Blog do Mario Magalhaes

64 anos depois: ‘Acerto de contas com Barbosa’, por Anderson Olivieri

Mário Magalhães

Barbosa inspira livro do jornalista Roberto Muylaert sobre a derrota na Copa de 1950

O goleiro Barbosa – Foto Arquivo Folha

 

( O blog está no Facebook e no Twitter )

É com muita satisfação que o blog publica um inspirado e oportuno artigo do escritor Anderson Olivieri, sobre Barbosa, o mais injustiçado jogador da história do futebol brasileiro.

Olivieri é autor dos livros ''20 jogos eternos do Cruzeiro'' e ''Anos 90: Um campeão chamado Cruzeiro''.

Abaixo, ele reivindica uma espécie de anistia ao grande Barbosa, o bode expiatório da tragédia de 50.

* * *

Acerto de contas com Barbosa

Por Anderson Olivieri*

A Copa está de volta ao Brasil. Fala-se muito, nos últimos dias, em vingar 1950, em resgatar a Copa perdida no próprio quintal, em exterminar o tal fantasma que vaga pelo Maracanã desde a fatídica derrota para o Uruguai.

É esse o monodiscurso, que só verbaliza a necessidade de se resgatar o triunfo perdido naquilo que Nelson Rodrigues definiu como Hiroshima brasileira.

Mas, a propósito, quem há de falar da urgente reparação a ser feita?

O futebol brasileiro deve desculpas a Barbosa, goleiro do Brasil na Copa de 1950. E a oportunidade de externá-las é agora, no retorno da Copa ao país.

Enquanto viveu, Barbosa experimentou a amarga e injusta acusação de ser o responsável pelo Maracanazo. Morreu repetindo a frase que o marcou no pós-carreira: “No Brasil, a pena máxima por um crime é de 30 anos. Eu pago pena perpétua por um crime que não cometi”.

Barbosa tinha razão no apelo que teimava em interpor a cada entrevista dada, em busca de absolvição, apesar de ele mesmo saber que não havia suprema corte competente para lhe conferir liberdade.

“O negro falhou”, foi assim que ouvi pela primeira vez, aos oito anos, de um senhor, meu vizinho, sobre a Copa de 1950. Ou seja, quando ouvi aquilo, já fazia 41 anos que Barbosa convivia com aquela culpa.

De acordo com o biógrafo de Barbosa, Roberto Muylaert, o posicionamento dele no lance era correto. Ghiggia avançou pela ponta, e o goleiro fez o que do bom goleiro se espera: no centro do gol, aguardou o cruzamento.

A tese é referendada por Máspoli, goleiro do Uruguai naquele jogo. Ele garante que Barbosa só tomou aquele gol porque conhecia muito de futebol. Completou dizendo que Ghiggia, com pouco ângulo, errou o chute, que saiu mascado. O erro de Ghiggia traiu o acerto de Barbosa e sepultou o sonho brasileiro do título mundial em casa.

Obviamente não há como mudar o curso da história. Mas as injustiças, as atrocidades, os abusos podem, e devem, ser reparados.

O maior exemplo está nos absurdos cometidos durante a ditadura militar. Tem-se buscado o esclarecimento dos crimes ocorridos no período, com a devida reparação indenizatória às vítimas ou parentes e a responsabilização criminal dos torturadores.

Com Barbosa, vítima de tortura psicológica que o obrigou inclusive a se mudar do Rio de Janeiro em 1992, algo solene, formal, precisa ser feito pela CBF. Afinal, a própria entidade tratou o ex-goleiro como símbolo de mau agouro, em 1993, ao proibi-lo de ter com Taffarel, para uma reportagem de televisão.

Só assim, reparando a história, é possível evitar que seus maus escritos se repitam. E é bom que se faça logo, pois quem é capaz de cravar que, numa eventual final em julho, o Brasil não precisará de Jefferson?

* Anderson Olivieri nasceu em Brasília, é advogado, graduando em Jornalismo e escritor. Seu blog pode ser acompanhado clicando aqui.