Blog do Mario Magalhaes

Palavras malditas (26): confessou

Mário Magalhães

Máquina de escrever de meados dos anos 1960 – Reprodução “The New York Times''

 

Volta e meia leio e ouço que fulana ou fulano, uma dita celebridade, ''confessou'' que ama o namorado ou a namorada.

Imagino que o ser amado não valha nada. Se valesse, não haveria confissão. É previsível amar a pessoa que se namora. A confissão seria: namoro sicrana, mas a odeio.

Um jogador de futebol, escreveram, ''confessou'' ter se preparado com afinco para o jogo decisivo.

Tal comportamento é o esperado. Confissão seria revelar que passou a semana na gandaia, indo direto da farra para os treinos matinais. Que, em vez de caprichar na alimentação, comeu rabada com agrião todos os dias e entornou uma garrafa de caninha por refeição. Que não cuidou do tornozelo inchado, maltratando-o em acrobacias na suruba.

Nenhum policial confessa que se empenha na solução de um crime.

Quem confessa é o Temer, que confessou terem ocorrido alguns dos diálogos mais cabeludos gravados pelo Joesley. E o Mantega, que confessou ter conta secreta na Suíça.

Depois de gritos, urros e sussurros, ninguém diz para o parceiro: confesso que você me dá prazer.

Eis uma confissão possível: todos esses gemidos não passam de fingimento.

A confissão pressupõe algo errado, inapropriado.

Uma vez me disseram: confesso que adoro brigadeiro.

Do jeito que eu gosto de chocolate, confissão para mim seria proclamar aversão ao doce.

E o ator que ''confessou'' amar o cinema?

Onipresente nas telas, a confissão só teria sentido se ele achasse degradante trabalhar em filmes.

Nenhuma ''confissão'' é mais disparatada do que uma publicada num Dia das Mães: ''Amo a minha mãe'', ''confessa'' beltrana.

A mãe dela deve ser uma megera.

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