Triste adeus: eu acreditei
Mário Magalhães
A seleção brasileira, pentacampeã mundial de futebol, despediu-se melancolicamente da 20ª Copa, ao perder há pouco para a Holanda por 3 a 0. Ficou em quarto lugar na competição que sediou pela segunda vez. Em sete partidas, só ganhou três.
Algum sentimento hostil em relação aos jogadores e à comissão técnica, ainda que boa parte tenha ido mal? Da minha parte, zero.
Só tristeza, temperada pela desilusão de quem, como eu, confiou no hexa possível em 2014, a despeito das limitações evidenciadas desde a estreia.
O maior erro foi a incompreensão tática de Felipão sobre o vigor do meio-campo alemão. O treinador brasileiro escalou mal, treinou mal e orientou mal na semifinal. Fomos dominados e levamos antológicos 7 a 1 do time do técnico Joachim Löw.
A cretinice da cartolagem nacional não é novidade e precisa ser combatida. Porém, o revés na Copa é responsabilidade sobretudo de Felipão e seus segundos.
Hoje, deixando claro que entendeu seu tropeço histórico, Felipão entrou com cinco meias _três defensivos (Luiz Gustavo, Paulinho e Ramires) e dois ofensivos (Oscar e Willian). Só um atacante nato começou, Jô, substituindo Fred.
Mas o técnico havia treinado a formação por poucos minutos. Não deu certo, pois futebol é trabalho, diria o Muricy.
Na abertura do Mundial, 3 a 1 sobre a Croácia, escrevi: ''Não acho que ganhar roubado seja mais gostoso''. O juiz japonês Nishimura foi determinante para a nossa vitória.
No empate de 0 a 0 com o México, meu pitaco ''Vacina contra o oba-oba'' advertiu: ''A seleção precisa evoluir muito para disputar o título com mais chances''.
Nos 4 a 1 contra Camarões, titulei: ''Neymar não é tudo, mas é (quase) 100%''.
Ao celebrar o triunfo épico de Júlio César nas oitavas contra o Chile, observei: ''Jogo tecnicamente mais ou menos, uma seleção sem brilho''.
Depois dos 2 a 1 na Colômbia, nas quartas, avaliei: ''Foi a melhor atuação do time na Copa, especialmente na etapa inicial, quando dominou quase sem sustos''.
Acrescentei: ''Uma exibição de campeão, mas é preciso enfatizar o que isso significa. Se a equipe de Felipão mantiver o padrão, é forte candidata ao título. O problema é que a Alemanha, ao anular a França no 1 a 0 mais cedo, também teve, repetindo de propósito as palavras, exibição de campeão''.
Quando escrevi, ainda ignorava a fratura de Neymar que o tiraria da Copa.
Pois Neymar não atuou na semi e na disputa do terceiro lugar. Como ele era quase 100%, na equipe com cabeça e membros, mas desprovida do tronco do meio-de-campo, ficou muito mais difícil.
O time não manteve o padrão.
Na Copa de 94, no empate com a Suécia, o futebol da seleção havia sido inferior ao exibido em 2014 contra a Colômbia. Mas há 20 anos fomos campeões porque evoluímos durante o torneio, o que não ocorreu agora.
Se o Brasil tivesse melhorado, se Neymar não tivesse sofrido a fratura, se Felipão não tivesse montado o time com uma ousadia suicida, se volantes e meias criassem… É muito ''se''.
Minha ilusão foi supor que o fator casa pudesse compensar os defeitos expostos em campo. E que a equipe reeditasse o desempenho competitivo da Copa das Confederações.
Enganei-me. Mas não bajulei treinador, não aderi à cascata de que o ''emocional'', e não tática e técnica, era determinante, e não subscrevi a balela do dito apagão _a superioridade dos alemães sobre o Brasil foi permanente, e não a exceção de um curto período.
Esta foi, está sendo, uma das melhores Copas de todos os tempos, em futebol e organização.
Mas o vexame do Brasil na semifinal, sua ausência do Maracanã, a esperança frustrada, tudo isso dá uma tristeza danada.
Falar dos gols de Van Persie, Blind e Wijnaldum hoje? Dos erros de arbitragem, ajudando e prejudicando os dois lados? Sobre Van Gaal indo para o Manchester United e Felipão _chega, né?_ desprezado pelos grandes clubes do planeta?
Desculpe, mas a paciência acabou.
Tire o seu sorriso do caminho, quem ainda o tiver, que eu quero passar com a minha dor.