Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : abril 2015

Do jeito que a coisa vai, FHC será demonizado como perigoso esquerdista
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Mário Magalhães

blog - fhc

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – Foto Rodrigo Capote/UOL

 

Já andavam murmurando contra o senhor de cabelos brancos, que daqui a menos de dois meses completará 84 anos.

Pois não é que ele deu, depois de velho, a incentivar a gurizada a tomar copos e copos de maconha?

Assim é interpretada por certas mentes a cantilena pela descriminalização do consumo de determinadas drogas ilícitas.

A turma mais medieval sempre manteve um, dois ou quatro pés atrás em relação ao sociólogo que na década de 1950 frequentava reuniões do Partido Comunista com a presença de gente como, valha-me, Deus, um tal Carlos Marighella.

Pois não é que o hoje octogenário esteve no Comício da Central, em 1964?, voltam a lembrar.

E militou contra a ditadura, ao lado, por um tempo, de um sapo barbudo revelado pelas greves do ABC.

Se Fernando Henrique Cardoso não mudou o Brasil, mudou a si próprio: quando presidente, fulminou o monopólio estatal do petróleo, abençoou golpe de Estado na vizinhança, concedeu vastos poderes ao antigo PFL, renovou a obscena desigualdade social, beneficiou-se da compra de votos no Congresso, patrocinou privatizações marotas.

Enfim, endireitou-se.

Não que tenha virado um cidadão de direita, mas a meia-volta em sua trajetória fez com que o pensamento conservador nacional lhe devotasse sincera reverência.

Inexiste um só motivo para supor que o FHC parceiro de sangue e fé do PFL rebatizado como DEM tenha mudado novamente.

O que mudou, e ensombreceu, foi o ambiente político.

Por isso, para olhos cobertos por lentes escuras, o ex-presidente talvez nunca tenha parecido tão pouco confiável.

Daqui a pouco, não faltará quem o demonize como um esquerdista perigoso.

Tudo porque, a despeito do flerte com o impeachment da presidente constitucional _”neste momento”, não_, FHC se nega a chancelar ao menos por enquanto o golpismo expresso na forma do afastamento da governante eleita em outubro.

Ao contrário de Aécio Neves, ele diz o óbvio: falta motivo legal.

Mas o óbvio, em clima de intolerância e conturbação, pode se assemelhar a radicalismo.

Para ficar num único exemplo dos dardos de direita contra Fernando Henrique, recorro ao jornalista Ilimar Franco, que ontem publicou esta nota na coluna “Panorama político”:

“Também está contra FH, e a favor da destituição de Dilma, a maioria do DEM. Quanto a FH, o líder do DEM, Mendonça Filho, atribui sua posição ‘à idade’ e resume: ‘um estadista não pode ser um militante'”.

Ou seja, um deputado influente aponta a idade do ex-presidente como argumento para atacá-lo, por se negar a aderir à armação do impeachment.

Entre outras coisas, não entendeu que idade pode ser vantagem, e não handicap.

Está só começando.

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Na 4ª-feira, a consagração do futebol ofensivo
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Mário Magalhães

Arthur Maia: chega de três volantes no Fla - Foto Gilvan de Souza/Flamengo

O meia Arthur Maia: chega de três volantes no Fla – Foto Gilvan de Souza/Flamengo

 

Desde a Copa eu não encarava quatro jogos no mesmo dia.

Sei que a qualidade não é a mesma do Mundial, nem a relevância ou a reverência.

Mas foi uma grande quarta-feira, porque os campos consagraram o futebol ofensivo, de quem ganha procurando com gula o gol, e não fechadinho atrás para surpreender em contra-ataques.

Jornada de riqueza, e não de miséria futebolística.

Mais Guardiola, menos Mourinho.

E isso apesar de os gols não terem sido tantos assim.

Pela Champions, 1 a 0 do Real Madrid, ambicioso com sua blitz, contra o rival citadino Atlético, plantado na retaguarda para especular em ações de guerrilha.

Na Libertadores, o Inter procurou e achou, 1 a 0 sobre o fraquinho The Strongest, lá no Beira-Rio.

No Independência, o Atlético conquistou com valentia os dois gols de diferença de que precisava para sobreviver, 2 a 0 no Colo-Colo.

Mais à noitinha, bisolhei duas partidas, mas só contei uma, porque foram no mesmo horário: São Paulo 2 a 0 no Corinthians, pela Libertadores, e idêntico placar a favor do Flamengo, contra o Salgueiro, na Copa do Brasil.

Nos cinco casos, venceu quem entrou mais disposto a atacar, o ataque permanente como caminho para o triunfo _enfim, o Vanderlei Luxemburgo trocou um dos três volantes do Flamengo por um meia.

No Morumbi, as lambanças do Sandro Meira Ricci equivaleram aos 7 a 1 do árbitro brasileiro na Copa. O Corinthians foi garfado _mas, antes das expulsões, o São Paulo já demonstrava mais fome de gol, até porque, ao contrário do adversário, ainda não estava classificado.

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A jogadaça do Iniesta e duas lições para a vida
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Mário Magalhães

blog - jogada iniesta

 

Para quem quiser ver ou rever o vídeo com a jogada espetacular do Iniesta, ontem contra o PSG, basta clicar aqui.

Lá na frente, o espanhol passou para o Neymar, que marcou o primeiro dos seus gols na vitória do Barcelona por 2 a 0.

A jogada foi mesmo primorosa. Além da categoria extraordinária, o dono de vinícola se aproveitou da sua inteligência.

Andrés Iniesta, como Benjamin Button, nasceu com cara de velho.

Nesta temporada, o corpo  do trintão começa a dar sinais dos castigos do tempo.

O que ocorreu na arrancada no Camp Nou? Os adversários não imaginaram que ele, logo depois de pegar a bola, não se livrasse dela com seu estilo elegante, procurando um companheiro mais novo e bem colocado. Deram mole na marcação.

E Iniesta deixou os oponentes para trás.

E legou duas lições para a vida, não somente no esporte:

1) aproveite para surpreender, sempre que o subestimarem;

2) não subestime quem não deve ser subestimado.

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Pau de selfie barrado no museu
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Mário Magalhães

A proibição de alimentos, mochilas, sacolas, canetas laser e flash é antiga.

A restrição ao pau de selfie é fruto da novidade.

Aviso exposto na entrada do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo:

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blog - pau de selfie


Conhece o Sunda? Pois saiba que Sunda existe
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Mário Magalhães

Conheces o Sunda? Que Sunda? Aquele que te passou a mão…

Nada disso: Sunda é o arquipélago do sudeste asiático no qual se localiza o Timor Leste.

Em português, costumamos chamar de Sonda, com “o”.

Mas no Museu da Língua Portuguesa ficou na forma inglesa, Sunda.

Ganhou em graça.

No passado distante, a população sunda viveu numa das ilhas do arquipélago.

E então, conheces o Sunda?

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Há 70 anos, anistia libertava presos políticos da ditadura do Estado Novo
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Mário Magalhães

Carlos Marighella (2º, das esq. para a dir.), em 17 de abril de 1945, na viagem da Ilha Grande para o Rio, onde seria libertado no dia seguinte - Foto Aperj

Carlos Marighella (2º, da esq. para a dir.), ainda preso, em 17 de abril de 1945 – Foto Aperj

 

Para quem gosta de história, prestigia a democracia e acha que lugar de quem pensa diferente não é a cadeia, este sábado é um dia para celebrar: 70 anos atrás, em 18 de abril de 1945, o decreto-lei da anistia assinado pelo ditador Getulio Vargas permitiu a libertação dos últimos seiscentos presos políticos da ditadura do Estado Novo.

Entre eles, futuros parlamentares, como o senador Luiz Carlos Prestes, os deputados federais Carlos Marighella e Gregório Bezerra e o vereador Agildo Barata _todos comunistas, três encarcerados desde 1935 e um, Marighella, a partir de 1939.

Antes de deixar as grades para trás, os quatro participaram de um derradeiro almoço na Penitenciária Central, rua Frei Caneca, aqui no Rio. Comeram arroz, feijão e peixe ensopado. De sobremesa, uvas, figos, peras e maças. Na bica do alvará de soltura, foram bem tratados pelo regime que matara muitos companheiros deles.

Para a história, é um espirro, mas parece tanto tempo que a Segunda Guerra nem tinha terminado. Nossos pracinhas ainda banhavam de sangue brasileiro o solo italiano, combatendo as tropas nazistas.

Getulio já era presidente quando, em consórcio com os comandos das Forças Armadas, conduziu um golpe de Estado em novembro de 1937. Cancelou as eleições presidenciais, fechou o Congresso, revigorou a repressão, impôs censura à imprensa, perseguiu opositores e garroteou as liberdades em geral. Mesmo antes da instauração da ditadura seu governo autoritário já barbarizava.

O gaúcho caiu em outubro de 1945, noutro golpe, chefiado por militares que antes haviam compartilhado o poder na ditadura. Acabaria regressando nos braços do povo, em 1951, depois de se eleger no voto direto no ano anterior.

A anistia não foi uma benesse do presidente, mas conquista da mobilização vigorosa que varreu o país.

A foto lá do alto, arquivada pela polícia do então Distrito Federal, é de 17 de abril de 1945. Mostra Marighella na viagem da Ilha Grande, onde ficara anos em cana, para o Rio, onde seria libertado no dia seguinte.

Se eu tivesse que escolher um ano do século XX para biografar, seria o de 1945. Em nenhum outro houve, no Brasil, tanta esperança e tantos sonhos.

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