Palavras malditas (20): via de regra
Mário Magalhães
Corria o ano de 1957, e Paulo Francis terminara no Diário Carioca seu artigo sobre teatro. Perdeu-se no tempo a identidade do alvo da vez do crítico, na altura dos seus 27 anos, mais ferino e temido da cidade.
Como de costume, ele enviara a crítica ao editor Carlos Castello Branco, cujo costume era aprová-la e despachá-la para composição, letra por letra, e impressão.
Naquela noite, pela primeira vez, Castellinho devolveu o texto de Francis. Mandou-o por um contínuo.
''Fiquei espantado'', recordaria o autor. ''Onde eu tinha escrito 'via de regra', Castellinho puxou um traço à margem, adicionando: 'é buceta'.''
A despeito de sua cultura já enciclopédica, Francis derrapara numa casca de banana do bacharelismo vulgar.
Poderia ter datilografado ''quase sempre'' ou ''habitualmente'', mas cedeu ao beletrismo.
Só voltaria a escrever ''via de regra'' dali a 23 anos, ao contar o que chamou de ''lição proveitosa'', em seu livro de memórias O afeto que se encerra.
''Via de regra'' é expressão tão pretensiosa quanto afetada e ridícula.
E muito mais palavrão do que o órgão sexual descrito por Castellinho, com a liberdade, conforme o relato de Francis, de u no lugar do o.
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Eis as palavras malditas anteriores (clique em cima, se quiser ler):
1) emblemático;
2) instigante;
5) não resistiu;
6) um verdadeiro;
7) amigo pessoal;
8) vítima fatal;
10) evidência;
11) conferência de imprensa; coletiva de imprensa;
13) estrategista;
15) oficial;
17) elo de ligação;
18) literalmente;
19) crime passional.