Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : maio 2015

Fla: é erro comparar demissão de Vanderlei Luxemburgo à de Jayme de Almeida
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Mário Magalhães

Luxa, na penúltima passagem pelo Flamengo – Foto Alex Carvalho/UOL

 

Vanderlei Luxemburgo foi demitido pelo Flamengo em virtude dos resultados pífios em 2015.

É do jogo discutir se o cartão vermelho foi justo e oportuno.

Mas constitui erro abissal equiparar a demissão de Luxa à de um ano atrás, quando Jayme de Almeida foi mandado embora.

Se o clube honrar com Vanderlei os termos combinados, nada há de ilegal ou imoral.

Assim como o técnico não teria traído o rubro-negro se tivesse aceitado o convite do São Paulo para mudar de ares.

O contrato com o Flamengo lhe permitia ficar ou partir, desde que cumprisse as cláusulas relativas a rompimento.

Se alguém acredita que Vanderlei preferiu permanecer no Flamengo por causa do Flamengo que acredite.

Suspeito que problemas internos, regras e idiossincrasias do tricolor paulista o levaram a rejeitar a proposta.

No São Paulo, Luxa jamais teria as prerrogativas que ostentou em outras paragens, assumindo tarefas e poderes além das responsabilidades de técnico.

Fora do Flamengo, talvez acabe cedendo ao que antes recusara.

Ainda que por telefone, o Flamengo informou Luxemburgo sobre a demissão, conforme o colega Paulo Vinicius Coelho.

O treineiro disse a amigos que a cartolagem não teria sido correta com ele.

Errado. Se cumpre o prometido, e o prometido é devido, o clube exerce seu direito.

Vergonhosa foi a demissão de Jayme de Almeida, orgulho da história rubro-negra, filho de outro patrimônio da casa.

Em maio do ano passado, Jayme soube por jornalistas que tinha rodado.

Humilhado, deu entrevistas sem saber que não era mais o técnico, enquanto os entrevistadores tinham conhecimento da queda.

Jayme qualificou, com razão, como “asquerosa” a forma desrespeitosa como se livraram dele.

Menos mal que ele aceitou regressar ao seu clube de coração, compondo a comissão técnica.

Comparar a saída de Vanderlei à de Jayme é respaldar o discurso de vítima de quem parte agora.

O desempenho de Vanderlei é muito fraco em 2015, mas eu não o demitiria, ao menos por enquanto, sem lhe dar a chance de contar com eventuais reforços de peso.

Discordo, porém, da abordagem que busca deslegitimar a decisão do clube.

Outro engano seria pensar que os problemas se limitam ao treinador.

Sem a contratação de dois ou três jogadores bem melhores que os atuais o time viverá outra temporada sem maiores ambições.

E ambição começa com a escolha de um técnico qualificado, à altura do Flamengo.

Desses que não escalam três volantes para enfrentar o Avaí.

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Campanha para prefeito do Rio promete ser mais agitada que sucessão de 2012
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Mário Magalhães

Aécio Neves e Clarissa Garotinho, em debate na Câmara – Foto reprodução Facebook

 

Candidato à reeleição em 2012, Eduardo Paes (PMDB) foi reconduzido com um pé nas costas à Prefeitura do Rio. O prefeito alcançou 65% dos votos, seguido por Marcelo Freixo (PSOL), 28%, e Rodrigo Maia (DEM), 3%.

O cenário da sucessão do ano que vem se desenha diferente e pode ficar muito mais diferente, conforme a definição dos postulantes.

Numa competição mais acirrada, haveria cinco concorrentes fortes: o secretário municipal Pedro Paulo (PMDB), apoiado por Eduardo Paes; o senador Romário (PSB); o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL); o senador Marcelo Crivella (PRB); e a deputada federal Clarissa Garotinho (PR).

Seria surpreendente se, com tal cédula, houvesse desfecho no primeiro turno.

Não há muitas certezas sobre quem disputará.

Dos cinco, o mais provável no embate eleitoral é Marcelo Freixo. O deputado prepara nova candidatura desde o exuberante desempenho em 2012, quando com mais ou menos um minuto diário na TV tangenciou os 30%. Será o único competidor de esquerda com chances. Tem respaldo expressivo na zona sul e, na cidade inteira, entre os jovens.

A possibilidade de Pedro Paulo não ser indicado pelo PMDB sobrevive pela hipótese de Sérgio Cabral reivindicar a vaga (o deputado Leonardo Picciani carece de cacife para desafiar com sucesso o escolhido por Paes). Enfraquecido por enorme rejeição, embora tenha emplacado o sucessor, o ex-governador dificilmente se disporia a encarar a aventura temerária. O cronograma das obras que devem ficar prontas até a Olimpíada fortalece Eduardo Paes e conspira a favor do secretário. Ainda desconhecido pela maioria da população, Pedro Paulo é apontado por boa parte dos analistas como o favorito em 2016. O PT, atualmente com a cadeira de vice, manterá a dobradinha com o PMDB, confirmando acordo de meses atrás firmado pelo ex-presidente Lula.

Romário é incógnita. Assessores de Paes apostam que o senador aderirá a Pedro Paulo. E não somente por ser o padrinho do secretário municipal de Esportes. Caso concorra, o antigo craque terá mais dificuldades do que na eleição para o Senado. Processos judiciais contra ele serão esmiuçados e divulgados pelos adversários. Romário aparece como líder em pesquisas não registradas. Alguns veteranos observadores da política carioca o consideram favorito.

Depois de chegar ao mata-mata derradeiro no pleito para governador, em 2014, Marcelo Crivella foi anunciado pelo PRB como pré-candidato à prefeitura _no entanto, há dúvidas acerca da candidatura. O PMDB se empenha para que o ex-ministro desista. Com Crivella, há consenso, o segundo turno seria quase inevitável. Sua maior limitação eleitoral é a identidade com a Igreja Universal do Reino de Deus, o que estimula a rejeição. Especula-se sobre troca de partido de Crivella, cuja saída do PRB, agremiação com vínculos com a Universal, talvez ajudasse a diminuir a quantidade de eleitores que dizem que jamais votariam nele.

A força de Clarissa Garotinho é também sua fragilidade. Seu maior trunfo é o sobrenome, que assegura votos entre os mais pobres. Mas que, em virtude da resistência de amplos segmentos contra os Garotinho, praticamente inviabiliza vitória em eleição majoritária. Em 2012, Clarissa foi vice de Rodrigo Maia. Agora, estuda sair do PR para o PSDB. Ela postou no Facebook uma foto com o senador tucano Aécio Neves. Um dos propósitos da mudança de legenda seria descolá-la da imagem do pai e da mãe, ex-governadores. Nesse caso, o que fazer com o sobrenome “Garotinho”?

Outros potenciais candidatos, como Cesar Maia (DEM), teriam pouquíssimas chances.

Por fim: para entender a presença constante do ex-governador Tarso Genro no Rio, é preciso considerar as tratativas nacionais para a sucessão de Dilma Rousseff. Eduardo Paes ambiciona concorrer ao Planalto em 2018. Tem o patrocínio do presidente da Câmara, seu correligionário Eduardo Cunha. Um dos piores cenários para os petistas seria o partido rebaixado, com o lugar de vice em chapa encabeçada pelo PMDB. É contra isso que Tarso trabalha. Alguns militantes ligados a ele, com mais ou menos alarde, apoiarão Freixo desde o primeiro turno do ano que vem.

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‘O secretário-menor’, por Juca Kfouri
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Mário Magalhães

Juca: pelo futebol, contra a bandalheira

 

A coluna dominical de Juca Kfouri, na íntegra:

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O secretário-menor

Por Juca Kfouri

O secretário-geral da CBF, Walter Feldman, escreveu que não responderia às minhas ofensas [texto publicado na seção “Tendências/Debates”, pág. A3 do domingo, dia 17, em que Feldman defende a direção da CBF e critica este colunista].

Nem poderia respondê-las, porque ofensas não houve.

O fato de lembrar que ele já serviu a Mao, à Albânia, ao PMDB, ao tucanato, a Kassab, a Marina e, agora, a Marco Polo Del Nero não deveria causar nele tamanha espécie.

Nem vou mais me deter em sua insinuante carreira, que começou por Pequim e frutificou, enfim, no edifício José Maria Marin.

Fabuloso mesmo foi, depois que Nero ocupou por dois anos a vice-presidência da CBF, Feldman argumentar que, 101 anos depois de ser fundada, a entidade organizará o Primeiro Congresso do Futebol.

Note, não é o segundo ou o terceiro, mas o primeiro!!!

Como todo oportunista, o secretário-menor da CBF escolheu para bater em quem rende junto ao chefe. Levou pela proa duas cipoadas de dois dos mais importantes jornalistas do país, Alberto Dines e Mário Magalhães, mas nem deve ligar.

“Estes vermelhinhos os conheço bem, doutor Nero, deixe que eu lido com eles”, ele deve ter dito.

Mas não há como negar que o nosso especialista em vitamina D, de Desfaçatez, tem verve.

Diz que ama o futebol e eu não. Mesmo assim Feldman me convidou para almoçar antes de sua posse e me perguntou se eu achava que ele era “ladrão”!

Tudo porque havia escrito aqui, numa notinha de rodapé, que da Marina Silva para a CBF Feldman havia dado uma demonstração do que era a “nova política”.

Ah, eu também mandara por um companheiro à Comissão de Esportes da Câmara o seguinte texto:

“Primeiramente, eu quero me desculpar pela ausência, mas uma cirurgia em uma das minhas netas me segura em São Paulo.

Gostaria muito de estar com todos, para poder apoiar o presidente do Flamengo e divergir do diretor da CBF.

O futebol brasileiro precisa mudar, e não para Boca Raton (EUA), como se mudou o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira.

Precisa mudar seu modelo de gestão, profissionalizar-se, deixar de ser objeto de escândalos de corrupção ou de vexames como o 7 a 1, de cuja responsabilidade o atual presidente da CBF não pode se eximir, porque eminência parda na gestão de Marin, tão breve como pernicioso.

Haverá quem diga que a MP é anticonstitucional. Errará em português e em latim. Melhor que qualquer rábula, o STF já decidiu, por unanimidade, que autonomia não significa soberania.

Ademais, adere quem quer à MP, e até os leigos sabem que em contratos de negociação de dívidas é legítimo que os credores imponham condições aos devedores.

Urge que os clubes brasileiros se transformem em sociedades empresariais e assumam a gestão de seus campeonatos, deixando à CBF a gestão da seleção, como acontece no Primeiro Mundo do futebol.

E será fundamental que uma agência reguladora, uma autoridade pública esportiva, tenha o nome que tiver, desde que independente, assuma o papel de fiscal das relações entre os setores público e privado no futebol nacional.

Eu espero compreensão por minha ausência. Mas quem é avô certamente me entenderá”.

Feldman respondeu dizendo que só ser avô nos aproxima…


Rio: Polícia Militar reage conforme noticiário
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Mário Magalhães

Aviso à margem da lagoa Rodrigo de Freitas - Foto Marcelo Piu/Agência O Globo

Aviso à margem da lagoa Rodrigo de Freitas – Foto Marcelo Piu/Agência O Globo

 

Havia um prefeito do Rio que concorria com o sol para ver quem acordava mais cedo. Ele principiava o dia na internet, consultando a seção de cartas do jornal “O Globo”. O espaço é tradicional amplificador de queixas sobre mazelas urbanas. Por e-mail ou, um pouco mais tarde, por telefone, o prefeito instava os secretários a solucionarem com urgência os problemas que afligiam os leitores.

Quem tinha conhecimento de tal hábito galhofava: o governante define prioridades conforme as cartas que lê; analfabetos estavam ferrados.

Conhecedor da idiossincrasia, um servidor municipal estava cansado de apelar a determinado órgão da prefeitura para resolver um rolo na Urca. Esperto, escreveu para “O Globo” com nome falso, a carta foi veiculada, e na mesma manhã da publicação uma tropa de funcionários deu conta do recado.

É mais ou menos o que acontece hoje com o policiamento na cidade e adjacências. A Polícia Militar sabe onde ocorrem mais assaltos, porém só se mobiliza com determinação visível depois que os crimes ecoam no noticiário. Isto é, após notícias ruins.

Tome-se o exemplo do médico Jaime Gold, o ciclista covardemente assassinado a facadas na terça-feira, às margens da lagoa Rodrigo de Freitas. A lagoa tem tido presença limitada de PMs e guardas municipais, como sabe qualquer um que circule pela sua ciclovia de quase oito quilômetros. Desde ontem, não faltam policiais por lá.

Ou da Cinelândia. Quase abandonado, um dos corações do Rio (nossa cidade tem muitos corações) vinha sendo cenário de mais de um roubo diário. Daqui da minha redação de um jornalista só, eu ouvia a gritaria cotidiana de pega ladrão. Três semanas atrás, escutei berros na rua Álvaro Alvim. Alarme falso, era um ratão gigantesco assustando os pedestres. Dali a meia hora, os berros denunciaram mais um assalto.

Pelas dez da manhã de hoje, deparei-me na Cinelândia com PMs a pé, a cavalo, em carro estacionado diante da Câmara, além de numerosos guardas municipais. A mudança sobreveio depois de a TV Globo exibir cena de ladrões atacando e esfaqueando aqui pertinho.

Há um sem-número de lugares mal policiados. O aterro do Flamengo, onde muita gente corre e pratica outros esportes, é um deles. Para receber a atenção devida, só com mais tragédias.

Se é assim no Centro e na zona sul, imagine onde a população só vira notícia em caso de desgraça grande, tipo, e olhe lá, um botijão de gás explodir e matar uma família inteira. Como é sabido, repetido, e a poucos comove, a média de PMs por habitantes é muitíssimo maior nos bairros de moradores mais ricos do que nos de pobres.

Os índices oficiais de criminalidade costumam ser alardeados pelas autoridades de segurança pública para defender essa ou aquela ideia. Mas os concernentes a furtos e roubos são relativos, porque parcela expressiva das vítimas desistiu de registrar os delitos. Muitas só vão à delegacia ou recorrem aos serviços online quando são obrigadas, por exigências para a emissão de novos documentos.

A crescente impressão de falta de policiamento do Rio vai sendo confirmada pela crônica dos roubos com emprego de facas. O problema se agrava também em virtude dos contingentes ocupados com o programa das ditas unidades de polícia pacificadora. Sem abordar aqui méritos e deméritos das UPPs, elas exigem recursos humanos que são retirados de outras funções. Devido a necessidades políticas e eleitorais, o programa mais importante do governo estadual na segurança foi  ampliado sem que houvesse suficiente aumento dos efetivos. Por isso há tanto lugar com parco ou nenhum policiamento.

A PM corre de um lado para o outro de acordo com o noticiário. Não dá conta do que tem que dar, sustentada que é com os impostos dos cidadãos. Cobertor curto, cobre aqui, descobre acolá.

Aparentemente, as autoridades achavam que estava tudo bem encaminhado, considerando seus valores e objetivos. Diante das evidências, o discurso triunfal foi substituído por desabafos e, no debate sobre responsabilidades, jogo de empurra.

O que não muda é a vocação policial de tratar como bandidos os moradores de favelas e comunidades humildes. Às vésperas da Páscoa, assassinaram o menino Eduardo de Jesus, 10, no complexo do Alemão. Agora, um policial civil reconhece ter matado dois jovens no morro do Dendê. Se fosse no Leblon, a casa teria caído.

Para proteger aposentados que vão ao banco retirar seus modestos proventos, falta PM. Para reprimir sem-teto e outros miseráveis, nunca. O Estado envia policiais para os morros, mas não serviços sociais elementares.

Não faltam interpretações sociológicas e até psicanalíticas para a violência de assaltantes que têm esfaqueado mesmo quem não reage. Um elemento para entender a selvageria é a disseminação do crack. Quando mais o crack progride, maior é a desgraça social, incluindo a violência. Não digo que o crack tenha influenciado o que ocorreu na lagoa. Mas em muitos episódios, pesou.

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Se vale o programa na TV, o PSDB aposta em 2018, e não no impeachment
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Mário Magalhães

 

A frase mais significativa no programa de dez minutos que o PSDB levou ao ar na TV na noite de ontem foi pronunciada por Fernando Henrique Cardoso, concorde-se ou não com a opinião do ex-presidente: “A raiz da crise atual foi plantada bem antes da eleição da atual presidente. Os enganos e desvios começaram já no governo Lula”.

(Para assistir ao programa, basta clicar na imagem no alto.)

A manifestação do mais influente integrante do partido que governou o Brasil por oito anos consolida a escolha partidária de não apostar na proposta de impeachment da presidente constitucional.

“Sangram” Dilma, na expressão do senador Aloysio Nunes Ferreira Filho, para desidratar o antagonista mais robusto na disputa de 2018 pelo Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Se houve um grande derrotado na emissão televisiva tucana, foi o estandarte do afastamento de Dilma.

Ele é recusado por peessedebistas que reconhecem o resultado legítimo das urnas e a inexistência de provas de participação da presidente em falcatruas.

Por quem, não guardando pudores em relação ao impeachment, não quer entregar o país diretamente ao PMDB, a agremiação de Michel Temer, o vice que assumiria.

E pelos aspirantes que no cenário atual são coadjuvantes do protagonista, o senador Aécio Neves. Dando nome aos bois, o governador Geraldo Alckmin e o senador José Serra, que não apareceram no programa de TV, ao contrário de Aécio.

Se ao bater no governo o PSDB agradou o eleitorado que rejeita Dilma e o PT, frustrou aqueles que tremulam a bandeira do impeachment.

O deputado Carlos Sampaio denunciou a mudança nas regras do seguro-desemprego, silenciou sobre os índices de brasileiros sem trabalho nos anos FHC e foi obrigado a calar na sua habitual pregação pró-impeachment.

Fica claro que, salvo reviravolta hoje improvável, o próximo presidente da República será escolhido no voto, em 2018, para sorte da democracia.

Mesmo sabendo do risco, que se confirmou, de ser alvo de panelaços, Lula deu a cara no programa do PT na televisão, avisando que ao menos não está fora da batalha sucessória.

FHC mirou seus dardos de maior calibre em Lula, evidenciando ser este o maior oponente.

Cada vez mais Dilma, dona de indigentes índices de aprovação popular, será vinculada a Lula.

O impeachment murchou.

O jogo de 2018 já está sendo jogado.

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Agora é oficial: jornalismo no Facebook será submetido à censura
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Mário Magalhães

O Facebook censurou esta foto, depois recuou. E se não recuasse? – Reprodução Ministério da Cultura

 

“O jornalismo no Facebook será censurado?”, indagou o blog outro dia.

Sim, respondeu o Facebook, como informa hoje reportagem de Nelson de Sá.

Noutras palavras, ao veicular diretamente nessa plataforma de mídia social o material que produzem, as organizações jornalísticas passam a se submeter a um conjunto de valores e regras alheios.

Exemplo: se um editor do “New York Times” julga relevante publicar a fotografia de três mulheres de seios nus, protestando diante de um mandatário qualquer, a notícia pode ser banida do Facebook, caso um funcionário desta corporação (“comunidade” é nome fantasia) considere que aparecem demasiados mamilos na imagem.

Na intermediação entre o fato e sua difusão jornalística o Facebook se impõe como censor.

Trata-se de perigo para o jornalismo e a cidadania.

A concentração midiática implica a generalização dos valores do Facebook. Não é o caso de discutir se são sábios ou estúpidos, mas de reconhecer que a diversidade de critérios e a pluralidade de vozes vitaminam a democracia.

Cada empreitada do jornalismo mantém seus próprios códigos e padrões. Na década de 1980, um jornal no qual eu trabalhava proibia a publicação de qualquer palavrão (um dia eu conto como, em 1987, emplaquei um montão deles).

Hoje estampa sem cerimônia palavrões até na primeira página, e mais ainda na internet. É direito do jornal proceder assim ou assado. Mas passará a se sujeitar às idiossincrasias do Facebook, se vier a nele veicular matérias inteiras, e não apenas, como hoje, somente o link.

A fotografia lá no alto foi divulgada na página do Ministério da Cultura no Facebook. Ameaçado de processo, por violar a legislação brasileira que assegura a livre circulação de informações, o Facebook voltou atrás.

E se não voltasse?

Por enquanto, a encrenca maior é com a nudez. Se o princípio é o da censura, abre-se o caminho para banir outros conteúdos jornalísticos legítimos, porém incômodos.

O blog reproduz abaixo a reportagem que saiu hoje na “Folha”:

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Facebook vai censurar nudez em notícias publicadas no Instant Articles

Por Nelson de Sá

Lançado na quarta-feira (13), o projeto Instant Articles, do Facebook, para publicar na plataforma reportagens do jornal “The New York Times”, do “BuzzFeed” e de mais sete veículos americanos e europeus, não poderá incluir nudez ou “ameaça direta à segurança pública”.

“Esse conteúdo não é tratado de forma diferente de todos os outros publicados no Facebook”, afirmou a assessoria de imprensa da rede social. “Solicitamos que todo conteúdo publicado diretamente obedeça aos nossos Padrões da Comunidade.”

Os padrões listados pela plataforma são agora menos restritivos, após uma série de controvérsias –uma delas em torno da remoção do perfil da revista “The New Yorker”, em 2012, por um cartum em que apareciam os mamilos de uma mulher desenhada.

Sobre nudez o Facebook faz hoje, entre outros avisos: “Restringimos algumas imagens de seios que mostram os mamilos. Removemos fotos com foco em nádegas totalmente expostas [e] descrições de atos sexuais que exponham detalhes vívidos”.

A rede se justifica e até se desculpa antecipadamente: “Alguns públicos podem ser mais sensíveis a esse tipo de conteúdo. Nossas políticas podem ser mais duras do que gostaríamos e restringir conteúdos compartilhados com objetivos legítimos”.

Em questão sensível para o jornalismo, os padrões do Facebook também alertam: “Removemos ameaças reais feitas a figuras públicas, bem como discursos de ódio direcionados a elas”. E remetem a “ferramentas para [o usuário] evitar conteúdos ofensivos”.

O site “Gawker”, que não entrou na primeira lista de organizações jornalísticas do Instant Articles, questionou a cobertura de imprensa do lançamento por “omitir” que o Facebook, com seus Padrões da Comunidade, não tem nada de “neutro” quanto ao conteúdo jornalístico.

O próprio “NYT” perguntou, num texto: “O que acontece quando editores decidirem que o certo, jornalisticamente, é mostrar foto com seios que o Facebook não permita?”. Não respondeu, mas anotou que “é por isso que nenhum veículo quer se tornar dependente da rede”.

Para ler o texto completo, basta clicar aqui.


Cartola da CBF ataca Juca Kfouri, insulta o jornalismo e exibe intolerância
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Mário Magalhães

Crítica de cartola da CBF vale como elogio a Juca Kfouri – Foto ESPN

 

De onde menos se espera é que não sai nada, já dizia o Barão de Itararé, tendo ou não inventado a tirada certeira.

Novo secretário-geral da famigerada Confederação Brasileira de Futebol, Walter Feldman havia se notabilizado pela relevante sugestão apresentada como deputado federal: a introdução do pôquer como jogo nas escolas públicas.

De pátria de chuteiras a pátria do carteado, já pensou?

Que nada mais inspirado saísse de tal cachola era o esperado, mas o neocartola excedeu-se: com o intuito de barrar legislação que tenta moralizar um pouquinho a administração do futebol, o ex-secretário de Gilberto Kassab e agora operador de Marco Polo Del Nero escreveu artigo desvairado atacando o blogueiro Juca Kfouri, insultando o jornalismo e esbanjando intolerância.

O texto do cartola foi publicado domingo na “Folha” (para ler, basta clicar aqui).

O arrazoado do auxiliar do continuador de José Maria Marin, aquele que sucedeu Ricardo Teixeira, o herdeiro político de João Havelange, tentou responder a coluna de Juca Kfouri veiculada no mesmo jornal (leia neste link).

A despeito da defesa que faz de si e do patrão, o texto de Walter Feldman trai diversionismo. Lá pelo fim, ele pontua: “Juca e eu estamos em campos opostos. Ele gosta de medida arbitrária. Eu, do debate democrático”.

Eis a questão central. A CBF articula lobby no Congresso para barrar medida provisória de março que  “institui o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro”.

Embora com limitações, a medida com força de lei desincentiva o _repare no eufemismo_ uso privado que dirigentes muitas vezes fazem do patrimônio de entidades esportivas.

Os campos estão definidos: o pessoal do Bom Senso apoia a MP, e a CBF se opõe, conduzindo a cruzada da cartolagem embalada pelo chilique do secretário-geral de Del Nero.

Feldman ataca o jornalista ao se referir a inexistentes “ofensas pessoais que Juca Kfouri pratica”.

Kfouri anotara: “Feldman é uma figura singular na vida pública nacional. Basta dizer que trocou o braço direito de Marina Silva, da ‘nova política’, pelo de Marco Polo Del Nero, da velhíssima”.

A observação do colunista é objetiva, procedente e jornalística, pois o secretário-geral é figura pública e há interesse público nas ações da entidade que controla o futebol e a seleção.

Não há “ofensa pessoal”.

A crítica seria injusta, embora legítima, se o novo comando da CBF equivalesse a novos valores. Não é o caso.

Considere-se recente reportagem de “O Estado de S. Paulo” que recupera informações conhecidas e acrescenta outras: contrato celebrado ainda na gestão de Ricardo Teixeira concede às empresas organizadoras de amistosos da seleção poderes sobre a convocação.

Contrato da “velha” CBF.

Mas que foi defendido pela “nova” CBF de Del Nero e Feldman, nesta nota.

Mais detalhes do velho-novo procedimento da entidade estão aqui.

O subordinado proclama, em seu artigo: “O presidente Marco Polo Del Nero assumiu em 16 de abril pronto para dar uma arrancada modernizadora para o futebol brasileiro”.

Não é fato e seria surpreendente: o capo da CBF fulgura como protagonista da cartolagem desde os tempos em que era vice-presidente da Federação Paulista de Futebol capitaneada por Eduardo José Farah.

O Farah!

Em seguida, Del Nero exerceu por anos a presidência da FPF.

Mais tarde, assumiu como o segundo de Marin na CBF.

Que “arrancada modernizadora” ele ofereceu como bambambã das carcomidas gestões Farah e Marin?

Será que a “arrancada modernizadora” começou com Del Nero e Marin comprando apartamentos de luxo, santa coincidência!, no mesmo prédio da Barra?

Walter Feldman diz: “Tenho aversão á intolerância”.

O tom truculento que empregou demonstra o contrário.

Ele é propagandista de quem, Del Nero, foi apontado por uma revista como veterano membro do violento Comando de Caça aos Comunistas _ainda é tempo de o presidente da CBF negar.

Del Nero, o favorito de Marin, o então deputado que bradou contra o jornalismo da TV Cultura pouco antes de o diretor de jornalismo da emissora, Vladimir Herzog, ser preso e morto na tortura.

Exemplos de tolerância?

No terreno mais objetivo, Feldman proclama que, “se [um clube] atrasar salário, perde pontos”.

No mesmo domingo, Juca Kfouri explicava, com eficiência de tridente barcelonista: “Mas, atenção, o que a CBF chama de fair play financeiro é para inglês ver, porque depende de denúncia de atleta. Na Federação Paulista de Futebol não funcionou e na CBF não funcionará. Ou você acha que os clubes que estão participando do Brasileirão estão em dia com suas obrigações? Agora, imagine o que aconteceria para um jogador corintiano que denunciasse o clube. Não pisar mais no Corinthians, ou ter de contratar segurança para andar em São Paulo, seria o de menos. Nenhum outro clube lhe daria emprego, porque os cartolas, em regra, também são corporativistas”.

Mais claro _e honesto_ impossível. Por isso Kfouri incomoda.

O secretário-geral insulta o jornalismo ao sugerir que espírito crítico seja sinônimo de torcida contrária: “Juca é contra o ‘fair play’, como é contra tudo o que acontece no futebol. Dentro e fora de campo, desmerece vitórias e comemora insucessos com mais vigor do que qualquer adversário. Eu vejo magia nos campos. Ele vê bruxarias. Eu acho que futebol é paixão. Ele acha que é rancor”.

Digo com a experiência de repórter que cobriu a CBF por muitos anos: parece o Ricardo Teixeira falando.

Ressurge a velha ladainha de poderosos contrariados com o escrutínio público, democrático e jornalístico: queixam-se de que, se o jornalismo publica que há uma epidemia de meningite em curso, é porque pretende sabotar a saúde pública; se revela os Papéis do Pentágono, serve ao “inimigo”; se difunde notícias sobre a rendição do Japão, só pode ser traição ao imperador; se escarafuncha a corrupção, é porque odeia o país; se denuncia a tortura em Abu Ghraib, é coisa de amigo de terrorista; se mostra a roubalheira no esporte, torce contra a amarelinha.

A esse discurso, Teixeira, atual morador de Boca Ratón, juntava dezenas de processos, em nome próprio ou da CBF, contra Juca Kfouri.

Cada processo valeu ao processado como um diploma de integridade jornalística.

Walter Feldman cometeu: “Eu amo futebol. Ele [Juca Kfouri], talvez, simplesmente, não ame”.

Eis, aí, outro ataque a quem, Juca Kfouri, vibra e sofre com o futebol _ainda que não vibrasse e não sofresse, não deixaria de ser o jornalista decente que é.

E insulto aos jornalistas, aos quais cabe ser sobretudo fiscal do poder, e não bajulador de cartola.

Baixaria intolerante: para contestar ideias incômodas, o secretário-geral busca a desqualificação pessoal do crítico.

Só faltou o “ame-o ou deixe-o”.

O Barão de Itararé sabia mesmo das coisas.

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Comparar titulares com reservas ajuda a entender falta de ousadia do Fla
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Mário Magalhães

O meia Almir foi apresentado pelo Flamengo nesta terça-feira

Almir, meia técnico: melhor ou pior que Arthur Maia? – Foto Gilvan de Souza/Flamengo

 

Eis os 11 titulares do Flamengo no empate de ontem, 2 a 2 com o Sport: Paulo Victor, Pará, Bressan, Wallace, Anderson Pico, Jonas, Canteros, Almir, Gabriel, Alecsandro e Everton.

E os 12 no banco: César, Samir, Frauches, Marcelo, Thallyson, Armero, Cáceres, Luiz Antônio, Márcio Araújo, Arthur Maia, Eduardo da Silva e Paulinho.

Contundido, o titular Marcelo Cirino fez forfait.

E houve ao menos um suplente, o lateral-esquerdo Pablo Armero, que certamente jogará assim que recuperar a forma.

Experimente comparar titulares com reservas.

É impressionante a paridade entre uma e outra equipe. Elimine Thallyson, para o cotejo de 11 contra 11.

O nível muito igual decorre do perfil do elenco, mediano. Um ou outro um pouco acima da média, um ou outro abaixo, no geral tudo parelho.

Um problema grave do Flamengo em 2015, como em 2014, é este: faltam jogadores muito bons ou ótimos, aqueles dois ou três que se destacam pela qualidade notoriamente superior ao conjunto. Na conquista mais recente do Campeonato Brasileiro, o hexa de 2009, eram Pet e Adriano.

Essa mediocridade ajuda a entender por que Vanderlei Luxemburgo apostou num estilo pusilânime. A entender, não justificar.

Em pleno Maracanã, a equipe entrou fechada atrás, esperando o Sport, para se impor nos contra-ataques.

As fichas do visitante foram jogadas assim também, todavia com mais eficiência, e o jogo foi modorrento na primeira parte.

Vanderlei deveria ter ousado mais, porém é injusto ignorar o elenco limitado à sua disposição.

Almir, veterano vindo do Bangu, foi titular. Quem é melhor, ele ou o reserva Arthur Maia? É provável que a resposta dependa do ciclo da Lua e das marés. São jogadores pau a pau.

Sem nomes que até agora façam a diferença, Vanderlei tranca a equipe na retaguarda, para surpreender o rival com saídas rápidas.

Isso funciona muitas vezes, está aí Mourinho para provar.

Não é, porém, a tradição rubro-negra. Mesmo com timecos o Flamengo costuma aproveitar o Maracanã para se impor. Por isso nunca caiu para a segundona.

Ontem o empate saiu depois que o Sport ficou com um a menos e com jogador de linha no gol. Enfim, com o sufoco do Flamengo.

A reação rubro-negra _carioca_ valeu, depois de estar perdendo por 2 a 0.

Só foi obtida com a ajuda das circunstâncias _para que se enganar?

É possível melhorar com o atual elenco.

Mas sonhar mais além depende de contratação de peso.

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Carga pesada
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Mário Magalhães

Detalhe de caminhão na Barra da Tijuca, quarta-feira de manhã

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