Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : fevereiro 2015

Oliver Sacks, perto do fim: ‘Não há tempo para nada que não seja essencial’
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Mário Magalhães

Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Oliver Sacks, em 2005 – Foto Moacyr Lopes Junior/Folhapress

 

Com tradução alto nível de Francesca Angiolillo, a “Ilustríssima” publicou o texto do neurologista Oliver Sacks, 81, recém-veiculado pelo “New York Times”.

O médico e escritor norte-americano, atacado por câncer, tem pouca vida pela frente.

O que mais me toca é a afirmação “não há tempo para nada que não seja essencial”.

Por mais que coisas não essenciais possam ser prazerosas, e são, perdemos muito tempo com bundices.

Será preciso antever a bola sete para nos dedicarmos ao mais importante, gratificante e prazeroso?

A seguir, Oliver Sacks:

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Minha vida: o neurologista diante da morte

Por Oliver Sacks

Tradução de Francesca Angiolillo

RESUMO Autor prolífico de livros populares de divulgação científica, o neurologista Oliver Sacks descobriu recentemente metástases, não tratáveis, de um câncer que tem há nove anos. Neste texto, ele fala de como quer viver seus últimos meses e dos esforços necessários para fazer o que chama de um acerto de contas com a vida.

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Um mês atrás, eu me sentia gozando de boa saúde; diria até que de uma saúde de ferro. Aos 81, ainda nado 1.600 metros por dia. Mas minha sorte se esgotou –há algumas semanas, soube que tinha múltiplas metástases no fígado. Nove anos atrás, descobri que eu tinha um tumor de olho raro, um melanoma ocular. Apesar de as radiações e do laser para eliminar o tumor terem me deixado cego daquele olho, era muito improvável que um tumor daquele tipo se alastrasse. Eu estou entre os 2% desfavorecidos pela sorte.

Sinto-me grato pelos nove anos produtivos e de boa saúde que tive após o diagnóstico original, mas agora estou cara a cara com a morte. A doença tomou um terço de meu fígado e, ainda que seja possível atrasar seu passo, o avanço desse tipo particular de câncer não pode ser impedido.

O que me cabe agora é decidir como viverei os meses que me restam. Devo vivê-los da maneira mais rica, profunda e produtiva que puder. Nisso sou encorajado pelas palavras de um de meus filósofos favoritos, David Hume, que, aos 65 anos, sabendo-se acometido por uma doença mortal, escreveu, em um só dia de abril de 1776, uma breve autobiografia. Ele a intitulou “Minha Vida”.

“Conto agora com uma morte rápida”, ele escreveu. “Tenho sofrido pouquíssima dor advinda de minha doença e, o que é mais estranho, apesar do rápido declínio de meu corpo, meu espírito nunca se abateu um momento sequer. […]Possuo o mesmo ardor de sempre pelos estudos, e a mesma alegria na companhia de outras pessoas.”

Tive muita sorte de poder passar dos 80, e os 15 anos que me foram concedidos além das seis décadas e meia que viveu Hume, eu os vivi de forma tão plena de trabalho e amor quanto ele. Nesse período, publiquei cinco livros e terminei uma autobiografia, um bocado mais extensa que a dele, a sair nos próximos meses; tenho vários outros livros quase concluídos.

Hume seguia: “Sou […] um homem de disposição cordial, senhor de si mesmo, de humor franco, social e jovial, capaz de amizade, mas pouco suscetível a inimizades e de grande moderação em todas as suas paixões”.

Nesse ponto minha experiência se afasta da dele. Embora eu tenha vivido amores e amizades e não tenha inimizades reais, não posso dizer (nem ninguém que me conhece poderia) que sou um homem de disposição cordial. Ao contrário, meu caráter é veemente, sou capaz de me entusiasmar de forma violenta e sou extremamente imoderado no que diz respeito a qualquer de minhas paixões.

Ainda assim, uma linha do ensaio de Hume me parece especialmente verdadeira: “É difícil”, escreve, “sentir maior distanciamento da vida do que este que sinto neste momento”.

Ao longo dos últimos dias, eu pude ver minha vida como se a observasse desde uma grande altitude, como se ela fosse uma espécie de paisagem, e com a percepção cada vez mais aguda da conexão entre todas as suas partes. Isso não quer dizer que eu tenha dado minha vida por encerrada.

Ao contrário: sinto-me intensamente vivo, e quero e espero que, no tempo que resta, eu possa aprofundar minhas amizades, dizer adeus aos que amo, escrever mais, viajar, se tiver força para tanto, alcançar novos graus de entendimento e de discernimento.

Isso vai requerer audácia, clareza e franqueza; é uma tentativa de acertar as contas com o mundo. Mas haverá tempo, também, para diversão (e até mesmo para um tanto de tolices).

Sinto uma súbita nitidez de foco e de perspectiva. Não há tempo para nada que não seja essencial. Preciso me concentrar em mim, no meu trabalho, nos meus amigos. Não vou mais assistir ao noticiário na televisão toda noite. Não darei mais atenção alguma à política ou ao aquecimento global.

Isso não é indiferença, mas distanciamento –eu ainda me preocupo muito com o Oriente Médio, aquecimento global, o crescimento da desigualdade, mas esses assuntos não me cabem mais; eles cabem ao futuro. Eu me alegro quando encontro gente jovem e talentosa –inclusive a que fez a biópsia que constatou minhas metástases. Eu sinto que o futuro está em boas mãos.

Para ler a íntegra, basta clicar aqui.


Gol do Flamengo: eu estou cego ou o futebol foi tomado por olhos biônicos
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Mário Magalhães

Madureira e Flamengo empatam por 1 a 1; veja os gols

Eu adoraria proclamar, rubro-negro que sou desde o Big Bang, que tenho certeza de que a bola do zagueiro Bressan entrou mesmo inteira no gol de empate do Flamengo neste domingo contra o Madureira.

Mas não tenho.

Nem estou certo de que não entrou.

Como se sabe, para valer o tento, a pelota inteira tem que ultrapassar a linha. Não pode sobrar nem uma orelha.

Vi fotos e imagens em movimento, tenho minhas desconfianças, mas me falta convicção.

O que mais me espantou ontem foi isso mesmo, a convicção de tanta gente que cravou, na hora e mais tarde, que foi gol legítimo ou que foi invenção a favor do Flamengo.

Minha sensação é de que fiquei cego, ou, se preferirem, visualmente prejudicado.

E que o futebol foi tomado por cyborgs com olhos biônicos, mais precisos do que a maquininha introduzida na Copa, informando se a bola venceu a linha.

Claro que simpatias e antipatias não interferem em julgamentos tão convictos…

De resto, o Flamengo jogou muito mal, e o Madureira, muito bem.

Foi 1 a 1, mas o tricolor poderia ter batido o Mengão.

Se o Flamengo entrar nesse ritmo no Bento Freitas, na estreia pela Copa do Brasil, pode ser engolido pelo Grêmio Esportivo Brasil.

Já assisti a dezenas de partidas naquele estádio pelotense, sei bem do que falo.

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O que a candidata Dilma diria da presidente Rousseff?
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Mário Magalhães

Dilma conversa com o líder nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) João Pedro Stedile; o MST reclama da falta de diálogo com a presidente

Outubro de 2014: a candidata e João Pedro Stedile, dirigente do MST – Foto Sergio Lima/Folhapress

Dilma Rousseff participa de posse da senadora Kátia Abreu como presidente da CNA

Dezembro de 2014: Kátia Abreu, escolhida ministra da Agricultura, e a presidente – Foto Alan Marques/Folhapress

 

Se a presidente Dilma Rousseff se dispuser a alguns momentos de sinceridade com os brasileiros, que em maioria a sufragaram em outubro para novo mandato, deveria providenciar o seguinte anúncio, caso seja bem sucedida em sua intenção de reajustar a tabela do Imposto de Renda em 4,5%:

“Acabo de assinar uma medida provisória corrigindo a tabela do Imposto de Renda, de modo diferente ao que estamos fazendo nos últimos anos, agora para não favorecer aqueles que vivem da renda do seu trabalho. Isso vai significar uma importante perda salarial indireta e menos dinheiro no bolso do trabalhador”.

Exagero? Não, a aceitar o critério da presidente exposto em maio do ano passado, quando ela apareceu na TV em pronunciamento no qual afirmou:

“Acabo de assinar uma medida provisória corrigindo a tabela do Imposto de Renda, como estamos fazendo nos últimos anos, para favorecer aqueles que vivem da renda do seu trabalho. Isso vai significar um importante ganho salarial indireto e mais dinheiro no bolso do trabalhador”.

Para quem só acredita vendo, basta clicar neste link, da TV NBR.

Em maio de 2014, Dilma já estava, ainda que não oficialmente, em campanha pela reeleição.

Na campanha, pregou como aliada dos assalariados.

Agora, garfa-os. Com reajuste do Imposto de Renda abaixo da inflação, “aqueles que vivem da renda do seu trabalho” pagarão mais imposto e receberão menos salário.

Também na campanha, a petista contou com a ajuda de João Pedro Stedile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Reeleita, nomeou ministra da Agricultura um dos mais ásperos adversários dos sem-terra, a representante do agronegócio Kátia Abreu.

Tudo isso não é novidade, a campanha em nome dos interesses dos mais pobres e a formação de um governo da presidente Dilma com o primeiro-ministro Joaquim Levy, recrutado diretamente no mercado financeiro.

A demonização do programa de Aécio Neves trocada por uma agenda, na essência, parecida.

Fico pensando: com toda a combatividade de campanha, bradando contra os poderosos e defendendo quem mais precisa do Estado, o que a candidata Dilma Rousseff diria da presidente Dilma Rousseff em seu segundo mandato?

No mínimo, “estarrecida”.

Ficaria por aí?

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Ganso, ‘roubo’ e ‘camburão’: na democracia, direito de espernear é sagrado
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Mário Magalhães

Ganso, em jogo no Morumbi - Foto Leonardo Soares/UOL

Ganso, em jogo no Morumbi – Foto Leonardo Soares/UOL

 

Para não misturar uma coisa com outra coisa, digo logo que o Corinthians foi imensamente melhor que o São Paulo nos 2 a 0 de ontem pela Libertadores.

Triunfo merecido, de uma equipe cuja principal virtude parece ser a segurança: sabe o que quer e como conquistar o que quer.

O tricolor talvez saiba o que quer, mas não como chegar lá.

Outra limpeza de terreno: é direito inalienável do árbitro Ricardo Marques Ribeiro buscar na Justiça as reparações que considere devidas.

Contrariado sobretudo com decisão do juiz no segundo gol alvinegro, o são-paulino Ganso apontou “roubo” e disse que o árbitro deveria sair de camburão do estádio do Corinthians. Ouvi o jogador na virada de quarta para quinta-feira, em entrevista ao SporTV.

O autor de roubo, qualquer criança não ignora, é ladrão.

Muito bem: o erro de Marques Ribeiro foi desclassificante. Para tomar a bola de Bruno, o corintiano Emerson empurrou acintosamente o são-paulino, dando início ao contra-ataque muito bem executado que resultou no gol de Jadson.

O árbitro não deu falta, e Ganso bronqueou.

Enquanto a Justiça resolver com independência eventual querela entre Marques Ribeiro e Ganso, é do jogo da democracia.

O inaceitável são as costumeiras _e agora já alardeadas para Ganso_ punições para jogadores e técnicos que protestam contra arbitragem.

Os cartolas do futebol mundial criaram um mundo à parte do século 21, inspirado na era medieval, com regulamentos de competições que impedem cidadãos _como boleiros e treineiros_ de se manifestarem.

Cria-se, como no caso do Brasil e outros países cujos clubes disputam a Libertadores, um evidente conflito, digamos, institucional: a Constituição assegura o direito de livre expressão.

Mas regulamentos esportivos impedem e punem esse direito.

Existem castigos até para quem não identifica dolo em enganos arbitrais.

Prevalecem nas competições regras típicas de ditaduras.

Seria absurda uma punição dos organizadores da Libertadores contra Ganso.

É direito dele espernear.

E do árbitro de processá-lo na Justiça comum, insisto.

Mas o jogador ser impedido de trabalhar em virtude de suas opiniões seria atitude primitiva.

O regulamento prevê isso e aquilo? Mas não está acima da Constituição.

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Campeã do Carnaval 2015, Beija-Flor é alvo de indignação seletiva
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Mário Magalhães

É mesmo o fim da picada: um ditador cabeça de uma ditadura sanguinária desembolsou milhões para a Beija-Flor falar bem da Guiné Equatorial, omitindo todas as mazelas do país africano, como as gravíssimas violações dos direitos humanos, sobretudo a tortura disseminada que atinge também opositores políticos.

A escola de Nilópolis acaba de conquistar o título de campeã do Carnaval do Rio, depois de um desfile caracterizado pela opulência, assegurada pela dinheirama ofertada pelo ditador que está entre os governantes mais ricos do planeta.

E, é claro, com os méritos do gigantesco talento dos artistas da agremiação da Baixada.

Há 32 anos no poder, o tirano Teodoro Obiang Nguema Mbasogo comprou um desfile, com valores que nem seu governo nem a Beija-Flor informam.

Dos quatro jurados do quesito enredo, três presentearam a campeã com nota 10, assegurando aproveitamento 100% (a nota menor, 9,9, foi descartada).

De fato, um vexame.

O que me incomoda é a bronca seletiva com a escola do intérprete _puxador é ladrão de carro, já dizia o Jamelão_ Neguinho.

O que as pessoas acham que é o mundo das grandes escolas de samba do Rio?

Uma coisa é sua enorme importância para a cultura e a arte do Brasil, a influência nos nossos costumes, os prazeres que nos oferecem.

Outra é o poder.

Ou ninguém sabe que o homem mais poderoso do Carnaval nas últimas décadas, à frente da liga das escolas, foi Aílton Guimarães Jorge, vulgo Capitão Guimarães?

Torturam na Guiné Equatorial, é verdade.

E o capitão Guimarães, oficial do Exército, era torturador no Destacamento de Operações de Informações do I Exército, no Rio, nos anos de maior crueldade da ditadura.

Quem é o capo hoje da Mocidade Independente de Padre Miguel? Ele mesmo, o autointitulado “empresário” Rogério Andrade.

Andou preso, em virtude das investigações sobre a guerra entre máfias do caça-níquel.

Seu primo Paulinho Andrade, filho do falecido bicheiro Castor, morreu. Morreu, não: foi morto. Como? A tiros.

Mais tarde, um atentado a bomba matou o filho, um menino de 17 anos, de Rogério Andrade. Vingança?

Seria outro olhar seletivo falar só da Mocidade.

É papo do Boitatá contar que a “contravenção” domina tantas escolas.

Em torno da “contravenção” do jogo do bicho se organiza o crime, já denunciaram e provaram numerosos promotores de Justiça.

Desfile cretino nunca faltou, inclusive celebrando ditadores como Getulio Vargas, sem citar o que os seus beleguins faziam nos porões da tortura e esquecendo Olga Benario.

É muito triste ver a Beija-Flor vencer assim.

Mas não é novidade: nos anos 1970, a escola bajulava a ditadura brasileira.

Do ponto de vista do ditador africano, o crime compensa.

Aqui também, nesta quarta-feira digna de cinzas, mas isso não é exclusividade da Beija-Flor.

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Júlio César, um brasileiro: na porta do hospital, sem atendimento
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Mário Magalhães

Júlio César Saniba Peralva, na porta do Miguel Couto - Foto Marcelo Auler

Júlio César Saniba Peralva, na porta do Miguel Couto – Foto Marcelo Auler

 

Marcelo Auler, um dos mestres brasileiros do gênero mais nobre do jornalismo, a reportagem, publicou no Facebook o relato abaixo.

Enquanto muitos jornalistas fingiam não saber que o desfile da Beija-Flor foi pago com dinheiro de uma ditadura sanguinária, o bravo Marcelo Auler contava a vida como ela é.

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Na porta do hospital Miguel Couto, mas sem atendimento

Por Marcelo Auler

Na emergência do Hospital Municipal Miguel Couto, no sábado à noite, em pleno carnaval carioca, havia um entre e sai de pessoas. Na maioria, foliões vítimas de pequenos acidentes durante a folia momesca. Chegavam em grupos, alguns mais falantes que outros, os jovens nitidamente “alegres” por conta do teor alcóolico, promoviam algazarra maior, com um volume de voz mais alto. Mas, mesmo entre os acidentados, predominava o espírito alegre.

O curioso é que no entra e saí ninguém reparava em um senhor, aparentando mais do que os seus 52 anos, que permanecia sentado nos primeiros degraus da escada de acesso ao prédio, na Rua Bartolomeu Mitre, no Leblon, zona sul do Rio. Tratava-se de mais um dos cidadãos invisíveis que circulam entre nós sem que os reparemos.

Eu mesmo, que ali aguardava notícias de uma paciente, embora já o tivesse visto, só me interessei por ele quando, com a voz baixa e de forma educada perguntou-me se poderia encher sua garrafinha de água dentro hospital.
Ao entregar-lhe uma nova garrafa d’água, soube que estava por ali há dois dias, queixando-se de febre e apresentando uma ferida na perna direita da qual, na penumbra da noite, e de longe, me pareceu escorrer pus.

Segundo suas explicações, procurou o hospital, na sexta-feira, em busca de atendimento, mas não mereceu qualquer atenção médica. Na triagem o teriam encaminhado para a UPA de Botafogo, sem se preocuparem se ele teria como transpor os cerca de 6 quilômetros que separam o hospital da Unidade de Pronto Atendimento. Não tinha. Com apenas R$ 5,00 no bolso, confessou o medo de gastar o dinheiro na passagem de ida – R$ 3,40 – e depois não ter como voltar com o trocado que restaria. Por ali permaneceu, dormindo na porta do Pronto Socorro, sem ser incomodado.

Já mais tranquilo com relação à situação da paciente que eu acompanhava, procurei entender o que se passava com Júlio César Saniba Peralva, um mineiro de Belo Horizonte, solteiro, nascido em maio de 1962, que segundo contou, por 26 anos foi motorista de ônibus, até que uma “pneumonia mal tratada” o “encostou” no INSS (Beneficio número 700.985.054-3). Desde dezembro recebe R$ 788,00 mensais.

Diz morar em um quarto na comunidade do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana. Um irmão reside em outra casa na mesma comunidade. O resto da família, como definiu, “está espalhada”. A ferida na perna ele creditou a um tombo, no caminho do hospital, em busca de atendimento para a febre que sentia e o deixava sem forças.

No Miguel Couto, porém, não mereceu qualquer atendimento. A explicação do segurança é de que ali não tem atendimento ambulatorial, apenas emergencial. Nem mesmo um analgésico qualquer lhe foi dado para diminuir o desconforto. Pelo jeito, o maior hospital público da Zona Sul não possui também qualquer atendimento de assistência social, a ponto de dispensarem um cidadão com aparente mal-estar sem qualquer preocupação de como ele chegará ao local indicado.

Tampouco médicos, funcionários, seguranças e os próprios pacientes que recorrem ao Pronto Socorro se preocuparam com a figura que passou o dia sentado na escada e, à noite, recolheu-se em um pequeno corredor entre a parede do prédio e um canteiro sem plantas. Usando sua sacola de plástico como travesseiro, dormiu da noite de sexta-feira (dia13 de fevereiro) para sábado e pretendia fazer o mesmo naquela noite seguinte, apesar de ao deixar o hospital ter lhe inteirado a passagem de ônibus até Botafogo.

Pelo jeito, não foi a primeira vez que Júlio César foi dispensado de um atendimento. Nos seus pertences estava um encaminhamento concedido pela CAP 2.1 endereçando-o a um tratamento clínico no Centro Municipal de Saúde João Barros Barreto, Rua Tenreiro Aranha s/n Copacabana. Não tinha data, nem especificava quem o endereçava, além do código CAP 2.1. (Foto em anexo)

Na página da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da Prefeitura do Rio verifica-se que AP 2.1 podem ser duas coisas distintas. Uma é o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) III Maria do Socorro Santos, na estrada da Gávea 520. Sua área de atuação abrange Rocinha, Vidigal, São Conrado e Gávea (AP 2.1). Trata-se de unidade especializada em saúde mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente. Ou seja, se Júlio César esteve ali, ele deve ter algum problema mental. Mas ainda assim foi deixado à própria sorte.

Mas há também referência ao Centro Médico de Saúde Pindaro de C. Rodrigues – AP 21, na Avenida Padrel Leonel Franca, na Gávea. Neste Centro Médico, segundo a página da SMS, são feitas consultas individuais e coletivas; visita domiciliar; saúde bucal; vacinação; pré-natal; exames de raios-x; eletrocardiograma; exames laboratoriais: sangue, urina e fezes; ultrassonografia; curativos; planejamento familiar; vigilância em saúde; teste do pezinho; tratamento e acompanhamento de pacientes diabéticos e hipertensos. Em sendo ali que Júlio César foi atendido, não há explicação plausível para enviá-lo a outra unidade de saúde.

O atendimento médico que ele buscava não lhe foi dado, mas durante o tempo em que ficou na porta do Hospital Miguel Couto, Júlio César só tinha merecido a solidariedade de uma única pessoa. Trata-se de um morador de rua, alto e magro, pela sua descrição, que cuida das motos que estacionam no outro lado da Avenida Bartolomeu Mitre. Foi dele que recebeu o único alimento do dia: metade de um prato de macarrão com carne moida, que o guardador de motos dividiu com o desconhecido. Pelo menos entre eles a solidariedade existe e, como se trata de dois moradores da cidade, conclui-se que nem tudo está perdido na chamada Cidade Maravilhosa: ainda restam pessoas a se preocuparem com quem está ao seu lado, embora sejam dois necessitados.


Co-autor de ‘Império’ desenha três meninos, e modelos debatem quem é quem
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Mário Magalhães

 

Para quem não sabe, antes de ser roteirista da Globo e, agora, um dos co-autores da novela “Império”, na equipe comandada por Aguinaldo Silva, Zé Dassilva já era um cartunista de sucesso _e mais ainda torcedor do Criciúma.

Na beira da lagoa Rodrigo de Freitas, aqui no Rio, ele desenhou três meninos.

Mais tarde, seus modelos se puseram a debater quem era quem no desenho.

Para assistir, basta clicar na imagem acima, compartilhada pelo Zé Dassilva no Facebook.

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‘Índice 50 Tons’: para parecer um craque do sexo, fale mal do filme
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Mário Magalhães

Não sabem nem beijar…

 

Com a estreia da adaptação cinematográfica do romance “50 tons de cinza”, deu-se o fenômeno: para parecer um papai ou mamãe-sabe-tudo-sobre-sacanagem, um autor do ABC do amor & do sexo, fale mal do filme da diretora Sam Taylor-Johnson.

A abordagem jé existia em relação ao livro de E. L. James: cenas muito fracas, tipo revista “Sabrina”, narrativa de quem não conhece o riscado da saliência.

Agora, até quem não viu o filme está dizendo que é tudo muito light.

Noutras palavras, que tem muito mais temperatura a oferecer.

É o “Índice 50 Tons”: quanto mais maldades se pronuncia avacalhando o filme, mais fodão ou fodona parece quem fala.

Enquanto isso, o mineirinho come quieto.

P.S.: não li o romance nem assisti ao filme.

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