Blog do Mario Magalhaes

Se o Obama fosse espionado, ele não viria ao Brasil (ou como o servilismo pode ser ridículo)

Mário Magalhães

Em 1946, Mangabeira bajula Eisenhower – Foto Ibrahim Sued

 

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Na primeira revelação sobre a espionagem high-tech dos Estados Unidos sobre o Brasil e os brasileiros, o Itamaraty pediu explicações.

Quando se soube que a arapongagem eletrônica era mais grave, o então chanceler pediu mais explicações. E correu a esclarecer que o país não ofereceria asilo a Edward Snowden, o norte-americano que nos prestou um serviço denunciando o abuso. O Departamento de Estado sorriu.

Agora, com as revelações do “Fantástico” sobre o monitoramento das comunicações da Dilma, o novo chanceler pediu mais explicações.

Como já anotado aqui, “explicações” sempre há, até para batom na cueca, como preconiza a Lei Oldemário Touguinhó (para entender a homenagem, leia aqui).

A explicação tem sido a de que as antenas da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla inglesa) prestam-se ao combate ao terrorismo. Será que temem a Dilma? Ela foi guerrilheira, vai que a Guerra Fria não acabou… O que não falta no mundo é maluco e cara de pau.

As ações da NSA configuram uma agressão ao Brasil.

Novamente, quase cansando, proponho a inversão dos personagens: e se o espionado fosse o Obama? Alguém acha que ele viria a Brasília, como a Dilma talvez ainda vá aos EUA daqui a poucas semanas?

O princípio da reciprocidade vigora na diplomacia, mesmo entre países com influência assimétrica, como é o caso. O Brasil foi agredido, mas não lhe cabe retaliar espionando os EUA. Se a Dilma for à Casa Branca, aceitará a agressão, por mais verborragia radical que possa empregar.

Se a presidente da República não reagir à altura, o que exige cancelar a viagem, mais uma vez o Brasil fará o papel de nação subserviente. O que é ainda mais anacrônico depois do fim da Guerra Fria (sim, ela acabou) e da identidade mais altiva que o país tem buscado.

A foto acima foi feita pelo jovem repórter Ibrahim Sued em 1946, no Palácio Tiradentes. O então constituinte Otávio Mangabeira beijou a mão direita do general norte-americano Dwight Eisenhower. É um retrato histórico de como o servilismo, além de deletério, pode ser ridículo.