeças passadistas.

Marisa Letícia morre como indiciada em inquérito da Polícia Federal. A história esclarecerá quem tem razão.

E registrará o incômodo que Marisa Letícia foi para certas almas.

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Tudo é história: Clarice Lispector e Janio de Freitas contra a censura
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Mário Magalhães

blog - janio e clarice

Em 1968, a escritora Clarice e, de gravata, o jornalista Janio – Foto ''Nos tempos da Guanabara''

 

Em junho de 1968, dezenas de artistas e intelectuais foram ao Palácio Guanabara em campanha contra a censura. Uma turma de responsa, como a cantora Nara Leão, as atrizes Tonia Carrero e Odete Lara, o ator Paulo Autran, o deputado Márcio Moreira Alves.

Conversaram com o governador Negrão de Lima. O Estado da Guanabara correspondia ao hoje município do Rio de Janeiro.

Entre os visitantes-manifestantes estavam a escritora Clarice Lispector e o jornalista Janio de Freitas. Os dois aparecem na imagem acima. Clarice (1920-1977) tinha 47 anos. Janio completava 36 naquele mês. São quase desconhecidas fotografias dele naquela época.

A foto, da qual o blog publica um detalhe, está no livro ''Nos tempos da Guanabara: Uma história visual''. Organizado por Paulo Knauss, Marly Motta e Ana Maria Mauad, saiu em 2015 pelas editoras Bazar do Tempo e Edições de Janeiro. Reúne imagens feitas por fotógrafos das assessorias de comunicação dos governos da Guanabara (1960-1975).

Em dezembro de 1968, com o Ato Institucional número 5 da ditadura, a censura ficaria mais severa, em vez de abrandar.

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Passeio pelas ruínas de Eike Batista no Rio
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Mário Magalhães

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No mundo dos sonhos, o hotel Glória estaria hoje assim – Imagem divulgação

Hotel Glória, no centro do Rio de Janeiro

Mas está assim, com obras paradas desde 2013 – Foto Ricardo Borges/Folhapress

 

Para quem gosta de correr, caminhar ou pedalar, a pista-ciclovia da praia de Botafogo (dois quilômetros de extensão, até o monumento a Estácio de Sá) e do parque do Flamengo (mais três) são uma tremenda pedida. Dez mil metros, ida e volta. Quem se distrair um pouco da natureza exuberante poderá observar as ruínas de projetos de Eike Batista no Rio.

Na altura da Kombi do Emir, a melhor água de coco do pedaço, vê-se de um lado a baía de Guanabara e o Pão de Açúcar. Do outro, prédios do morro da Viúva, entre eles um abandonado. É o edifício Hilton Santos, velha sede do Clube de Regatas do Flamengo. Eike o tinha arrendado para transformá-lo em hotel. Não o transformou e devolveu-o. O lugar teve seus dias de prestígio. Lá morou gente boa como o casal de grandes cantores Nora Ney (''ninguém me ama, ninguém me quer…'') e Jorge Goulart (''eu sou o samba, a voz do morro sou eu mesmo, sim, senhor…''). Hoje, contam, é abrigo de ratos.

Mais adiante, jaz o hotel Glória, com as obras de reforma interrompidas. Ao comprá-lo, o grupo X divulgou ilustrações de como a antiga hospedaria de presidentes ficaria. Ilusão. O que se vê é a edificação degradada pelo tempo e pela reconstrução que ficou pela metade ou a ela nem chegou. Não ''um dos dez melhores hotéis do mundo'', a ambição do empresário em seu auge. No alto, parece haver uma parede de tijolos nova, aumentando em um piso o hotel. Seria, talvez, um puxadinho. Eike passou o Glória nos cobres, e no final ninguém se interessou em ressuscitar o estabelecimento. Em seu projeto de hotel de altíssimo luxo, ele eliminara o teatro. Prometeu abrir uma sala noutro lugar. Nem hotel, nem teatro. Escombros.

Andando um pouquinho mais, já não se avista na Marina da Glória o iate rebatizado com o nome fantasia Pink Fleet (sua identidade legal é Spirit of Brazil VII). Era o imenso barco com que Eike pretendia faturar com passeios e eventos pela baía. Falam que está num estaleiro e vai virar sucata, se é que já não virou.

Quem volta para casa depois de correr, pega o metrô para o trabalho e desembarca na estação Cinelândia, por uma das saídas dá com o imponente edifício Francisco Serrador. Hotel de fama no passado, lá funcionava a boate Night and Day. Foi no Serrador que o vice-presidente Café Filho e o jornalista Carlos Lacerda se encontraram para tratativas secretas em agosto de 1954, às vésperas do suicídio do presidente Getulio Vargas. Repaginado como prédio de escritórios, foi alugado inteiro pelo conglomerado X. Eike Batista subia e descia por um elevador exclusivo, como informou o repórter Elio Gaspari. Na frente do Serrador, um tapume de madeira impede que se veja a entrada. O edifício está fechado desde que Eike desistiu do contrato de aluguel antes do prazo previsto.

Continuando na linha do metrô, dá-se com o Maracanã sem pai nem mãe. Em 2013, uma empresa X integrou o consórcio, controlado pela Odebrecht, que assumiu o estádio. Dois anos mais tarde se desligou da operação, vendendo sua participação para a empreiteira.

Em muitos cantos da cidade voltou-se a ouvir a barulheira de tiros onde por anos prevalecera o silêncio. O programa das unidades de polícia dita pacificadora fracassou sobretudo por pensar que se cura violência exclusivamente com segurança pública, e não com intervenção e redenção sociais. Eike Batista chegou a contribuir com R$ 20 milhões por ano para as UPPs, mas se retirou.

Ele desembolsou milhões para a candidatura olímpica de 2016, cedeu jatinho. Elefantes brancos se espalham sem uso menos de um ano depois dos Jogos. Isso, porém, não é culpa de Eike Batista.

Sua culpa é integrar uma quadrilha de corrupção, conforme provas suculentas recolhidas pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Na qualidade de corruptor. O discurso de empreendedor se desmoralizou quando Eike associou-se _a confiar nas investigações_ à roubalheira. Porque corruptor também é ladrão. Paga ilegalmente servidor público em jogadas que assaltam o Estado, logo os cidadãos. Sem corruptor não há corrupto e vice-versa.

O empresário preso em Bangu conversou com o repórter Henrique Gomes Batista, que viajou ao seu lado no voo de Nova York para o Rio. O repórter escreveu: ''Eike deu pistas de como vê os crimes de que foi acusado. Mesmo sem citar nomes, disse que o esquema de corrupção dos governos é maior do que se imagina e que não era ele quem oferecia carona para governantes em seu avião – 'os políticos que o pressionavam a fazer isso'. Ele afirmou ainda que, em geral, os empresários são vítimas dos políticos corruptos. E disse, com todas as letras, que acredita que não errou''.

Em suma, pensa que o corrupto é ladrão, mas não o corruptor.

Tem muito a aprender, pelo visto.

Se as denúncias estão corretas, Eike Batista e Sérgio Cabral são ambos criminosos. Nenhum é vítima.

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Ao aderir aos ‘fatos alternativos’, Fifa rouba dias de glória do futebol
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Mário Magalhães

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Uma entidade sombria, inimiga do futebol – Foto Arnd Wiegmann/Reuters

 

Até a grama devastada do Maracanã sabe da última da Fifa: como contou o repórter Jamil Chade, a entidade empenhada em demonstrar renovação teima em não reconhecer os campeões mundiais de clubes pré-2000.

Os condutores da máquina de fazer dinheiro às custas do futebol mantêm a decisão dos tempos do ex-presidente Joseph Blatter, afastado depois de falcatruas se tornarem públicas.

Devo estar doido. Jurava que no dia 12 de dezembro de 1993 cobrira em Tóquio o bi tricolor, ao lado dos colegas Jorge Araújo e Andréa Fornes. Abria assim a cobertura: ''O São Paulo conquistou ontem o bicampeonato mundial de clubes. É o maior triunfo da história de clubes brasileiros de futebol, ao lado dos dois títulos planetários do Santos (1962/63). Derrotou o Milan por 3 a 2. O gol da vitória foi marcado pelo atacante Muller, a quatro minutos do final. 'Foi a vitória da fantasia contra um time aplicado, que parece uma máquina', disse o meio Toninho Cerezo, 38, o mais velho jogador em campo''.

De acordo com a Fifa, o confronto entre os campeões europeu e sul-americano não valeu o título mundial. Logo, Telê Santana teria passado pela vida sem ganhar um mundial.

Pelo mesmo critério, o Santos do Pelé jamais venceu um mundial, a despeito das conquistas de 1962 e 1963. No segundo jogo da disputa do bi, Almir Pernambuquinho jogou no lugar do rei. Esquentado como era, se ainda estivesse aqui, o Almir sairia no braço com os cartolas da Fifa.

O título da Copa Rio de 1951, comemorado pela torcida do Palmeiras como um mundial, também não é reconhecido. E isso que a Fifa já chancelara o clube como ''primeiro campeão global''. Mas, sustenta agora, não mundial.

O comunicado da sexta-feira é categórico: só são ''considerados oficialmente pela Fifa como campeões mundiais de clubes'' os de 2000 em diante. Também tive o privilégio de cobrir este mundial, vencido pelo Corinthians no Maracanã. O Vasco foi vice.

Uma das minhas maiores alegrias, pelo visto, foi sonho e delírio: os 3 a 0 do Flamengo sobre o Liverpool, no Japão. Assisti à partida pela TV, na madrugada de 13 de dezembro de 1981. No primeiro tempo, enquanto o rubro-negro extasiava, um locutor, salvo engano o Léo Batista, informou que o general Jaruzelski dera um golpe de Estado na Polônia. Se prevalecesse a lei da Fifa, o Zico nunca teria sido campeão mundial. Mas foi.

Nem o Grêmio do Renato Portaluppi, autor dos dois gols na vitória de 2 a 1 sobre o Hamburgo em 1983.

O que a Fifa acha vale tanto quanto a palavra do Donald Trump. O presidente dos Estados Unidos vive a era dos ''fatos alternativos''. Noutras palavras, carentes de lastro na realidade. Sem eufemismos: mentiras.

O futebol é muito maior do que um Gianni Infantino, o presidente da Fifa, e toda a sua turma.

Dias de glória como aqueles em que tantos heróis se tornaram campeões mundiais não podem ser roubados na mão grande, como faz a entidade desmoralizada por tanta roubalheira.

A Fifa aderiu aos fatos alternativos.

Por mais que minta, não mudará a história, nem roubará o que foi conquistado em campo.

Saudade do Telê.

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Sabáticas: O pedido esquecido
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Mário Magalhães

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Fitinhas do Senhor do Bonfim, em Salvador – Foto Janduari Simões/Folhapress

 

Lá tem vatapá, lá tem caruru, lá tem munguzá, “então vá!”, cantou Dorival Caymmi em Você já foi à Bahia? Lá, aonde eu vou sempre que dá, tem também fitinhas do Senhor do Bonfim. Ganhei uma em Salvador em maio de 2013. De volta da viagem, dei-a para um moleque que amarrou a fita azul-escuro no pulso esquerdo. A cor reverencia Ogum, orixá guerreiro.

Não lembro se levou os três nós, como reza a tradição, para que três pedidos sejam atendidos. Mas sei que, para os desejos se realizarem, é preciso que a fitinha rompa ao natural, desgastada pelo tempo. E que seu dono não conte a ninguém a graça almejada. Incrível, o guri guardou segredo, ao menos do pai.

Para infelicidade dele, passou-se um ano e meio, e a fitinha não arrebentou, pois é fabricada em poliéster. E olha que o menino não é nenhum membro da fedorenta tribo dos toalhas secas. Além de tomar no mínimo um banho diário, faz natação em piscina saturada de cloro, atravessou o verão no mar e expõe a fita às intempéries que deveriam despedaçá-la.

Antigamente, a matéria-prima era algodão, e em poucos meses as fitas artesanais se desmilinguiam. Elas mediam 47 centímetros, a mesma extensão do braço direito da estátua de Cristo do altar-mor da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim. Meses atrás anunciaram a retomada da confecção com o tecido de outrora. Tomara que seja para valer.

Com a fita indestrutível, imagine a frustração de quem confiou no amuleto e desejou o hexa, o regresso do Tobey Maguire ao papel de Homem-Aranha ou, por pura inveja do sujeito, que o George Clooney só arrumasse namorada baranga.

Sobreveio a bordoada de 7 a 1, o Andrew Garfield assumiu a pele do Peter Parker, e o conquistador de cabelos grisalhos se casou mais uma vez, novamente com uma noiva bonitona.

Não sei o que é pior: não alcançar a graça por falta de contrapartida ou se esquecer dos pedidos. Aqui em casa, a moda infantil das pulseirinhas de borracha chegou e partiu, e nada de a teimosa fitinha do Bonfim se entregar.

Outro dia, tanto tempo depois de o garoto incorporar a fita azul ao seu visual, perguntei-lhe se recordava o que pedira. Ele respondeu, desanimado: “Não sei… Acho que não… Não”.

(Publicado originalmente na revista Azul Magazine, novembro de 2014)

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O silêncio de Pezão, Paes e velhos aliados sobre a roubalheira de Cabral
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Mário Magalhães

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Pezão, apadrinhado por Cabral – Foto Gustavo Serebrenick/Brazil Photo Press/Folhapress

 

No mesmo dia em que a Operação Eficiência revelou mais roubalheiras do ex-governador Sérgio Cabral, seu sucessor Luiz Fernando Pezão voltou a fugir do assunto: o que ele pensa de ter sido vice, candidato apadrinhado e parceiro de gestão de quem é apontado pelo Ministério Público como chefe de organização criminosa que saqueou os cofres públicos do Estado do Rio?

Por que manteve até a semana passada Marco Antônio Cabral, filho do ex-governador, como secretário da pasta que tocou a reconstrução do Maracanã, na qual Sérgio Cabral teria embolsado propina de R$ 60 milhões?

Por que, diante da vastidão de provas contra Cabral, o Estado ainda não tomou providências para recuperar a dinheirama que, conforme os procuradores da República, o antigo governador roubou?

Eis o que disse Pezão ontem: ''Temos que saudar que as instituições estão funcionando, as apurações em andamento, e é preciso dar o direito de defesa […]. Mas a gente tem consciência, fui coordenador de infraestrutura, e muito das questões levantadas, principalmente no TCU, já respondemos a mais de 95% das questões. Temos muita tranquilidade nas obras que fizemos''.

É óbvio que direito de defesa precisa ser assegurado a todos, como foi até a genocidas nazistas levados a tribunal que os condenou à morte.

Tribunais de contas, a não ser que o atual governador esteja excessivamente desinformado, têm integrantes mencionados em delações na Lava Jato como beneficiários de propinas _inclusive no Rio. O que não significa que a corrupção seja generalizada nesses órgãos. Mas que certas decisões são consideradas suspeitas e estão sendo escrutinadas pela Política Federal.

Pezão age como se o pronunciamento sobre seu chapa Sérgio Cabral fosse uma decisão de cunho exclusivamente pessoal. Não é. Como administrador público, o governador tem obrigação de se manifestar sem evasivas sobre os danos ao Estado. Por que Pezão cala?

O mesmo raciocínio vale para o ex-prefeito Eduardo Paes, que alcançou o posto depois de ter sido bancado no PMDB por Cabral.

E o vice-governador, Francisco Dornelles, o que pensa?

Idem velhos aliados de Sérgio Cabral, desde os seus tempos de PSDB até os amigos do PT. A palavra está com Lula e Aécio.

É relevante ouvir opiniões também em relação à outra ponta da bandalheira, a dos corruptores: o que Dilma, Serra, Marina, Cristovam, Gabeira e o sem-número de políticos que receberam contribuições eleitorais de Eike Batista têm a dizer sobre a ordem de prisão do empresário que, concluiu a investigação, corrompia Sérgio Cabral?

É silêncio demais para tanto barulho.

O primeiro a quebrá-lo deveria ser Pezão.

P.S.: talvez a história venha a esclarecer se alguns silêncios decorrem de medo de possível ''delação premiada'' de Sérgio Cabral.

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Ilegais que ‘decidiram’ eleição nos EUA são primos dos haitianos de 2014
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Mário Magalhães

O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, discursa em Daytona Beach, na Flórida

Donald Trump, na campanha eleitoral de 2016 – Joe Raedle/Getty Images/AFP

 

Já como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump disse que perdeu no total de votos para Hillary Clinton em 2016 porque a adversária foi beneficiada pela escolha de milhões de imigrantes ilegais.

Portanto, milhões de sufrágios irregulares, pois imigrante ilegal não tem direito de votar para a Casa Branca.

A democrata colheu 2,9 milhões de votos a mais que o republicano. Haja voto ilegal…

Trump ganhou devido à excentricidade do sistema eleitoral do seu país, que permite eleger quem foi sufragado por menos cidadãos que outro candidato.

O delírio trumpiano lembrou um semelhante, ao sul do Equador, em 2014.

Dilma Rousseff superou Aécio Neves no segundo turno com vantagem de 3,5 milhões de eleitores.

Um certo pessoal começou a espalhar que a diferença teria sido menor se Dilma não tivesse importado dezenas de milhares de haitianos para votar. Alguns arriscaram mais: os haitianos definiram o pleito.

Os imigrantes ilegais de Trump devem ser primos dos haitianos de Dilma.

E o presidente dos EUA deve estar bebendo a mesma água batizada que muita gente consumiu aqui em 2014.

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R$ 215 mil: dívida de IPTU do vice de Crivella não é assunto privado
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Mário Magalhães

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Fernando Mac Dowell, vice de Crivella e secretário de Transportes – Foto Júlio César Guimarães/UOL

 

Procurado pelo repórter Luiz Ernesto Magalhães para se pronunciar sobre sua divida de IPTU, R$ 215.483,67, o engenheiro Fernando Mac Dowell negou-se a comentar: ''É uma questão de cunho pessoal''.

Mac Dowell é vice-prefeito do Rio e secretário municipal de Transportes.

No dia da posse, 1º de janeiro, o prefeito Marcelo Crivella cogitou aumentar o Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana. Mostrou-se mais preocupado com imóveis isentos de IPTU: ''Chegou o momento de nós conversarmos com eles [donos de imóveis], até porque todos estão cientes da crise que nós enfrentamos. A cidade do Rio de Janeiro está no contexto de crise federal e estadual, e é preciso se resguardar''.

A casa de Mac Dowell na Barra da Tijuca não é isenta do imposto. Mesmo assim, ele não o pagou de 2001 a 2016, com exceção de 2014. A Prefeitura do Rio tenta na Justiça receber o dinheiro do agora vice-prefeito. Os mais de R$ 215 mil consideram também, em porcentagem bem menor, a taxa de lixo em atraso.

Se Crivella quiser mesmo recursos para não asfixiar ainda mais as ações sociais do município, já sabe por onde começar: conversando com certo dono de imóvel.

A dívida de Mac Dowell talvez fosse assunto particular antes de ele chegar ao governo. Talvez.

A partir daí, inexiste controvérsia: trata-se de informação de interesse público, e não de ''questão de cunho pessoal''.

Ninguém o obrigou a concorrer a vice-prefeito.

De novo, ecoa a mensagem manjada: faça o que eu digo, e não o que eu faço.

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Palavras malditas (23): bala perdida
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Mário Magalhães

Máquina de escrever de meados dos anos 1960 – Reprodução “The New York Times''

 

Bala perdida é vernáculo. Significa, conforme o Michaelis, ''bala que se extraviou de seu alvo e seguiu uma direção diferente''. Autoridades públicas adotam a denominação. Especialistas em segurança, também. Idem organizações não governamentais. O jornalismo, mais ainda.

Portanto, Sofia Lara Braga teria sido vítima de uma bala perdida na noite do sábado. A menina de dois anos e sete meses brincava no parquinho do Habib's do subúrbio carioca de Irajá. Baleada no rosto, morreu. Ou melhor, foi morta _a conjugação verbal com frequência falseia a história.

Pelo que contaram, policiais militares trocavam tiros com um homem que dirigia um automóvel e não parou ao ser abordado. Havia nos arredores uma denúncia de roubo de carro. A picape conduzida pelo fugitivo capotou, e ele foi preso.

A dor, o horror e a infâmia da morte de Sofia não serão mais ou menos suaves por causa de uma palavra ou outra. Mas a permanência da expressão bala perdida contribuiu para matizar o ato mortal: alguém, mesmo sem intenção de ferir a menina, disparou a bala que lhe roubou a vida: o ladrão ou um PM.

Bala perdida abranda a condição de matador, mesmo quando este não pretendeu matar, embora tenha aceito o risco de puxar o gatilho, ao atacar ou defender. O que mata é o tiro, a bala, que não é perdida.

As ditas balas perdidas não se perdem. São achadas nos corpos atingidos ou, se transfixantes, depois de os atravessarem. O que se perde é a vida.

Às vésperas da Páscoa de 2015, um menino de dez anos, Eduardo de Jesus, filho de José e de Maria, foi morto a bala no complexo do Alemão. Engrossou o noticiário sobre balas perdidas. Na verdade, um policial alvejou-o sem querer enquanto tiroteava com traficantes de drogas.

Sempre que episódios dessa natureza são catalogados como bala perdida, é mais difícil desenvolver uma reflexão urgente: é pertinente, numa perseguição por roubo ou furto de carro, atirar se há risco de matar uma criança?

O jornalista Janio de Freitas escreveu tempos atrás: ''Inocentes vão caindo sob a designação cínica de vítimas de 'bala perdida', um salvo-conduto para a impunidade da matança''.

É isso aí.

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Cor não pega. E racismo? (Blocos deixam de cantar ‘O Teu Cabelo Não Nega’)
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Mário Magalhães

blog - cor não pega. e racismo

Artiguete na ''Folha de S. Paulo'', 07.fev.2007

 

Salve, salve, eis uma boa notícia: blocos de Carnaval do Rio e de São Paulo resolveram não cantar mais ''O Teu Cabelo Não Nega'', marchinha de Lamartine Babo e dos Irmão Valença.

Blocos de responsa, como o Mulheres Rodadas. É o que informa a coluna ''Gente Boa''.

Demorou, mas o gesto de civilidade e bom senso começa a se espalhar.

Dez anos atrás, escrevi na ''Folha de S. Paulo'' um artiguete sobre ''O Teu Cabelo Não Nega'', reproduzido acima. E abaixo:

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Cor não pega. E racismo?

Há três quartos de século, a cada fevereiro renova-se a pergunta: e se a cor pegasse? Foi logo depois da Revolução de 30 que Lamartine Babo lançou ''O Teu Cabelo Não Nega'', co-autoria dos irmãos Valença. Como ensinam as professoras às crianças com direito a creche, cantam os versos: ''Mas como a cor não pega, mulata/ Mulata eu quero o teu amor''.

Pela lógica da letra, a resposta é inescapável: se a cor pegasse, tchau, mulata, bye-bye, amor.

Sem dúvida, marchinhas carnavalescas não foram feitas para consagrar a lógica. Bem como, se a maldição do politicamente correto se impusesse à folia, a festa correria o risco de acabar.

''Cabeleira do Zezé'' tem mesmo certa dose de homofobia. Porém não se compara à idéia implícita, do mal em si, na cor da mulata.

Argumentam que era a cultura da época, sem conotação discriminatória. O racismo, contudo, é inegável. E, fosse para eternizar cabeças do passado, talvez valesse reintroduzir a escravidão e a chibata.

Incomoda que se trate como natural o que não é. Dizer que só topa a moçoila porque cor não se transmite é barbaridade, não liberdade poética. Reconsiderar o que cantamos desde o berço não implica avalizar desvarios autoritários como cartilhas para sufocar a arte. Muito menos proibir a composição de Lamartine Babo e dos Irmãos Valença, criadores da marcha que, reinventada por Lalá, virou sucesso.

O Brasil só teria a ganhar se, vez por outra, pensasse sobre aberrações como essa. Fizesse isso em relação a outras tantas expressões de segregação, quem sabe fosse menos racista. Da minha parte, recuso-me a perpetuar o ''espírito d'antanho''.

Quando o bloco vai de ''O Teu Cabelo Não Nega'', ouço calado. É o tal protesto silencioso.

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