Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : maio 2015

3ª-feira: Lançamento do livro ‘Brasil: Uma biografia’ tem bate-papo no Rio
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Mário Magalhães

blog - brasil uma biografia

 

Tremendo programa: o lançamento do livro “Brasil: Uma biografia” no Rio terá um bate-papo das autoras, Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, com o historiador José Murilo de Carvalho.

Será no Museu Nacional de Belas Artes, grudado à Cinelândia, a partir das 19h da próxima terça-feira, 2 de junho. Em seguida, rola sessão de autógrafos.

Às 17h30, boa pedida, haverá visita guiada ao museu. A visita exige inscrição, pelo e-mail universitarios@companhiadasletras.com.br Os participantes receberão certificado.

Não é preciso se inscrever para o bate-papo e a sessão de autógrafos.

À primeira vista, o projeto de biografia do Brasil é uma rematada maluquice.

Pois parece mesmo coisa de doido, no caso doidas, condensar tanta história em um só volume. Ainda mais num livro rico em ilustrações e abordagens, com a prosa saborosa característica das duas autoras.

O que soa como insanidade para tanta gente, como eu, foi desafio e triunfo para as professoras da USP, Lilia, e da UFMG, Heloisa.

A biografia editada pela Companhia das Letras está em primeiríssimo lugar nas listas de best-sellers de não ficção.

O fenômeno deve muito ao brilhantismo das autoras.

E à fome que os brasileiros, sobretudo os jovens, têm de conhecer a nossa história.

E ainda há quem diga que as pessoas não se interessam por história e que o brasileiro não tem memória…

Até a terça-feira!

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Explicada a ‘arrancada modernizadora’ da CBF: Del Nero se arrancou da Suíça
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Mário Magalhães

blog - extra del nero

 

Em artiguete recente, o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, proclamou uma “arrancada modernizadora para o futebol brasileiro”, desde a posse, no mês passado, de Marco Polo Del Nero na presidência da CBF.

Eu pensei e pensei, pensei mais um pouco, recapitulei os fatos, tornei a pensar e não entendi.

Pois agora, enfim, consegui.

O cartola se arrancou às pressas da Suíça, onde seu antecessor e fiel companheiro José Maria Marin acabara de ser preso.

Se é modernizadora, eu não não sei. Mas que foi uma senhora arrancada, quem há de negar?

Mas se arrancar da CBF, que é bom, nada: Del Nero não pretende renunciar, como acaba de dizer em entrevista.

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Bebeto propôs medalha ao ‘imprescindível’ Marin
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Mário Magalhães

Bebeto ao lado do presidente da CBF, José Maria Marin, durante evento da Copa das Confederações

O fã, Bebeto, e o ídolo, Marin – Foto reprodução ESPN

 

Quem lembrou foi o botafoguense Fernando Molica, no jornal “O Dia”: em 2012, o deputado Bebeto propôs que a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro concedesse a Medalha Tiradentes ao então novo presidente da CBF, José Maria Marin.

Como se sabe, o ex-deputado da Arena é vidrado numa medalha.

Molica conta que Bebeto, antigo craque e atual deputado do partido Solidariedade, “ressaltou a ‘ilibada trajetória de vida’ do dirigente e seu ‘tratamento exemplar às causas públicas'”.

Ambos integravam o Comitê Organizador Local da Copa de 2014.

O projeto de Bebeto nunca foi votado, mas chegou a tramitar.

Não se sabe se o deputado pretende visitar Marin, que está preso na Suíça.

Na justificativa para a condecoração, Bebeto classificou o cartola no perfil dos homens “imprescindíveis”, “personagem da vanguarda administrativa” e praticante da “maior transparência possível”.

A íntegra da justificativa está reproduzida abaixo:

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Justificativa do deputado Bebeto para concessão da Medalha Tiradentes a José Maria Marin:

Há pessoas que vieram a este mundo para servir, porém encontramos alguns que poderiam ser o exemplo vivo da máxima “Há homens que lutam um dia e são bons; … vários anos e são excelentes; Mas existem aqueles que lutam a vida inteira esses são imprescindíveis”.

Exatamente desta forma enquadramos o perfil de nosso homenageado. Dr. JOSÉ MARIA MARIN nascido em 06 de maio de 1932 no Estado de São Paulo, onde em 1955 formou-se Advogado, cujo as despesas foram pagas em parte com a receita auferida com o futebol, pois no período de 1950 e 1952, fora contratado como ponta direita do São Paulo.

Foi Deputado Estadual, Deputado Federal, Vice Governador e também Governador por 10 (dez) meses, cargos exercidos no Estado de São Paulo. Foi Presidente da Federação Paulista de Futebol, Chefe da Delegação Brasileira na Copa do Mundo de l986, Vice Presidente da Confederação Brasileira de Futebol, com a renuncia do Presidente Ricardo Teixeira assumiu a Presidência da Confederação Brasileira de Futebol, cargo que ocupa atualmente.

É sem qualquer dúvida o principal personagem da Vanguarda administrativa que elabora todos os programas voltados ao Brasil sede da Copa do mundo de 2014, este exercício, assim como tantos outros é fincado na maior transparência possível, não se deixar levar pelo cansaço, os dias que antecedem este mega evento esportivo na sua opinião deveriam possuir muito mais que vinte e quatro horas, quando tudo parece perfeito, ainda assim nosso homenageado ainda questiona se haveria como fazer melhor.

Suspeito sou para falar pois sou membro da Administração do Comitê Organizador Local – COL – Copa 2014, quando sou questionado sobre as condições que faremos acontecer a COPA/2014, não tenho qualquer dificuldade em dizer: ” Faremos um evento digno de grandes astros” afinal estamos no pais do futebol onde a pátria calçara as chuteiras e estaremos brindando certamente uma conquista histórica que vislumbrar nossa seleção campeã mundial de futebol em 2014.


Tucano cai, bate no muro, fere-se, zonzeia e voa antes de bombeiro chegar
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Mário Magalhães

Manhã de hoje, Botafogo, Rio: ao fundo, o Cristo em dia nublado

Manhã de hoje, Botafogo, Rio: ao fundo, o Cristo em dia nublado

 

Foi agorinha há pouco, na manhã desta sexta-feira, na Casa de Rui Barbosa, rua São Clemente, Botafogo, zona sul carioca.

Pelo que o pessoal da casa contou aos bombeiros, um tucano caiu de árvore do belo quintal, bateu num muro, feriu-se e ficou zonzo.

Como o Corpo de Bombeiros socorre aves silvestres feridas ou presas, foi chamado para salvar o bicho de bico longo.

Quando o pessoal chegou, o contundido já tinha se restabelecido do choque, voado e sumido.

Em Botafogo há muitos tucanos, em todos os sentidos. Inclusive os que passeiam pelas ruas grudadas aos morros onde eles vivem.

Ao acompanhar a breve passagem dos bombeiros pela Casa Rui, um gaiato batizou: o ferido se chama Aécio; levou uma traulitada, ficou meio zonzo, mas se recuperou.

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O fantasma do xilindró: salve-se quem puder!
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Mário Magalhães

CBF retira nome de José Maria Marin de edifício

Limpar o prédio é fácil; o problema é limpar a história – Foto Ariel Subirá/Futura Press/Estadão Conteúdo

 

Ninguém é mais detestado hoje, pelos chefes da cartolagem brasileira e pelos mandarins dos negócios do futebol no país, que José Hawilla, o J. Hawilla, superempresário do marketing esportivo e das comunicações, dono da empresa, a Traffic, cujo nome equivale a confissão.

E ninguém é mais temido.

Pego com a mão na botija por autoridades dos Estados Unidos, Hawilla comprometeu-se a restituir perto do equivalente a R$ 500 milhões e ajudar a investigação sobre crimes como fraude, lavagem de dinheiro e extorsão. O ex-jornalista controla também uma empresa sediada nos EUA.

Antigos camaradas agora o chamam de traidor.

Se os fatos correspondem às informações às vezes implícitas fornecidas pelo Departamento de Justiça, Hawilla foi decisivo na obtenção de provas de corrupção, talvez portando ele mesmo gravador oculto _ou levando suspeitos à arapuca de ambientes monitorados_ para registrar conversas comprometedoras. Como foi feita a gravação em que José Maria Marin trata de propina paga a ele e a Ricardo Teixeira? Seu interlocutor era Hawilla.

A operação desencadeada ontem com sete prisões na Suíça assustou figuras que ostentaram poder político e financeiro desde o começo da década de 1990. Gente que se cumprimentava, à moda mafiosa, com beijos estalados nas bochechas, como testemunhei em encontros da Fifa mundo afora.

À primeira notícia dos camaradas em cana, desatou-se o salve-se quem puder.

Há culpado com medo de ser acusado, e inocente temeroso de ser confundido com culpado.

O mais notório figurão ameaçado é o presidente da Fifa, Joseph Blatter. A entidade apressou-se em alardear apoio à apuração acerca de negociatas criminosas. A alegada roubalheira atingiu eventos controlados pela cúpula da Fifa, como a Copa do Mundo (alguém pagou para o Brasil receber o Mundial?). A luta de Blatter é para sobreviver, ainda que a Fifa com ou sem ele saia da crise como um conglomerado empresarial menor do que é.

Seu antecessor, João Havelange, assumiu nos anos 1970 e só largou o osso em 1998. O período derradeiro de sua era senhorial está sob o escrutínio de procuradores e tiras norte-americanos. Como se sabe por episódios comprovados e não comprovados, o veterano dirigente talvez tenha o que temer.

Na Suíça, Marin está vendo o sol nascer quadrado _se é que vê o sol nascer, e na hipótese de sua cela individual ter janela, de a janela ser quadrada e ser voltada para os lados do Leste. Veste pijama listrado?

Ricardo Teixeira, a quem Marin sucedeu em 2012, está solto. Costuma passar a maior parte do tempo em sua mansão de Boca Ratón, na Flórida (que enredo, Traffic, Boca Ratón…). Mas a investigação em curso flagrou Marin e Hawilla conversando sobre propina para o ex-genro de Havelange. Teixeira deixou a CBF e a Fifa pelas portas dos fundos, mas escapou. Agora, a depender das provas colhidas pelos investigadores no país que ele escolheu para viver, o perigo volta a rondar. A “Folha” publicou que Teixeira está no Rio.

O sucessor de Marin, Marco Polo Del Nero, foi rápido nas manobras para se desvencilhar do antecessor. Nota da CBF afirmou que “a nova gestão [da entidade], iniciada no dia 16 de abril de 2015, reafirma seu compromisso com a verdade e a transparência”. Nenhuma palavra sobre Del Nero ter sido o vice de Marin e de Marin ser vice na CBF, condição que foi cancelada ainda ontem. Em Zurique, Del Nero disse que os “contratos [suspeitos] foram firmados antes da administração do Marin”. Nada falou sobre renovação ou revalidação, já com Marin na cabeça, de compromisso comercial referente à Copa América, competição que teria movimentado dinheiro ilegal.

Mais grave, os “EUA indicam que Marin dividiu propina com Del Nero e Teixeira“, mancheta neste instante o UOL. Há menos de duas semanas, Walter Feldman, secretário-geral da CBF, escreveu que “o presidente Marco Polo Del Nero assumiu em 16 de abril pronto para dar uma arrancada modernizadora para o futebol brasileiro”. Agora deu para entender. Na correria para ocultar a proximidade, a fachada do prédio da CBF teve retirado nesta manhã o letreiro com o nome que o batiza, o de José Maria Marin. Limpar o prédio é fácil; o problema é limpar a história.

Outro antigo parceiro de Ricardo Teixeira e J. Hawilla, e que ainda mantém negócios polpudos com a CBF, é Kleber Leite. Sua empresa Klefer teve as instalações vasculhadas pela Polícia Federal ontem à noite. Kleber, como quase todos os protagonistas dessa história, aguarda para saber que informações o FBI acumulou. Por enquanto, joga-se sem muita ideia das cartas dos investigadores.

O contexto pré-eleitoral não é favorável para certos empresários e cartolas. Uma CPI para investigar o submundo do futebol tem de fato bons motivos para ser instalada. Mas não é só isso que aflige quem tem razões para isso. A iniciativa é do senador Romário, que ganha uma vistosa vitrine para reforçar sua imagem, às vésperas do pleito municipal do Rio. Talvez ele se candidate a prefeito no ano que vem.

A considerar o que foi divulgado até o momento, intermediários (como Traffic e Klefer) de direitos de marketing e de transmissão de eventos futebolísticos pagaram propina para cartolas-empresários. E não quem comprou, dos intermediários autorizados, os direitos. Isto é, emissoras de TV e fabricantes de material esportivo. Mas existe apreensão, ao menos na Nike.

Se J. Hawilla contando o que fez e sabe já resultou nisso tudo, imagina se Ricardo Teixeira topa uma, digamos, delação premiada.

O fantasma que acossa alguns cartolas e empresários tem nome: xilindró.

Ninguém quer virar Marin.

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Fla segue mal, mas ao menos ninguém falará mais em recorrer a Kleber Leite
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Mário Magalhães

Ex-presidente do Flamengo, Kleber Leite concedeu entrevista ao UOL Esporte

Kleber Leite, página infeliz – Foto Vinicius Castro/UOL

 

Depois de assistir ao Sevilha conquistar a Liga Europa e ao Inter avançar bravamente na Libertadores, eu não vi a despedida do Cruzeiro, despachado pelo River Plate.

Paixão é um negócio complicado: em vez de me ligar no Mineirão, preocupei-me só com o anêmico time do Flamengo, que no Maracanã empatou em 1 a 1 com o Náutico.

Assim foi minha quarta-feira de futebol, temperada pela esperança de que com o Cristóvão Borges o rubro-negro dê uma melhorada que nos livre de maiores vexames neste duro 2015.

Enquanto nossa desarrumada equipe batalhava no Maraca, pela Copa do Brasil, a Polícia Federal vasculhava a Klefer, empresa de marketing esportivo de Kleber Leite.

Aquele mesmo, ex-presidente do Flamengo, cujas finanças não têm nada a agradecer aos tempos do ex-cartola no poder.

O FBI e o Ministério Público dos Estados Unidos, informa o noticiário, associaram o empresário aos esquemas mafiosos em torno de dirigentes da CBF e da Fifa.

A pedido das autoridades norte-americanas, e com respaldo da Justiça brasileira, a PF buscou documentos na Klefer.

Até outro dia havia torcedores do Flamengo, muitos deles de boa intenção, empenhados em pedir a volta de Kleber Leite à condição de mandachuva do clube.

Com o maior escândalo de corrupção do futebol, ninguém terá mais a o desatino de sugerir tal retrocesso.

Para o Flamengo, Kleber Leite nunca foi solução.

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Não esqueçam o que eu escrevi: Se tivesse ‘padrão Fifa’, Brasil seria pior
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Mário Magalhães

Junho de 2013: faixa exibida em protesto em Fortaleza – Foto Luiz Paulo Montes/UOL

 

Juro pelos que me são mais caros que eu não encomendei a coincidência de data aos investigadores federais e procuradores norte-americanos, nem aos policiais suíços…

Na manhã de 27 de maio de 2015, ontem, eles desencadearam uma operação que vai colocando em cana cartolas vinculados à Fifa, inclusive o “nosso” José Maria Marin.

Um ano antes, cravadinho, na manhã de 27 de maio de 2014, o blog publicava o post “Se tivesse ‘padrão Fifa’, o Brasil seria muito pior”.

Os episódios e revelações das últimas horas reforçaram minha convicção.

Ao contrário de certa tradição nacional, não peço para esquecerem o que escrevi. Republico abaixo o artiguete.

Aos arqueólogos que se interessam pelo tema da hidrofobia eleitoral, sugiro um passeio pelos trezentos comentários de leitores que se pronunciaram sobre o texto ou por ele se sentiram estimulados a opinar.

Para ler, basta clicar aqui.

Eu não tinha o propósito de falar sobre governo, oposição, candidatos, nada disso.

Apenas tratei do incensado “padrão Fifa”.

Mas muita gente não entendeu, e apanhei feito cachorro magro.

Quantos ainda discordam das linhas de um ano atrás?

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Se tivesse ‘padrão Fifa’, o Brasil seria muito pior

(27 de maio de 2014)

A palavra de ordem se disseminou com intenção generosa: o Brasil padrão Fifa seria melhor.

No Google, aparecem 460 mil registros quando se digita “padrão Fifa” entre aspas.

Os serviços públicos, a começar por educação e saúde, teriam mais qualidade, se mimetizassem o alto nível da dona do futebol _é a ladainha que ouvimos desde junho de 2013.

Com o perdão dos que adotaram a divisa, eu acho que o padrão Fifa é uma balela ou significa o avesso do lugar-comum que se fixou no imaginário nacional.

O país seria muitíssimo pior caso se espelhasse nos valores, métodos e obra de Sepp Blatter e seus bons companheiros.

Na saúde, o padrão Fifa seria o contrário de cuidar da vida dos brasileiros, o que se faz (ou deveria ser feito) com bons hospitais e pronto-socorros, profissionais qualificados e bem remunerados, prevenção acurada, saneamento para todos, alimentação decente e outras providências.

Seria o contrário porque a Fifa secundariza a saúde dos jogadores de futebol e prioriza o caixa.

Na Copa de 94, a entidade, ainda conduzida por João Havelange, impôs jogos ao meio-dia no escaldante verão californiano.

Já na gestão de Joseph Blatter, entregou de modo suspeito o Mundial de 2022 ao Catar, onde o calor torturante ataca na época do ano que a tradição reserva ao torneio.

Isso é se preocupar com a saúde?

A educação inspirada no padrão Fifa não seria dos sonhos, e sim o oposto.

Ao abordar o racismo, em vez de ensinar a repulsa, os professores pregariam tolerância com a segregação.

Por todo o planeta, acumulam-se episódios de preconceito. Em vez de punir as agremiações que acolhem torcedores racistas, a Fifa somente obriga seleções a entrarem em campo com faixas cujos dizeres, embora justos, estão longe de proporcionar o efeito de castigos exemplares.

E as lições de democracia?

O que há de se aprender com a política elitista de preços escorchantes dos ingressos?

Mesmo dentro das ditas arenas, camarotes chiquérrimos documentam e celebram a desigualdade obscena.

Uma federação que interdita a alternância de governo e eterniza seus capi sugere democracia? Por mais de 20 anos, Havelange não largou o osso. Seu sucessor mantém idêntico apetite.

De acordo com o padrão Fifa, ditaduras não são ruins e ditadores são todos boa gente, desde que se prestem aos propósitos dos poderosos chefões encastelados na Suíça. Já havia sido assim na Copa de 78, na Argentina do genocida Videla, e continua hoje, quando os tiranos mais sinistros são bem-vindos na entidade.

O que a Fifa diria sobre controle rigoroso de negócios em geral e operações financeiras em particular?

Dificilmente apresentaria como case o esquema que resultou na escolha do Catar.

Muito menos o que permite que amigos da cartolagem lucrem com ingressos da Copa, fazendo decolar a preços ainda mais exorbitantes pacotes que já são para poucos.

É essa a gestão que queremos como padrão?

O padrão Fifa subverte o ensinamento franciscano do “é dando que se recebe”, a considerar tantas denúncias de propinas.

O que o padrão Fifa propõe para quem é flagrado em impedimento, senão a impunidade? Que punição houve para Havelange e Ricardo Teixeira?

É essa a Justiça ideal, o padrão Fifa de combate à corrupção?

Em que o Brasil prosperaria se imitasse o comportamento do secretário-geral Jérôme Valcke?

Ele é o mesmo executivo que embolsou, na condição de lobista, dinheiro da candidatura brasileira ao Mundial e mais tarde, na pele de cartola, sugeriu um pontapé no nosso traseiro.

Do seu papel no lobby só se soube graças a furo do repórter Sérgio Rangel.

Almejamos a transparência padrão Fifa, que escondia o frila do francês?

Em matéria de inovação e evolução, será que o caminho é o da Fifa, que resiste [resistia] até ao controle eletrônico para saber se a bola entrou no gol?

De todas as expressões do farisaísmo do padrão Fifa, duas se destacam.

A primeira, quando a entidade fala em legado disso e daquilo para o Brasil. Ela está interessada em multiplicar sua fortuna. E só.

E quando alardeia sua devoção pelo futebol. A Fifa mercantilizou a níveis jamais vistos a mais genuína paixão dos brasileiros. Apropriou-se até de nomes consagrados, como “Copa do Mundo”.

Por sorte, pelo menos isso não conseguiram nos roubar, a paixão que constitui a essência do futebol.

A despeito de todas as mazelas que vigoram no país que figura entre os campeões da desigualdade, o Brasil no padrão Fifa seria ainda mais egoísta, hipócrita, inescrupuloso, obscuro e desigual.

Padrão Fifa é exigir do outro o que não se faz _faça o que eu digo, e não o que eu faço.

A Fifa já nos fez muito mal. Fará mais ainda se o seu famigerado padrão se tornar o nosso modelo.


Surpreendente, prisão de Marin soa como transmissão de invasão alienígena
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Mário Magalhães

“A guerra dos mundos” irradiada por Orson Welles era ficção; prisão na Suíça não é

 

Numa noite de 1938, o cineasta Orson Welles assustou milhares de ouvintes que acompanhavam a rádio CBS. Ele narrava e dirigia a dramatização de um livro de ficção, “A guerra dos mundos”, contando a invasão da Terra por marcianos. Nos Estados Unidos, muita gente pensou que se tratava de jornalismo e se desesperou.

A invasão dos extraterrestres foi anunciada em forma de boletim noticioso, mas não era verdade.

A prisão de José Maria Marin hoje de manhã também é difundida pelo jornalismo e parece tão improvável quanto um ataque marciano. Porém é verdade.

Não que o ex-presidente da CBF não tenha feito por merecer, cabe à Justiça julgá-lo no curso de processo sobre corrupção.

Mas um cartola indo em cana soa improvável demais para ser verdade.

O que será que a essa hora estão pensando outros ex-mandachuvas da entidade, João Havelange (presidiu a velha CBD) e Ricardo Teixeira, ambos com mais serviços prestados ao futebol que Marin, se é que me faço entender.

E o sucessor, ex-vice e fiel aliado de Marin, Marco Polo Del Nero? O novo presidente da CBF que os bajuladores promovem como renovador do futebol.

Será que prenderam mesmo o Marin na Suíça?

Não será pegadinha aprontada por algum herdeiro artístico do grande Orson Welles?

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