Blog do Mario Magalhaes

A cascata do século: Lula não iria substituir Dilma na eleição de 2014?

Mário Magalhães

Foram meses, anos, da mesma cantilena, repetida à exaustão como um programa de lavagem cerebral: caso Dilma Rousseff patinasse na campanha de 2014, Luiz Inácio Lula da Silva a substituiria na chapa encabeçada pelo PT.

Pois Dilma disputa a eleição com imensa dificuldade, diante da pujança de Marina Silva, do PSB.

O prazo para a troca de candidatos acabou há poucas horas, pontualmente à meia-noite desta segunda-feira 15 de setembro.

Em outubro, o nome na urna eletrônica será o da presidente, não o do ex-presidente.

Nenhuma ''informação'', entre aspas, foi tão plantada nos últimos tempos como a troca de Dilma por Lula.

As sementes foram espalhadas por dois tipos de agricultores: petistas que não gostam de Dilma, que perderam prestígio no governo dela ou que temem largar o poder com uma derrota eleitoral; e políticos e empresários que preferem o PT longe do Palácio do Planalto.

Em comum, a plantação pretendia enfraquecer Dilma.

Com o adubo despejado em abundância pelo jornalismo, colheu-se a cascata.

Cidadãos comuns ecoavam que Lula voltaria, conforme tinham lido, assistido ou ouvido nos meios de comunicação.

Houve jornalistas que bancaram o regresso de Lula. Até agora, neste 16 de setembro, ainda não se manifestaram.

Sempre há uma explicação. Lembro-me dos tempos em que, repórter esportivo, eu cobria o cotidiano da CBF. Havia um colega que vivia publicando ''furos'', novamente entre aspas, que não se confirmavam. Para o cascateiro, o vexame das informações falsas não o constrangia. Ele providenciava novas ''reportagens'', contando que reuniões ''na madrugada'' haviam mudado planos e decisões anteriores.

É possível que Lula (mais) e Dilma (menos) considerassem a hipótese de, em cenário muito sombrio para eles, o antigo presidente concorrer neste ano. Mas bater o martelo, nunca bateram, e é provável que esta nunca tenha sido a perspectiva.

Quando a propaganda sufoca o jornalismo, dá nisso: desinformação.

A brilhante jornalista e ensaísta norte-americana Janet Malcolm errou ao generalizar e ao aparentemente buscar a polêmica fácil. Mas eu tenho relido com desamparo a abertura do seu ''O jornalista e o assassino'' (Companhia de Bolso, tradução Tomás Rosa Bueno):

''Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável''.

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