Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : setembro 2013

Guardanapo na cabeça, com rara elegância
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Mário Magalhães

 

( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )

A crônica político-policial dos últimos tempos associou guardanapos na cabeça à vulgaridade dos novos-ricos e ao despudor nos vínculos público-privados.

Não me ocorrera que a elegância pode prevalecer com uma “serviette” na cabeça, para usar a expressão empregada na Paris onde Cabral e seus chapas se esbaldaram. Até que na sexta-feira dei com a foto acima, no restaurante La Bella Italia, na adorável cidade de Fortaleza.

Ingrid Bergman transforma o pano branco numa peça de alta costura, em adorno elegante. Quando eu era moleque, gastava horas batendo boca com os amigos do peito: uns elegiam a sueca a maior deusa do cinema em todos os tempos; eu ficava e ainda fico com Grace Kelly, ainda que também seja devoto da mãe da Isabella Rossellini.

Acho que o sortudo ao lado dela é o Fellini, mas não tenho certeza.


Dilma nomeia Dallari, barra volta de Fonteles e indica pressão por retorno de Dipp à Comissão Nacional da Verdade
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Mário Magalhães

Rubens Paiva. Quem o matou e sumiu com seu corpo em 1971?

 

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Dois atos do Poder Executivo assinados pela presidente Dilma Rousseff e veiculados hoje pelo “Diário Oficial da União” têm grande importância para a Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Desde ontem se sabia da nomeação do advogado Pedro Dallari, indicação confirmada no “Diário Oficial”. A novidade é que o jurista entra no lugar de Cláudio Fonteles, ex-procurador-geral da República, dispensado hoje, “a pedido”, como publicado.

Portanto, Dallari não ocupará a vaga do ministro Gilson Dipp. Afastado da comissão por motivos de saúde, Dipp retomou suas funções no Superior Tribunal de Justiça, mas não na CNV, da qual nunca foi liberado, mesmo durante o período de internação hospitalar. Em Brasília, acumulam-se rumores de que Dilma tem insistido por seu regresso. O ministro resiste, contrariado com desavenças entre componentes do colegiado.

Fonteles havia se afastado em virtude de divergências com outros membros da comissão, instituída para investigar violações dos direitos humanos de 1946 a 88. Embora ele não reconheça em público, é sabido que aceitaria voltar, se a presidente demitisse um ou dois comissionados. Desde hoje há certeza de que isso não ocorrerá.

O procurador defende a punição dos autores de crimes como tortura, morte e ocultação de cadáveres durante a ditadura 1964-85. É a mesma opinião de Dallari, que entra em seu lugar.

A informação terminou, agora é opinião: a Comissão Nacional da Verdade tem enorme relevância para o Brasil, é uma conquista democrática. Tomara que, a partir de agora, concentre-se em seus imensos desafios. Uma boa atitude seria publicar relatórios sobre crimes da ditadura somente depois de apurá-los, e não antes. Caso contrário, acabará por afiançar versões falsas, produzidas por agentes do Estado, sobre episódios daqueles tempos sombrios.


Se o Obama fosse espionado, ele não viria ao Brasil (ou como o servilismo pode ser ridículo)
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Mário Magalhães

Em 1946, Mangabeira bajula Eisenhower – Foto Ibrahim Sued

 

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Na primeira revelação sobre a espionagem high-tech dos Estados Unidos sobre o Brasil e os brasileiros, o Itamaraty pediu explicações.

Quando se soube que a arapongagem eletrônica era mais grave, o então chanceler pediu mais explicações. E correu a esclarecer que o país não ofereceria asilo a Edward Snowden, o norte-americano que nos prestou um serviço denunciando o abuso. O Departamento de Estado sorriu.

Agora, com as revelações do “Fantástico” sobre o monitoramento das comunicações da Dilma, o novo chanceler pediu mais explicações.

Como já anotado aqui, “explicações” sempre há, até para batom na cueca, como preconiza a Lei Oldemário Touguinhó (para entender a homenagem, leia aqui).

A explicação tem sido a de que as antenas da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla inglesa) prestam-se ao combate ao terrorismo. Será que temem a Dilma? Ela foi guerrilheira, vai que a Guerra Fria não acabou… O que não falta no mundo é maluco e cara de pau.

As ações da NSA configuram uma agressão ao Brasil.

Novamente, quase cansando, proponho a inversão dos personagens: e se o espionado fosse o Obama? Alguém acha que ele viria a Brasília, como a Dilma talvez ainda vá aos EUA daqui a poucas semanas?

O princípio da reciprocidade vigora na diplomacia, mesmo entre países com influência assimétrica, como é o caso. O Brasil foi agredido, mas não lhe cabe retaliar espionando os EUA. Se a Dilma for à Casa Branca, aceitará a agressão, por mais verborragia radical que possa empregar.

Se a presidente da República não reagir à altura, o que exige cancelar a viagem, mais uma vez o Brasil fará o papel de nação subserviente. O que é ainda mais anacrônico depois do fim da Guerra Fria (sim, ela acabou) e da identidade mais altiva que o país tem buscado.

A foto acima foi feita pelo jovem repórter Ibrahim Sued em 1946, no Palácio Tiradentes. O então constituinte Otávio Mangabeira beijou a mão direita do general norte-americano Dwight Eisenhower. É um retrato histórico de como o servilismo, além de deletério, pode ser ridículo.