‘O golaço de Emerson Sheik’, por Anderson Olivieri
Mário Magalhães
Com imensa honra, o blog publica artigo inédito do jornalista Anderson Olivieri.
Não, o Anderson não concorda com o Caio…
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O golaço de Emerson Sheik
Por Anderson Olivieri*
Emerson Sheik está coberto de razão: a CBF é uma vergonha. Aliás, mais que isso. A CBF é uma entidade fanfarrona, amadora e – ao contrário do que exigiu Caio Ribeiro, da Globo – indigna de respeito. Tem cofres cheios por contratos milionários de patrocínio, mas amarga há décadas uma falência moral expressada sobretudo nas figuras de Ricardo Teixeira e José Maria Marin, últimos presidentes.
Estamos em 2014 e, por aqui, Seleção Brasileira e clubes nacionais que a abastecem seguem jogando simultaneamente. Pasmem, chilenos, gregos e chineses: no país do 7 a 1, não se para o Campeonato Brasileiro para o escrete jogar. E quem paga por isso? Normalmente aquele clube que se prepara melhor, prestigiando o produto feito e organizado pela entidade que elabora esse calendário anômalo.
A consequência dessa indecência é que Cruzeiro, Corinthians, Atlético e Botafogo – mais uma vez – terão, por duas rodadas, que abrir mão de seus principais talentos para que, na China e em Cingapura, a Seleção da CBF dispute amistosos que não valem absolutamente nada, a não ser mais dinheiro aos cofres da entidade.
Ou seja, um prejuízo técnico incalculável até para quem possui elenco qualificado e peças de reposição, como o Cruzeiro. Mundo afora, os campeonatos locais são interrompidos nas datas-FIFA porque não há Real Madrid que resista a desfalques de jogadores de ponta.
Dunga falou que entende a situação dos clubes, mas que precisa dar continuidade ao trabalho. Quem não quisesse ter jogador convocado que enviasse um pedido à CBF pois seria atendido, completou. Mentira! O Cruzeiro, há quinze dias, requereu que não sofresse desfalques na reta final do Brasileirão e da Copa do Brasil por causa de convocações. Por que não foi atendido então?
Porque a CBF não respeita nada nem ninguém. Ela avacalha o próprio campeonato que organiza, entremeando-o com sonolentos jogos da Seleção. E tudo indica que, por aqui, ficará por isso mesmo: sem adiamento de rodada, sem paralisação do campeonato, sem reparação aos fornecedores de matéria-prima para a Seleção, sem nada.
Se pudesse, Marin ainda obrigaria os críticos dessa pouca vergonha a ficar caladinhos, sem se insurgir contra toda essa bagunça, como nos tempos áureos da ditadura que ele próprio apoiou e de que participou.
Sim, Sheik, a CBF é uma vergonha. Só faltou você dizer que 7 a 1 foi pouco!
* Anderson Olivieri, 30, advogado, jornalista e escritor, autor dos livros “Anos 90: Um campeão chamado Cruzeiro” e “20 Jogos eternos do Cruzeiro”.