Blog do Mario Magalhaes

Sala, quarto e cozinha: Jair Ventura deveria se lembrar das lições de Joel
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Mário Magalhães

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Jair Ventura: ótimo trabalho no Botafogo – Foto Vitor Silva/SSPress/Botafogo

 

Discordo de quem culpou Jair Ventura pela derrota do Botafogo, por escalar três atacantes no primeiro tempo e, devido à contusão de Camilo, quatro no segundo.

Antes do intervalo, jogaram Pimpão, Guilherme e, mais enfiado, Sassá. Depois, Roger se uniu a eles.

O alvinegro foi jantado pelo Barcelona equatoriano por 2 a 0. No Niltão, resultado merecido.

Futebol é cabeça (defesa), tronco (meio-campo) e membros (ataque). O time da casa não teve tronco.

Mas o problema não foi de escalação. Com a suspensão de Bruno Silva, o técnico trocou por um atacante o volante punido.

A equipe se desequilibrou porque os jogadores de vocação ofensiva não souberam exercer igualmente funções defensivas.

Os volantes Airton e João Paulo foram abandonados.

Mais ainda os zagueiros Carli e, até sair machucado, Emerson Silva.

Todo mundo sabe que a zaga botafoguense é pesada, lenta. E todo mundo sabia que o ataque visitante é ensaboado.

Por isso o sistema defensivo deveria ser mais vigoroso, com os atacantes voltando mais para combater.

Duvido que o treinador não tenha dito isso na preleção. Que não tenha ensaiado, se tempo teve.

Seu erro talvez tenha sido o de superestimar alguns boleiros, supondo-os mais capazes do que são.

O Barcelona liquidou a partida em contra-ataques rápidos pela esquerda, em contraste com a lerdeza dos zagueiros e do lateral Emerson.

Ao ler e ouvir certos comentários, tive a impressão de que o pessoal supõe que, quando opta por três volantes, o técnico investe em retranca.

Não observo isso, inclusive na Libertadores. O Botafogo ousa, busca o gol, dá gosto de ver.

Jair Ventura tem feito ótimo trabalho, a despeito de limitações do elenco.

Mesmo que não tenha dito isso na entrevista depois da derrota, aposto que ele entendeu que perdeu também porque seu meio-campo se esvaziou. Metade do time atrás, metade na frente.

No princípio da carreira, o filho do Furacão foi auxiliar de Joel Santana. Certamente não se esqueceu do que aprendeu.

Aos seus atletas, Joel explica que é preciso habitar a casa inteira, sua metáfora de campo. Suas lições:

''Cada jogador tem o momento certo para estar num determinado lugar em campo. Cada um tem seu setor, seu lugar certo, como os móveis de uma casa''.

''Lugar de geladeira não é na sala, mas na cozinha. A poltrona não tem que estar na cozinha. Futebol é como casa: não adianta ter boas peças mal arrumadas''.

(Qual o lugar mais importante de uma casa e de um time de futebol?) ''A defesa. Ela é como a cozinha. É na cozinha que começa tudo. Quem for arrumar outra parte da casa vai sentir fome e precisar da cozinha. O principal é colocar geladeira, fogão e compartimentos, um auxiliando o outro''.

(E o meio-campo?) ''É a sala de visitas. É o local onde se consegue agrupar mais pessoas. No futebol é a espinha dorsal da equipe. Como a sala, não pode ser desarrumado. Ele se divide para ajudar dois setores, defesa e ataque. Neste caso, é o corredor da casa''.

(E o ataque?) ''É como o quarto. Completa tudo. É a hora da alegria, de sonhar, dormir''.

Ontem faltou sala, a ''espinha dorsal''. Houve gente que ficou no quarto na hora de ir para a sala e para a cozinha.

Acontece.

Graças à muito boa campanha na Libertadores, a vaga do Botafogo nas oitavas de final continua próxima.

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O cara não transava à noite no Danúbio Azul: 2 ou 3 toques sobre Belchior
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Mário Magalhães

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Homenagem a Belchior na praça Roosevelt, em São Paulo – Foto Nelson Antoine/Estadão Conteúdo

 

Duas ou três coisas sobre Belchior, o imortal:

O bardo sobralense participou do comício da Candelária, quando centenas de milhares de manifestantes reivindicaram no Rio eleições diretas para presidente. Ao chegar ao microfone, ele cantarolou seus comentários a respeito de John: ''Saia do meu caminho/ Eu prefiro andar sozinho/ Deixem que eu decida minha vida/ Não preciso que me digam/ De que lado nasce o sol/ Porque bate lá meu coração''. Em versos, disse mais do que se discursasse por horas. Ovacionaram-no. Corria o dia 10 de abril de 1984. Como eu sei? Eu me lembro, estava lá.

Persistem até hoje controvérsias sobre a origem de alguns versos das canções de Belchior. Suas letras, como a de tantos grandes compositores, contêm citações, referências e influências vastas. Augusto Pontes foi um dos intelectuais mais brilhantes do Ceará. Frasista inigualável. Guru de numerosas gerações, da de Belchior à de Paulo Linhares e à de Fernando Costa. ''Apenas um rapaz latino-americano'' teria sido inspirada por uma tirada recorrente de Augusto na boemia, mais ou menos assim: ''Eu sou apenas um rapaz brasileiro, sem dinheiro no banco, sem parentes militares''. A aliteração ''vida, vento, vela, leva-me daqui'', de ''Mucuripe'', parceria de Belchior e Fagner, também seria uma sacada de Augusto incluída na obra-prima da dupla. Não sei se escreveram uma biografia de Augusto Pontes. Eu a devoraria. A de Belchior sai ainda neste ano, de autoria do jornalista Jotabê Medeiros, pela editora Todavia.

Nas transcrições de letras de Belchior publicadas desde o domingo, uma crase muda o sentido da letra. Em ''Tudo outra vez'', ele cantou: ''E um cara que transava a noite no Danúbio Azul/ Me disse que faz sol na América do Sul/ Que nossas irmãs nos esperam/ No coração do Brasil''. O pessoal tem escrito ''um cara que transava à [sic] noite no Danúbio Azul''. O cara não fazia sexo depois depois de o sol partir. Não transava, por exemplo, ''à tarde'' no Danúbio Azul. Transar, no caso, significa curtir, apreciar ou organizar. O que era o Danúbio Azul? Os contemporâneos de Belchior na arte e na cultura cearenses não se lembram de nenhum bar ou estabelecimento com esse nome. O arquiteto Fausto Nilo, um dos maiores letristas da música brasileira, foi amigo de Belchior desde o Liceu do Ceará _Fausto estava um pouco à frente no colégio. Há pouco, por telefone, Fausto disse que o Danúbio Azul deve ser uma criação poética de Belchior. Que, com esse nome, não teria existido, mesmo longe de Fortaleza. Por que o cri-cri com a crase? Porque o cara curtia, apreciava, organizava a noite. Não transava à noite _ao menos na canção genial, é claro.

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Os medos de Belchior
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Mário Magalhães

blog - escute belchior

Sugestão em poste do Rio

 

Três ou quatro semanas atrás, no almoço de domingo aqui em casa, dei um toque sobre a constância do medo nos versos de Belchior. Era dele o CD que tocava. Não dei o toque para qualquer um, mas para uma moça que há mais de vinte anos veio de Fortaleza para o Rio.

Nesse tempo todo, mantivemos uma controvérsia sem solução: desde sempre eu falei que, carioca agauchado, conhecia mais sobre a obra de Belchior e do Pessoal do Ceará do que ela, potiguar-cearense. Ao contrário, pensa a moça. Nunca nenhum dos dois jogou a toalha. Cá entre nós, talvez ela tenha razão. Eu ainda matutei, naquele domingo: e o meu medo? O meu medo é que Belchior não faça mais canções.

Medo bobo. Porque o sobralense já fizera tantas e tão maravilhosas que, mais do que clássico, era eterno. É eterno. A eternidade picada por seus medos. Desde moço, em Na hora do almoço, com a família no centro da sala, comida e tristeza. Quadra sombria. “O seu peito deserta/ Sua mão parada/ Lacrada, selada/ E molhada de medo”. Medo, medo, medo, medo, medo…

O medo negado na parceria bissexta com Fagner, em Mucuripe: “Hoje à noite namorar/ Sem ter medo da saudade/ Sem vontade de casar”. Pois eu tive vontade. Mucuripe é a obra-prima com a mais bela aliteração da música brasileira, “Vida, vento, vela, leva-me daqui”. A moça que veio do Ceará também acha. Tanto ela quanto eu já escrevemos isso. De quem foi o comentário original? Não sabemos, e é melhor mudar de assunto.

Ignoro se a aversão de Belchior a voar era verdadeira. Besteira: toda poesia é verdade. Em Medo de avião, ele pegou pela primeira vez na sua mão. No Pequeno mapa do tempo, tremeu: “Eu tenho medo de que chegue a hora/ Em que eu precise entrar no avião”.

O Pequeno mapa… é seu inventário de medos. O medo de abrir a porta que dá para o sertão da solidão. “Eu tenho medo Estrela do Norte/ Paixão/ Morte é certeza/ Medo Fortaleza/ Medo Ceará.”

Morte é mesmo certeza. Se fosse para imprimir um epitáfio para Belchior, eu escolheria um trecho de Tudo outra vez: “E vou viver as coisas novas/ que também são boas/ O amor, humor das praças cheias de pessoas/ Agora eu quero tudo/ tudo outra vez”.

Se o que se viveu é o que se lembra, não há como eu esquecer Belchior. A não ser que esqueça muito do que vivi. Desde a época em que cantava “mas é você que é mal passado e que não vê”, quando o autor escrevera “mas é você que ama o passado e que não vê”. Eu mitigava os meus medos ao ouvir o verso seguinte: “(Que) o novo sempre vem”.

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Ódio contra greve retrata atraso do Brasil
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Mário Magalhães

Policiais avançam contra manifestantes em SP – Taba Benedicto/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

 

Se eu fosse antropólogo, estudaria um fenômeno curioso e obscuro: por que muitos brasileiros que viajam ao exterior são tolerantes com conflitos sociais no estrangeiro e intolerantes aqui?

Mais pontualmente, por que encaram ou aparentam encarar as greves de lá como episódios do cotidiano democrático e as do Brasil como aberração extremista?

É frustrante ir ao Louvre e dar com a cara na porta, em mais uma paralisação dos funcionários do museu parisiense. Mas ninguém, ou quase, corre às redes (antis)sociais para insultar os trabalhadores franceses. Não os achincalham como vagabundos.

Ao contrário do que se observa nas nossas bandas neste 28 de abril de xingamentos cabeludos.

Não faltam motivos para irritação em viagem. Suponhamos que uma família se hospede em San Sebastián e planeje o passeio de um ou dois dias em Biarritz. Vai de trem. Entre as duas cidades bascas finca-se a fronteira Espanha-França. Naquela manhã, os ferroviários franceses acabam de começar uma greve. Como gostam de fazer greve os ferroviários franceses! Passeio interrompido, no meio do caminho. Mas não se assiste a surto de ódio.

Já, por aqui, multiplicam-se os discursos demonizando a greve geral e os protestos de hoje.

Lá longe, sobretudo na Europa, costumamos aceitar as greves como lances do jogo. Mesmo quando nos contrariam ou atrapalham em incursões a trabalho ou turismo.

É assim também que os cidadãos locais se comportam. Muitos podem não simpatizar com greves e grevistas, porém não têm acessos de cólera. As sociedades aprenderam a conviver com greves, inclusive gerais.

A ojeriza à greve no Brasil, como se ela constituísse anomalia, retrata o nosso atraso cultural e político.

É como se o direito constitucional à greve fosse abuso.

Quando abuso é impedir greves legítimas e legais.

Chilique por causa de greve é atitude autoritária.

E, às vezes, ridícula.

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Greve geral: para brasileiro ver
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Mário Magalhães

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Um dos maiores cineastas em atividade, Ken Loach dirigiu o filme que conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2016.

''Eu, Daniel Blake'' é classificado como drama nas resenhas de cinema. Tragédia, no conceito clássico do teatro, faria mais sentido.

O filme conta a história de um carpinteiro britânico que sofreu um infarto, teve de se afastar do trabalho e pena para superar os constrangimentos legais que dificultam a concessão de benefício público para quem está incapacitado para o serviço ou procura e não encontra emprego.

O Estado lhe nega auxílio por motivo de saúde, embora parecer médico ateste que a cardiopatia não permite trabalhar.

É um confronto assimétrico, entre o poder público e o cidadão só.

Em contraste com a covardia que sofre, Daniel não permite que o ressentimento o impeça de ajudar quem precisa ainda mais do que ele.

O final? Final feliz é ilusão de telenovela.

Como cantou o poeta sobralense, a vida ao vivo é muito pior.

Infortúnios como o do personagem interpretado por Dave Johns são muito mais comuns num país desigual e egoísta como o Brasil.

''Eu, Daniel Blake'' canta a bola do que pode se tornar a vida de quem vai perdendo direitos sociais ou sendo impedido de se socorrer deles.

Um filme para este 28 de abril de 2017.

(P.S.: pelo menos até ontem, ''Eu, Daniel Blake'' podia ser visto no Now, por R$ 11,90).

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Caça às bruxas faria mal ao Flamengo. É preciso mudar, mas sem desespero
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Mário Magalhães

Guerrero lamenta chance desperdiçada contra o Atlético-PR – Foto Cleber Yamaguchi/AGIF

 

Raros ambientes são tão passionais quanto o do futebol.

Vilão para muitíssimos torcedores do Atlético-PR ao falhar no jogo do Maracanã, Thiago Heleno fez ontem uma partidaça em Curitiba, onde o aclamaram como herói.

Nas redes sociais tantas vezes antissociais, o técnico palmeirense Eduardo Baptista era avacalhado, enquanto seu time perdia para o Peñarol. Com a virada, o achincalhe murchou.

Não seria diferente com o clube de maior torcida do país.

Depois da derrota da noite passada para o Furacão por 2 a 1, os rubro-negros cariocas ensaiam uma caça às bruxas, ou aos culpados pelo revés na Arena da Baixada.

Eis do que o Flamengo não precisa no momento: tribunais, ainda que simbólicos, e desespero.

Se acabasse hoje a primeira fase da Libertadores, a equipe estaria classificada.

É possível ou provável que na semana que vem, com uma rodada de antecedência, assegure a vaga nas oitavas-de-final.

Mais uma vez, como no Chile contra a Universidad Catolica, o malogro não decorreu de má atuação. O Flamengo poderia ter vencido.

Quando um dos melhores jogadores em campo é o goleiro adversário, Weverton, é impossível dizer que se jogou mal.

Novamente, chances foram criadas e desperdiçadas. ''Quem não faz leva'' é um clichê do futebol. Mas quem disse que todos os clichês são tolices?

Os visitantes se ressentiram da ausência do seu grande armador, Diego, convalescente de cirurgia em joelho.

Um substituto no ofício de criar, Everton, também estava de molho.

Rômulo jogou, compondo um trio de volantes. Revigorou a marcação, enfraqueceu o ataque.

Uma opção? Matheus Sávio, que entrou no segundo tempo.

O gol (não) feito que Gabriel perdeu não constitui novidade. Atacante batalhador, ele não supera uma deficiência grave: chuta, finaliza mal.

Berrío seria alternativa, porém está suspenso. Até agora, o carismático colombiano mostrou menos do que se esperava.

Muralha falhou, é verdade, no primeiro gol dos donos da casa.

É do jogo. O goleiro tem crédito. Deveria aprimorar saídas do gol e desenvolver a técnica para defender pênaltis.

Rafael Vaz, também no gol inaugural, foi superado no alto por Thiago Heleno. Lance normal. Ganha-se uma bola, outra não.

A julgar pela campanha recente, Donatti, tem de ser titular. Com dores musculares, fez forfait ontem. Rafael Vaz não merece, contudo, ser criticado pelo gol.

Não é hora de inventariar culpas e culpados. É cedo para juízo rigoroso sobre o trabalho de Zé Ricardo.

Mas o time precisa mudar, para multiplicar e aproveitar as oportunidades no ataque. Sem histeria.

Para o confronto com a Catolica, quarta-feira no Maracanã, três volantes seriam excesso de prudência.

Dois centroavantes, como na reta final de ontem, podem incomodar mais o antagonista do que um atacante ciscador.

Noutras palavras, talvez seja melhor Damião ou Vizeu fazer dupla com Guerrero. Gabriel sairia.

Se, enfim, o Ederson estiver recuperado, a qualidade na armação aumentará.

Ah, no domingo tem Fla-Flu. É importante, mas muito menos que a Libertadores.

Para não dizerem que não falei do Atlético-PR: o time é competitivo, cultiva a bola no pé, é bem armado pelo Paulo Autuori, mas não abandona a tendência de recuar demais quando está à frente no placar. Na estreia, contra a Catolica, pagou caro. Ontem, quase.

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Greve geral será a favor de direitos e contra Temer, não em defesa de Lula
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Mário Magalhães

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Protesto no Rio, em março, contra as ditas reformas de Michel Temer – Foto Hanrrikson Andrade/UOL

 

Crescem as adesões à greve geral de depois de amanhã. É impossível prever sua exata dimensão, mas é certo que será a maior demonstração de repulsa às ditas reformas trabalhista e previdenciária.

Eis os termos em que o conjunto das centrais sindicais convocou a paralisação: ''[…] Como alerta ao governo de que a sociedade e a classe trabalhadora não aceitarão as propostas de reformas da Previdência, Trabalhista e o projeto de Terceirização aprovado pela Câmara que o governo Temer quer impor ao País. Em nossa opinião, trata-se do desmonte da Previdência Pública e da retirada dos direitos trabalhistas garantidos pela CLT''.

O ramerrão governista propagandeando a ''modernização'' das relações no trabalho é balela. O que existe é o empenho da administração Michel Temer e do empresariado mais graúdo em retirar direitos conquistados pelos assalariados desde a primeira metade do século XX. Chamam essa garfada pelo eufemismo de flexibilização.

Sua consequência será o agravamento da desigualdade, mal supremo do Brasil. O país é um dos dez mais desiguais do planeta, conforme diagnóstico recém-divulgado pelas Nações Unidas. As mudanças conspiram para quem tem mais ter ainda mais e quem tem menos ter ainda menos. É contra tal retrocesso social que os sindicatos conclamam à greve.

É evidente que ela terá impacto político, inclusive nos arranjos eleitorais rumo a 2018. Quanto mais gente protestar contra Temer e sua política, melhor para postulantes como Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes. E pior para aspirantes como João Doria, Geraldo Alckmin e Aécio Neves, sócios do governo no empreendimento ''reformista''.

O que não significa que a motivação da esmagadora maioria dos grevistas e manifestantes na sexta-feira será endossar esse ou aquele candidato. Muitos têm os seus preferidos e preteridos, porém a greve se organiza com outra plataforma. Reunirá de defensores do mandato constitucional de Dilma Rousseff a quem se associou à deposição da presidente. Dos sindicalistas mais pelegos aos mais combativos (a classificação varia de acordo com a cabeça de cada um).

Nos últimos dias ouviu-se de alguns poucos partidários e opositores de Lula observação semelhante: a greve geral será de apoio ao ex-presidente. Uns pretendem fortalecer o petista com a vitamina dos milhões de braços cruzados. Outros querem esvaziar o movimento, vinculando-o ao antigo governante de alta rejeição (embora lidere com folga todas as pesquisas de intenção de voto para o Planalto). Certos correligionários de Lula cogitaram desmobilizar os militantes que viajarão a Curitiba no dia do interrogatório dele na Justiça Federal (ficou para 10 de maio). Alegaram que a greve geral equivaleria a uma exibição de força do pré-candidato.

Não procede. Participará da greve geral quem considera que Lula é perseguido por Moro; que Moro faz justiça escrupulosamente; que Moro às vezes age como magistrado e às vezes como parte; que Lula abusou de promiscuidade nas relações com empreiteiros, mas não cometeu crimes; que ele é tão criminoso quanto promíscuo; que, à Glória, não se sente em condições de opinar; ou qualquer opção não formulada.

Lula e a operação Lava Jato não são objeto da convocação das centrais sindicais. O que não impede, em ambiente democrático, que grevistas e manifestantes exibam faixas e berrem palavras de ordem contra uns e a favor de outros.

Mas a greve será contra Michel Temer e sua ofensiva contra os direitos dos trabalhadores.

É o presidente quem mais tem a perder depois de amanhã.

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Há 80 anos, ataque aéreo nazista levava horror e morte a Guernica
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Mário Magalhães

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Na tarde de hoje completa 80 anos o bombardeio da aviação nazifascista a Guernica.

Naquela localidade basca viviam ao menos 5.000 pessoas.

A conta dos mortos rompeu a casa da centena.

Bombardeiros e caças da Alemanha de Hitler e da Itália de Mussolini foram empregados no massacre.

O ataque pretendia sufocar a resistência no País Basco aos golpistas, liderados por Francisco Franco, que haviam se sublevado contra o governo constitucional republicano.

A dor e o horror foram eternizados num painel de Pablo Picasso, reproduzido acima, pintado em óleo sobre tela em meados de 1937.

O apoio militar do nazifascismo foi decisivo para o triunfo do franquismo na Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

O 26 de abril de 1937 em Guernica é para sempre.

Ecoa na covardia em curso na Síria destroçada pelo genocídio e onde é difícil identificar o mocinho.

Inspira mentirosos históricos, protegidos por eufemismos como ''pós-verdade'' _o franquismo fraudou fatos e inventou cascatas, buscando se dissociar do ato infame.

E, para quem não congelou o coração, estimula os gritos por ''nunca mais''.

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Palavras malditas (25): estado estável
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Mário Magalhães

Máquina de escrever de meados dos anos 1960 – Reprodução “The New York Times''

 

Talvez para um médico faça sentido _faz?_ o aviso de que um paciente se mantém em ''estado estável'', mesmo sem saber qual era o quadro clínico do doente.

Para quem mal conhece ou ignora a diferença entre mercuriocromo e mertiolate, ''estado estável'', como diagnóstico solitário, pouco quer dizer.

É tão cifrado quanto os hieroglifos de alguns doutores ao preencher a receita.

Ainda assim, o jornalismo não se constrange ao trombetear que o estado de alguém é estável, sem esclarecer se é grave ou não. Reproduz a informação que recebeu do pronto-socorro ou do hospital.

Acontece que ''estado estável'' pode significar que um jogador quebrou o dedo mindinho do pé, e a fratura continua igual.

Ou que um acidentado permanece em estado gravíssimo, sem melhorar ou piorar.

Na selvageria em curso no Rio, todo dia relatam que pessoas baleadas seguem em ''estado estável''.

Mas calam sobre situação não grave, grave ou muito grave.

Nenhum aflito pergunta antes ''está estável?'', e sim ''é grave?''.

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