Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : junho 2014

O outro Deus
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

Eis a primeira página do diário argentino “Olé” neste domingo:


Alemáquina emperrou
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

Primeiro tempo letárgico, segundo acelerado e vibrante.

Um 2 a 2 entre Alemanha e Gana para honrar as tradições do Castelão e o cartel de jogões desta Copa.

Para os anais do futebol, a partida registrou mais um gol de Klose, agora com 15, igualado a Ronaldo como o maior artilheiro da história dos Mundiais.

Na competição em curso, a igualdade corroeu a imagem de máquina de eficiência deixada pela Alemanha na estreia.

Agora fica ainda mais claro: a goleada de 4 a 0 sobre Portugal teve a ajuda de quatro erros individuais portugueses e da expulsão do zagueiro Pepe ainda no primeiro tempo.

Diante de Gana e sua determinação, a Alemáquina emperrou.

Era difícil imaginar que isso ocorreria frente à seleção que caíra por 2 a 1 em seu primeiro jogo, batida pelos Estados Unidos.

Aí está uma das graças do futebol.

Certa vez Zagallo prognosticou que o futebol do futuro teria o sistema 1-10, um goleiro e, na linha, dez jogadores sem posições fixas.

O time do técnico Joachim Löw tem quatro defensores, todos zagueiros de origem. Dois deles, sem vocação ofensiva, exercem a função de lateral.

No meio e no ataque, há seis jogadores, nenhum atacante-atacante. Mais atrás, Lahm, Khedira e Kross.

À frente, Özil pela direita, Müller pelo centro e e Götze pela esquerda.

A intenção é se infiltrar tocando. Devagar, quase parando, como em parte da partida deste sábado, fica difícil.

O 4-6 de tanto sucesso contra os portugueses enguiçou frente aos ganeses bem plantados na defesa e rápidos na saída para o ataque. Dos campeões mundiais, só a França empolgou nas duas primeiras rodadas.

Na primeira etapa, os alemães pareceram , além de lentos, displicentes. Seu goleiro, Neuer, fez duas grandes defesas em chutes de fora da área.

O segundo tempo mudou o confronto, com Alemanha e Gana jogando-se fervorosamente à frente, com rapidez, com os ataques superando as defesas.

Com um vacilo da marcação ganesa aos 5 min, Götze abriu o placar de cabeça.

Cinco minutos mais tarde, também em cabeçada, Andre Ayew empatou.

Lahm errou um passe aos 18 min, concedendo contra-ataque que terminou com 2 a 1 para Gana, gol de Asamoah Gyan.

Aos 24 min, Klose substituiu Götze. No primeiro toque na bola, após cobrança de escanteio, tocou para dentro: 2 a 2, e 15º gol em Copas.

Até o fim, foi um toma-lá-dá-cá emocionante.

Dois times empolgantes, azeitados no segundo tempo, mas sem nenhuma máquina de jogar futebol em campo.


Fantasma do quadrado mágico do Brasil-2006 paira sobre quarteto argentino
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

O espectro que ameaça a Argentina, como se viu hoje na vitória apertada de 1 a 0 sobre o fraco Irã, é o mesmo que assombrou e nocauteou a seleção brasileira na Copa de 2006: o fracasso do quarteto de jogadores fantásticos, mas que sucumbe em Mundial.

Com Higuain desde o início, depois de só entrar no segundo tempo na estreia vitoriosa de 2 a 1 contra a Bósnia-Herzegóvina, o time do técnico Alejandro Sabella escalou seus quatro grandes talentos ofensivos: Agüero e Higuain mais enfiados, Messi vindo um pouco de trás, e Di Maria, no meio-campo.

A despeito da imensa categoria, só conseguiram furar uma vez o ferrolho montado no Mineirão pelo treinador português Carlos Queiroz.

Em 2006, o Brasil chegou como favorito à Copa da Alemanha, credenciado pela história, pelo título na Copa das Confederações no ano anterior e pelo “quadrado mágico” cantado como o suprassumo da categoria: Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Ronaldo e Adriano.

Os fab four canarinhos formavam mais um losango que um quadrado, que funcionara muito bem, mas fraquejou na Copa, sem lograr a consagração que de fato pesa na cultura do futebol nacional.

O Brasil acabou eliminado pela França nas quartas-de-final.

Hoje, a retranca iraniana foi bem-sucedida quase até o fim. No primeiro tempo, a Argentina logrou algumas chances, mas poucas de maior perigo.

A equipe sul-americana entrou com uma escalação mais ofensiva do que no primeiro jogo. Em vez de três zagueiros e dois atacantes, lançou dois na zaga e três no ataque, um deles Higuain.

Para penetrar em meio a uma imensidão de defensores, necessitava de velocidade, virtude que lhe faltou.

Parecia o treino tático mais empregado, de ataque contra defesa. Cada time exercitava somente uma das funções.

Tamanha a dificuldade na área oposta superpovoada, Messi recuou insistentemente, em busca da bola, chamando o jogo. Sem sucesso.

Ele passou, lançou, sofreu falta e cobrou. Numa cobrança, a bola raspou o travessão. Noutra, Messi cruzou para Garay, que cabeceou para fora.

Quando os argentinos não finalizavam mal, Haghighi, trajando um clássico uniforme negro de goleiro, defendia.

Depois do intervalo, os iranianos passaram a encaixar contra-ataques. Romero fez três grandes defesas.

A Argentina se ressentiu de laterais, Zabaleta e Rojo, sem o cacoete de atacante tão comum nos brasileiros das mesmas posições.

Messi arrancou, finalizou com perigo, também em cobrança de falta. Tentava e não conseguia.

O resultado era surpreendente, por méritos do Irã em defender e deméritos da Argentina ao atacar.

Poderia ser pior para os bicampeões, caso os iranianos caprichassem mais nas três oportunidades desperdiçadas no segundo tempo.

O goleiro argentino foi decisivo.

Do quarteto, Agüero e Higuain estiveram de mais ou menos a mal e saíram. Di Maria esteve bem.

E Messi? Na virada dos 45 para os 46 min, ele dominou, arrumou e chutou de canhota, de fora da área, para decidir a partida que terminava.

Messi lutou até o fim.

Gênio é gênio, mas o fantasma do “quadrado mágico” de 2006 está à espreita.


Fifa parece temer doping de costa-riquenhos e armação em Brasil x Camarões
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

Há algo no ar além de aviões de carreira, diriam no tempo do Barão de Itararé (1895-1971), jornalista e humorista inspirado a quem a frase é atribuída.

No mesmo dia, dois lances da Fifa dão o que pensar.

Um chefão da entidade disse nesta sexta-feira que o jogo entre Brasil e Camarões, pela terceira e derradeira rodada do grupo A, é mais passível de armação do que a abertura e a final da Copa (leia aqui, na reportagem do Rodrigo Mattos).

O nome da suspeita é aposta. A jogatina bilionária em torno dos resultados do Mundial.

Também ontem, depois da vitória de 1 a 0 sobre a Itália, a Fifa estranhamente determinou que sete jogadores da Costa Rica fizessem antidoping. Somente três italianos foram convocados para o exame.

Claro que a entidade manda-chuva do futebol dirá não suspeitar que camaroneses possam fazer corpo mole diante do Brasil nem que os triunfos costa-riquenhos contra Uruguai e Itália possam ter sido obtidos com incentivo químico ilegal.

Mas que parece haver suspeitas, parece.

Mesmo se elas procederem, foi leviano expor os atletas africanos sem apresentar indícios consistentes.

E, se sete centro-americanos foram examinados, sete europeus também deveriam ter sido.

Há algo no ar.


Bahia, terra da felicidade… e dos gols
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

A Bahia, como sabe quem a conhece e ensinou Ary Barroso na letra de “Na Baixa do Sapateiro”, é a terra da felicidade.

Consagra-se agora como a meca dos gols da Copa.

Primeiro, recebeu Holanda 5 x 1 Espanha.

A seguir, a goleada de 4 a 0 da Alemanha sobre Portugal.

Nesta sexta-feira, assistiu ao chocolate da França na Suíça, 5 a 2.

Dezessete, no total.

Na média,  5,66 gols por jogo.

E ainda falta a Fonte Nova sediar mais três partidas.

O mineiro Ary Barroso (1903-1964), que além de genial compositor também era narrador de futebol no rádio, teria muito gogó a gastar em terras soteropolitanas.

E poderia passear na Baixa dos Sapateiros, em Salvador, e descobrir que o correto é escrever “sapateiros” no plural.

Hoje, Giroud, Matuidi e Valbuena marcaram no primeiro tempo, liquidando os suíços. Benzema ainda desperdiçou pênalti controverso.

Benzema deixou o seu na segunda etapa, tornando-se, com três gols, um dos artilheiros da competição.

O quinto foi anotado por Sissoko, antes de Dzemaili e Xhaka descontarem.

Em lance incrível, Benzema fez o sexto tento francês _seria o seu quarto na Copa_ mais ou menos no instante em que o árbitro holandês Bjorn Kuipers apitava o fim. Não valeu.

O hino nacional francês, a “Marselhesa”, enfim foi tocado pelos alto-falantes _na estreia, o sistema de som falhara.

Empolgante, milhares de torcedores o entoaram durante o jogo.

No Beira-Rio, já houve oito gols, média de quatro.

O estádio baiano fica perto de antigas fontes d’água. O gaúcho, do rio Guaíba.

A tirada é infame, mas tentadora: aguaceiro de gols.


Brasil: o fim da lua de mel
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

A lua de mel foi arranhada pela vitória complicada sobre a Croácia e sofreu ainda mais com o empate diante do México.

Agora, a seleção brasileira parece arriscar não somente a lua de mel, mas o casamento com a torcida.

Nada que uma boa partida não resolva.

Ou que uma má faça degringolar de vez.

Eis a parte superior da primeira página de hoje do jornal “Extra”, aqui do Rio:

 


Mesmo garfado, o vira-lata virou cachorro grande
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

Até o início da Copa, estávamos assim combinados: na chave D, o temível grupo da morte, a Costa Rica seria tanto sparring quanto decisiva.

Sparring devido à enorme diferença de tamanho com as outras três seleções com que competia, todas campeãs: Itália (tetra), Uruguai (bi) e Inglaterra (uma vez).

E decisiva não por seus méritos, mas pelas fragilidades: o saldo obtido nas previsíveis goleadas contra os centro-americanos talvez definisse a passagem para as oitavas-de-final.

É só a quarta Copa da Costa Rica, muito atrás no ranking da Fifa, comparada aos contendores.

Depois da merecida vitória de 1 a 0 agora há pouco sobre a Itália, a Costa Rica está classificada para as oitavas. Até agora, como líder do grupo, com 100% de aproveitamento.

A Inglaterra, tremam os gramados, foi matematicamente eliminada!

Na terceira rodada, Uruguai e Itália se confrontarão em mata-mata, com empate favorecendo os europeus.

A Costa Rica era o  vira-lata. Virou cachorro grande. Ganhou apesar de erro grave da arbitragem que não assinalou um pênalti.

Quando Davi derrota Golias, o futebol se engrandece ainda mais.

Com desempenho sofrível, a Itália não engrenou.

Sua primeira grande chance veio aos 30 min do primeiro tempo, quando Balotelli desperdiçou lançamento magistral, de dezenas de metros, de Pirlo.

Dois minutos depois, da entrada da área, o atacante italiano chutou forte, e Navas defendeu.

Pirlo lançava, passava, fazia corta-luz, buscava reger o time, mas o espetáculo da estreia sobre os ingleses parecia ter ocorrido muitas Copas antes.

Desde o começo da partida, a Costa Rica mostrou que a vitória de 3 a 1 sobre o Uruguai não havia sido acidente. Segura na defesa, organizada no meio e insinuante no ataque, pareceu mais segura que a consagrada oponente.

Aos 41 min, acumulava quatro escanteios, contra um da Itália.

A essa altura, Duarte quase marcou de cabeça.

Então, o árbitro chileno Enrique Osses, escândalo, ignorou pênalti de Chiellini sobre o bom atacante Campbell.

Não é que Chiellini tenha somente derrubado o costa-riquenho. Ele o abalroou.

Uma tremenda garfada.

Como se os deuses do futebol quisessem corrigir a injustiça, aos 43 min Díaz cruzou, e Ruiz marcou de cabeça.

A bola passou pouco da linha, mas o sistema de imagens introduzido pela Fifa deu ao árbitro a certeza de que era mesmo gol. 1 a 0.

Para a segunda etapa, a Itália voltou sem Thiago Motta e com Cassano. Perdeu um dos três volantes e passou de um atacante para dois.

Aos 11 min, Candreva deu lugar a Insigne. Menos um no meio e um a mais no ataque, agora com três jogadores.

Os italianos foram à frente, mas logo o futebol solidário dos costa-riquenhos acalmou o jogo.

A Itália somou mais impedimentos do que boas chances.

Aos 46 min, a Costa Rica quase aumentou.

Jogão na Arena Pernambuco, mais um na Copa.


A ressurreição dos castelhanos
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog está no Facebook e no Twitter )

Mal o juiz trilou o apito ao final da vitória da Costa Rica sobre o Uruguai por 3 a 1, na primeira rodada, sobrevieram obituários, redigidos às pressas, da bicampeã de Copas e bicampeã do futebol olímpico.

Embora faltassem duas partidas, a derrota havia sido para a equipe tida como café-com-leite na temível chave D, cantada como o grupo da morte. Afinal, as outras duas seleções são as tradicionais Itália e Inglaterra, que jogaram muito bem na estreia.

A considerar o noticiário fúnebre precipitado, em seguida ao fiasco inaugural, o que ocorreu nesta quinta-feira na Arena Corinthians foi a ressurreição dos uruguaios, na batalha renhida em que sobrepujaram os ingleses por 2 a 1.

O Uruguai venceu porque teve Luis Suárez, de volta depois de uma cirurgia de joelho às vésperas da competição.

Já a Inglaterra contou com Rooney. A despeito de driblar a maldição que o impedia de fazer gol em Copa _ontem anotou um, em seu terceiro Mundial_, ele desperdiçou chances decisivas.

Com garra de charrua, os uruguaios superaram suas limitações técnicas. Se em Suárez e Cavani sobra intimidade com a bola, Arévalo Ríos se impõe com o coração.

Eles são exemplares de uma gente que desde sempre luta contra obituários precoces.

É um povo que peleia, que não se submete ao mais forte, que parece preferir a adversidade a prevalecer na covardia. Ao levar uma joelhada no rosto, e o médico ordenar sua substituição, o bravo Álvaro Pereira negou-se a sair e prosseguiu valente na luta.

Menino do Rio, na virada dos nove para os dez anos de idade eu me mudei para as bandas do Sul, a pouco mais de uma hora da fronteira com o Uruguai.

No começo, tinha dificuldade para entender algumas palavras e chegava a pensar que os gaudérios tropeçavam no idioma. Logo percebi que o ignorante era eu: ali se incorporara o glossário dos castelhanos, como os uruguaios eram e ainda hoje são chamados.

Um dia acertei a canela de um guri numa pelada,  e ele prometeu: “Vou me desquitar”.

À época, ainda inexistia direito ao divórcio no Brasil, havia a instituição legal do desquite. Mas eu não me confundi. Entendi muito bem o que ele quis dizer, e tratei de me cuidar nas divididas.

Mais tarde, consultei o pai dos burros e confirmei que “desquitarse”, em espanhol, significa o que eu supusera: vingar-se.

Para aqueles lados, não se leva desaforo pra casa.

É o que se viu ontem: o Uruguai se desquitou dos anúncios fúnebres que o davam como abotoado.

Rooney fez um, mas perdeu dois: com um pé, cara a cara; e com a cabeça, quase na linha do gol, acertando a trave.

Suárez abriu o placar e, quando se imaginava que a partida terminaria em 1 a 1, marcou o segundo no fim, gerando a celebração de jogadores mais comovente na Copa até aqui.

Partidaço, com o triunfo épico daqueles que atavicamente se recusam a morrer de véspera.