Blog do Mario Magalhaes

Palavras malditas (6): um verdadeiro

Mário Magalhães

Na “Tribuna da Imprensa”, em 1986, eu escrevia em máquinas – Foto multtclique.com.br

 

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Quase sempre que um substantivo vem antecedido da expressão ''um verdadeiro'', o emprego destas duas palavras é impróprio ou excessivo. Na primeira hipótese, não há verdade, mas falsidade.

''Uma verdadeira multidão'' pode significar duas coisas: que não se trata de multidão ou que é multidão. Num caso, ''uma verdadeira'' engana. No outro, não faz sentido, a não ser que se destine a diferenciar ''uma verdadeira multidão'' de ''uma falsa multidão''. Nonsense.

Viveu ''verdadeiro horror'' pressupõe a existência de ''falso horror''. Como será o horror falso?

Exemplo de excesso é o namoro que se transforma em ''um verdadeiro inferno''. Como não se conhece o inferno fake, a não ser na ficção, o namoro era mesmo ''um inferno''.

O ''quase'' do primeiro parágrafo se deve ao fato de que às vezes ''um verdadeiro'' tem tudo a ver, como em ''um verdadeiro amigo'', contraste com falsos amigos.

E, na arte, ''um verdadeiro gol de placa'' constitui recurso retórico e poético para aclamar o golaço do inesquecível Fio Maravilha. Um achado do Jorge Ben(jor), e não ''um verdadeiro'' achado.