Blog do Mario Magalhaes

Intervalo entre gravação de Jucá e divulgação do áudio permitiu impeachment

Mário Magalhães

Sem Jucá, Temer não seria presidente – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

O intervalo entre a gravação de conversa entre os peemedebistas Romero Jucá e Sérgio Machado e a divulgação do áudio foi decisivo para o sinal verde ao impeachment na Câmara e no Senado.

Os diálogos ocorreram em março, informou o repórter Rubens Valente. A difusão ocorreu ontem, 23 de maio. Os deputados abriram caminho ao afastamento da presidente constitucional Dilma Rousseff em sessão no dia 17 de abril. Os senadores a retiraram do cargo em 12 de maio. É improvável que o julgamento definitivo de Dilma, previsto para os próximos meses no Senado, aprove sua recondução ao posto para o qual foi eleita por 54.501.118 cidadãos.

Como escancara a gravação, o PMDB bancou a deposição da presidente com o propósito de garantir a impunidade a investigados pela Operação Lava Jato. ''Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria'', disse o senador Jucá. Machado emendou: ''Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]''. Assim fizeram. Prevaleceu a ''solução mais fácil''.

Se os brasileiros soubessem de viva voz que, aos olhos do PMDB, era para isso que serviria o impeachment, é muitíssimo provável que não prosperasse a conspiração _agora com ares de irreversível_ contra Dilma.

A conversa foi gravada por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. Ele negocia com o Ministério Público delação premiada.

No futuro se saberá por que houve tanta demora entre a gravação e a sua revelação.

É possível que Sérgio Machado tenha preferido assegurar antes o que era mais importante ao seu correligionário Temer, a derrubada da presidente.

Ou que tenha entregue o que gravou a procuradores que teriam atrasado o vazamento.

Ou outra coisa.

Há muitíssimos aspectos graves nas afirmações de Romero Jucá, o breve ministro do Planejamento do governo Temer. Caiu ontem mesmo.

Mas poucos têm, nesse episódio, a relevância do tempo entre março-abril e março-maio que valeu o cartão vermelho a Dilma.

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