Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : junho 2014

O taxista reaça: Copa atrai bolivianos pobres que nos transmitirão cólera
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Mário Magalhães

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Compartilho um segredo de polichinelo: sabe por que taxistas são personagens tão frequentes em reportagens de enviados especiais ao exterior?; porque muitas vezes eles são o único morador local com quem o jornalista tem a oportunidade de conversar antes de transmitir seu primeiro relato. Contamos o que vimos e ouvimos entre a chegada ao aeroporto e o check-in no hotel.

Depois de dezenas de países e alguns continentes, a constatação é óbvia: o mundo seria muito mais conservador se fosse moldado conforme as opiniões e os valores dominantes entre os motoristas de praça.

Ignoro os motivos. Para descobri-los, melhor pedir ajuda a antropólogos e sociólogos.

No domingo, bandeira 2, tomamos aqui no Rio um táxi cujo motorista está furibundo com a Copa. Não devido à gastança indevida de dinheiro público ou à precariedade dos serviços sociais.

Sua maior bronca decorre da associação que ele faz entre o Mundial e a presença de camelôs bolivianos vendendo artesanato em Copacabana.

Do aterro do Flamengo a Botafogo, deu-se o diálogo, mais ou menos assim:

“E aí, tá pegando [na hora não notei o duplo sentido] muito gringo por conta da Copa?”, perguntei.

“Que nada, essa Copa vai ser um fiasco”, ele respondeu. “Os gringos que vêm só andam a pé.”

“São pobres? Com esses preços dos ingressos?”, surpreendi-me.

“Só tem boliviano”, o taxista falou. “Parecem incas, tudo índio.”

Então ele alertou para o que considera uma tragédia sanitária iminente. Copacabana, informou, está tomada de bolivianos empesteados que oferecem seus produtos nas calçadas.

“Para eles não tem rapa!”, protestou, em referência aos fiscais que reprimem ambulantes sem licença e cuja função hoje é exercida por guardas municipais.

Esses bolivianos, denunciou (o tom foi mesmo de denúncia), são pobretões que trazem “cólera” e outra doença (“óide-tifóide”, entendi) que serão transmitidas aos coitados dos brasileiros.

“Só se pode fazer Copa depois de arrumar a casa”, ele decretou.

“E quando nós arrumaremos a casa?”, indaguei.

“Enquanto eu viver, não vão arrumar a casa”, resignou-se.

Quando o condutor começou a inventariar os males nacionais, existentes ou fruto da sua imaginação, ironizei:

“Que saudade dos militares, naquele tempo é que era bom”.

Sem perceber o gracejo, o taxista vibrou:

“Isso mesmo!”

Ele mencionava categorias de grevistas, e eu o interrompi:

“Esses professores são abusados! Ganham tão bem…”

Só então a ficha caiu, e ele reparou que eu não falava sério.

Ao desembarcar, o taxista reaça e eu nos despedimos com simpatia, e uma rubro-negra de 13 anos comentou:

“O mais incrível é que a Bolívia nem tá na Copa”.


O Consenso de Teresópolis
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Mário Magalhães

Neymar treinando na Granja Comary – Foto Flavio Florido/UOL

 

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Sob chuva e frio, a seleção desceu de ônibus a serra do Estado do Rio na noite desta terça-feira, rumo ao aeroporto onde tomaria o avião para São Paulo, palco da estreia na Copa. Em contraste com vésperas turbulentas de alguns Mundiais e, em outros, com a indolência de quem se julgava campeão antes de a bola rolar, o time logrou virtual consenso entre as vozes mais influentes do futebol brasileiro: os prognósticos variam no tom, mas apontam o Brasil como o favorito ou um dos favoritos ao titulo.

O Consenso de Teresópolis firmou-se no centro de treinamento da seleção. Contribuiu para a convicção a diferença com o oba-oba que antecedeu a Copa de 2006, quando um elenco com mais craques do que o atual fracassou na Alemanha.

Consenso não é necessariamente unanimidade, mas opinião amplamente compartilhada. Já na Copa das Confederações, Felipão-Parreira parecia a dupla certa na hora certa, sobretudo porque a Copa do Mundo é torneio de tiro curto, decidido no mata-mata, formato em que Scolari rende mais.

A exuberante forma de Neymar acentua as chances da seleção. Antes do apito inicial, o atacante cria do Santos é um dos três principais aspirantes à consagração como estrela da Copa, em companhia de Messi e Cristiano Ronaldo.

O Consenso de Teresópolis reconhece que a equipe depende muito de Neymar.

Outra impressão majoritária é que, hoje, os dois titulares mais ameaçados são Daniel Alves e Oscar. Mas a presença de Hulk e Paulinho não parece mais tão segura como duas semanas atrás.

Pode não ser consenso, mas os temores em relação à forma de Júlio César diminuíram.

O fator casa deve pesar muito, eis outra impressão consolidada no Consenso de Teresópolis.

Outra é que, mais do que em outras vezes, a diferença técnica entre titulares e reservas aparenta ser maior.

O Consenso de Teresópolis, é evidente, não se traduz em documento escrito ou pacto formal. É um sentimento dominante, a síntese possível das expectativas a poucas horas da 20ª Copa do Mundo.

Nada assegura que o Brasil se sairá bem. Isso se decidirá em campo, e depende tanto da seleção quanto dos adversários _sim, eles existem.

Se o time vencer, haverá quem pontifique que a confraternização dos jogadores com torcedores em Teresópolis foi benéfica, transmitiu confiança. Se perder, dirão que o ambiente festivo prejudicou.

É como o 1 a 0 na Sérvia, no último amistoso. Se o hexa sair em 2014, a vitória magra e sofrida terá sido boa, por ter alertado a equipe sobre o progresso que ainda era necessário. Se o título não vier, lembrarão que a partida do Morumbi evidenciou limitações do time.


Sensacional: metrô anuncia chegada a estações em ritmo de narração de gol
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Mário Magalhães

 

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Enfim, uma bola dentro do Metrô do Rio: por conta da Copa, o aviso sobre a chegada a algumas estações foi substituído por avisos em que o locutor anuncia a proximidade da parada como se narrasse um gol.

É o que acontece perto da estação Siqueira Campos, em Copacabana. Para ouvir, clique na caixinha lá em cima ou aqui.

O locutor não é qualquer um, mas o craque Luiz Penido, da Rádio Globo carioca.

Imagino que os gringos não entendam bulhufas, mas os brasileiros adoraram, a considerar o que testemunhei no vagão.

A estação Maracanã também está contemplada pela iniciativa. Outras, como Cantagalo, não.

A grande sacada contrasta com o serviço deficiente oferecido pelo metrô. Para ficar num exemplo, se o cidadão compra um bilhete unitário paga R$ 3,50. Se quiser dez, pagará R$ 35, sem desconto algum.


Noticiário: na Copa, a expressão ‘coletiva de imprensa’ já levou o caneco
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Mário Magalhães

Júlio César Guimarães/UOL

Entrevista coletiva nos tempos de Mano na seleção – Foto Júlio César Guimarães/UOL

 

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Eu sei que nem caneco o campeão da Copa leva mais, e sim um troféu que não permite armazenar ao menos um gole de cerveja.

Mas nenhuma expressão, entre as absurdas, será tão mencionada e escrita em português, durante o Mundial, como “coletiva de imprensa”. Pegou e sobrepujou outra inovação despropositada, “conferência de imprensa”.

É todo dia, toda noite, toda hora, toda madrugada, momento e manhã… Basta que surja a oportunidade, numa entrevista coletiva.

Republico um post que saiu em fevereiro aqui no blog:

* * *

Palavras malditas (11): conferência de imprensa, coletiva de imprensa

Durante uma eternidade, pelo menos desde quando eu me entendo por gente, o jornalismo conviveu pacificamente com a expressão entrevista coletiva.

Ela é mesmo boa. Significa que a entrevista não é concedida a um só jornalista (exclusiva) ou a um grupo restrito de entrevistadores, e sim a muitos.

De um tempo para cá, disseminou-se no Brasil o emprego de conferência de imprensa, a tradução literal do inglês press conference.

Mais do que macaquice e indigência cultural, a imitação é ruim porque conferência sugere manifestação unilateral, com uma voz apenas. Entrevista, ao contrário, indica pergunta e resposta, diálogo, cobrança, várias vozes.

Há variação pior, como assinalou no Twitter o jornalista Oscar Valporto: “Não sei se é só aqui na Bahia, mas avança na imprensa local _internet e assessorias à frente_ a COLETIVA DE IMPRENSA”.

Diga lá, Oscar: “Coletiva de imprensa é mau português, pleonasmo como encarar de frente…”.

Na mosca. Entrevista coletiva também é tratada na forma reduzida coletiva _”o ministro deu uma coletiva”.

Portanto, é redundante falar em coletiva de imprensa, porque coletiva já implica entrevista a um conjunto de jornalistas, e não de biólogos marinhos.

Não é só na Bahia, não, Oscar. A praga da coletiva de imprensa brota por todo o país.

* * *

Eis os post anteriores da série “Palavras malditas” (clique em cima, se quiser ler):

1) emblemático;

2) instigante;

3) eu, particularmente;

4) circula com desenvoltura;

5) não resistiu;

6) um verdadeiro;

7) amigo pessoal;

8) vítima fatal;

9) figurinha carimbada;

10) evidência.


Editorial da ‘Folha’: ‘Padrão Fifa?’
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Mário Magalhães

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Editorial da “Folha de S. Paulo” nesta terça-feira, na íntegra:

* * *

Padrão Fifa?

Salta aos olhos o descompasso. Ao custo de R$ 1 bilhão, construiu-se um moderníssimo estádio em Itaquera, região da cidade de São Paulo que conta com serviços públicos notoriamente deficientes.

Há discrepâncias similares em muitas das 12 cidades-sede da Copa do Mundo, cuja abertura se dará nesta quinta-feira na nova arena paulistana. Diante disso, surgiu uma espirituosa metáfora para as diversas reivindicações populares.

Desde as manifestações de junho passado, demandas por investimentos em setores como saúde, educação e transporte foram sintetizadas na expressão “padrão Fifa”, espécie de selo de qualidade.

Enquanto blague, vá lá. Em ao menos uma bandeira das ruas –o combate à corrupção–, contudo, a entidade máxima do futebol parece se afastar dos níveis de excelência para se aproximar das piores práticas da política brasileira.

No mais recente episódio, o jornal britânico “The Sunday Times” revelou que um influente ex-dirigente de futebol do Qatar teria gasto o equivalente a R$ 11,1 milhões para comprar apoio à candidatura de seu país como sede da Copa de 2022 –campanha afinal vitoriosa.

O tema deve entrar na pauta do 64º Congresso da Fifa, que começa hoje em São Paulo. Realizado anualmente, costuma abrigar apenas debates sobre regras e prestação de contas, mas cresce a pressão, inclusive de patrocinadores, para que o escândalo do Qatar seja discutido a fundo.

Se a Fifa não mudar seu padrão ao lidar com casos de corrupção, entretanto, pouco será feito.

Lembre-se, por exemplo, de que “terminaram em pizza” as comprovadas denúncias de que os brasileiros João Havelange, ex-presidente da entidade, e Ricardo Teixeira, então mandatário da CBF, receberam propinas de ao menos R$ 45 milhões em negociatas relativas aos direitos de transmissão de Mundiais.

Mesmo com tal mácula, a Fifa nem sequer discutiu suspender o pagamento de aposentadorias aos dois cartolas; tampouco exigiu a devolução integral dos valores recebidos, contrariando o relatório do comitê de ética interno.

Como se questões extracampo não fossem suficientes, levantam-se dúvidas sobre a capacidade da entidade de evitar a manipulação de resultados em jogos. Segundo reportagem do “The New York Times”, até hoje pairam suspeitas sobre pelo menos cinco partidas da Copa de 2010, na África do Sul.

Essas práticas, com efeito, nem de longe correspondem aos justos anseios por melhorias que o “padrão Fifa” passou a representar.

A ironia brasileira conseguiu, assim, dar um drible na semiótica: falta a esse símbolo qualquer adequação ao significado que lhe foi atribuído. Trata-se, neste caso, de um equívoco nacional que os dirigentes da Fifa, tão acrimoniosos quanto aos atrasos do país para o Mundial, preferiram não apontar.


O ódio de Justo Verissimo e a demonização do futebol
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Mário Magalhães

Justo Veríssimo (Chico Anysio)

O genial Chico Anysio, na pele de Justo Verissimo – Foto TV Globo

 

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Com a proximidade do pontapé inicial, os queixumes se multiplicam. Não ressoa nos tímpanos somente a condenação à gastança pública associada à Copa, crítica tão legítima quanto o aplauso dos entusiastas da promoção do Mundial. Mas o arraigado desprezo, de certos bem pensantes, endinheirados e candidatos a endinheirados, pelo futebol.

O velho ranço deu um tempo no armário, mas já circula de novo flamejante por aí: o futebol concentraria alguns males nacionais.

A violência, por exemplo. No futebol, seria aberrante.

Será? Uma coisa é considerar que os criminosos que se engalfinham nas arquibancadas devam ser julgados, como qualquer cidadão, na forma da lei. Outra é amaldiçoar as torcidas organizadas como a encarnação da truculência. No país com índice obsceno de homicídios de jovens, sobretudo negros e mestiços, é evidente que a mazela não é exclusiva do futebol.

Os sabidos, até tipos vulgares que preferem Miami, tendo dinheiro para ir a Paris, gargalham da ignorância de jogadores.

Mas a formação deficiente é típica do esporte mais popular ou característica maldita do Brasil? Fernando Collor, em cujo lar a mãe esnobe às vezes impunha o francês, como se à família imperial pertencesse, pronunciou o célebre “duela a quién duela”, inventando um idioma. Fernando Henrique Cardoso, o sociólogo, fala “própio” e “propiamente”. Dilma Rousseff derrapa na língua, e o Lula… E ignorantes são os boleiros.

Em vários círculos, o jornalismo esportivo é menosprezado como reduto de analfabetos. O lastro cultural limitado de muitos de nós jornalistas, contudo, não se limita aos que cobrem esporte. Já se esqueceram da repórter _não “esportiva”_ que perguntou, na década de 1990, se a escultora Camille Claudel viria para a vernissage de sua exposição no Rio? Como se sabe, a francesa amante de Rodin morrera nos tempos da Segunda Guerra.

O jornalismo esportivo é apontado como o cocô do cavalo do bandido da comédia nacional que a censura proibiu (esta expressão, que trai a idade do escriba, costumava ser empregada nos tempos da ditadura). Junto com o jornalismo policial, é o segmento em que tradicionalmente a remuneração dos trabalhadores é menor.

O jornalismo esportivo peca pela escassez de espírito crítico, acusam.

Concordo. Mas não existe jornalismo mais chapa-branca do que o econômico, no mais das vezes porta-voz dos interesses das grandes corporações financeiras, e não fiscal do poder.

Ressente-se de excesso de opinião em detrimento de informação, diagnosticam.

Também de acordo. Mas nessa matéria não dá para concorrer com o jornalismo político brasiliense, certo?

Observadores mais atentos apontam para os interesses cruzados das empresas que cobrem “jornalisticamente” as competições das quais são sócias.

O comentário procede. Mas o jornalismo cultural não sofre de idêntico conflito?

O jornalismo esportivo é reputado como antro de microcéfalos, as torcidas organizadas como o paroxismo da violência e os jogadores como o suprassumo do apedeutismo pelo mesmo motivo: porque se dedicam, de um modo ou outro, ao esporte mais identificado com os brasileiros mais pobres, embora o futebol constitua paixão que atravessa as classes sociais.

O futebol é demonizado como síntese de uma nação e de uma gente que teriam nascido para fracassar. Certa classe-média tem repetido, e isso eu ouço especialmente em aeroportos e aviões, a palavra “futebol” como causa de transtornos que estão, aí sim, vinculados à Copa.

Hoje às 9h um tuiteiro escreveu, desdenhando o país: “Parabéns, Brasil! O país do samba, futebol e Carnaval”. Isto é, três paixões populares.

O futebol, alardeiam alguns, é o paraíso da impunidade, como provariam Havelange, Teixeira e Marin.

Ué, mas essa chaga não é historicamente brasileira? Não estão aí, com a bola toda, Collor e Sarney? O coronel Ustra não escapou da cadeia?

A construção absurda de estádios com verba pública, parte deles com vocação de elefante branco, é a cara do futebol, fustigam.

Não: desgraçadamente, é a cara do Brasil. Ou as memórias curtas não se recordam da Transamazônica e da Norte-Sul (ou pelo menos do custo da ferrovia)? E da Cidade da Música (depois Cidade das Artes), no Rio? Em relação a ela, à sua necessidade, ao seu alegado caráter prioritário, inexistiu comoção do pessoal. Afinal, ópera é ópera, e não o reles futebol. A obra pública não consumiu menos de meio bilhão de reais.

O futebol é desqualificado desde que, de uma atividade punhos-de-renda, restrita às elites dos grandes centros urbanos, transformou-se em esporte enraizado entre os pobres.

Justo Verissimo, o personagem do Chico Anysio que consagrou o bordão “odeio pobre”, hoje diria: “Odeio futebol”.

O ex-esporte bretão não concentra nenhum mal, ele espelha as moléstias brasileiras.

Mas agora, além de desfraldarem as bandeiras do preconceito, os ricos afastam os desvalidos dos estádios, denominados arenas multiuso. Adeus, velhos estádios de futebol, fora geraldinos e fora arquibaldos. Com o preço dos ingressos, quem tem menos e até quem tem mais ou menos não pode pagar.

O futebol se estabeleceu como a mais democrática das nossas paixões. Por isso, reitero, é tão depreciado.

O futebol não é culpado de nada. Pelos caminhos tortuosos da Copa, o país hoje se discute como poucas vezes na sua história. Viva o futebol!

Não faltam problemas ao Brasil. Mas arrumem outro bode expiatório, porque o futebol é motivo de orgulho, enriquece a nossa vida e engrandece a nossa alma.


‘Damas’, uma pequena-obra prima de Luis Fernando Verissimo
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Mário Magalhães

Foto reprodução Mercado Livre

 

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No clima da Copa, Luis Fernando Verissimo nos presenteou neste domingo com a obra-prima publicada abaixo:

* * *

Damas

Por Luis Fernando Verissimo

Ela perguntou:

– Você não vai me comer?

Ele inclinou-se para estudar o tabuleiro de damas à sua frente.

– Onde? 

– Aqui – mostrou ela.

– Mas eu posso comer para trás?

– Depois de comer uma para a frente, pode comer para trás. É assim: para a frente e para trás, para a frente e para trás.

– Você parece que está descrevendo…

– O ato sexual?

– Não, o movimento dos laterais no futebol. Eles devem saber marcar atrás, mas avançar como alas. Para a frente e para trás, para a frente e para trás.

– Para você, tudo é futebol. 

Para ler a íntegra, basta clicar aqui.


Enquanto isso, no Botequim Brasil, quindim surreal a R$ 8
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Mário Magalhães

 

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O nome não é brincadeira do blog _o café se chama mesmo Botequim Brasil.

Fica no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, onde eu bati a foto acima na sexta-feira, durante o intervalo da partida da seleção contra a Sérvia.

Ali, o quindim e o brigadeiro (ou negrinho, em bom gauchês) custam 8 reais a unidade.

O melhor quindim do Brasil, o país, e não o botequim, é feito, com sobras, em Pelotas. Nesta cidade, a pouco mais de uma hora da fronteira com o Uruguai, está em curso mais uma edição da Festa Nacional do Doce.

Na Fenadoce, um quindim sai por 2,75 reais, já incluído o aumento em relação ao ano passado.

Como prova o Botequim Brasil, não é só no Rio que trocamos o real pelo surreal.


Colégio Castelo Branco trocará nome para Nelson Mandela, decide eleição
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Mário Magalhães

Com traje civil, o marechal Castello Branco, primeiro ditador da ditadura pós-1964 – Foto Folha Imagem

 

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Mais uma escola baiana deixará de ter nome de ditador. Depois de o educandário Emílio Garrastazu Médici ser rebatizado como Carlos Marighella, agora é a vez de o Colégio Estadual Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco receber a denominação de Madiba Nelson Mandela.

A decisão foi tomada na quinta-feira, em eleição da qual participaram estudantes, professores, funcionários, pais de alunos e moradores das redondezas do estabelecimento, no bairro soteropolitano de Periperi.

O sul-africano Mandela (1918-2013) obteve 496 votos, seguido do geógrafo Milton Santos (209), do guerrilheiro Carlos Lamarca (203) e do educador Paulo Freire (61). Os votos nulos somaram 13 e, os brancos, 26.

Os três brasileiros foram opositores da ditadura que vigorou de 1964 a 85. Lamarca foi executado por agentes do Exército, e Santos e Freire foram exilados. Ninguém sugeriu a inclusão na cédula do nome de Castello (1897-1967) ou outro ditador.

Castello Branco (com dois eles, nos documentos originais, ao contrário do nome do colégio) foi o primeiro ditador da ditadura. Sem um só voto popular, comandou o país até 1967.

Em seu governo, foram extintos os antigos partidos políticos, abolidas as eleições diretas para presidente e governador, cassados parlamentares eleitos pelo povo e asfixiadas as liberdades democráticas. Foi criado o Serviço Nacional de Informações e perseguida a oposição em geral e estudantil em particular. O militar tinha sido um dos conspiradores mais influentes do golpe de Estado que depôs o presidente constitucional João Goulart.

Nesta segunda-feira, a servidora que atendeu o telefonema do blogueiro ainda falou “colégio Castelo Branco”. Como no caso do velho Médici, a mudança precisará ser referendada pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia, o que deve ocorrer sem problemas.

O professor Jairo dos Santos, vice-diretor, contou que a iniciativa de discutir o nome da escola partiu da diretora, Olivia Costa. Houve palestras e debates tratando da história dos “candidatos”, bem como se abordou a trajetória do marechal. “Era um ditador”, disse o professor Santos.

Madiba era o nome pelo qual muitos conterrâneos chamavam Mandela. Preso político por décadas, o antigo combatente contra o regime de segregação racial presidiu a África do Sul de 1994 a 99. Em 93, recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

Em fevereiro de 2014, o “Diário Oficial” da Bahia publicou a troca de nome do colégio Médici para colégio Marighella (leia aqui). A escolha também foi feita em eleição da comunidade escolar.

Emílio Garrastazu Médici foi o ditador de 1969 a 74, período de maior repressão do regime. O guerrilheiro Carlos Marighella foi assassinado durante o governo daquele general.

A despeito do novo Colégio Estadual Madiba Nelson Mandela, continuam a existir no Brasil centenas de escolas com nomes de ditadores, boa parte batizada durante a ditadura.