Blog do Mario Magalhaes

Sabáticas: Provérbios furados

Mário Magalhães

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O Gordo e o Magro: quem ri por último ri melhor?

 

Cão que ladra não morde, supunha o incauto que se fiou na dica e levou 23 pontos na batata da perna, retalhada pelas dentadas do cachorro que tanto ladrava quanto mordia.

Com ralos cabelos restantes e o rosto castigado pelos sulcos do tempo, a anciã desenganada ainda aguardava, convencida de que, afinal, quem espera sempre alcança. Um contemporâneo dela se despedira da vida sem chegar ao destino sonhado, rumo ao qual caminhara a passos lentos e esperançosos, confiante de que devagar se vai ao longe.

Por mais que provérbios ensinem sobre a existência, volta e meia alguns trapaceiam. Dinheiro não traz felicidade, costumam proclamar, com razão. Mas é mais fácil a infelicidade prosperar onde falta do que onde sobra. O ditado se presta a confortar quem nada ou pouco tem. Se nada tem, pouco adianta se queixar, pois o bom cabrito não berra, aconselham. Já a marchinha carnavalesca canta o contrário: quem não chora não mama.

Embora inspiradas, algumas tiradas não se sustentam. Quem ri por último ri melhor pode ser mera expressão de lerdeza para perceber a piada, só entendida depois que uma boa alma a explica bem explicadinha.

Quem não deve não teme talvez seja lição que imunize contra determinadas angústias, mas já temi justamente por não dever _no mundo real, às vezes é assim. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura, o pessoal insiste. Pode até ser verdade, mas daqui a quantos milênios?

Por mais sedutora que seja a melodia da canção que a embala, a máxima as aparências enganam nos ocorre somente de vez em quando. O motivo é singelo: quase sempre, as aparências não só não enganam como denunciam. É o que comprovam os abacates maduros demais na feira ou as pessoas em quem, está na cara, não devemos confiar.

O fascínio de provérbios clássicos faz com que os repitamos mesmo se desconfiamos que sejam furados. Se um conhecido manda bem, e eu admiro sua ascendência, não resisto ao afago: quem sai aos seus não degenera.

Nesses casos, a frase procede. O problema é se o filho de um serial killer, o neto de um canastrão ou o bisneto de um larápio reedita feitos do antepassado. Aí, quem sai aos seus já nasce degenerado.

(Publicado originalmente na revista Azul Magazine, julho de 2014)

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