Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : agosto 2014

Em sabatina, Lindberg cita Lula 11 vezes, Dilma 9 e Brizola 3
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Mário Magalhães

 

blog - lindberg sabatina

 

Na sabatina recém-encerrada promovida pelo UOL, pela “Folha de S. Paulo” e pelo SBT, o candidato a governador Lindberg Farias (PT) citou 11 vezes o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nove o da presidente Dilma Rousseff e três o do falecido governador Leonel Brizola.

O ranking de menções do postulante ao governo do Rio de Janeiro deixa claro que na campanha ele tentará se beneficiar sobretudo da popularidade do ex-presidente. Lula teria prometido apoio exclusivo a Lindberg, enquanto Dilma tem quatro palanques no Estado.

A superioridade de referências a Lula é ainda mais significativa porque Lindberg quase só tocou no nome de Dilma quando provocado, em especial pela jornalista Fernanda Godoy, que observou que ele falava mais no petista ex-presidente do que na petista presidente atual.

O tom de Lindberg foi marcadamente oposicionista, contra o governo estadual. Eis sua frase síntese, em referência ao ex-governador Sérgio Cabral e seu sucessor e candidato à reeleição, Luiz Fernando Pezão, ambos do PMDB: “Governaram para os ricos, governaram para as elites, deram as costas para o povo”.

Não é detalhe: dos sete anos e sete meses da gestão Cabral-Pezão, o PT de Lindberg integrou o governo do Estado por mais de sete anos.

Para mais notícias sobre a sabatina, basta clicar aqui.

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Análise: no noticiário da Globo do Rio, Garotinho dá aula de como usar a TV
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Mário Magalhães

blog - garotinho no rj tv

Garotinho, no RJTV 2ª Edição desta segunda-feira (4.ago)

 

O início da cobertura eleitoral com acompanhamento diário dos candidatos a governador mostrou ontem no RJTV 2ª Edição como se pode explorar bem e mal o noticiário local da Globo no Rio (assista aqui ao programa desta segunda-feira).

A emissora acompanha na rua, com tempo igual, os quatro concorrentes mais bem colocados nas pesquisas eleitorais: pela ordem, e assim eles apareceram ontem à noite, Anthony Garotinho (PR), Marcelo Crivella (PRB), Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Lindberg Farias (PT). A apresentadora Ana Luiza Guimarães informou quais foram as atividades de campanha dos outros três postulantes, Tarcísio Motta (PSOL), Dayse Oliveira (PSTU) e Ney Nunes (PCB).

Ter o palco da Globo em condições semelhantes é bom sobretudo aos candidatos que terão menos minutos e segundos na propaganda obrigatória na televisão _a situação mais frágil é a de Crivella, cujo partido disputa solitariamente, sem aliado.

E ruim para Pezão e sua supercoligação de 18 agremiações. No tempo repartido pela Justiça eleitoral, ele tem uma superioridade inexistente no RJTV. Observadores das mais diversas inclinações políticas apostam que o governador estará no segundo turno (leia aqui).

Embora os quatro candidatos soubessem que estreariam na Globo, só três procuraram imagens ao ar livre, de confraternização com eleitores, mesmo com a falsidade das campanhas. Incrivelmente, Lindberg Farias gravou entrevista e foi filmado dentro de um salão, falando a “políticos, empresários e comerciantes”. Pronunciou-se sobre segurança sem que a imagem em torno dele tivesse qualquer relação com o tema. Erro pueril de comunicação.

Em matéria de foco, somente Crivella, com toda a experiência, perdeu-se ao abordar muitos problemas em pouco tempo: transporte, saneamento, saúde e segurança. É possível interpretar que seu foco fosse a Baixada Fluminense, mas o senador dificultou a percepção dos espectadores-eleitores ao não se concentrar em um só assunto. Garotinho falou de restaurante popular; Pezão, de segurança pública (com uma Unidade de Polícia Pacificadora ao fundo); e Lindberg, repito, também de segurança.

Na intimidade com a latinha, como dizem os radialistas sobre o microfone, deu-se o esperado: Garotinho, Crivella e Lindberg mostraram a conhecida verve, enquanto Pezão se expressa sem carisma e às vezes clareza. Sua fama é de administrador, o executivo que tocava o governo Sérgio Cabral, de quem era vice. E não de comunicador.

Beirando a perfeição, Garotinho deu um show na emissora que ele costuma atacar com virulência. O ex-governador foi a um restaurante popular criado em sua administração, prometeu mais 40 unidades, passando a abrir também aos sábados. Sorriu, cumprimentou, deu o recado que queria com a tarimba de antigo homem de rádio.

A propaganda obrigatória começa em 19 de agosto. Ao menos para Crivella, a aparição na Globo continuará a ser mais importante.

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Por Mauricio Puls: Dilma cai nas pesquisas, mas oposição é débil
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Mário Magalhães

O jornalista e sociólogo Mauricio Puls publicou sábado na “Folha” um artigo com a inteligência a que nos habituamos em seus textos.

Puls chama a atenção para um fenômeno curioso: Dilma Rousseff, candidata à reeleição, caiu de 58% para 36% da intenção de voto de março de 2013 para cá.

Seus concorrentes, contudo, não se beneficiaram da queda da líder.

Vale a leitura:

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Sem rumo

Por Mauricio Puls

O aspecto mais notável do presente cenário eleitoral não é a debilidade da presidente nas pesquisas, e sim a da oposição. Seria razoável esperar que, numa conjuntura difícil, seus adversários estivessem numa situação mais favorável.

Na última pesquisa Datafolha, os candidatos do PSDB, PSB e PSC tinham 31% das intenções de voto. É pouco. Nesta etapa da campanha, três opositores reuniam 48% das intenções de voto em 2010, 39% em 2006, 39% em 1998, 46% em 1994. Em todas essas eleições, a oposição estava melhor nesta altura da disputa. Em todas o Planalto venceu.

Em que ocasiões o governo perdeu? Em 1989, quando três antagonistas somavam 62% das intenções de voto; e em 2002, quando possuíam 72%.

A oposição nunca teve um desempenho tão ruim como agora, apesar das condições adversas a Dilma: três quartos dos eleitores desejam mudanças, mas a maioria não se anima com os nomes disponíveis.

Para ler a íntegra, basta clicar aqui.

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‘Afinal, presidente Dilma: quem está mentindo?’, indaga Luiz Cláudio Cunha
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Mário Magalhães

 

A frase que dá título ao post encerra a reportagem ensaística de 123 mil caracteres de autoria de Luiz Cláudio Cunha, recém publicada no site do “Jornal Já”.

Em um trabalho hercúleo e rigoroso, o jornalista cotejou dois documentos contraditórios como a mentira e a verdade. Ele contou: “Li e reli as 155 páginas do denso relatório da Comissão Nacional da Verdade, comprovando mortes e torturas em sete instalações militares da ditadura, e confrontei com a resposta em 455 páginas da burocrática sindicância das Forças Armadas, negando tudo”.

O autor fez muito mais: cavucou fontes históricas afiançadas pelo tempo para esquadrinhar o relatório em que Marinha, Exército e FAB juram não ter existido, nos tempos da ditadura pós-1964, tortura e morte nos quartéis.

Criou-se um cenário inusitado: desde a década de 1990, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, a União reconhece que agentes públicos torturaram e assassinaram em dependências das três Forças. Por isso, e em respeito a determinação legal, o Estado, com recursos dos contribuintes, paga indenizações aos cidadãos vitimados pela ditadura.

Outra aberração é que a presidente Dilma Rousseff é constitucionalmente a comandante das Forças Armadas. O almirante, o general e o brigadeiro que chefiam Marinha, Exército e Aeronáutica integram uma cadeia de comando em que a Presidência da República ocupa o degrau mais alto.

Pois a presidente já teve a oportunidade de reconstituir, amparada em um sem-número de inquestionáveis provas testemunhais e documentais, que padeceu na tortura por 22 dias. Era começo de 1970, e a jovem oposicionista Dilma Rousseff estava presa na sede do Destacamento de Operações de Informações do II Exército, em São Paulo. Comandava a unidade o então major Carlos Alberto Brilhante Ustra. A foto mais acima mostra a presa política Dilma depondo na Justiça militar.

Agora, os comandados da presidente sustentam que jamais houve tortura. A obscenidade é tamanha que ousam afirmar não ter encontrado registro da criação dos Doi-Codi, o que comprovadamente ocorreu em 1970. A seu modo, os generais do presente se associam aos da ditadura. E desafiam institucionalmente sua comandante.

O monumental mergulho de Luiz Cláudio Cunha no passado, aula de jornalismo e história, joga luz no presente e vice-versa.

A resposta sobre quem está mentindo está clara em suas investigações e análises.

A pergunta que permanece dessa visita brilhante à história é outra: as novas mentiras vão, como acontecia antes, ficar por isso mesmo?

*

Generais omitiram até os 22 dias que Dilma Rousseff amargou no Doi-Codi

Por Luiz Cláudio Cunha, especial para o “Jornal Já”

O Exército, a Marinha e a Aeronáutica mobilizaram durante quatro meses seus oficiais-generais mais qualificados para desfechar o mais canhestro ataque militar dos últimos tempos no Brasil — fuzilando o bom-senso, torpedeando a inteligência, bombardeando a memória nacional e condenando ao extermínio a verdade segregada nos campos de concentração erigidos pela mentira.

Para atender a um minucioso requerimento de 115 páginas enviado em 18 de fevereiro passado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), as Forças Armadas (FFAA) reuniram suas tropas para produzir um monumento à insensatez e ao deboche: um palavroso, maçante, insolente, imprestável conjunto de 455 páginas de relatórios militares que não relatam, de sindicâncias que não investigam, de perguntas não respondidas, de respostas não perguntadas e de conclusões nada conclusivas, camufladas em um cipoal de decretos, leis, portarias, ofícios e velhos recortes de jornais falecidos.

Um histórico fiasco que passou em branco pela indolente imprensa brasileira, confinada a um registro burocrático, preguiçoso, sobre o sonso documento de resposta das FFAA.

A maçaroca militar ignorada pelos jornalistas tem de tudo. Tudo para defender o indefensável, para sustentar o insustentável, para dizer o indizível na novilíngua dos generais: nunca houve tortura, nunca aconteceu nenhuma grave violação aos direitos humanos nos quartéis nos 21 anos do regime militar imposto em 1964 pelas Forças Armadas que derrubaram o presidente João Goulart.

A sindicância das FFAA lembra, mais pela tragédia do que pela piada, a histórica charge do humorista e jornalista Millôr Fernandes (1923-2012) na edição de maio de 1974 da revista Veja, que mostra um preso esquálido pendurado na parede de uma masmorra.

Da fresta na porta da cela surge o comentário consolador do carcereiro: “Nada consta”. Por causa da piada, a ditadura sem graça dos generais endureceu ainda mais a censura sobre a revista então dirigida por Mino Carta.

Em resumo, é a pilhéria que repetem exatos 40 anos depois os militares brasileiros, diante das indagações da CNV sobre tortura e morte em seus quartéis: “Nada consta”.
Para expor esta cômica contradição em termos, que põe em dúvida até a existência da ditadura, os generais brasileiros recorreram a um arsenal de papel concentrado em 268 páginas do relatório da Marinha, 145 da Aeronáutica e 42 do Exército, um conjunto sem serventia que a Comissão Nacional da Verdade fuzilou sem dó nem piedade:

“Deplorável, lamentável”, definiu com firmeza a CNV, em uma desalentada nota oficial assinada pelos seis comissários. Aturdida pela ‘completa incorreção’ da conclusão das FFAA,  a CNV lembrou aos generais distraídos que o Estado brasileiro reconhece desde 1995, por lei aprovada pelo Congresso, as condutas criminosas de militares e policiais durante a ditadura, “incorrendo inclusive no pagamento de indenizações por conta justamente de fatos agora surpreendentemente negados”.

Durante meses, os pesquisadores da CNV, auxiliados por especialistas da Universidade de São Paulo (USP), juntaram documentos, testemunhos e perícias para montar um consistente relatório que prova a ocorrência de graves violações aos direitos humanos nos sete endereços mais notórios da repressão coordenada pelos militares, situados no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco.

São cinco quartéis do Exército, uma base da Marinha e outra da Aeronáutica, com os nomes, sobrenomes, datas, depoimentos e horrores sobre nove casos de mortes sob tortura e outros 17 presos políticos torturados.

Por recato, talvez, a CNV não incluiu entre eles o nome de uma guerrilheira que sobreviveu às torturas em um dos sete endereços que marcam a face mais terrível da repressão brasileira: a rua Tutoia, na capital paulista, sede da pioneira ‘Operação Bandeirante’ (OBAN), sucedida ali pelo sangrento DOI-CODI do II Exército, sob o comando do então major Carlos Alberto Brilhante Ustra.

No início de 1970, naquele lugar listado pela CNV, padeceu durante 22 dias de suplício uma estudante mineira de 22 anos, integrante dos quadros de comando do grupo guerrilheiro Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares (VAR-Palmares), onde era conhecida pelos codinomes de ‘Estela’ ou ‘Vanda’. Na ficha da polícia, ela era identificada como Dilma Vana Rousseff, ou Linhares, seu nome de casada.

Passadas quatro décadas, a guerrilheira, presa e martirizada ‘Estela’ tornou-se a presidente da República Dilma Rousseff. Foi investida assim, pela força da democracia, na condição de Comandante-Suprema das Forças Armadas. A torturada Dilma é, desde 2011, a chefe incontestável dos comandantes militares que hoje negam a tortura. Cria-se, assim, uma insuperável contradição ética e institucional entre a autoridade máxima do País e seus comandados de farda:

Quem está dizendo a verdade? A presidente da República ou os comandantes das FFAA?
Ou, dito de outra forma, quem está mentindo? Dilma ou os generais?

Para ler a íntegra, basta clicar aqui.

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Praia, sol e letras: Flipipa debate ‘Marighella’ e a batalha das biografias
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Mário Magalhães

blog - flipipa

 

Muito feliz, compartilho a notícia aqui no blog: na próxima sexta-feira (8 de agosto), a partir das 21h, terei o prazer de participar do Festival Literário da Pipa, conversando com o jornalista Cassiano Arruda sobre “‘Marighella’ e a batalha das biografias”.

É a quinta edição do Flipipa, que leva literatura & ideias à paradisíaca praia da Pipa, no município potiguar de Tibau do Sul, pertinho de Natal.

O festival começa na quinta e vai até o sábado. Entre os autores convidados estão Abel Silva, Capinam, Chacal, José Miguel Wisnik, Nélida Piñon, Rodrigo Lacerda e outros feras.

Para ver a programação, basta clicar aqui.

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A Remington que pariu ‘Viva o povo brasileiro’, por Karina Kuschnir
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Mário Magalhães

JUR

 

Foi na Remington acima que João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) escreveu a obra-prima “Viva o povo brasileiro”.

O desenho é de autoria da artista plástica Karina Kuschnir.

Melhor dizendo, artista plástica, jornalista, antropóloga, cronista, acadêmica, contadora de histórias… não sei em que ordem a professora prefere.

A Karina publicou o desenho no saboroso blog dela, junto com causos sobre a máquina, o antigo dono da máquina, o novo dono.

Sei que já o apresentei, mas reitero: para acompanhar o blog da Karina, basta clicar aqui.

Reproduzo abaixo o post que acompanha a ilustração, com direito também a artigo do escritor Juva Batella, sobrinho de João Ubaldo e herdeiro do tesouro que é esta máquina de escrever.

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*

Viva o tio João

Por Karina Kuschnir

Como contei no post sobre as dez lições da vida acadêmica, meu primeiro trabalho no mestrado foi sobre João Ubaldo Ribeiro. Era centrado no livro Viva o povo brasileiro, cujas quase 700 páginas li apaixonadamente em 1990.

Com a morte do João, deu tanta saudade dos seus romances… Li todos (até então publicados) de uma vez só!

Foi assim. Um belo dia, entrei numa sala de aula da PUC (era meu último semestre no curso de jornalismo) e conheci um aluno três anos mais jovem que se dizia “sobrinho do João Ubaldo Ribeiro”. Um cara incrível, engraçado, poético, falante e bonito. Ficamos amigos. Éramos ambos apaixonados por literatura, por cartas e por escrever. Ele provou que era sobrinho do João mesmo! Toda semana me dava um romance do tio. E ao invés dos textos do curso (de Psicologia da Comunicação), conversávamos horas e horas sobre os livros, as cartas, os artigos, o humor e as ideias do Ubaldo!

O ápice da minha febre-ubaldina foi quando terminei meu sofrido trabalho (já  no mestrado) e mandei para o “tio João”. Depois, fui finalmente conhecê-lo em pessoa. Tivemos uma conversinha… Ele ali, naquela simplicidade, na casa da sogra, de chinelos, sem ares de fama. Dei boas risadas. A gente não se deve levar muito a sério, ele disse.

O sobrinho dele também passou a escrever livros, tem vários romances lindos. Fez até uma tese de doutorado sobre o tio (que vai virar livro) e guardou com carinho o presente histórico: a máquina de escrever Remington — exatamente a máquina onde foram datilografadas as páginas mágicas de Viva o povo brasileiro e que vai desenhada aí em cima.

E como consegui desenhar essa máquina para o blog? Porque tenho fotos — ela está na casa portuguesa deste que muitos anos e perdas de cabelo depois se tornou meu namorado…

Deixo com vocês a homenagem que ele escreveu para o jornal Público (Portugal) na semana da morte de João Ubaldo.

Cartas ao jovem sobrinho

Por Juva Batella

Quando publiquei o meu primeiro livro entreguei um exemplar ao velho tio e, ansioso como um jovem autor não deveria ser, não esperei passarem-se 24 horas e já o procurei, batendo-lhe à porta, para saber o que havia afinal achado do meu primeiro romance, e ele me puxou para dentro com veemência, como se fugíssemos de repórteres, e me aconselhou aos cochichos a jamais perguntar a opinião de alguém acerca de um livro que se tenha escrito. “Deixe que o leitor se manifeste, querido sobrinho. Jamais pergunte uma coisa dessas!” E me disse meses depois, numa carta, que eu arranjasse, por amor a todos os santos da Bahia, uma ocupação decente, “que não se aproximasse tão perigosamente do ofício de seu tio”. E as inúmeras cartas que recebi dele começavam sempre assim: “Irrepreensível e inadmoestável sobrinho”. E me aconselhou a ler Shakespeare. “Basta isso, sobrinho! E que Deus tenha pena de sua alma jovem! Basta ler Shakespeare, ainda há tempo!, e todo o resto virá naturalmente. E se você me disser que não lê em inglês aí eu deixo de me dar com você, vá ler inglês urgentemente, conselhos do velho tio: há que ler os clássicos! Os clássicos não são clássicos à toa. O que se deve evitar é ler o que escreveram sobre os clássicos, a não ser que o autor do clássico sobre o clássico seja também um clássico, coisa rara, mas encontradiça.” Também me aconselhou a ler Homero, “principalmente A Ilíada, é claro”, e me sugeriu que evitasse as traduções em versos, porque os pés gregos são inimitáveis. E numa das cartas, a maior e a mais divertida de todas, simulou uma entrevista que eu daria, anos mais velho, à revista Fortune, onde, acendendo o meu charuto com uma nota mil dólares, relataria ao curioso e assustado repórter as origens do meu sucesso capitaneando um império editorial sem tamanho. “Mas vê-se que o senhor não é um fumante de charutos…”, assim disse eu, como personagem de João Ubaldo, ao estupefato repórter que me entrevistava para a Fortune. “Qualquer fumante de charutos sabe que o charuto aceso com uma nota de mil dólares tem um sabor inigualável.” E em todo os momentos da minha vida o velho tio praticamente me obrigou a prosseguir em minha “trilha triunfal e adotar como lema Audaces fortuna juvat, que calha muito com o seu nome: a sorte sorri aos audazes! Em frente! Eia Sus!”, escreveu ele, que sempre assinava assim: “Misteriosamente, João Ubaldo Ribeiro”.

Hora de reler o velho tio, linha a linha, e refazer esse traçado que já faz parte de mim.

Ah!, e de vez em quando ele assinava assim: “Do seu velho tio, Ubaldão, o Cruel”.

*

Sobre o desenho: Fiz o desenho sobre a foto da máquina original com uma canetinha para Ipad (genérica, que o Antônio comprou no Japão por 5$) na app Procreate. Depois imprimi, colori com lápis de cor para que a fita da máquina ficasse verde e amarela, e scaneei de novo. Levei quase duas horas para desenhar a máquina e todos os seus detalhes. A melhor parte foi observar com calma cada pedacinho, cada desgaste, e ainda os símbolos antigos de cruzeiro, de libra, de parágrafo… É bem clichê dizer isso, mas… saber que uma peça tão simples produziu uma obra tão gigante me faz lembrar de consumir menos & produzir mais.


‘Tempos de guerra’, por Angeli
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Mário Magalhães

Por Angeli, na “Folha” deste domingo, mesmo dia em que forças israelenses bombardearam mais uma escola da ONU na faixa de Gaza, matando sem dó:

blog - angeli tempos de guerra

 


Elenco limita Luxa no Fla lanterna
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Mário Magalhães

Lanterninha, aqui me tens de regresso, canta o Flamengo depois da derrota dominical de 1 a 0 para a Chapecoense.

Em 13 partidas, o time carioca só venceu duas, uma delas domingo passado, na estreia do seu terceiro técnico no Campeonato Brasileiro, Vanderlei Luxemburgo.

O treinador tentou reeditar a armação bem sucedida no triunfo contra o Botafogo, mas as ausências dos suspensos Léo Moura e Cáceres sabotou suas pretensões.

O desempenho caiu, sobretudo no ataque, de uma timidez maior que a do colorado Luis Fernando Verissimo.

O problema não foi apenas substituir os veteranos. A dificuldade maior do Flamengo é permanente: o elenco medíocre.

Não venham, vos imploro, alegar que isso acontece devido a orçamento enxugado. Só um incauto suporia que a folha da Gávea e do Ninho do Urubu é menor que a do pessoal de Chapecó.

Com o afastamento do goleiro Felipe, em péssimo momento, entrou Paulo Victor. Tinha mesmo que entrar, contudo falhou hoje, no gol de Rafael Lima aos 7 min do primeiro tempo. O sol atrapalhou, mas por que não tratou de se prevenir, usando um boné ou outra proteção?

No lugar de Léo Moura, o volante Luiz Antônio foi recuado para a lateral direita, como em outras oportunidades. Não deu certo, porque ele não tem cacoete de lateral ou ala. Abre-se mão de avançar por seu lado. O time fica mais previsível e anêmico.

A zaga foi o melhor hoje, com Marcelo, pela direita, e Wallace, com a braçadeira de capitão, oferecendo segurança.

Na lateral esquerda, a saída de André Santos trouxe o benefício da escalação com 11 _o Flamengo estava entrando em campo com dez jogadores. Mas João Paulo é limitado, a cara do elenco mediano.

Com o desafio de fazer o que Cáceres e Luiz Antônio fizeram no jogo anterior, Muralha e Canteros se mostraram fracos. Se o padrão dos titulares já não é alto, imagine o do banco.

Paulinho, contundido, não é nenhuma maravilha. Porém, o eterno promissor Gabriel não engrena. Foi péssimo agora há pouco.

Mugni tem boa técnica, luta sem parar, mas não exibe futebol para resolver sozinho.

Éverton foi discreto como meia-atacante. Melhorou muito ao ocupar o posto de João Paulo na lateral esquerda, a partir de onde logrou ações mais perigosas à frente.

Alecsandro é um solitário, mas desperdiçou três boas chances que lhe criaram. Talvez o atacante seja a síntese do Flamengo. Ele era reserva no Atlético-MG, e no rubro-negro é titular de carteirinha. Em terra de cego…

Por que o passeio pelo chamado “grupo”?

Porque, sem inventar, Vanderlei Luxemburgo vai tentando tornar a equipe mais competitiva. Brabo é executar seus planos, mesmo sem maiores ambições, com recursos tão escassos. Terá de apostar em Eduardo da Silva à frente e Éverton de lateral.

A torcida da casa também cantou e gritou hoje, tripudiando sobre os visitantes lanternas: “Ão, ão, ão, segunda divisão…”.

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