Blog do Mario Magalhaes

Tinhorão, um perfil (por Fabio Victor)

Mário Magalhães

Tinhorão em sua casa, na região central de São Paulo

Tinhorão no seu apartamento, em São Paulo – Foto Zé Carlos Barretta/Folhapress

 

O pesquisador e crítico musical José Ramos Tinhorão é o tipo do sujeito que se esforça para que a gente não goste dele.

Nem sempre consegue, como se vê pelo soberbo perfil escrito por Fabio Victor, publicado neste domingo pela ''Ilustríssima'' e reproduzido abaixo.

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Tinhorão de volta à roda

Por Fabio Victor

Sentado com as pernas abertas numa cadeira de boteco, as mãos espalmadas sobre os joelhos, José Ramos Tinhorão observa a roda de samba em sua homenagem. Na véspera, 7 de fevereiro de 2014, ele completara 86 anos, daí o motivo da festa.

''Estou vivendo com você/ Num martírio sem igual/ Vou largar você de mão/ Com razão/ Para me livrar do mal'', canta a roda, formada pelos grupos Terra Brasileira e Samba de Terreiro de Mauá, por amigos e admiradores.

A ''Para me Livrar do Mal'' seguiram-se ''Se Você Jurar'', ''Nem É Bom Falar'', ''Choro Sim'', ''O Que Será de Mim'', ''É Bom Evitar'' e várias outras de Ismael Silva: em deferência ao homenageado, o repertório daquele sábado se concentrou no sambista do Estácio, o preferido de Tinhorão.

É uma tarde abafada do mais quente verão da história de São Paulo, e a roupa do aniversariante –calça, camisa, sapatos e meias sociais– destoa do clima de praia no asfalto instalado na calçada do bar da Vila Buarque, região central de São Paulo.

Destoar faz parte da natureza do velho historiador e crítico. José Ramos Tinhorão ganhou visibilidade nacional nos anos 1960 por, em artigos na imprensa, menosprezar a bossa nova enquanto o Brasil e o mundo a celebravam, algo que repetiria anos mais tarde com o tropicalismo ou qualquer manifestação que em seu entender maculasse a pureza das raízes populares da música nacional.

Ali nasceu o rótulo de crítico radical marxista e nacionalista que, alimentado à farta pelo próprio, jamais se descolaria dele, mesmo porque, ao se reinventar como historiador da cultura urbana, o rotulado manteve seus dogmas e sua ortodoxia.

Quem passa pelo cruzamento das ruas General Jardim e Dr. Vila Nova nem se dá conta de quem seja o senhor festejado, o que parece compreensível.

Faz pelo menos menos dez anos que Tinhorão quase sumiu do noticiário, a não ser por reportagens e resenhas eventuais, em geral dedicadas a livros que lança ou reedita.

É, ao que tudo indica, um isolamento involuntário, pois, mesmo aos 86, ele continua lúcido, inquieto e prolífico.

(Para ler a íntegra, basta clicar aqui.)