Alergia a voto: na ditadura, eleição direta era subversão; hoje, é ‘golpe’
Mário Magalhães
Em maio de 1966, Juracy (com ipsilone) Magalhães era o ministro das Relações Exteriores da ditadura comandada pelo marechal Castello Branco. Em 1965, o governo instaurado em seguida ao golpe de Estado de 1964 havia instituído eleições indiretas para presidente. Falar em eleição direta constituía ''subversão'', disse Juracy em tom de ameaça.
Em abril de 2016, o ainda vice Michel Temer afirmou que diretas para o Planalto neste ano seriam ''golpe''. Ele amargava então 2% de intenção de voto para presidente, de acordo com o Datafolha. Driblando as urnas, participou da conspiração para depor Dilma Rousseff e a sucedeu.
2016 não é 1966, mas os anos separados por meio século guardam algumas semelhanças, como evidenciam as notícias reproduzidas acima, de ''O Globo'' e ''Estado de Minas''.
A demonização do voto popular, por exemplo.
E presidentes que não foram sufragados pelos brasileiros.
Beneficiários da deposição de governantes constitucionais, Jango e Dilma.
Temer foi votado para vice. Como Dilma foi derrubada sem ter cometido crime, ele se tornou presidente ilegítimo.
Como ilegítimo era Castello Branco.
Pelo menos não intimidam hoje com o carimbo de subversivo quem defende a ideia democrática de que presidente se elege com o voto do povo.