Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : setembro 2014

Tinhorão, um perfil (por Fabio Victor)
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Mário Magalhães

Tinhorão em sua casa, na região central de São Paulo

Tinhorão no seu apartamento, em São Paulo – Foto Zé Carlos Barretta/Folhapress

 

O pesquisador e crítico musical José Ramos Tinhorão é o tipo do sujeito que se esforça para que a gente não goste dele.

Nem sempre consegue, como se vê pelo soberbo perfil escrito por Fabio Victor, publicado neste domingo pela “Ilustríssima” e reproduzido abaixo.

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Tinhorão de volta à roda

Por Fabio Victor

Sentado com as pernas abertas numa cadeira de boteco, as mãos espalmadas sobre os joelhos, José Ramos Tinhorão observa a roda de samba em sua homenagem. Na véspera, 7 de fevereiro de 2014, ele completara 86 anos, daí o motivo da festa.

“Estou vivendo com você/ Num martírio sem igual/ Vou largar você de mão/ Com razão/ Para me livrar do mal”, canta a roda, formada pelos grupos Terra Brasileira e Samba de Terreiro de Mauá, por amigos e admiradores.

A “Para me Livrar do Mal” seguiram-se “Se Você Jurar”, “Nem É Bom Falar”, “Choro Sim”, “O Que Será de Mim”, “É Bom Evitar” e várias outras de Ismael Silva: em deferência ao homenageado, o repertório daquele sábado se concentrou no sambista do Estácio, o preferido de Tinhorão.

É uma tarde abafada do mais quente verão da história de São Paulo, e a roupa do aniversariante –calça, camisa, sapatos e meias sociais– destoa do clima de praia no asfalto instalado na calçada do bar da Vila Buarque, região central de São Paulo.

Destoar faz parte da natureza do velho historiador e crítico. José Ramos Tinhorão ganhou visibilidade nacional nos anos 1960 por, em artigos na imprensa, menosprezar a bossa nova enquanto o Brasil e o mundo a celebravam, algo que repetiria anos mais tarde com o tropicalismo ou qualquer manifestação que em seu entender maculasse a pureza das raízes populares da música nacional.

Ali nasceu o rótulo de crítico radical marxista e nacionalista que, alimentado à farta pelo próprio, jamais se descolaria dele, mesmo porque, ao se reinventar como historiador da cultura urbana, o rotulado manteve seus dogmas e sua ortodoxia.

Quem passa pelo cruzamento das ruas General Jardim e Dr. Vila Nova nem se dá conta de quem seja o senhor festejado, o que parece compreensível.

Faz pelo menos menos dez anos que Tinhorão quase sumiu do noticiário, a não ser por reportagens e resenhas eventuais, em geral dedicadas a livros que lança ou reedita.

É, ao que tudo indica, um isolamento involuntário, pois, mesmo aos 86, ele continua lúcido, inquieto e prolífico.

(Para ler a íntegra, basta clicar aqui.)


São Paulo (grátis): Cursinho da Poli promove fórum sobre políticas públicas
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Mário Magalhães

blog - cursinho poli politicas publicas

 

A partir desta terça-feira, 23 de setembro, o Cursinho da Poli promove em São Paulo um fórum dedicado à discussão de políticas públicas.

O evento, gratuito, é aberto também a quem não estuda ou trabalha no cursinho.

As inscrição devem ser feitas por e-mail, informando nome completo e telefone: cultura@cursinhodapoli.org.br

A programação completa consta do release reproduzido abaixo.

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Discutir a ocupação urbana de uma metrópole como São Paulo é também refletir sobre o que influi em nossa vida e quais são nossas possibilidades de sermos agentes de mudança. Ser cidadão não é apenas morar na cidade, mas também participar ativamente para torná-la um espaço mais justo, saudável, seguro, democrático e solidário. Falar de políticas públicas é falar da vida na cidade.

Nesse sentido, o Cursinho da Poli organiza uma série de debates para discutir temas que permeiam a vida de todo cidadão: o Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo, educação, cultura e voto, saúde, segurança pública e mobilidade urbana, entre outros.

Além disso, está programado um workshop gratuito de fotografia no Minhocão, orientado pela fotógrafa Amanda Areias. A ideia é que, por meio de diferentes formas de olhar a cidade, se busquem elementos com que contar sua história. No fim, haverá uma exposição aberta ao público.

Os encontros acontecerão na unidade Lapa, à avenida Ermano Marchetti, 576. A atividade é gratuita e aberta ao público externo. Os alunos podem se inscrever na Secretaria de Alunos, e os não alunos devem enviar e-mail com nome completo e telefone para cultura@cursinhodapoli.org.br. As vagas são limitadas.

O quê: Fórum de políticas públicas na cidade de São Paulo

Quando: Confira a programação completa abaixo

Onde: Unidade Lapa – Avenida Ermano Marchetti, 576

Quanto: atividade gratuita

Inscrições:

Alunos: Secretaria de Alunos

Não alunos: Enviar e-mail com nome completo e telefone para cultura@cursinhodapoli.org.br

Programação:

23/09 – 16h – Mesa de abertura: “O Plano Diretor Estratégico da Cidade de São Paulo”

Convidado:

Nabil Bonduki, vereador e relator do projeto do Plano Diretor Estratégico, professor da FAU/USP.

25/09 – 17h – Mesa de debates: “Educação, Cultura e Voto”

Convidados:

Giba Alvarez, professor e especialista em Educação, diretor da Fundação PoliSaber.

David Carolla, ator e produtor, participa de movimentos culturais da cidade.

Representante do tema “Voto” a confirmar.

08/10 – 17h – Mesa de debates: “Saúde, Segurança Pública e Mobilidade Urbana”

Convidados:

Paulo Saldiva, médico especialista em poluição atmosférica e professor da Faculdade de Medicina da USP.

Instituto Sou da Paz, organização voltada a políticas públicas de segurança e prevenção da violência.

Daniel Guth, diretor da Ciclocidade, consultor na área de mobilidade urbana.

13 e 15/10 – 17h15 – Workshop de fotografia: “Minhocão – passado, presente e futuro”

As diferentes formas de se olhar a cidade, buscando elementos que ajudam a contar sua história. Ao final, haverá uma exposição. Saída fotográfica no Minhocão: 19/10 às 9h.

Convidada:

Amanda Areias, fotógrafa profissional formada pelo Chicago Photography Center (EUA).

*** preferencialmente, os participantes deverão trazer câmera fotográfica amadora ou profissional ***

22/10 – 17h – Mesa de debates: “Políticas Ambientais Urbanas”

Convidados:

Euler Sandeville, professor e coordenador do Núcleo de Estudos da Paisagem (LabCidade) da FAU/USP.

Paula Freire Santoro, arquiteta urbanista, professora da FAU/USP e membro do Grupo de Gestão da Operação Urbana Consorciada Água Branca.


#CadêoCabral? Ex-governador some da campanha
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Mário Magalhães

O ex-governador Sérgio Cabral: alguém o viu por aí? - Daniel Marenco/Folhapress

O ex-governador Sérgio Cabral: alguém o viu por aí? – Daniel Marenco/Folhapress

 

Um mistério ronda a campanha eleitoral aqui no Rio: que fim levou o ex-governador Sérgio Cabral?

Depois de breve presença na propaganda de seu apadrinhado e correligionário Luiz Fernando Pezão (PMDB), sucessor no governo do Estado e favorito em outubro, o padrinho desapareceu da TV.

É mencionado por seu filho Marco Antônio, candidato a deputado federal cuja eleição é tida como barbada, e na língua ferina (ou felina, como dizia um conhecido meio analfa) dos concorrentes de Pezão.

O candidato à reeleição, que só assumiu o governo em 2014, fala no horário dito gratuito “eu fiz” isso e aquilo, no máximo “nós fizemos”. Mas sem nomear Cabral, o governador por mais de sete anos, período em que Pezão foi vice _antes, na administração Rosinha Garotinho, era secretário.

É evidente que Cabral, que controla a campanha de Pezão, tenta impedir que a sua enorme rejeição contamine o pupilo.

Pezão tem aparecido na campanha com ares de novidade. Sem uma mísera referência ao antecessor que o ungiu candidato.

O sumiço de Cabral é escandaloso, mas nem por isso virou tema jornalístico urgente.

Acabo de espiar a conta de Cabral no Twitter.  Sua mensagem mais recente é de 23 de junho. Desde então, não tuitou para seus 151 mil seguidores.

Ele não foi visto na sabatina de Pezão promovida pelo jornal “O Globo”, nesta sexta-feira.

Já chegou a participar de atividade de rua com o filho futuro deputado.

Depois, nada.

Estará em Paris?

Afinal, cadê o Cabral?

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Eleições mais ideológicas para governador têm base de Dilma x base de Dilma
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Mário Magalhães

As campanhas para governador com mais contraste ideológico, a considerar o barulho do noticiário, são as do Maranhão e do Rio Grande do Sul.

“Ideológico” no sentido clássico, consagrado desde a Constituinte francesa do século 18, de direita versus esquerda.

Apesar de no Brasil, ao contrário do que ocorre na Europa, quase ninguém se identificar como de direita, atitude que empobrece a cultura política.

E de muita gente afirmar que esquerda e direita são conceitos anacrônicos _observação característica de cidadãos de direita, mesmo que assim não se reconheçam.

No Maranhão, os candidatos líderes das pesquisas são Flávio Dino (PC do B) e Lobão Filho (PMDB).

No Rio Grande, Ana Amélia (PP) e Tarso Genro (PT).

Flávio Dino, de esquerda, integra um partido que, diz o nome, assume-se comunista. A agremiação teve muitos militantes mortos e desaparecidos durante a ditadura 1964-1985.

Lobão Filho, de direita, é rebento do seu correligionário Edison Lobão. A família reza pela cartilha do clã Sarney e por ele é apadrinhada. Figura pública da ditadura, o atual ministro e pai de candidato manteve proximidade com o aparato mais repressivo do regime parido com a derrubada de Jango.

A campanha eleitoral de Lobão Filho fustiga Flávio Dino em tom semelhante ao do auge da Guerra Fria, na linha de vermelho come criancinha.

Já para as bandas do Sul a trajetória dos postulantes favoritos ao Palácio Piratini também contrastam como, no futebol, um tricolor e um colorado.

Ana Amélia, de direita, foi entusiasta da ditadura e detentora de cargo em gabinete de senador biônico (figura criada pela ditadura e indicada sem voto popular), que por acaso era seu companheiro (não sei se ainda namorado ou já marido) e filiado ao PDS, sigla herdeira da Arena, o partido da ditadura.

Já Tarso Genro, de esquerda, foi vereador do velho MDB, combateu a ditadura e acabou preso.

O confronto eleitoral gaúcho é um dos com mais nitidez ideológica em muito tempo.

O curioso é que os partidos dos quatro candidatos mencionados integram a base política da presidente da República: PMDB, PT, PP e PC do B dão respaldo parlamentar a Dilma Rousseff e se aliam na coligação que busca reelegê-la (Ana Amélia, contudo, apoia Aécio Neves (PSDB); Lobão Filho, Flávio Dino e Tarso estão com a petista).

Candidatos tão diferentes no mesmo barco _o dos partidos governistas_ são um retrato do espaçoso condomínio de Dilma e das contradições que ele encarna.

Os governos Lula-Dilma foram responsáveis pela histórica redução de pobres e miseráveis no Brasil.

Também fizeram história concedendo aos bancos os maiores lucros desde que a primeira casa financeira foi fundada no país.

E tinha gente prevendo que a campanha de 2014 não seria animada.

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‘O golaço de Emerson Sheik’, por Anderson Olivieri
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Mário Magalhães

Com imensa honra, o blog publica artigo inédito do jornalista Anderson Olivieri.

Não, o Anderson não concorda com o Caio…

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O golaço de Emerson Sheik

Por Anderson Olivieri*

Emerson Sheik está coberto de razão: a CBF é uma vergonha. Aliás, mais que isso. A CBF é uma entidade fanfarrona, amadora e – ao contrário do que exigiu Caio Ribeiro, da Globo – indigna de respeito. Tem cofres cheios por contratos milionários de patrocínio, mas amarga há décadas uma falência moral expressada sobretudo nas figuras de Ricardo Teixeira e José Maria Marin, últimos presidentes.

Estamos em 2014 e, por aqui, Seleção Brasileira e clubes nacionais que a abastecem seguem jogando simultaneamente. Pasmem, chilenos, gregos e chineses: no país do 7 a 1, não se para o Campeonato Brasileiro para o escrete jogar. E quem paga por isso? Normalmente aquele clube que se prepara melhor, prestigiando o produto feito e organizado pela entidade que elabora esse calendário anômalo.

A consequência dessa indecência é que Cruzeiro, Corinthians, Atlético e Botafogo – mais uma vez – terão, por duas rodadas, que abrir mão de seus principais talentos para que, na China e em Cingapura, a Seleção da CBF dispute amistosos que não valem absolutamente nada, a não ser mais dinheiro aos cofres da entidade.

Ou seja, um prejuízo técnico incalculável até para quem possui elenco qualificado e peças de reposição, como o Cruzeiro. Mundo afora, os campeonatos locais são interrompidos nas datas-FIFA porque não há Real Madrid que resista a desfalques de jogadores de ponta.

Dunga falou que entende a situação dos clubes, mas que precisa dar continuidade ao trabalho. Quem não quisesse ter jogador convocado que enviasse um pedido à CBF pois seria atendido, completou. Mentira! O Cruzeiro, há quinze dias, requereu que não sofresse desfalques na reta final do Brasileirão e da Copa do Brasil por causa de convocações. Por que não foi atendido então?

Porque a CBF não respeita nada nem ninguém. Ela avacalha o próprio campeonato que organiza, entremeando-o com sonolentos jogos da Seleção. E tudo indica que, por aqui, ficará por isso mesmo: sem adiamento de rodada, sem paralisação do campeonato, sem reparação aos fornecedores de matéria-prima para a Seleção, sem nada.

Se pudesse, Marin ainda obrigaria os críticos dessa pouca vergonha a ficar caladinhos, sem se insurgir contra toda essa bagunça, como nos tempos áureos da ditadura que ele próprio apoiou e de que participou.

Sim, Sheik, a CBF é uma vergonha. Só faltou você dizer que 7 a 1 foi pouco!

* Anderson Olivieri, 30, advogado, jornalista e escritor, autor dos livros “Anos 90: Um campeão chamado Cruzeiro” e “20 Jogos eternos do Cruzeiro”.


Valdivia e Sheik fizeram de propósito?
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Mário Magalhães

Não sou confidente do Valdivia e do Sheik, nunca estive com eles, por isso não tenho resposta para a pergunta acima.

Mas que fiquei cismado, fiquei.

O meia do Palmeiras entrou no segundo tempo e conduziu sua equipe à virada _perdia por 2 a 0 e chegou ao empate contra o Flamengo.

À medida que o time crescia, o chileno passou a ser marcado com mais vigor. Porém, no lance em que pisou em Amaral e foi expulso, não houve nada demais, além da vantagem física que o parrudo rubro-negro costuma levar.

Será que o pavio de Valdivia é tão curto a ponto de pisar o adversário que estava caído numa jogada sem violência ostensiva?

Sei que ele reconheceu ter feito “uma cagada”.

É provável que não tenha sido, mas que a agressão pareceu ter o propósito de motivar o cartão vermelho, pareceu.

Que motivos Valdivia teria para isso?

Já Emerson Sheik, com o segundo amarelo, foi para a rua e deixou o Botafogo com dois jogadores a menos diante do Bahia _um já tinha sido expulso_, e os visitantes viraram no Rio.

Não acompanhei a partida, então ignoro as circunstâncias do confronto no Maracanã.

Ocorre que a declaração do atacante ao deixar o campo _”CBF, você é uma vergonha”_ pareceu um pouco estranha, por mais que o alvinegro estivesse na bronca com o árbitro.

Não pelo conteúdo. De fato, a CBF é uma tremenda vergonha.

E sim porque Emerson sabia que a frase lhe custaria _vai custar_ gancho além de um jogo.

Sheik não parecia fora de si.

Será que ele buscava uma suspensão? Ou a consagração por ter a coragem de dizer uma verdade?

Deve ser só fantasia minha.

O que tenho como certeza: Valdivia e Emerson, dois admiráveis jogadores, poderiam ter ido ainda mais longe no futebol.

(Não custa enfatizar que há uma diferença gritante entre as duas atitudes: Valdivia pisou em um jogador caído _não há desculpa; Sheik, cabra destemido, falou o que muita gente gostaria de falar, mas é covarde para isso.)

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Ibope mostra Aécio como o falso defunto que levanta do caixão no velório
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Mário Magalhães

Dado como morto por tantos ditos especialistas em política e eleições, Aécio Neves ganhou quatro pontos em poucos dias, e o Ibope flagrou seu salto de 15% para 19% (Dilma caiu de 39% para 36%, e Marina oscilou de 31% para 30%; confira aqui).

A diferença do candidato do PSDB para a do PSB diminuiu de 16% para 11%.

Aécio parece o falso defunto que, também tendo a morte atestada por especialista, no caso um médico, levanta do caixão no próprio velório. Nem os mais próximos acreditam no aparente milagre que os olhos veem.

Se eu soubesse desenhar, faria uma charge assim.

Há, digamos, ex-falecidos que desencarnam de vez minutos mais tarde, e existem os que vivem anos e anos de fartura depois do susto.

Eleitoralmente, pode ser o derradeiro suspiro de Aécio ou o início de uma recuperação mais vigorosa.

Se o Datafolha o descobrir subindo para a casa dos 20%, bem como Marina deixando a dos 30%, a campanha esquentará ainda mais.

Ignoro o relatório do levantamento do Ibope e pesquisas qualitativas das campanhas, mas suponho que a propaganda televisiva de Aécio apontando interseções históricas de Dilma e Marina e apresentando-o como oposição puro-sangue possa ter tido resultado positivo.

A peça é muito bem feita e reivindica o que é fato: nos últimos 12 anos, para o bem e para o mal, os tucanos combateram o governo.

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A cascata do século: Lula não iria substituir Dilma na eleição de 2014?
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Mário Magalhães

Foram meses, anos, da mesma cantilena, repetida à exaustão como um programa de lavagem cerebral: caso Dilma Rousseff patinasse na campanha de 2014, Luiz Inácio Lula da Silva a substituiria na chapa encabeçada pelo PT.

Pois Dilma disputa a eleição com imensa dificuldade, diante da pujança de Marina Silva, do PSB.

O prazo para a troca de candidatos acabou há poucas horas, pontualmente à meia-noite desta segunda-feira 15 de setembro.

Em outubro, o nome na urna eletrônica será o da presidente, não o do ex-presidente.

Nenhuma “informação”, entre aspas, foi tão plantada nos últimos tempos como a troca de Dilma por Lula.

As sementes foram espalhadas por dois tipos de agricultores: petistas que não gostam de Dilma, que perderam prestígio no governo dela ou que temem largar o poder com uma derrota eleitoral; e políticos e empresários que preferem o PT longe do Palácio do Planalto.

Em comum, a plantação pretendia enfraquecer Dilma.

Com o adubo despejado em abundância pelo jornalismo, colheu-se a cascata.

Cidadãos comuns ecoavam que Lula voltaria, conforme tinham lido, assistido ou ouvido nos meios de comunicação.

Houve jornalistas que bancaram o regresso de Lula. Até agora, neste 16 de setembro, ainda não se manifestaram.

Sempre há uma explicação. Lembro-me dos tempos em que, repórter esportivo, eu cobria o cotidiano da CBF. Havia um colega que vivia publicando “furos”, novamente entre aspas, que não se confirmavam. Para o cascateiro, o vexame das informações falsas não o constrangia. Ele providenciava novas “reportagens”, contando que reuniões “na madrugada” haviam mudado planos e decisões anteriores.

É possível que Lula (mais) e Dilma (menos) considerassem a hipótese de, em cenário muito sombrio para eles, o antigo presidente concorrer neste ano. Mas bater o martelo, nunca bateram, e é provável que esta nunca tenha sido a perspectiva.

Quando a propaganda sufoca o jornalismo, dá nisso: desinformação.

A brilhante jornalista e ensaísta norte-americana Janet Malcolm errou ao generalizar e ao aparentemente buscar a polêmica fácil. Mas eu tenho relido com desamparo a abertura do seu “O jornalista e o assassino” (Companhia de Bolso, tradução Tomás Rosa Bueno):

“Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável”.

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Em revés dos censores da história, Marighella enfim é tema de vestibular
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Mário Magalhães

blog - marighella vestibular uerj

Em episódio raríssimo no país, o vestibular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) apresentou neste domingo 14 de setembro uma questão em que o revolucionário baiano Carlos Marighella (1911-1969) foi personagem. A pergunta de múltipla escolha caiu no capítulo de ciências humanas. Está reproduzida acima.

A despeito de sua imensa projeção no exterior e relevância no Brasil do século XX, Marighella até hoje não é admitido nos livros escolares nacionais. Continua a ser um brasileiro maldito.

O estrago à memória provocado por certa historiografia que o baniu se expressa nas acaloradas controvérsias contemporâneas sobre Marighella. Muitos de seus partidários e muitos de seus opositores conhecem pouco sua trajetória.

Sabem pouco tanto para se identificar mais com ele quanto para rejeitá-lo com mais fervor.

A ausência de Marighella nos ensinos médio e superior constitui desonestidade intelectual e crime de lesa-história.

Seria um despropósito os manuais de colégio promoverem ou condenarem o deputado, militante comunista e guerrilheiro. Deveriam é contar escrupulosamente o que ele fez e deixou de fazer.

A sobrevivência desse manto de silêncio ofende a democracia. Ensina-se, como se deve ensinar, quem foi o brilhante anticomunista Carlos Lacerda (1914-1977). Se, no Brasil, Lacerda teve muito mais fama e influência que Marighella, mundo afora ocorreu o contrário.

Marighella foi espionado por serviços secretos como a Central Intelligence Agency norte-americana e o KGB soviético. O jornal francês “Le Monde” chamava-o de “mulato hercúleo”. O semanário “Time”, dos Estados Unidos, de “mulato de olhos verdes” (eram castanhos). Seus escritos ainda hoje inspiram movimentos rebeldes em todo o planeta. O “Minimanual do guerrilheiro urbano” é estudado das academias militares da China às salas de aula de Langley, onde fica a sede da CIA. O filósofo francês Jean-Paul Sartre publicou em sua célebre revista, “Les Temps Modernes”, artigos de Marighella e sua organização guerrilheira, a Ação Libertadora Nacional (ALN). Seu compatriota Jean-Luc Godard, cineasta, ajudou com dinheiro, entregando-o a um colaborador da ALN, o diretor brasileiro Glauber Rocha. O cineasta italiano Luchino Visconti também contribuiu com os guerrilheiros dando um troco. O pintor catalão Joan Miró doou esboços para a ALN leiloar.

No Brasil, Marighella frequentou as primeiras páginas dos jornais, rendendo um sem-número de manchetes, da década de 1930 à de 1960. Enfrentou duas ditaduras, a do Estado Novo (1937-1945) e a instaurada em 1964. Em 1936, preso pelos beleguins da polícia de Getulio Vargas, foi torturado por três semanas. Passou ao todo sete anos e meio em cana. Na Constituinte de 1946, que redemocratizou a nação, foi membro da mesa diretiva e, com seu amigo Jorge Amado, ghost-writer da bancada comunista. Batalhou pelo divórcio, pela separação Igreja-Estado, pela introdução do 13º salário, pelo direito de greve, pela liberdade religiosa e de opinião. Orientou a legendária Greve dos 300 Mil, em 1953. Contra a ditadura nascente, resistiu à prisão e foi baleado e detido em maio de 1964. Em 1968, já na luta armada, o governo ditatorial declarou-o “inimigo público número 1”. Foi capa da “Veja” em novembro de 1968, vivo, e novamente em novembro de 1969, morto. Aos menos 29 agentes da ditadura, armados até os dentes, fuzilaram-no em 4 de novembro de 1969. Ele não portava nem um canivete.

É este brasileiro, que fez fama na Bahia ao responder em versos rimados a uma prova de física, que certos historiadores proibiram ter o nome pronunciado nos colégios. Para eles, não faltam personagens na nossa história, porém Marighella não pode ser um deles.

Sou suspeito, na condição de biógrafo de Marighella. Mas o livro que escrevi não o aclama como herói nem o avacalha como vilão. Narrei o que ele fez, disse e, na medida do possível, pensou. A opinião de cada leitor depende das ideias que tem. A um biógrafo, cabe informar, com a estética mais sedutora possível, para que o leitor chegue ao ponto final apto a formar juízo.

Quando Marighella aparece num vestibular como o da Uerj, o obscurantismo sofre um revés.

A resposta correta da questão 47 é a letra A.

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