Blog do Mario Magalhaes

Palavras malditas (18): literalmente

Mário Magalhães

Máquina de escrever de meados dos anos 1960 – Reprodução “The New York Times''

 

Rosicleia Campos se descabela de tanto vibrar, enquanto uma judoca treinada por ela peleja com bravura. Na TV, o locutor se esgoela:

''A Rosicleia literalmente luta no tatame!''

O espectador-torcedor procura na tela a ótima técnica tentando aplicar um o soto gari ou outro golpe. Não a encontra, porque, literalmente, Rosicleia não está no tatame.

Numa desinteligência entre amigos, um deles literalmente soltou os cachorros, conta alguém.

Pode ter mesmo soltado os cachorros, boa metáfora. Literalmente, não. Até porque o sujeito gostava de gatos. Desdenhava cães.

O advérbio literalmente significa ''em modo literal; estritamente; expressamente; à letra''. É a definição que consta do terceiro dos cinco volumes do Caldas Aulete, dicionário publicado em 1958 pela Editora Delta.

Em verbete maior, no Houaiss: ''1. de modo exato, à letra, letra por letraevite revelar o conteúdo do documento l.›2. de forma total, absoluta; completamente, verdadeiramenteo toró deixou-a l. ensopada''.

Numa explicação curtinha: ao pé da letra.

O presidente literalmente se suicidou vale para Getulio Vargas.

Se o suicídio for figura de linguagem, sem sentido literal, é outro papo: alguns presidentes deram tiros metafóricos no próprio peito.

Ao acordar de manhã, com uma ressaca hedionda, é razoável o bebum falar que foi atropelado por um caminhão.

Se disser que foi atropelado literalmente, não deveria estar em casa, e sim no hospital ou no cemitério.

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