Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : junho 2014

Às vésperas da Copa, bandalheira dos táxis no Santos Dumont não tem fim
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Mário Magalhães

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A poucas horas do início da 20ª Copa do Mundo, as promessas de moralização do serviço de táxis do aeroporto Santos Dumont continuam somente no papel ou no discurso. No ano passado, o ministro Wellington Moreira Franco (Aviação Civil) e o então secretário municipal Carlos Alberto Osório (Transportes) haviam assegurado que dariam um jeito na fila e poriam fim às manjadas irregularidades.

Ficou mesmo na promessa, como eu pude constatar por volta das nove da noite da sexta-feira, a 140 horas da partida entre Brasil e Croácia que abrirá o Mundial.

Em vez de embarcar os passageiros automaticamente, por ordem de chegada dos táxis, os organizadores (sic) da fila não permitiam a entrada nos carros da cooperativa que opera no terminal. Esses automóveis passavam à frente, ficando num estacionamento improvisado, à espera de corridas para destinos mais afastados.

Veículos de motoristas não cooperados podiam apanhar passageiros, porém os taxistas eram obrigados a pagar um “imposto” para os controladores da fila. O que me levou para casa deixou R$ 1, mas a extorsão é criminosa tanto contra quem é garfado numa mixaria, para corrida curta, quanto contra quem tem de desembolsar mais, em viagens longas.

O taxista estranho à cooperativa só emplaca corrida maior se não houver os cooperativados no aeroporto _na sexta, havia muitos deles, no tal estacionamento de fancaria.

O esquema de seleção de passageiros e corridas, além de configurar ilegalidade, termina por atrasar o embarque e alongar a fila. O problema tende a se agravar com os numerosos turistas que a Copa trará à cidade.

O sistema de escolha de corridas, que incluiu a recusa a algumas delas, é desses males persistentes que só não são resolvidos por falta de disposição política de quem tem poder para isso. Costuma existir temor da retaliação de feudos eleitorais e, às vezes, outras coisinhas mais.

Não foi por falta de aviso que não tomaram medidas para valer. Eis alguns posts _para ler, basta clicar sobre o link_ que o blog já publicou sobre as armações no Santos Dumont:

No aeroporto Santos Dumont, taxistas desafiam lei e escolhem corridas (17/03/2014)

Breve crônica da bandalheira no esquema de táxis no Santos Dumont (18/12/2013)

Problema com táxis no aeroporto Santos Dumont vai muito além da fila (29/11/2013)


‘Só uma fatalidade nos tira o título de campeão’, diz Marin
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Mário Magalhães

José Maria Marin, presidente da CBF – Foto Flávio Florido/UOL

 

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“Só uma fatalidade nos tira o título de campeão”, afirmou José Maria Marin sobre a seleção e a Copa. A declaração do presidente da CBF consta de entrevista concedida ao repórter Jorge Luiz Rodrigues e publicada nesta segunda-feira pelo jornal “O Globo”.

Marin disse mais: “Se ganharmos a Copa, vamos todos para o céu. Mas, se perdermos, vamos todos juntos para o inferno, porque o brasileiro não vai aceitar outro resultado”.

Ou seja, o cartola imagina que, com um eventual hexa conquistado pelos jogadores e a comissão técnica, ele conseguirá uma carona para o céu.

O ex-deputado, veterano do aparato político da ditadura pós-1964, propôs uma trégua nas greves de trabalhadores que se ampliam pelo país e que ele qualifica como políticas (em sua opinião, característica reprovável). “Por que não esperar o fim da Copa do Mundo? Faça uma trégua, em benefício do Brasil, não da CBF ou da Fifa. Vamos dar uma imagem positiva, como um país com ordem. Vamos reivindicar, mas sem caos”.

A íntegra da entrevista pode ser lida clicando aqui.

Atendo-me exclusivamente ao aspecto desportivo das observações, é verdade que Mundiais de futebol podem ser decididos por fatalidades. No mais das vezes, o que define é treino, talento, determinação, disciplina, tudo com pitadas do imponderável.

Ao afirmar que só uma fatalidade segura a seleção, a mensagem subliminar é que o trabalho é secundário. Porém, o time hoje precisa de muito trabalho para evoluir e tentar chegar lá. Melhor será se não der pelota à bobagem pronunciada pelo chefão da CBF.

O contexto da declaração é diferente daquele em que Carlos Alberto Parreira falou “já estamos com a mão na taça”. Ali, o coordenador técnico tentava, sem jeito, é verdade, emular o estilo motivador que marcou Zagallo na Copa de 94.

Marin pontificando sobre fatalidade nada tem a ver com o prognóstico de Felipão:  “Estou cada dia mais convicto de que vamos ganhar a Copa do Mundo”. A custa de ralação e empenho, enfatizou o treinador.


64 anos depois: ‘Acerto de contas com Barbosa’, por Anderson Olivieri
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Mário Magalhães

Barbosa inspira livro do jornalista Roberto Muylaert sobre a derrota na Copa de 1950

O goleiro Barbosa – Foto Arquivo Folha

 

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É com muita satisfação que o blog publica um inspirado e oportuno artigo do escritor Anderson Olivieri, sobre Barbosa, o mais injustiçado jogador da história do futebol brasileiro.

Olivieri é autor dos livros “20 jogos eternos do Cruzeiro” e “Anos 90: Um campeão chamado Cruzeiro”.

Abaixo, ele reivindica uma espécie de anistia ao grande Barbosa, o bode expiatório da tragédia de 50.

* * *

Acerto de contas com Barbosa

Por Anderson Olivieri*

A Copa está de volta ao Brasil. Fala-se muito, nos últimos dias, em vingar 1950, em resgatar a Copa perdida no próprio quintal, em exterminar o tal fantasma que vaga pelo Maracanã desde a fatídica derrota para o Uruguai.

É esse o monodiscurso, que só verbaliza a necessidade de se resgatar o triunfo perdido naquilo que Nelson Rodrigues definiu como Hiroshima brasileira.

Mas, a propósito, quem há de falar da urgente reparação a ser feita?

O futebol brasileiro deve desculpas a Barbosa, goleiro do Brasil na Copa de 1950. E a oportunidade de externá-las é agora, no retorno da Copa ao país.

Enquanto viveu, Barbosa experimentou a amarga e injusta acusação de ser o responsável pelo Maracanazo. Morreu repetindo a frase que o marcou no pós-carreira: “No Brasil, a pena máxima por um crime é de 30 anos. Eu pago pena perpétua por um crime que não cometi”.

Barbosa tinha razão no apelo que teimava em interpor a cada entrevista dada, em busca de absolvição, apesar de ele mesmo saber que não havia suprema corte competente para lhe conferir liberdade.

“O negro falhou”, foi assim que ouvi pela primeira vez, aos oito anos, de um senhor, meu vizinho, sobre a Copa de 1950. Ou seja, quando ouvi aquilo, já fazia 41 anos que Barbosa convivia com aquela culpa.

De acordo com o biógrafo de Barbosa, Roberto Muylaert, o posicionamento dele no lance era correto. Ghiggia avançou pela ponta, e o goleiro fez o que do bom goleiro se espera: no centro do gol, aguardou o cruzamento.

A tese é referendada por Máspoli, goleiro do Uruguai naquele jogo. Ele garante que Barbosa só tomou aquele gol porque conhecia muito de futebol. Completou dizendo que Ghiggia, com pouco ângulo, errou o chute, que saiu mascado. O erro de Ghiggia traiu o acerto de Barbosa e sepultou o sonho brasileiro do título mundial em casa.

Obviamente não há como mudar o curso da história. Mas as injustiças, as atrocidades, os abusos podem, e devem, ser reparados.

O maior exemplo está nos absurdos cometidos durante a ditadura militar. Tem-se buscado o esclarecimento dos crimes ocorridos no período, com a devida reparação indenizatória às vítimas ou parentes e a responsabilização criminal dos torturadores.

Com Barbosa, vítima de tortura psicológica que o obrigou inclusive a se mudar do Rio de Janeiro em 1992, algo solene, formal, precisa ser feito pela CBF. Afinal, a própria entidade tratou o ex-goleiro como símbolo de mau agouro, em 1993, ao proibi-lo de ter com Taffarel, para uma reportagem de televisão.

Só assim, reparando a história, é possível evitar que seus maus escritos se repitam. E é bom que se faça logo, pois quem é capaz de cravar que, numa eventual final em julho, o Brasil não precisará de Jefferson?

* Anderson Olivieri nasceu em Brasília, é advogado, graduando em Jornalismo e escritor. Seu blog pode ser acompanhado clicando aqui.


Na ‘sala de espera virtual’ por ingresso, a Fifa me deu diploma de otário
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Mário Magalhães

blog - sala de espera fifa

 

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Fui, crédulo incurável que sou, um dos candidatos a comprar ingressos da Copa na venda que a Fifa anunciou para a partir da meia-noite, horário de Brasília.

Levaria quem chegasse mais cedo, avisou a entidade. Mas desde a zero hora desta quarta-feira, bem entendido.

Às 23h50 comecei a tentar o acesso, mas um alerta informava que era preciso aguardar o horário marcado.

Pois o site permitiu que eu entrasse pontualmente às 23h58, dois minutos antes do combinado. Com outras pessoas aconteceu a mesma coisa, o horário antecipado, conforme testemunhos veiculados nas redes sociais.

Mas a tela não me ofereceu entrada para nenhum jogo, nem mesmo Costa do Marfim versus Japão. Apenas exibiu a imagem acima, a dois minutos do novo dia.

E assim ficou, sem me encaminhar para o balcão. Nessa tal “sala de espera virtual”.

Enquanto esperava, vi que no Twitter o pessoal se irritava e produzia piadas, engraçadas ou não.

Reclamaram que nessa fila não havia oferta de cerveja e amendoim. Um torcedor queria os salgadinhos com “preço camarada”, mas aí já seria pedir demais ao presidente Blatter e seus bons companheiros.

Depois de um sem-número de comparações da fila da Fifa com a fila do SUS, alguém teve o bom senso de ameaçar punição de meia hora de atraso na “sala de espera” se repetisse o gracejo.

Virada a meia-noite, os tuiteiros de todo o mundo já haviam levado a Fifa aos trending topics.

Um garoto esperto contou que estava com oito janelas abertas no computador. Com apenas uma, senti-me um trouxa.

Mas não a ponto de cair na velha pegadinha dos gaiatos que sugeriam teclar control + w para passar à frente da fila. Este atalho, como se sabe, elimina a guia em que estamos navegando.

Um cidadão lembrou que as leis relativas a limite de tempo nas filas de espera poderiam punir a Fifa. Porém, a sala “virtual” não é fila de banco, e a Fifa não se submete às leis brasileiras.

Enquanto esperava, fantasiava a Fifa infiltrada pela galera do “não vai ter Copa”. Mas também me lembrei das denúncias do jornalista Andrew Jennings sobre esquema mafioso na venda de bilhetes do Mundial.

Já na madrugada, constatei que a bronca era planetária, como mostravam postagens em vários idiomas.

Passou da uma hora, e eu persisti, pois as crianças querem porque querem ir a algum jogo _queriam, queriam…

A menos de dez graus, um frio de lascar aqui nas bandas do Sul, não abandonei a peleia.

Mas era preciso acordar cedo para trabalhar, e à 1h13, 75 minutos depois de me logar no site da Fifa, entreguei os pontos.

Antes de eu digitar o control + w, o reloginho do notebook marcava 1h14.

Este é o verdadeiro padrão Fifa.

A entidade me deu mais um diploma de otário. Será que mandam o certificado pelos Correios, ou também preciso ficar na sala de espera virtual?


Até contra time fraco, como o Panamá, Brasil é dependente de Neymar
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Mário Magalhães

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Não representa novidade, mas a goleada de 4 a 0 do Brasil contra o Panamá demonstrou que, mesmo contra times fracos, Neymar é decisivo para a seleção. O Brasil depende dele.

Diante de equipes fortes, feito a Espanha na Copa dos Confederações do ano passado, Neymar fez a diferença. É o que se espera dele no Mundial 2014.

Nesta terça-feira, ele jogou muito, abrindo o caminho da goleada numa partida em que o Brasil começou adormecido, se a comparação for feita com seus melhores momentos de 2013.

Nos 15 minutos iniciais, deu mais Panamá, que contudo só viria a concluir com perigo na segunda etapa.

Além de marcar e dar passes valiosos, Neymar mudou o humor do time, ao levantar o pé em dividida, trocar provocações com adversários, reclamar com o árbitro.

Até os 25 min, a seleção apostava em lançamentos errados e sem perigo. Os panamenhos se animaram e deram espaço para contra-ataques. Num deles, Neymar arrancou, sofreu falta, cobrou-a e, brilhantemente, abriu o placar.

Em seguida, botou a bola entre as pernas de um defensor e cruzou para Fred quase marcar de cabeça.

Sem se intimidar, e como era amistoso, devolveu a bola que um oponente lhe jogou com as mãos, e ambos levaram amarelo.

O gol de Daniel Alves, aos 39 min, foi o único que não teve participação protagonista de Neymar.

Antes de completar o primeiro minuto do segundo tempo, Neymar deu um passe inspirado, de calcanhar, para Hulk, que anotou o terceiro.

Logo Neymar arrancou pela direita e cruzou na cabeça de Fred, que desperdiçou.

Então, o atacante do Barça partiu pela esquerda, concluiu, e o goleiro espalmou para escanteio.

Aos 22 min, Neymar deu um drible macunaímico, levou uma paulada e conseguiu cartão amarelo para seu marcador.

Willian deixou o seu aos 27 min, em passe de Maxwell. Quem deixou o lateral-esquerdo na frente do gol? Ele mesmo, Neymar.

Que depois deu bicicleta, cobrou falta, chutou, acabou com o jogo.

Cada um lê do modo que quiser: é ótimo que Neymar esteja tão bem; e é ruim que, até em partida contra time fraco,  a seleção dependa tanto dele.

Se Neymar jogar tudo isso na Copa, o Brasil chega mesmo muito forte.


Numa enquete com 51 jornalistas brasileiros, ninguém prevê Argentina campeã
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Mário Magalhães

blog - jornalistas & cia copa

 

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Enquete promovida pela principal newsletter do jornalismo brasileiro, “Jornalistas & Cia”, não descobriu um só jornalista ou profissional da comunicação que aposte na Argentina como campeã do 20º Mundial de futebol.

O levantamento consta do suplemento especial “Imprensa & Copa do Mundo”, publicado nesta segunda-feira, com análises sobre a competição dentro e fora do campo.

A última das 19 páginas trouxe prognósticos de 51 consultados, inclusive sobre o campeão (neste quesito 45 se pronunciaram e seis não opinaram). O Brasil lidera disparado (36 votos), seguido de Alemanha (7), Espanha (2), Inglaterra (1) e Itália (1).

A despeito de dois eleitores-apostadores terem marcado palpite duplo, ninguém apostou na seleção de Messi, que no entanto foi incluída (35 menções) entre as mais votadas para estar entre as quatro semifinalistas, ao lado de Brasil (48), Alemanha (43) e Espanha (40).

Entre os jornalistas que preveem o Brasil campeão estão André Trigueiro, Antônio Torres (igualmente escritor), Washington Rodrigues (Apolinho), Carina Almeida, Carlos Maranhão, Douglas Tavolaro, Marceu Vieira, Marcos Guiotti, Marluci Martins, Martha Esteves, Roberto Nonato e Toninho Nascimento.

A Alemanha tem entre seus votantes Claudio Arreguy (que também marcou Brasil), Sergio Du Bocage e Sergio Pugliese.

A dupla que aposta na Espanha: Breiller Pires e Cristiane Santos (também assinalou o Brasil).

Inglaterra: Castilho de Andrade.

Itália: Adhemar Altieri.


Charge mostrando novo rei da Espanha fazendo sexo gerou processo
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Mário Magalhães

 

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O narigudo por trás é o novo rei da Espanha, Felipe de Bourbon, então príncipe.

Pela frente, sua mulher, a princesa Letizia Ortiz.

A charge foi veiculada em 2007, na capa da revista catalã “El Jueves”, tradicional publicação satírica de cartuns políticos.

O governo do primeiro-ministro José Luis Zapatero, do Partido Socialista, havia implantado o “cheque-bebê”, com um agrado de 2.500 euros para os casais que se dispusessem a aumentar as cifras de natalidade no país.

Como os membros da monarquia não são conhecidos por se dedicar ao trabalho, muito pelo contrário, o herdeiro do trono diz na charge: “Te dás conta? Se ficas grávida, isso será o mais parecido com trabalhar que eu fiz em minha vida”.

O alegado espírito democrático da família real não suportou a brincadeira, e uma ação do Ministério Público resultou em ordem judicial para retirar a revista das bancas.

A decisão pela apreensão foi baseada em norma do Código Penal que protege o “prestígio da Coroa da Espanha”.

Mais tarde, o cartunista Guillermo Torres Meana e o roteirista (autor do texto da charge) Manel Fontdevilla forma condenados a pagar 3.000 euros cada um, pelo crime de injúria.

Com a abdicação do rei Juan Carlos, anunciada hoje, o príncipe Felipe, o peladão da capa da revista, vai sucedê-lo.


Livro conta trama macabra de Bruno e parceiros na morte de Eliza Samudio
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Mário Magalhães

blog - vale bruno

 

“Puta que pariu!

É o melhor

goleiro do Brasil:

Bruno!”

Assim gritaram _gritamos_ os torcedores do Flamengo, reverenciando o goleiro do time campeão brasileiro de 2009. Já o aclamávamos dessa maneira fazia tempo.

Seis meses depois da conquista, Bruno foi um dos protagonistas da trama macabra que resultou em sequestro, assassinato e ocultação do cadáver da modelo Eliza Samudio.

De 2010 para cá, o campeão pegou no gol em peladas do presídio, onde também deu duro nos serviços da lavanderia. Condenado, continua em cana.

Um dos mais rumorosos episódios da crônica policial brasileira é reconstituído em minúcias no livro “Indefensável: O goleiro Bruno e a história da morte de Eliza Samudio” (Record), escrito pelos jornalistas Leslie Leitão, Paula Sarapu e Paulo Carvalho.

O lançamento no Rio ocorre nesta segunda-feira, a partir das 19h, na loja de Botafogo da Livraria da Travessa.

Li, de um fôlego só, o inventário de atrocidades. Os autores são repórteres que, por jornais concorrentes, cobriram o caso.

Por aversão a pitadas sádicas e temperos sensacionalistas de certo noticiário mundo-cão, não acompanhei com atenção os episódios sinistros da novela midiática deflagrada pelo crime.

Para quem, como eu, sabia pouco do ocorrido, o livro-reportagem permite entender início, meio e fim. Mas quem seguiu a investigação policial e o julgamento lance a lance também conhecerá informações inéditas.

Sabe aquele barraco que uma noiva formosa do Adriano aprontou numa favela do complexo da Penha, ao descobrir que o então atacante rubro-negro e colegas seus de time lá estavam na gandaia? Pois os jogadores do Flamengo presentes participaram, sem saber, de uma festa de ladrões que comemoravam o assalto de um carro-forte que lhes rendeu R$ 600 mil.

Às vésperas do julgamento de Bola, o exterminador de aluguel que asfixiou Eliza até a morte, pistoleiros tentaram executar o promotor. O representante do Ministério Público ocultou a tentativa de homicídio, receoso de que os jurados se sentissem intimidados e absolvessem o matador da modelo.

Para quem aterrissou ontem na Terra, passou-se o seguinte: Bruno, que ganhava cerca de R$ 250 mil mensais entre salário e patrocínio, não queria pagar pensão de R$ 3.500 ao filho que supostamente tivera com Eliza. O supostamente decorre da dúvida que ela própria nutria sobre a identidade do pai do bebê, como veio a se constatar mais tarde, por antigas mensagens na internet.

Como o goleiro resolveu a cobrança “inconveniente”, conforme concluíram a polícia, a promotoria e a Justiça, por meio do tribunal do júri? Planejando com seu dileto amigo Macarrão _e ordenando_ a morte da garota.

O corpo de Eliza jamais foi encontrado. É mérito do livro não cravar, por ausência de dados conclusivos, o paradeiro do cadáver. Há pelo menos duas hipóteses: foi jogado a cães rottweilers, que devoraram boa parte, e o que restou foi atirado num lago ou concretado; talvez tenha sido queimado numa fogueira de pneus.

O crime transformou o caráter de uma série de eventos que, de atos privados, passaram a ter relevância pública.

Os autores narram que Eliza engravidou numa suruba na casa do goleiro Paulo Victor, esse mesmo ainda hoje no Flamengo, e então reserva de Bruno. Que ela foi atriz em filmes pornô. E que se relacionava com outros boleiros. Em nenhum momento ocorre uma “segunda morte” moral ou editorial da modelo, que não só não é desclassificada, como é nitidamente preservada.

Durante certo tempo, cultivou-se dúvida sobre a morte de Eliza, que teria se mudado para o exterior, de acordo com as plantações de advogados dos réus. O processo judicial, recontado no livro, comprova que a garota foi mesmo assassinada, e até certidão de óbito em seu nome foi emitida. Bruno e Macarrão reconheceram o homicídio. As incertezas se restringem ao destino do corpo e à eventual participação de outros algozes.

Seguem algumas informações capturadas nas 265 páginas do livro.

Em 2010, fortalecidos pelo título nacional, os jogadores do Flamengo impuseram o fim dos treinos matinais, para que alguns deles conseguissem esticar madrugada adentro as farras. Curvada à cultura do chinelinho, de treinamentos pouco exigentes, a equipe degringolou.

Antes da final do Campeonato Estadual de 2009, Bruno tentou jogar com uma camisa falsificada do clube, com a figura do Demônio da Tazmania, personagem da Warner, empresa com a qual o Flamengo não mantinha contrato. O goleiro teimava em vestir uniforme personalizado. Para aparecer diferente, acabou trajando a camisa de treino.

Como capitão, Bruno tentou favorecer chapas seus no clube, na divisão do bicho pelo Brasileiro de 2009. O médico José Luís Runco, também da seleção, reagiu duramente, e acabou selada nova fórmula de distribuição do dinheiro.

De tão perdulário, Bruno chegou a pagar compra de roupas com um cheque no valor de R$ 107 mil.

Influente na equipe, o goleiro administrou conflitos do coração, como quando a cantora de funk Perlla, antes namorada do lateral Léo Moura, passou a conhecer melhor o zagueiro Álvaro.

Numerosas versões de Bruno e outros acusados e condenados são confrontadas aos históricos de telefonemas, localização dos interlocutores com base no rastreamento de celulares e registros de radares de ruas e rodovias. Documentalmente, as alegações do jogador e seus funcionários e amigos não se sustentam.

Quando Eliza sumiu, Bruno disse depois de um treino: “Ainda vou rir disso tudo”. Estava certo de que a impunidade o protegia. Por sorte, enganou-se.

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Marinho Love Story: tributo ao craque e conquistador imortal
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Mário Magalhães

Marinho, grande Marinho, nos tempos de seleção – Foto Agência Estado

 

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Seis anos atrás, na virada de maio para junho de 2008, Marinho Chagas (1952-2014) me deu a honra de compartilhar um almoço na Ilha do Governador.

A revista “Serafina” mantinha uma seção intitulada “Que fim levou”, a editora pediu uma sugestão de personagem, e eu sugeri o craque que sonhava conhecer pessoalmente.

Nunca vi em ação um lateral-esquerdo tão brilhante quanto Marinho _quando passei a frequentar estádios, Nilton Santos já pendurara as chuteiras.

Mais uma vez, Marinho tentava reorganizar sua vida, em 2008. Conversamos pouco sobre os perrengues da existência e mais sobre romances e paixões do jogador que fizera tantos corações dispararem.

Reproduzo abaixo a reportagem, meu singelo tributo a um cara tão legal.

*

Marinho Love Story

Francisco das Chagas Marinho beberica o refrigerante de baixa caloria no segundo andar de um restaurante por quilo na Ilha do Governador quando ouve o comentário: “Você era galã nos anos 70…”. Interrompe: “Ainda sou!”. Sorriso arrebatador, emenda: “Acha que eu estou feio? O que me estraga é o bolso. Se a gente está com carro importado e dinheiro, tudo é bonito”.

A beleza é controversa, a carteira esvaziou e os carrões se esfumaram, mas o cabelo permanece parecido demais com o do antigo craque da seleção. O lateral-esquerdo loiro contrastava com o time miscigenado da Copa de 74, seduzia as torcidas, afligia os arautos da retranca com seus arroubos ofensivos e arrancava suspiros femininos.

Ele não esquece que um general invadiu um treino de arma na mão para fuzilá-lo, inconformado com o namorico da filha com o jovem boleiro. A garota trocava as aulas por encontros furtivos -“só romance, sem transa”. A turma do deixa-disso livrou-o do pai furibundo.

Mas ninguém conteve o conquistador virtuoso. São quatro filhos com Marijara, com quem esteve casado por três décadas. Sabe também de rebentos espalhados por Japão, Itália e Estados Unidos.

É um guerreiro do amor. Ao descer a escada estreita do estabelecimento na zona norte do Rio, cruza com uma amiga de umbigo de fora: “Você é linda”. Corteja outra: “Você me adora”. Sobe de volta com 635 gramas de comida no prato, colorido por uma galinha ao molho pardo.

A comilança desperdiça a precaução na bebida e esclarece a barriga pouco atlética. Contudo Marinho Chagas, como é conhecido, com os nomes fora de ordem, está longe de se descuidar. Loiro ele sempre foi, mas ficou ainda mais quando lhe deram a dica de encharcar com chá de camomila a cabeleira comprida antes de ir à praia. No Rio Grande do Norte, onde nasceu, ele fervia panelões da erva.

Hoje, ensopa-se com xampu de camomila para lagartear ao sol. Jura que dispensa tintura e que a genética o preservou dos fios brancos. Aconselha o entrevistador, grisalho, a copiá-lo: “O cabelo fica lindo. Tua mulher vai te beijar dez vezes mais! Faz essa experiência aí…”.

Marinho diz que funciona. E confidencia -ou melhor, alardeia- que namorou por dois anos uma atriz do folhetim televisivo “Duas Caras”. “Acabou a novela da Portelinha, está acabando o romance.” Esconde a idade da senhora: “Panela velha bate um caldinho gostoso; panela nova dá bom caldo também”. Aposta: “Vale outro capítulo”.

Aos 56 anos, prevê que seu capítulo derradeiro esteja distante. Os pais viveram quase um século. Ele sonha em chegar perto. “Quero morrer com 90 anos fazendo sexo. Nem que seja dentro do caixão. Não tem coisa melhor, não é não, bicho?, do que uma lovestoryzinha.”

O filósofo da love story, expressão que pronuncia amiúde, é tão romântico que a mulher de sua vida, ao que parece, é a ex, de quem se separou em 2002: “Depois peguei outra mulher, depois outra, estou vivendo com outra agora. Mas não é família. Eu tinha um palácio de concreto. Quando você perde a família, perde o palácio”.

Certa feita uma moça disse que só sairia com Marinho se ele aprendesse a dedilhar “Detalhes” no violão. Aprendeu e encantou a doce Marijara. À mesa, ele cantarola, afinado: “Não adianta nem tentar me esquecer…”.

“Toca Roberto Carlos, eu lembro dela”, murmura. “Apesar da minha companheira atual, Patrícia, ter o ciúme maior do mundo, não adianta mentir.”

Patrícia o protege. “Se eu morar sozinho, todo dia com uma mulher diferente, essa mulher diferente vai se aproveitar de mim. Vai levar as amigas, os irmãos para comer. Tem que haver uma companhia. Um homem não vive sem a mulher, e a mulher não vive sem o homem.”

No seu caso, não vive mesmo. Embora more em Natal, volta e meia está no Rio. Um empresário esportivo o hospeda em um iate clube na Ilha. “É uma quitinete, com cama de casal, dá uma love story.”

Dava mais nos velhos tempos. Ele relaciona ao seu sucesso alguns conflitos nos gramados. “Leão tinha ciúme de mim”, alfineta. “Quem era mais bonito? O eleito fui eu.”

Na decisão do terceiro lugar de 74, o goleiro Leão, hoje treinador, o culpou pela perda da bola no lance do gol da derrota. Os alfarrábios dão conta de que Marinho levou uma bofetada do desafeto, mas ele assegura que os companheiros os afastaram após uma troca de empurrões.

Marinho recorda que o goleiro saiu mal no gol da Polônia. “Gritei para Leão: ‘Você está que nem carro de sorvete na beira da praia. Quando sai, só sai errado'”. Sem bancar o valentão, reconhece: “Se fosse no tapa, eu ia apanhar”.

Ele é melhor com a língua do que com os punhos: “Na lateral esquerda, Serginho, que jogava no Milan, sempre deu de mil a zero em Roberto Carlos”.

Não superestima os requisitos para o ofício de técnico. “Não precisa ser inteligente. Se eu tivesse ficado no Rio ou em São Paulo, podia ser hoje um Renato Gaúcho.”

Este foi seu erro, aponta: voltar para sua terra. “O nordestino é muito carente de família.” Ele brilhou no Botafogo e no Fluminense, ganhou o apelido de Bruxa, mudou-se para o Cosmos de Nova York, sagrou-se campeão no São Paulo e regressou para o Nordeste.

Parou em meados dos 80. Montou serviço de buggy e restaurante em Natal. “Fiz um monte de besteiras.” A grana minguou, mas ele não sobrevive na pindaíba. “Não sou rico nem pobre. Tenho um patrimoniozinho muito bom.”

Montou escolinha de futebol nos EUA (“com mais alunos que a de Beckenbauer”), foi técnico na Líbia (“Gadafi é meu padrinho”) e gravou disco (“Odair José é meu irmão”). Hoje se dedica a criar uma fundação, planeja a compra de um clube pequeno no Rio, é intermediário de uma imobiliária e treina um lateral de 15 anos do Vasco.

Marinho Chagas já é avô, de um casal. Os joelhos castigados o impedem de jogar mais futebol. Mas em outro campo ele apregoa a boa forma: “Viagra? Só depois dos 60, 70 anos. Isso é mais psicológico”. Sua confiança é tamanha que, ao partir de óculos escuros, o vovô deixa a minhoca na cabeça do interlocutor: será que não vale mesmo arriscar o tal xampu de camomila?