Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : junho 2014

Maradona é melhor do que Pelé? Pois Messi é melhor que Maradona
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Mário Magalhães

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O futebol nos oferece tempos generosos nesta Copa.

Messi e Neymar, exuberantes, protagonizam uma era luminosa do jogo. Estão demais, arrepiam, comovem.

Na vitória da Argentina por 3 a 2 sobre a Nigéria, Messi marcou dois, chegando a quatro na competição.

É co-artilheiro ao lado de quem? De Neymar.

Os argentinos cantam “Maradona é melhor que Pelé”.

Divirjo, mas não me debruço sobre a desinteligência.

O julgamento é menos opinião ou provocação. É dogma dos que dizem “che”.

Outra convicção, minha, é que Messi é mais completo que Maradona foi, por mais relativa que seja a comparação de futebolistas de épocas diferentes.

Não foi decisivo para um título, como o “Deus” que levou nossos vizinhos ao triunfo no Mundial de 86.

Mas, sem Messi, talvez sua seleção não tivesse nem alcançado as oitavas-de-final em 2014.

E em primeiro lugar no grupo F, com 100% de aproveitamento.

Messi anotou nas três partidas, salvando os seus.

A despeito dos gols cinematográficos de Maradona, a coleção de tentos espetaculares do atual camisa 10 é maior.

Coletivamente, ele é mais útil, que o digam seus companheiros do Barcelona.

Curioso: os argentinos aclamam Diego maior que Pelé, mas se recusam a aceitar que Messi seja mais completo e brilhante que Maradona.

A propósito: Pelé e Neymar, Maradona e Messi, não são apenas craques. São gênios do futebol.

Messi é o mais tímido dos quatro, o que talvez não contribua para que seus conterrâneos o adotem como o número 1.

Além de ter partido muito cedo para a Catalunha e tudo o que todo mundo sabe.

Tantos eram os argentinos no Beira-Rio, que a equipe do técnico Sabella pelejou “em casa” hoje em Porto Alegre.

E que jogaço, um dos melhores da Copa.

Duas equipes fortes de ataque e frágeis de defesa.

No primeiro tempo, depois de chute de Di María na trave, Messi encheu o pé no rebote, fazendo 1 a 0 logo aos 2 min.

Um minuto depois, a Nigéria empatou, com Musa.

Confirmando a impressão de boa forma física, Messi correu muito; bateu falta, cruzando a bola; cobrou escanteio; e bateu falta para o goleiro Enyeama espalmar para córner.

Até que pouco antes do intervalo ele arrancou com a bola e foi derrubado. Cobrou certeiro, sem que o goleiro nigeriano nem se mexesse. 2 a 1 para Messi, ou para a Argentina, na espécie de final da chave.

Lavezzi já estava em campo, no lugar de Agüero, que saiu contundido aos 36 min. Foi superior ao titular.

A segunda etapa começou como a primeira, dois gols na largada.

Musa empatou a 1 min, em novo vacilo defensivo argentino.

Mas aos 4 min Lavezzi cobrou escanteio, e Rojo desempatou, 3 a 2.

Em seguida, Messi deixou Higuaín na cara do gol, mas o atacante desperdiçou.

Aos 17 min, Messi, aparentemente poupado, deu lugar a Alvarez.

De pé, o público do Beira-Rio aclamou o gênio sem carisma que é melhor que Maradona.


‘Os invisíveis’: uma reportagem sobre a matança na Maré
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Mário Magalhães

 

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A matança no complexo da Maré, que deixou ao menos dez mortos um ano atrás, foi reconstituída pela repórter Consuelo Dieguez na “piauí” de agosto de 2013.

O esforço de reportagem está à disposição grátis, na íntegra, no site da revista.

Para quem quiser conhecer tantas dores que não saem nos jornais, a leitura da matéria é uma experiência e tanto, como se pode constatar abaixo (a ilustração acima também saiu na “piauí”).

* * *

Os invisíveis

A noite de terror, os mortos e os sobreviventes da Maré depois da operação do Bope

Por Consuelo Dieguez

Por volta das onze da noite do dia 24 de junho, Cláudio Duarte Rodrigues e sua mulher, Nilzete, voltavam para casa, no Parque União, uma das favelas do Complexo da Maré, que margeia a avenida Brasil, principal via de acesso ao Centro do Rio de Janeiro. Motorista de uma van que transporta passageiros do NorteShopping para o Complexo, Cláudio tivera um dia atípico. Por causa de uma manifestação marcada para as cinco da tarde, em Bonsucesso, do outro lado da avenida, o movimento havia caído. Preocupado com que a passeata acabasse em confronto, ele ligou para a mulher e avisou que iria buscá-la à saída do trabalho – uma empresa de ônibus da região, na qual ela é faxineira – às dez da noite. Ao passarem em frente à favela Nova Holanda, ao lado do Parque União, avistaram um grande tumulto. Pela movimentação de carros, logo perceberam que se tratava de uma ação policial. “Vamos sair logo daqui que o bicho tá pegando”, Nilzete falou para o marido.

As ruas do Parque União estavam desertas por causa da confusão na Nova Holanda. Cláudio entrou na favela com todas as luzes da van acesas, de modo a evitar que fossem confundidos com a polícia ou com bandidos. Diminuiu a velocidade para passar entre duas barras de ferro colocadas na rua pelos traficantes, que servem para dificultar a circulação de viaturas na área. Foi então que um tiro estilhaçou o vidro de trás do veículo. Nilzete se atirou no chão da caminhonete e gritou para o marido acelerar. Em seguida outro tiro, e mais outro. Nilzete sentiu a van perder velocidade. Nesse momento, uma nova bala atravessou o vidro a seu lado, espalhando estilhaços sobre os dois. Ela voltou a gritar: “Acelera, eles vão nos matar.” Viu então Cláudio levantar a camisa ensanguentada, abrir a porta e avisar, enquanto caía no chão, com um fio de voz: “Eu já fui atingido.”

Nilzete é uma mulher diminuta. Mede 1,50 metro e tem o corpo franzino. Seus cabelos são negros, cacheados e compridos. De longe, pode ser confundida com uma criança. Desesperada ao ver o marido ferido, ela saiu do carro. Olhou para a rua escura e deserta e se deparou com o Caveirão – o blindado, semelhante a um tanque de guerra, do Batalhão de Operações Policiais Especiais, o Bope. Com os braços levantados, correu em direção ao veículo gritando: “Ajudem pelo amor de Deus, somos trabalhadores, vocês atingiram meu marido.” Parou na frente do Caveirão esperando que dali saísse algum policial. Não houve reação. Nilzete permaneceu alguns instantes em frente ao blindado, até ser tomada pelo medo. Então, lentamente, sempre com as mãos para cima, se encostou na parede das casas e voltou, andando de lado, para junto da van. Deu-se conta do risco que estava correndo. Agachou-se ao lado do marido e começou a gritar por socorro. Logo, moradores apareceram nas portas. Fizeram uma roda em volta dela e do marido, num gesto instintivo de proteção. Um vizinho colocou Cláudio em seu carro, um Gol branco, e partiu com o casal para o hospital.

Para ler a íntegra da reportagem, basta clicar aqui.


Não tá morto quem peleia: triunfo uruguaio vale por mil livros de autoajuda
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Mário Magalhães

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Quando o time de Arévalo Ríos bate o de Andrea Pirlo, alguma coisa aconteceu.

Não venceu a técnica, o estilo.

Mas triunfou a vontade, a garra, tudo o que constitui a alma do futebol.

O futebol como simulacro da guerra, o núcleo da paixão, mais importante do que a vida e a morte.

O futebol ao sol, à sombra, temperado pelo sangue.

Depois de perder para a Costa Rica na estreia, o Uruguai sobreviveu ao derrotar a Inglaterra e se classificou hoje com uma vitória épica contra a Itália. 1 a 0, gol de Godín.

A seleção de Pirlo, que nos brindou com exibição espetacular nos 2 a 1 sobre a Inglaterra, vai embora da Copa.

Ficam os castelhanos, aqueles que não estão mortos porque peleiam até o derradeiro suspiro. Esta é a sua lição.

O empate favorecia os italianos. Com menos talentos, a despeito de Suárez _que, no entanto, mordeu Chiellini literalmente_ e Cavani no time, os uruguaios não baixaram a cabeça.

O povo das bandas orientais é assim, não se entrega.

A volta por cima do Uruguai no Mundial vale livro de autoajuda.

Ou, melhor, vale por mil livros de autoajuda.


Há um ano, policiais militares matavam na Maré
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Mário Magalhães

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Da noite de 24 de junho de 2013, um ano atrás, à madrugada seguinte, policiais militares do Rio de Janeiro mataram ao menos nove pessoas no complexo da Maré.

Vingavam a morte de um sargento do Bope, alvejado horas antes por tiro provavelmente disparado por traficante de drogas.

Entre os jovens mortos havia alguns sem antecedentes criminais. Mesmo os criminosos não podem ser executados, prevê a lei.

Do instante em que o Bope invadiu a favela Nova Holanda até a sua saída, nove moradores locais foram mortos.

Nove mortos de um lado e nenhum do outro não é resultado de confronto, mas de chacina.

Até onde se sabe, nenhum agente público foi punido.

Menos de um mês depois, na Rocinha, PMs assassinaram o pedreiro Amarildo na tortura. Seu cadáver até hoje não foi encontrado.


Neymar não é tudo, mas é (quase) 100%
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Mário Magalhães

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Sim, a seleção melhorou muito no segundo tempo, com Fernandinho no lugar de Paulinho, mas quem decidiu na vitória de 4 a 1 sobre Camarões foi, uma vez mais, Neymar.

O Brasil é dependente do único gênio que leva a campo. Neymardependência não é neologismo gratuito, mas fato. Hoje testemunhamos a melhor atuação do atacante na Copa, na terceira e última partida da primeira fase.

A Argentina tem Messi? A Holanda tem Robben? A França tem Benzema, e a Alemanha, Müller?

Pois o Brasil tem Neymar!

Numa equipe que parece sofrer de dupla personalidade, tantos os seus altos e baixos, é ele quem define.

Camarões já estava eliminado e não contou com seus melhores jogadores (Eto’o e Song).

Entrou, porém, com surpreendente disposição, em contraste com a displicência das duas rodadas iniciais.

O time de Felipão jogou em busca do padrão apregoado como o meio, reeditar o desempenho da Copa das Confederações, para atingir o fim, o hexa.

Pressionou, buscando sufocar, mas logo reapareceu a ciclotimia que faz alternar força e fraqueza com frequência espantosa.

Aos 16 min, Luiz Gustavo roubou uma bola na esquerda, avançou e passou para quem não deixa a torcida na mão: Neymar, 1 a 0.

A jogada do gol foi rápida, o contrário da lerdeza que insiste em atrapalhar a dinâmica da seleção.

A vantagem sumiu aos 25 min, com gol de Matip. Pouco antes, os camaroneses haviam acertado o travessão. No gol de empate, Nyom deixou Daniel Alves para trás, mas a falha principal do Brasil foi o lateral-direito não ter tido cobertura.

Camarões ia à frente, e o Brasil expunha suas fragilidades, alternando marcação forte e frouxa, velocidade e lentidão.

Noutra diferença com a Copa das Confederações, os laterais avançavam com menos sucesso. Paulinho, quando chegava ao ataque, não oferecia perigo.

Enquanto isso, Neymar driblava, passava, lançava, era caçado e provocado. Mais do que a alma, a grande arma letal da equipe. Aos 34 min, ele desempatou, anotando seu segundo gol no jogo e o quarto no Mundial, do qual é o artilheiro isolado.

Esteve tão bem, no estádio Mané Garrincha, que no intervalo membros da delegação camaronesa pediram para tirar fotos com ele.

O Brasil melhorou já no começo da segunda etapa, com o ingresso de Fernandinho no lugar de Paulinho, como segundo volante.

A dupla personalidade deu lugar a uma só, competitiva, de quem se impõe.

Com a mudança, está claro: para recuperar o futebol da Copa das Confederações, é preciso mudar a escalação.

Fernandinho já pode ser considerado titular, e Paulinho reserva, imagino eu.

O progresso mais notável foi a aproximação dos jogadores, como fazem nos principais clubes europeus, e a manutenção da alta voltagem.

Aos 3 min, Neymar quase marcou. Em seguida, de cabeça, Fred fez 3 a 0. Fernandinho, recém-integrado à equipe, participou da jogada.

Enquanto Hulk não vivia seus dias mais inspirados e Oscar não brilhava como na estreia, contra a Croácia, Neymar enlouquecia os camaroneses, mesmo sem haver um armador para ajudá-lo com mais eficiência e constância.

Como as botinadas passaram a atingi-lo, Felipão tirou-o aos 25 min, dando lugar a Willian.

Aos 38 min, o Brasil fez 4 a 1. Adivinha com quem? Fernandinho.

Mas a essa altura o placar já proporcionava contra-ataques que não são o padrão para o Brasil, que costuma tomar a inciativa.

Nas oitavas-de-final, o Chile será um adversário forte, mas a seleção de Neymar entra como favorita.


Holanda 2 x 0 Chile: times expõem temor de enfrentar o Brasil
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Mário Magalhães

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Holanda e Chile têm times para fazer jogo duro contra o Brasil. Ganhando ou perdendo, mas de igual para igual.

Na vitória holandesa de 2 a o hoje na Arena Corinthians, contudo, assistiu-se a uma obsessão comum às duas equipes: escapar da seleção brasileira nas oitavas-de-final.

Os holandeses terminaram em primeiro no grupo B, com nove pontos (100% de aproveitamento), seguidos dos chilenos, com seis (67%).

Se o Brasil for o campeão da chave A, pegará o Chile  no mata-mata da fase seguinte. Se for segundo, enfrentará a Holanda.

Os dois contendores do jogo recém-encerrado atuaram apostando que os brasileiros chegarão à frente no grupo. Por isso, armaram-se para fugir do escrete de Neymar.

O confronto foi esquemático: o Chile manteve a bola consigo, em busca da vitória que lhe daria a dianteira (devido ao saldo de gols, o empate favorecia a Holanda).

Teve a posse da pelota, mas criou pouco e não vazou o gol de Cillessen.

Já a Holanda agrupou-se atrás, investindo em contra-ataques.

A equipe de Robben abriu o placar graças ao jogo aéreo, com Leroy Fer, de cabeça, aos 31 min do segundo tempo. Ele havia acabado de substituir Sneijder. Contra os baixinhos chilenos, decidiu.

Aos 46 min, num contra-ataque fulminante de Robben, ele passou para Depay anotar 2 a 0.

A partida era esperada como grande espetáculo, considerando as atuações nas duas primeiras rodadas.

Acabou frustrando, sobretudo pela tática holandesa, com temor de pegar o Brasil.

Mas tática bem-sucedida, mortal, para assustar seu próximo adversário.

Também para não cruzar com a seleção de Felipão, o Chile se arriscou mais à frente no fim, mas sem sucesso.

Se o Brasil vai se classificar mesmo e ficar em primeiro na sua chave são outros quinhentos.

Daqui a pouco saberemos.


‘Prenúncio de que a Copa seria o ‘fim do mundo’ não aguentou três dias’
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Mário Magalhães

DER SPIEGEL: "MORTE E JOGOS, O BRASIL ANTES DA COPA DO MUNDO"A revista alemã D... linha de frente

Revista alemã ‘Der Spiegel’ cantou em maio o fiasco da Copa

 

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Como tem tanta gente que ainda se abala por conta do que o jornalismo estrangeiro diz ou deixa de dizer sobre o Brasil, o blog compartilha a oportuna reportagem de Nelson de Sá publicada neste domingo na “Folha”:

* * *

Prenúncio de que a Copa seria o ‘fim do mundo’ não aguentou três dias

Por Nelson de Sá

Do início do ano até a abertura da Copa do Mundo, a imagem do Brasil foi alvo de um ataque de histeria na mídia ocidental.

Na capa da revista alemã “Der Spiegel”, com o enunciado “Morte e jogos – O Brasil antes da Copa do Mundo”, uma bola em chamas caía como meteoro sobre o país.

Os tabloides ingleses avisavam que torcedores arriscariam suas vidas se viajassem ao Brasil, e que Londres já havia sido consultada para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 no lugar do Rio.

O correspondente do “New York Times”, Simon Romero, anunciava na primeira página que as obras atrasadas e mortais dos estádios simbolizavam o fim das “grandes ambições” do Brasil.

Iniciada a Copa, porém, o fim do mundo que fora anunciado por quase seis meses não aguentou três dias.

No sábado (14), a maior e mais independente agência de notícias, Reuters, informou que os torcedores estrangeiros estavam felizes de encontrar tudo de pé e que os protestos eram pequenos.

Desde antes, na verdade, celebridades e jornalistas vinham tuitando a estranheza por não encontrar o caos imaginado ao chegar ao país.

Para ler a íntegra, basta clicar aqui.


EUA 2 x 2 Portugal: para a Copa, o pior resultado
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Mário Magalhães

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Poderia ganhar Portugal, poderiam ganhar os Estados Unidos.

O empate de 2 a 2 foi muito ruim para a Copa, por um motivo que nada tem a ver com paranoia, e sim com pragmatismo.

Na última rodada do Grupo G, haverá dois confrontos simultâneos: EUA x Alemanha e Portugal x Gana.

Alemães e norte-americanos somam quatro pontos.

Portugueses e ganeses, um.

Eis o problema, digamos, em matéria de competição: se empatarem, os líderes passam às oitavas-de-final, haja o que houver na outra partida.

Não insinuo _não insinuo, mesmo!_ que se celebrará um compromisso imoral das seleções de Klinsmann e seu ex-auxiliar Löw de deixar tudo igual, para eliminar os outros.

Porém, se ambos resolverem colocar as equipes atrás, com formações defensivas demais, haverá quem sugira ter havido mutreta.

É um direito tomar mais cuidado, se um empatezinho favorece.

Para o Mundial, é péssimo que suspeitas de arranjo possam prosperar.

Torcerei para haver um vencedor e um vencido entre Alemanha e Estados Unidos, para que o outro jogo também possa mandar uma seleção à próxima fase.