Blog do Mario Magalhaes

No mesmo dia, ingressos para vôlei de praia e boxe. Qual escolher?
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Mário Magalhães

O cubano Teófilo Stevenson em Moscou-80, quando se sagrou tricampeão dos pesados – Foto AP

O norte-americano George Foreman, ouro nos pesados na Cidade do México-68 – Foto reprodução

 

Confusões domésticas, ingressos comprados para dois esportes diferentes em horários incompatíveis no mesmo dia.

Escolher o jogo do vôlei de praia ou as lutas do boxe?

Meu pai não pouparia o comentário irônico: os dramas da classe média…

O vôlei de praia deu alegrias desde a estreia na Olimpíada, com o ouro da Jaqueline e da Sandra em Atlanta-1996.

No boxe, Servílio de Oliveira papou uma medalha de bronze em 1968, na Cidade do México.

Tanto no boxe como no vôlei de praia sobrevieram outras conquistas valiosas do Brasil.

Lembrei-me de Joe Frazier e George Foreman, norte-americanos, e de Teófilo Stevenson, cubano.

Todos campeões na categoria peso pesado dos Jogos. Stevenson, um inacreditável tricampeão, um dos maiores pugilistas de todos os tempos, na mesma galeria de Muhammad Ali e do boxeur mais espetacular que eu vi no ringue, Sugar Ray Leonard.

De longe, torcerei pelos brasileiros no vôlei de praia.

E terei o imenso privilégio de viver o boxe olímpico não mais pela TV, e sim ao vivo.

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Se o ar do Rio é tão mortal assim, na Olimpíada de Pequim houve genocídio
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Mário Magalhães

Não é neblina, poética e prenhe de mistérios, e sim poluição em Pequim – Kim Kyung-Hoon/Reuters

 

O ar do Rio é poluído e mortal, informa a agência Reuters.

Reportagens com espírito crítico, como essa, são bem-vindas.

Muito melhores que exercícios de bajulação fantasiados de jornalismo.

Mas um pouco de sobriedade não faz mal a ninguém.

Porque, se o ar carioca é tão letal assim, na Olimpíada de Pequim ocorreu um genocídio, certo?

Sobrou alguém vivo?

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Pelé ou Maradona? Messi, respondeu o papa Francisco. Só faltou citar o Zico
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Mário Magalhães

Papa Francisco, torcedor do San Lorenzo – AP Photo/Gregorio Borgia

 

E não é que o papa argentino entende mesmo de futebol?

Indagado na Polônia sobre quem foi melhor, Pelé ou Maradona, Francisco anotou: ''Para mim, Messi''.

Para receber um dez pela resposta, teria que ter colocado o Zico no alto do pódio.

Mas, como o Zico é hors-concours, o papa mandou bem.

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Desigualdade: atletas e técnicos deixam para tratar dentes na vila olímpica
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Mário Magalhães

 A estrutura da Policlínica tem cerca de 280m², funcionará todos os dias durante os Jogos Olímpicos e conta com o apoio da Oral-B

Um dos oito consultórios dentários na vila olímpica – Foto divulgação

 

Uma integrante de delegação estrangeira de país pobre e desigual pediu uma consulta na clínica odontológica montada na vila olímpica. Mostrou um dente quebrado, que foi logo restaurado. A paciente contou que estava com o problema havia meses, mas esperou os Jogos do Rio porque aqui o atendimento lhe seria gratuito e com muito mais qualidade do que em sua terra. Sobrevieram episódios semelhantes.

A Vila dos Atletas tem uma policlínica para exames de imagem, instalações para fisioterapia, tudo high-tech. Como oito consultórios dentários com equipamento importado tinindo de novo e profissionais brasileiros, considerados dos mais qualificados do mundo.

A vila expressa desigualdades entre as nações, também no esporte.

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Para site da Presidência da República, prefeito do Rio é Eduardo ‘Paz’
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Mário Magalhães

blog - planalto eduardo paes paz 1

Detalhe de transcrição no site da Presidência da República (1)

 

blog - planalto eduardo paes paz 2

Detalhe de transcrição no site da Presidência da República (2)

 

A curiosidade reproduzida acima não é nada, sai na urina, comparada à afirmação infame de que o câncer foi uma ''coisa útil'' para Luiz Fernando Pezão.

A declaração foi feita sábado por Michel Temer, na inauguração da linha 4 do metrô carioca.

De acordo com o presidente sem voto, o governador licenciado do Rio teria ficado mais bonito depois do tratamento vitorioso contra o câncer.

Daí a celebrar a ''coisa útil''… Mais do que gafe, uma cretinice.

Dei com os erros de grafia ao procurar no site da Presidência da República a transcrição do inacreditável discurso de Michel Temer, ao lado de figurões investigados e mencionados na Operação Lava Jato, como ele próprio.

Por cinco vezes Temer citou o prefeito do Rio, Eduardo Paes.

No site oficial do Palácio do Planalto, um dos políticos e administradores públicos de maior exposição no Brasil passou a ter o sobrenome ''Paz''.

Além de gafe, derivada de ignorância, o equívoco constitui impropriedade interpretativa.

Goste-se ou não de Paes, ele é de briga, e não de paz.

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Sabáticas: A ciência do pão-durismo
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Mário Magalhães

 

Gastão Franco, por Chico

 

Um amigo desenvolveu uma técnica para o prato pesar pouco no restaurante a quilo. Pensando bem, não é mera técnica. Classificar assim o resultado do seu empenho seria subestimar a sofisticação da empreitada. Ele fundou uma ciência para comer mais pagando menos. Monta um prato de três andares, com bife suculento e verduras diáfanas. Só coloca o azeite depois de passar pela balança. Não sei se sente mais prazer com a comida ou por não gastar demais.

Incentivado a publicar suas lições em livro, o sovina prefere não compartilhar o que aprendeu. Parece que ele devora muito mais estrogonofe do que os colegas, o que a conta nega. Seu segredo? Maneirar nas colheres de carne e arroz, encobrindo-os com uma montanha de batata palha, mais leve que pipoca.

Restaurante é lugar onde os muquiranas se traem. Um compadre meu, da mesa mais modesta à mais metida a besta, abre as refeições se queixando dos preços no cardápio. A bronca antecede sua mania de pedir para misturar ingredientes de pratos diversos. E querer filé à parmegiana sem queijo. O compadre anda pelas ruas com as mãos no bolso. Se tropeçar, babau.

Mãos no bolso eram característica do mão-fechada Gastão Franco, personagem do Chico Anysio. “Pão-duro, não!; eu sou controlado”, era o seu bordão. O Gastão é daqueles tipos que morrem afogados, mas não abrem a mão para nadar. O Chico gracejou: “Tem gente que acha que ser pão-duro é pagar mico. Mas o Gastão não paga nada. Nunca”.

Outro mão de vaca das artes foi o protagonista da peça O Avarento, do Molière. O dito cujo guardava todo o dinheiro em casa. Triste sina. Como dizia o jornalista Vittorio Buttafava, “o absurdo da avareza está no fato de que o avarento vive pobre e morre rico”.

E conta vantagem, como um conhecido que jamais pegou o metrô em Nova York, para onde vai de férias. Gastar para quê?, ele pergunta. Só anda a pé. Vangloria-se de ver toda Manhattan de cima, não feito tatu, mesmo chovendo. Se neva, tranca-se no hotel. Táxi? Nem sabe o que é.

O unha de fome difere do poupador. Este tem consciência de que, como as incertezas espreitam, é recomendável se precaver. Para o morrinha, ainda que o dinheiro sobre, todo dia é dia de vacas magras.

Uma coisa são as circunstâncias obrigarem a apertar o cinto, até para trocar de carro ou economizar para a viagem de verão. Outra é manter a carteira lacrada como obsessão existencial.

Há quem confunda certas parcimônias com pão-durismo. As porções microscópicas da nouvelle cuisine não foram obra de cozinheiros mesquinhos, mas modismo gastronômico.

Não é o caso do sujeito que, quando a ligação cai, sempre espera para lhe telefonarem e pagarem a chamada. Aí, o diagnóstico flagra um pão-duro patológico.

(MM, publicado originalmente na revista Azul Magazine, maio de 2016)

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Epígrafes: por François Truffaut
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Mário Magalhães

O cineasta francês François Truffaut (1932-1984) – Foto divulgação

 

''Não esqueçamos jamais que as ideias são menos interessantes do que os seres humanos que as inventam, modificam, aperfeiçoam ou traem.''

François Truffaut, cineasta francês, gênio da raça.

*

Por muitos anos trabalhei na sucursal carioca da Folha com esse frase impressa num papelzinho colado à minha frente. Era inspiração e estímulo, para não perder de vista o que um antigo editor ensinava no Segundo Caderno: gente gosta de gente. Eu também, apesar dos pesares. As melhores histórias são histórias de gente. Transformei o mantra em epígrafe da biografia ''Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo'' (Companhia das Letras). A epígrafe é também um apelo para conhecer sem preconceitos a trajetória de Carlos Marighella (1911-1969), personagem histórico controverso. É legítimo odiar ou amar o protagonista, mas formar juízo sem se informar… deixa pra lá. O toque do Truffaut também caberia no livro que escrevo sobre Carlos Lacerda (1914-1977). É impressionante como Lacerda é incensado ou demonizado por quem pouco sabe de sua vida, sobretudo dos derradeiros treze anos. Mas não dá para repetir epígrafe. E já há algumas ótimas à espera de Lacerda, para eu escolher uma ou duas.

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Palavras malditas (15): oficial
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Mário Magalhães

Máquina de escrever de meados dos anos 1960 – Reprodução “The New York Times''

 

Com o montão de comitês olímpicos estrangeiros em viagem ao Rio, às vésperas da Olimpíada, o jornalismo vem descobrindo ''oficiais'' em tudo o que é delegação.

Como se o pessoal pertencesse a alguma força armada. Só falta informar o posto: oficial general, oficial superior, oficial intermediário, oficial subalterno…

A pegadinha é ler ou ouvir um gringo descrito como ''official'' e traduzir para ''oficial''.

Parece, mas não é: o significado quase sempre é funcionário.

A mancada costuma ocorrer em traduções de despachos de agências de notícias. Funcionários do Departamento de Estado viram oficiais.

Funcionários da CIA, mesmo modestos e restritos à burocracia mais comezinha, são ''officials''. Porém, só em inglês.

Por mais mandachuva que seja, um ''official'' do Comitê Olímpico Internacional é funcionário, e não oficial.

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*


Ao se dizer contra Olimpíada no Brasil, técnico Micale mostra coragem
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Mário Magalhães

Rogério Micale, técnico da seleção olímpica masculina de futebol – Foto Rafael Ribeiro/CBF

 

A Bahia não é mole, não. Terra de gente corajosa, como o técnico Rogério Micale, da seleção olímpica masculina de futebol.

O repórter Sérgio Rangel lhe fez a seguinte pergunta: ''O Brasil gastou R$ 35 bilhões na organização da Olimpíada; você acha que a Olimpíada tinha que ser disputada aqui?''

Micale respondeu de bate-pronto: ''Sou contra. É minha opinião. Por tudo que penso da sociedade, do nosso momento político. Não preciso agradar ninguém. Não posso falar que a Olimpíada é uma coisa boa pra gente neste momento. Pai de família no hospital, um monte de gente morrendo, gente desempregada. Gastar não sei quantos bilhões…''. (Leia aqui a entrevista na íntegra.)

Muitos, na posição dele, esconderiam a opinião. Admirável, o Micale.

E olha que sou insuspeito, porque penso que a Olimpíada era uma ótima oportunidade de desenvolvimento social para o Rio, o que não ocorreu.

Ainda é cedo para um balanço, pesando o que se ganhou e o que se perdeu. Os Jogos nem começaram.

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