Blog do Mario Magalhaes

Crivella denuncia vínculo da Globo com ditadura, mas viúvas de 64 o apoiam
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Mário Magalhães

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O senador Marcelo Crivella em sabatina de 2014, não de 2016 – Foto UOL/Reprodução

 

Para a crônica da campanha do segundo turno da eleição a prefeito do Rio: na propaganda da televisão e do rádio, o candidato Marcelo Crivella (PRB) tem esperneado contra o que considera perseguição do Grupo Globo.

Mostra-se contrariado com a veiculação de notícias sobre sua história (checáveis e comprováveis, como reportagem tratando de ideias obscurantistas sobre homossexualidade e determinadas religiões, escritas em livro da lavra do senador).

A TV Globo exibiu gravações, feitas numa mesma semana, em que Crivella diz ''nunca fui preso'' depois de contar ''fiquei preso um dia'', ''eu fui preso cedinho''.

Em vez de tentar esclarecer a contradição entre as versões, o adversário de Marcelo Freixo (PSOL) dispara a artilharia contra a emissora.

Em anúncios, denuncia o apoio da Globo à ditadura que vigorou de 1964 a 1985.

A informação é correta: a Globo esteve ao lado da ditadura do começo ao fim, até no período das violações mais cruéis dos direitos humanos.

O que Crivella omite é que veteranos e viúvas da ditadura, incluindo a família Bolsonaro, estão com ele, contra Freixo.

Quando é para criticar a Globo, pau na ditadura.

Quando é para acolher os filhotes da ditadura, deixa o assunto para lá.

Assim caminha a campanha carioca de 2016.

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Crivella passa de favorito a franco favorito, mas o jogo ainda não acabou
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Mário Magalhães

blog - datafolha 25.out.2016

Pesquisa Datafolha concluída ontem – Reprodução ''Folha de S. Paulo''

 

O senador Marcelo Crivella passou de favorito a franco favorito para se tornar o próximo prefeito do Rio.

É o que mostra pesquisa Datafolha concluída ontem. O candidato do PRB alcança 46% do total de votos, contra 27% do deputado Marcelo Freixo, do PSOL.

Em votos válidos, desprezando brancos, nulos e indecisos, a vantagem é de 63% a 37%.

Tão importante quanto os números expressivos obtidos pelo bispo (licenciado) da Igreja Universal do Reino de Deus é a constatação de que ao menos até agora as revelações sobre seu passado e suas ideias veiculadas nos últimos dias pouco o afetaram.

No total de sufrágios, Crivella não chegou a cair, na comparação com o levantamento de onze dias antes. Oscilou dois pontos para baixo, sem romper a margem de erro (três pontos).

A resiliência de Crivella indica, no mínimo por enquanto, decisão consolidada de seus eleitores. Ele praticamente repete o desempenho no Datafolha da primeira semana de campanha do segundo turno.

Os entrevistados que responderam que pretendem votar branco ou nulo são 19%. Os que escolheram um dos dois postulantes, 73%.

De todos esses eleitores (os demais 8% são indecisos), 88% declaram estar totalmente decididos, o que reforça o vigor de Crivella.

O Datafolha reafirma exatamente o resultado do Instituto Paraná Pesquisas divulgado anteontem. Como escrito no blog, se Datafolha e Ibope (previsto para amanhã) confirmassem os números da segunda-feira, dificilmente o senador perderia no domingo.

Dificilmente perderá, embora eleição, como o programa do Chacrinha, só acabe quando termina.

A esperança de Freixo é a curva tímida que sugere diminuição da diferença se acelerar até o fim de semana.

Seu desafio já era complicado. No primeiro turno, Freixo colheu 18% dos votos válidos. Seu concorrente, 28%.

Com declaração de voto ou não, Crivella é apoiado pelos candidatos derrotados Flávio Bolsonaro (14%), Indio da Costa (9%) e Carlos Roberto Osório (9%). Parcela significativa da base do PMDB de Pedro Paulo (16%) fechou com o senador, o predileto de nove entre cada dez empresários de peso do Rio.

O eleitorado evangélico tem manifestado ao Datafolha preferir Crivella na média de nove eleitores a um.

Entre os mais pobres, com renda familiar até dois salários mínimos, o postulante do PRB supera o do PSOL por três votos a um. É provável que nesse segmento o impacto do voto evangélico seja grande.

Entre outros erros, Freixo paga por ter perdido quase metade da campanha do segundo turno pregando para convertidos, em vez de tentar dialogar com quem antes não o sufragou. A virada na campanha pode ter sido tardia. Seu maior trunfo são os eleitores mais jovens, entre os quais ele lidera no Datafolha.

A radicalização de Crivella no segundo turno continua a ser uma aposta arriscada, embora bem sucedida até aqui.

Ao abrir guerra contra o Grupo Globo, que publicou notícias que o contrariaram, o senador preparou o ambiente para não comparecer a sabatinas e entrevistas.

Seus piores momentos na campanha aconteceram quando ele foi contestado por entrevistadores ou debatedores.

Se não houver surpresa, o prefeito que entregará a chave da cidade ao Rei Momo no Carnaval de 2017 será Marcelo Crivella.

Reiterando: se não houver surpresa.

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A Lei de Dunga e a campanha de Crivella
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Mário Magalhães

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Marcelo Crivella, candidato a prefeito do Rio – Foto Alexandre Brum/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

 

Onze títulos jornalísticos dos últimos dias:

Crivella nega (que seu nome esteja envolvido em investigações da Lava Jato).

Crivella dá sua versão (para fotos e nega ter sido preso: ''Sou ficha limpa'').

Crivella nega (referência a chute em santa).

Crivella nega (fuga de debates e ironiza Freixo: ''Ele quer intimidar com aquela cara de bravo'').

Assessoria de Crivella nega (acordo com Garotinho).

Crivella contesta (''Veja'': ''Nunca fui preso'').

Crivella pede perdão (por trechos de livro em que critica católicos, homossexuais e religiões africanas).

Crivella pede perdão (por ataques a religiões e gays em livro).

Crivella se desculpa (por críticas a católicos, religiões africanas e homossexuais).

Crivella explica (adulteração de foto com Lula).

Crivella justifica (nova polêmica sobre livro: ''Frases de mais de duas décadas'').

Esqueça-se, por um instante, se as ideias de Marcelo Crivella sugerem progresso ou atraso, luzes ou trevas, civilização ou barbárie.

Não é o foco desse post, que trata de outra coisa, a Lei de Dunga.

Em algum momento dos anos 1990, o então jogador passou a repetir a sentença: ''Os vitoriosos comemoram; os perdedores se justificam''.

Não gosto dessa tirada porque ela parece legitimar vencedores e deslegitimar derrotados. Às vezes, a grandeza de quem malogra é maior que a de quem triunfa.

No futebol, contudo, costuma ser assim: mesmo jogando mal, os vitoriosos comemoram, e, ainda que jogando bem, os perdedores se justificam.

Em política, quem tem de estar sempre se justificando não está em posição confortável.

Não significa necessariamente que está perdendo, mas se sente ao menos ameaçado de perder alguma coisa. No caso de eleição, votos.

Já escrevi e repito: sempre que um candidato tem que se justificar, é ruim para ele. O vitorioso foi (o) outro, que o levou a falar sobre assuntos que provocam desconforto.

A Lei de Dunga atrapalha Marcelo Crivella (PRB), que concorre com Marcelo Freixo (PSOL) para ser o próximo prefeito do Rio.

O domingo dirá até que ponto.

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Radicalização de Crivella não combina com pesquisa do Instituto Paraná
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Mário Magalhães

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Marcelo Crivella, candidato do PRB a prefeito do Rio – Foto Vanderlei Almeida/AFP

 

Em matéria de comportamento e imagem, a grande novidade da campanha do segundo turno no Rio é a agressividade de Marcelo Crivella.

O candidato do PRB a prefeito trocou o mantra ''vou cuidar das pessoas'' pela virulência verbal não somente contra o adversário do PSOL, Marcelo Freixo, mas contra tudo e contra todos.

Em meio a menções bíblicas, dispara desqualificações como ''vagabundo'', ''pateta'' e ''patife''.

Seis dias atrás, ao diagnosticar a mudança de atitude do senador, o blog anotou: ''Há um mistério: por que o candidato que beira os 70% de intenção de votos válidos pega mais pesado no ringue, ou debate, do que o oponente que mal passa dos 30%?''

O mistério logo foi desfeito, quando o Ibope informou que o índice de Crivella caíra para 61%.

Nesta semana final, ele pega ainda mais pesado. É uma evidente reação contra as notícias que o alvejam há mais de uma semana.

Sobrevém, contudo, novo mistério.

O Instituto Paraná Pesquisas divulgou ontem levantamento conferindo a Crivella 62,9% dos sufrágios válidos, contra 37,1% de Freixo.

O candidato citou a pesquisa em entrevista ao SBT.

Ela foi encomendada pela Rede Record.

As entrevistas foram concluídas no sábado, 22 de outubro, três dias após o término das entrevistas do Ibope.

Se o Paraná Pesquisas estiver correto, a distância de Crivella sobre Freixo se estabilizou.

Nessa hipótese, por que Crivella radicaliza, arriscando-se a multiplicar sua rejeição?

Em tese, pode ser uma vacina contra possível efeito da publicação pela revista ''Veja'' de fotos dele fichado pela polícia um quarto de século atrás.

Ainda assim, a alegada imensa vantagem sobre Freixo recomendaria tocar a bola para passar o tempo, e não lançar-se ao ataque com furor.

Há um descompasso entre a pesquisa alardeada por Crivella e o seu comportamento.

Na quarta e na quinta, Datafolha e Ibope trarão novos números.

Se confirmarem o Paraná Pesquisas, dificilmente o senador perderá a eleição no domingo.

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O ônus e o bônus da Igreja Universal na carreira política de Crivella
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Mário Magalhães

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Rua São Clemente, em Botafogo, hoje de manhã

 

Sempre que Marcelo Crivella concorre a cargos executivos na cidade e no Estado do Rio, seus adversários lembram aos cidadãos o que o senador já escreveu ou falou. No passado recente ou um pouco mais distante. Quase sempre afirmações que menos ajudam e mais atrapalham o candidato. Em vez de reiterar as ideias antes alardeadas, Crivella sente-se obrigado a relativizá-las, interpretá-las ou mesmo pedir desculpas.

O tormento tem lhe custado caro. Crivella perdeu duas eleições para prefeito e duas para governador. Em 2014, foi batido por Luiz Fernando Pezão na disputa pelo Palácio Guanabara. E olha que Pezão, que se revelou um administrador desastroso, era apoiado por Sérgio Cabral, o político mais apupado nas Jornadas de Junho de 2013.

As declarações e escritos que constituem o calcanhar de Aquiles do postulante do PRB à Prefeitura do Rio estão quase sempre associadas, de algum modo, aos valores cultivados pela Igreja Universal do Reino de Deus. Essa denominação neopentecostal é liderada pelo bispo Edir Macedo, tio de Crivella.

Crivella batalhou muito em 2016 para diminuir a rejeição provocada por seu vínculo com a Igreja Universal, da qual é bispo (licenciado). Obteve êxito no primeiro turno, quando foi pouco atacado pelos adversários, que o previam no mata-mata derradeiro. Agora, pena com as incursões ao passado eleitoralmente incômodo.

Era previsível. Há dois anos, Pezão liquidou-o ao exumar cenas marcantes da trajetória da Universal. Marcelo Freixo (PSOL) repete o expediente em 2016, veiculando vídeos que também foram ao ar na última eleição para governador. A distância de Crivella caiu de 34 para 22 pontos, em votos válidos, de acordo com o Ibope. Na quarta-feira, com o novo Datafolha, será possível saber se a distância foi reduzida, mantendo a chance de virada do deputado.

O discurso de Crivella queixando-se de perseguição jornalística tem dificuldade para emplacar. Ele não é acusado de ter dito isso ou aquilo. As palavras são de sua lavra e de sua boca. Tem sua assinatura o livro que qualifica a homossexualidade como ''conduta maligna''. Uma de suas reações ao noticiário foi adotar um jingle pregando ''chega de preconceito''. Existe evidente ruído entre a mensagem publicitária e os conceitos que Crivella algum dia trombeteou.

Conforme o blog anotou, Freixo era o oponente preferido de Crivella para o segundo turno. O senador temia o trator das máquinas municipal, estadual e federal, se o seu antagonista fosse Pedro Paulo (PMDB). Prognosticava que o Grupo Globo lhe seria antipático em confronto com o peemedebista, Indio da Costa (PSD) ou Carlos Roberto Osório (PSDB). No raciocínio de assessores de Crivella, a _na expressão deles_ ''perseguição da Globo'' ameaçaria a vitória. Apostavam que, por Marcelo Freixo ser militante de esquerda, as organizações não fustigariam o bispo da Universal. Ontem, o candidato disse que a TV Globo é ''inimiga jurada'' de sua campanha.

Noutras palavras, para a campanha de Crivella, seus laços com a Igreja Universal, nessa situação, representam ônus. A TV Record, concorrente da Globo, é controlada pelo bispo Macedo. Por isso, a concorrência nos negócios se expressaria na refrega eleitoral.

Pode ser. Mas não resolve o problema político mais notório de Crivella. O jornal ''O Globo'' publicou que ele escreveu um livro afirmando que a Igreja Católica e outras religiões ''pregam doutrinas demoníacas''. A informação é incontestável. Pode ser checada. O senador argumenta, divulga nota de esclarecimento, porém não nega a autenticidade do livro mencionado na reportagem. Essa notícia tem relevância pública, logo jornalística. Difundir informações é a essência do serviço público denominado jornalismo. Nesse caso, manipulação jornalística aconteceria se, de posse de informação útil aos cidadãos, o jornal a omitisse. Quem falou o que falou foi Crivella.

Não é invenção a reportagem contando que ele ensinou que homossexuais podem ser fruto de aborto malsucedido. Fala, Crivella: ''Vocês já repararam como os homossexuais são devotados às suas mães? Já repararam como os homens que se relacionam com outros homens têm verdadeira idolatria pela imagem da sua mãezinha querida? ‘Mamãe, mamãe, mamãe, minha mãezinha, minha mãezinha’. Você vê como uma criança pode sofrer no útero da mãe”. O jornal ''O Estado de S. Paulo'' prestaria desserviço público se escondesse essa informação.

Crivella se empenha em assegurar que a Igreja Universal não intervém em sua carreira política. Talvez tenha razão. Mas não foi o que o candidato disse e pode ser comprovado em vídeo. Ele contou ter ingressado na política por determinação da Universal.

Os católicos se dispersam por um sem-número de partidos. Idem evangélicos da Assembleia de Deus. Já os políticos ligados à Universal se concentram no PRB, presidido por um bispo (licenciado) da igreja.

É evidente que, a despeito do ônus, a Igreja Universal do Reino de Deus também constitui bônus para o político Marcelo Crivella.

Dificilmente ele teria chegado ao Senado da República sem o apoio da instituição que ele chamou, no debate da Band no começo do mês, de ''minha igreja''.

Entre os cariocas pentecostais, Crivella alcançava 91% dos votos válidos, contra míseros 9% de Freixo, no Datafolha mais recente.

Se Crivella prevalecer no domingo, a Igreja Universal colherá o maior triunfo político de sua história.

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Sabáticas: De poliglota a troglodita
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Mário Magalhães

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Rivellino é zurdo (canhoto), e não surdo – Reprodução

 

No anedotário de pexotadas verbais atribuídas a jogadores de futebol, eternizam-se causos como o do centroavante que se declarou comovido em Belém, no Pará, “por visitar a terra onde nasceu Jesus Cristo”. Um boleiro mais jovem, ao se deparar com a aeromoça que se expressava em uma babel de idiomas, celebrou-a como “troglodita”, quando pretendia dizer poliglota.

Outra comissária de bordo, norte-americana, ouviu o pedido de um viajante brasileiro, espantou-se com o apetite do glutão, mas o atendeu. Ele perguntara “tem milk?”, ela entendera “ten milk”, e dez caixinhas de leite foram servidas.

Alguns episódios são invenções de cabeças criativas, porém o relato sobre a leiteria é pura verdade. Eis uma qualidade nossa, brasileira: ainda que não dominemos uma língua estrangeira, não nos intimidamos.

O problema é a ilusão de que somos craques em idiomas que só arranhamos. Um jornalista fluente até em sueco exultou, ao ler a notícia em espanhol: um time tinha “oito jogadores surdos”! Em castelhano, zurdo é canhoto, mas escuta bem.

O tropeço lembra a gafe de um conterrâneo que, em legítimo portunhol, pediu perdão a uma argentina por deixá-la embaraçada. Ignorava que embarazada, na língua do Borges, significa grávida.

Também posava de sabichão o fotógrafo que dispensou ajuda para preencher um formulário. No item nombre, tascou o nome completo, em vez do prenome. Em apellido (sobrenome, em espanhol), nomeou o animal consagrado como seu apelido. No espaço para firma, (assinatura), informou a razão social da empresa em que trabalhava. Na fecha, (data), cravou: o jornal “fechava” (concluía a edição) a tal hora.

O fanfarrão não está sozinho. Se traduzir fosse moleza, bastava substituir literalmente as palavras, como galhofava o Millôr Fernandes. O gênio do Méier vertia para o inglês expressões anarquizando-lhes o sentido. ''Ele bancou o pato'' virou he banked the duck.

Quem ri das mancadas alheias pode pagar pela soberba. Eu trocava e-mails com um monge americano radicado na Coreia do Sul, para onde viajaria e escreveria sobre budistas que jogam bola. O gringo se mostrou solícito até a mensagem em que, num cochilo, digitei monkeys (macacos) no lugar de monks (monges).

Foi o meu dia de troglodita.

(Publicado originalmente na revista Azul Magazine, maio de 2013)

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Crivella cai, une direita, revive anticomunismo e sofre com novos vídeos
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Mário Magalhães

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Marcelo Crivella, candidato do PRB a prefeito do Rio – Foto Folhapress/Reprodução

 

Candidato do PRB a prefeito do Rio, Marcelo Crivella teve na noite passada uma notícia muito boa: o Ibope lhe confere 17 pontos de vantagem sobre Marcelo Freixo, do PSOL (46% a 29%), na projeção do total de votos. Contando somente os válidos, a diferença também é expressiva, 22 (61% a 39%).

A mesma pesquisa trouxe, contudo, má notícia para Crivella: ele caiu, e Freixo subiu. Considerando todos os eleitores, houve redução da distância em 9 pontos (estava 51% a 25%). Excluindo brancos, nulos e indecisos, de 12 (estava 67% a 33%).

A novidade, percebida antes pela campanha do senador, explica a mudança de atitude dele, que passou a ser mais agressivo nesta semana.

Crivella mantém o favoritismo, mas sua posição não é mais tão confortável. Em votos válidos, Freixo precisa crescer 11 pontos para se igualar ao oponente. A eleição será daqui a nove dias.

O Ibope retrata o resultado de duas mudanças ostensivas na campanha de Freixo: a capacidade, sobretudo na TV, de falar para públicos mais amplos, e não apenas para os convertidos que haviam sufragado seu nome no primeiro turno; e a intensificação dos ataques a Crivella, expondo sua pregação como missionário, pastor e bispo da Igreja Universal do Reino de Deus.

A artilharia pesada contra Crivella já estava prevista pela campanha de Freixo em caso de disparada do senador, ao contrário do que plantam na imprensa marqueteiros dedicados à sua própria marquetagem.

Com Freixo aparecendo no retrovisor, ainda que distante, Crivella promove uma inflexão: como se revivesse a Guerra Fria, passa a lançar mão do discurso anticomunista que marcou o século 20. Ele vinculou Freixo ao bolchevismo, levou à televisão imagens de Fidel Castro e Nicolás Maduro. Ainda não falou em comer criancinha. O Partido Comunista Brasileiro integra a coligação do deputado.

Crivella conseguiu sacramentar uma aliança ampla de extrema direita, direita e centro-direita. Estão com ele três dos seis candidatos mais votados no primeiro turno: Flávio Bolsonaro (PSC), Indio da Costa (PSD) e Carlos Roberto Osório (PSDB), este com declaração de voto mencionando o perigo das ditas ideias ''bolivarianas''. A esmagadora maioria da base política, incluindo vereadores, que endossou Pedro Paulo (PMDB) na rodada inicial aderiu a Crivella.

Bênção de cacique não equivale a transmissão automática de voto, como demonstra o Ibope _a maioria dos eleitores de Indio agora prefere Freixo. Mas está longe de ser desprezível o acordo logrado por Crivella, candidato predileto dos pesos pesados do PIB carioca.

O que mais preocupa Crivella é a veiculação de vídeos em que ele mesmo fala. Não o acusam de nada, simplesmente transmitem suas palavras, e o senador tem de se explicar.

Num dos vídeos mais recentes ele diz que ''as mulheres deveriam obedecer mais aos homens''.

O ex-ministro da Pesca vai descobrindo que o peixe morre, ou pode morrer, pela boca.

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No livro de Tostão, os 3 jogadores mais lúcidos, Zico e a breguice de Luxa
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Mário Magalhães

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No seu novo livro, o craque Tostão conta suas lembranças do futebol e de fora dele, evoca personagens, reconstitui a evolução do jogo, narra a história como quem troca um dedo de prosa.

São puro prazer as 194 páginas de ''Tostão: Tempos vividos, sonhados e perdidos – Um olhar sobre o futebol'' (Companhia das Letras).

Seguem três passagens.

Opinião de quem jogou muito e conhece futebol como nenhum comentarista no Brasil:

''Cruyff, Gérson e Xavi foram os três jogadores mais lúcidos e de maior talento coletivo que vi atuar. Eram treinadores em campo. Jogavam como se estivessem vendo a partida da arquibancada, com ampla visão do conjunto.''

Olhar, digamos, antropológico:

''Fiz uma entrevista com Luxemburgo para a ESPN Brasil, no programa Um Tostão de Prosa. Fui à sua casa em Santos, onde ele era treinador. Na entrada da casa, havia um corredor e, no fundo, uma parede com um imenso quadro com o técnico todo maquiado. Quem entrava era obrigado a vê-lo. Nunca vi tanta vaidade e breguice.''

Tamojunto:

''Zico foi um dos jogadores mais brilhantes da história do futebol''.

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Crivella muda tom, liga Freixo a tática ‘nazista’ e expõe agressividade
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Mário Magalhães

A arena, ou estúdio, do debate de ontem no Rio – Foto Alexandre Brum/Estadão Conteúdo

 

Há uma mudança notável na campanha de segundo turno para prefeito do Rio, e seu protagonista é Marcelo Crivella (PRB).

O candidato tem nadado de braçada contra seu xará Marcelo Freixo (PSOL). De acordo com Datafolha e Ibope, o senador construiu vantagem na proporção de dois votos contra um do deputado.

A terça-feira, contudo, não assistiu ao Crivella pacato, tranquilo, paciente e com ar de sábio, o personagem mostrado até agora na campanha _de algum modo, todo candidato é um personagem ou assim é percebido.

Nem ao concorrente que, tamanha a distância sobre o antagonista, não precisa se arriscar em ataques virulentos e arroubos de agressividade.

O habitual é quem corre atrás bater mais, em busca de recuperação.

Freixo lançar-se contra Crivella é previsível, e não o contrário.

Mas, em anúncio na televisão, Crivella acusou Freixo de empregar tática de propaganda ''nazista''. Isso mesmo: nazista. O motivo é o deputado afirmar que o ex-governador Anthony Garotinho de algum modo participaria de um governo Crivella. O PR de Garotinho se coligou com o PRB e forneceu a Crivella muito mais tempo de propaganda no primeiro turno. O site da campanha do senador informou que Garotinho indicou o vice de Crivella.

À noite, o debate promovido por UOL, Rede TV! e ''Veja'' revelou um Crivella iracundo, desconhecido dos cariocas. Pronunciou a frase ''eu não vou descer o nível e dizer que você é canalha, safado e vagabundo'', no estilo não-vou-dizer-mas-já-estou-dizendo. É um direito de Crivella escolher suas palavras na contenda, porém elas não combinam com a campanha edulcorada de quem se propõe a ''cuidar das pessoas''.

Há um mistério: por que o candidato que beira os 70% de intenção de votos válidos pega mais pesado no ringue, ou debate, do que o oponente que mal passa dos 30%?

A resposta é a impressão de que, a 12 dias da eleição (contando a partir de ontem), a artilharia de Freixo ameaça.

Provavelmente, menos com as referências à aliança com Garotinho e mais com a exumação da trajetória de Crivella como bispo da Igreja Universal do Reino de Deus.

No domingo, o repórter Fernando Molica contou que em livro de 1999 Crivella desancou homossexuais e adeptos de outras religiões.

Hoje, Molica reproduz trechos de livro organizado por Crivella com ensinamentos como este: ''O ministério da mulher de Deus é cuidar do marido, dos filhos e da casa, como se estivesse servindo ao Senhor''; ''Não basta que ela seja de Deus e batizada com o Espírito Santo; é preciso que seja compatível com o marido, com o mesmo objetivo, sendo submissa, cumpridora de deveres como mulher, mãe e dona de casa''.

O pensador que recomenda a mulher submissa é o bispo Edir Macedo, tio de Crivella e líder da Igreja Universal.

Ontem se soube que Crivella, nos tempos de cantor, interpretou uma canção de sua autoria que parecia ironizar o chute que um pastor da Universal dera numa imagem de Nossa Senhora Aparecida. Crivella cantou versos como ''Na minha vida dei um chute na heresia/ Houve tanta gritaria de quem ama a idolatria/ Eu lhe respeito meu irmão, não quero briga/ Se ela é Deus, ela mesmo me castiga''. Mais: ''Aparecida, Guadalupe ou Maria/ Tudo isso é idolatria de quem vive a se enganar/ Mas não se ofenda meu irmão, não me persiga/ Se ela é Deus, ela mesmo me castiga''.

Talvez nenhum dos episódios agora conhecidos ou rememorados lhe seja tão daninho quanto o exibido reiteradamente num anúncio de Freixo. No vídeo, Crivella fala de arrecadação de contribuições de fiéis. No YouTube, só encontrei uma versão de 60 segundos produzida noutra eleição, e não a de 30 segundos que Freixo leva à TV. Para assistir, basta clicar aqui.

Ignora-se por enquanto se a nova atitude de Crivella lhe rende ou rouba votos.

Só na segunda-feira à noite o programa de Freixo na televisão começou a não pregar exclusivamente para convertidos e passou a tentar dialogar com o eleitorado que hoje não se dispõe a votar nele.

O programa noturno de ontem foi inteiramente dedicado a narrar a história de Freixo. Deveria ter ido ao ar na abertura da campanha televisiva do segundo turno, e não com oito dias de atraso. É muito mais profissional do que os desastrosos programas iniciais.

O maior erro do candidato do PSOL foi iniciar a batalha do segundo turno falando para o mesmo público que o havia sufragado no primeiro. É suicídio político.

Crivella, ao contrário, manteve o low-profile com que atravessara toda a campanha. Até a mudança desta semana,.

O favorito é Crivella, mas Freixo permanece no jogo.

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Marcelo Crivella, logo ele, lança jingle pregando ‘chega de preconceito’
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Mário Magalhães

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Marcelo Crivella, candidato do PRB a prefeito do Rio – Foto Márcio Neves/Folhapress

 

Em 1999, Marcelo Crivella escreveu que a Igreja Católica e outras religiões cristãs ''pregam doutrinas demoníacas''.

Chamou diversas religiões, não somente cristãs, de ''diabólicas''.

Pontificou: ''O pai viciado e adúltero provavelmente passará o mesmo espírito para o seu filho''.

Ensinou: ''Uma mulher cristã solteira que se casa com um hindu, ou com um homem que invoca os ancestrais e os espíritos, pode se tornar habitação dos mesmos espíritos que o marido adora''.

Qualificou a homossexualidade de ''conduta maligna''.

E de ''terrível mal''.

Em 2014, reiterou que homossexualidade ''é pecado''.

O autor dessa pregação preconceituosa, hoje candidato do PRB a prefeito do Rio, lançou um jingle novo em seu programa de TV de ontem à noite.

A mensagem mais importante da música é ''chega de preconceito''.

Os cariocas terão muito a ganhar se o senador praticar o que passou a predicar.

Na mesma noite, ao tratar de violência e segurança urbana, o candidato Marcelo Freixo, do PSOL, apresentou seu melhor programa. O primeiro capaz de dialogar com não convertidos.

Pode ser tarde, mas a eleição não é amanhã, e sim daqui a 12 dias.

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