Blog do Mario Magalhaes

Onde está Dilma?

Mário Magalhães

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Reprodução de pôster da série ''Onde está Wally?''

 

Nunca fui muito bom procurando o Wally nas páginas duplas daqueles livros que viciavam. Mesmo assim, ou por isso mesmo, gostava de folhear até encontrar o dito cujo. Persistia. Como não decorava o paradeiro do protagonista e de outros personagens, reabria os livros como se nunca os tivesse visitado.

Na primeira metade da década de 1990, apogeu da febre do Wally, eu cobria ao mesmo tempo o cotidiano do São Paulo treinado pelo Telê e as viagens da seleção brasileira, nas mãos do Parreira. Ficava pouco tempo na redação, viajava muito. Um colega gente boa, o Paulo Calçade em seus tempos de jornalismo impresso, passou a me chamar de Wally, por não saber onde eu andava. Ainda bem que o apelido não pegou.

Voltei a buscar o Wally nos últimos dias. Achei o Temer, o Jacques, o Serra, o Palocci, o Moreira, o Jorge, o Jucá, o Garotinho, o Alckmin, a Kátia, o Imbassahy, o Pezão, o Padilha, o Paes, o Lindbergh, o Cunha, o Renan, o Geddel, o Eunício, os Maia (Rodrigo, Marco e Agripino). E por aí vai.

Não descobri o Wally, mas dei com um elenco de identidades tão criativas quanto as adotadas por bandidos do Rio: o Todo Feio, o Velhinho, o Decrépito, o Campari, o Boca Mole, o Comuna, o Moleza.

Foi moleza localizar siglas como PMDB, PT, PSDB, PP, PC do B, PTB, PR, DEM, PSB, PSD, PPS, PTC.

Não topei foi com o Wally.

Como é evidente, não esquadrinhei os desenhos coloridos com elementos pequenininhos. E sim notícias sobre antigos mandachuvas da Odebrecht entregando beneficiários de propinas.

E o Wally aqui tem outro nome, Dilma Rousseff.

Deparei-me com uma penca de correligionários dela _será que o PT continua pensando que o inferno são somente os outros?

Tem até um ex-assessor da Dilma, de sobrenome Dornelles, como o Velhinho. Um é Anderson; o outro, Francisco. Mas não é dinheiro pedido ou dado para a ex-presidente.

Na banca, vi uma revista trombeteando que um dono da empreiteira teria dito que a Dilma mandou pagar 4 milhões à Gleisi. Desconsiderei, ao reparar que o alto da capa proclama o Temer como personalidade do ano. Na lista-bomba estourada na sexta-feira, o presidente fulgura pedindo e levando 10 milhões.

Não notei os nomes do Lula e do Aécio (o ''Mineirinho'', numa denúncia anterior), mas esses já têm rolos na Justiça e menções de sobra em delações.

Nem o da Marina, que nunca foi afastada da Presidência, à qual não chegou em duas tentativas frustradas.

A Dilma, ela sim, foi deposta em nome da decência e do combate à corrupção. O pretexto foram as ditas pedaladas fiscais. Nenhum centavo para seu bolso.

A presidente reeleita pelo voto popular em 2014, para um governo de quatro anos, vive hoje num apartamento de 120 metros quadrados em Porto Alegre.

Conduziu um desastroso segundo mandato, embora tivesse a legitimidade proporcionada pelo sufrágio dos cidadãos.

Surpreenderia a Dilma numa futura lista da Odebrecht ou de outra construtora?

O que é capaz de surpreender hoje?

Colocaria a mão no fogo pela Dilma?

Prefiro não arriscar.

O que não impede a constatação de que, na vasta e pormenorizada relação nominal divulgada desde a sexta, ninguém encontrou o nome da Dilma.

Talvez ela seja mesmo o Wally e se esconda em algum canto da página. Não descarto nada.

Por enquanto, há uma certeza: a Dilma foi derrubada por quem, tudo indica, roubou demais e impôs o impeachment falando em derrotar a roubalheira.

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