Blog do Mario Magalhaes

Sabáticas: Mais tiradas sem pé nem cabeça

Mário Magalhães

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Fazer do limão uma limonada é barbada; quero ver fazer o contrário – Foto Getty Images

 

Quando alguém anuncia que vai correr atrás do prejuízo, pode apostar: não se trata de um masoquista juramentado, desejoso de reveses e naufrágios. Pelo contrário, trombeteia a altivez de quem tentará recuperar o tempo perdido, dando a volta por cima e, como conclama a Dory, continuando a nadar.

Correr atrás do prejuízo é um despropósito da linguagem cotidiana que adotamos no piloto automático. Pronunciamos a expressão se queremos lucro e triunfo, mitigando prejuízo e fracasso, daí o disparate.

Pertence à família das tiradas que subvertem o significado que supõem traduzir. Tipo matou a cobra e mostrou o pau, que seria a síntese do bravo que prova sua façanha. Só que não: para provar, é preciso mostrar a cobra abatida, e não o pau.

Fazer do limão uma limonada é também imagem traiçoeira. Ora, limonada se faz com limão. É fácil. O complicado, cenário que as palavras procuram caracterizar, seria fazer da limonada um limão.

Com ou sem limonada ao lado, costumamos ler um livro de trás (o princípio) para frente (o fim). Porém, se um leitor começa nos capítulos derradeiros até regredir aos iniciais, dizemos que ele lê de trás para frente, quando na verdade é de frente para trás.

Outra máxima manjada ensina que beleza não põe mesa. Vai dizer isso para uma top model ou um galã de novela. Mais uma: com pênalti mal marcado a bola não entra. É dispensável recorrer aos nerds das estatísticas para saber que, apitada com justiça ou não, a maioria dos pênaltis resulta em gol.

Por falar em futebol, desde cedo ouvi que Deus ajuda a quem madruga. Se tem uma pessoa que não pode reclamar da generosidade do Papai do Céu é o Romário. Ele sempre gostou de acordar tarde. E basta lembrar alguns pernas-de-pau cuja presença na seleção virou clamor popular para saber que nem sempre a voz do povo é a voz de Deus.

(Publicado originalmente na revista Azul Magazine, março de 2015)

(Clique em cima do título se quiser ler a crônica ''Sabáticas: Provérbios furados'')

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