Se o PMDB resolver derrubar Dilma, situação da presidente ficará crítica
Mário Magalhães
Mais de um mês atrás, em 11 de fevereiro, o blog concluía assim uma análise das anunciadas manifestações contra o governo previstas para dali a mais de 30 dias: ''Se uma multidão aparecer em 15 de março, o poder do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ficará ainda maior. E chantagens contra Dilma aumentarão'' (para ler a íntegra, basta clicar aqui).
Os protestos foram pujantes, e o prognóstico sobre as chantagens se confirmou, mas não teve nada de original ou brilhante. Era óbvio o que aconteceria, a não ser para quem vive entre nuvens de fantasia.
Nesta quarta-feira, enquanto Messi e Hart honravam o futebol no jogo entre Barcelona e Manchester City, o PMDB poderia ter informado discretamente a Dilma Rousseff que romperia com sua administração caso o ministro Cid Gomes não fosse demitido.
Mas o ultimato foi feito nos microfones, com Eduardo Cunha na condição de arauto mais tonitruante.
Chantageada em público, a presidente submeteu-se e decidiu colocar na rua o titular da Educação, que se antecipou e saiu por conta própria, tornando-se Cid, o breve.
Esqueçamos por um momento se há mesmo centenas de congressistas achacadores, como disse o ex-ministro (para o velho Lula, eram picaretas); se a pregação dos atos do domingo passado foram boas ou ruins para a democracia; e outros aspectos também relevantes e decisivos da conjuntura.
O fato mais impressionante do atual cenário foi a humilhação a que Dilma Rousseff se submeteu.
O tucano Aloysio Nunes Ferreira Filho falou em sangrar a presidente, desgastando-a pouco a pouco. O PMDB ontem sangrou-a com requintes sádicos. Para empregar outra imagem vulgar e estúpida, na base do dá ou desce.
Quando o presidente da Câmara ameaçou votar um projeto contra o qual o governo se pronuncia, beneficiando aposentadorias com reajustes maiores, o conteúdo implícito era outro: se a petista não se submeter ao PMDB, mais propriamente ao PMDB de Eduardo Cunha, o deputado pode aceitar que corra um processo que poderia resultar no impeachment da presidente constitucional eleita pela maioria dos brasileiros em outubro.
Dilma está acossada nas ruas e abandonada pela base social que a sufragou: no Datafolha, seu índice de ótimo/bom despencou para 13%, contra 62% de ruim/péssimo. Diante das chantagens, curva-se.
Conhecendo os valores, digamos pragmáticos, que movem o PMDB, é difícil imaginar o partido apostando hoje no impeachment. Se Dilma lhe dá o que exige, para que mudar?
Na linha de sucessão, a Presidência seria assumida diretamente por um peemedebista, o vice Michel Temer. Mas quem garante a Eduardo Cunha que Temer, mais próximo de Renan Calheiros nas intrigas partidárias, seria mais generoso do que a governante enfraquecida que cede a cada discurso do presidente da Câmara?
Se o PMDB rompesse, Dilma teria de recorrer às ruas. Mas quantos eleitores da presidente estariam dispostos a respaldá-la depois que ela no segundo governo implantou uma política econômica que sacrifica os mais pobres e protege os ricos, fazendo o que na campanha prometeu não fazer?
Além do problema maior, estratégico, o de governar contra quem a elegeu, Dilma padece dos desvarios táticos do governo. Como, sem ter a garantia de que Cid Gomes não confrontaria Eduardo Cunha e o PMDB na Câmara, os executivos do Planalto lançaram no mesmo dia um pacote anticorrupção?
De novo, aqui não discuto se as medidas são positivas ou negativas, mas a inocência de líder de grêmio estudantil de quem agendou um evento para fazer barulho, e no final soltou um estalinho, em comparação com o estrondo da saída do ex-governador do Ceará.
Dilma é a presidente legítima, legal, constitucional. Mas hoje parece nas mãos do PMDB, que aparenta mandar muito mais do que o PT.
Se o PMDB romper e apostar no impeachment, a situação da presidente ficará crítica.