Blog do Mario Magalhaes

O taxista reaça: Copa atrai bolivianos pobres que nos transmitirão cólera

Mário Magalhães

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Compartilho um segredo de polichinelo: sabe por que taxistas são personagens tão frequentes em reportagens de enviados especiais ao exterior?; porque muitas vezes eles são o único morador local com quem o jornalista tem a oportunidade de conversar antes de transmitir seu primeiro relato. Contamos o que vimos e ouvimos entre a chegada ao aeroporto e o check-in no hotel.

Depois de dezenas de países e alguns continentes, a constatação é óbvia: o mundo seria muito mais conservador se fosse moldado conforme as opiniões e os valores dominantes entre os motoristas de praça.

Ignoro os motivos. Para descobri-los, melhor pedir ajuda a antropólogos e sociólogos.

No domingo, bandeira 2, tomamos aqui no Rio um táxi cujo motorista está furibundo com a Copa. Não devido à gastança indevida de dinheiro público ou à precariedade dos serviços sociais.

Sua maior bronca decorre da associação que ele faz entre o Mundial e a presença de camelôs bolivianos vendendo artesanato em Copacabana.

Do aterro do Flamengo a Botafogo, deu-se o diálogo, mais ou menos assim:

''E aí, tá pegando [na hora não notei o duplo sentido] muito gringo por conta da Copa?'', perguntei.

''Que nada, essa Copa vai ser um fiasco'', ele respondeu. ''Os gringos que vêm só andam a pé.''

''São pobres? Com esses preços dos ingressos?'', surpreendi-me.

''Só tem boliviano'', o taxista falou. ''Parecem incas, tudo índio.''

Então ele alertou para o que considera uma tragédia sanitária iminente. Copacabana, informou, está tomada de bolivianos empesteados que oferecem seus produtos nas calçadas.

''Para eles não tem rapa!'', protestou, em referência aos fiscais que reprimem ambulantes sem licença e cuja função hoje é exercida por guardas municipais.

Esses bolivianos, denunciou (o tom foi mesmo de denúncia), são pobretões que trazem ''cólera'' e outra doença (''óide-tifóide'', entendi) que serão transmitidas aos coitados dos brasileiros.

''Só se pode fazer Copa depois de arrumar a casa'', ele decretou.

''E quando nós arrumaremos a casa?'', indaguei.

''Enquanto eu viver, não vão arrumar a casa'', resignou-se.

Quando o condutor começou a inventariar os males nacionais, existentes ou fruto da sua imaginação, ironizei:

''Que saudade dos militares, naquele tempo é que era bom''.

Sem perceber o gracejo, o taxista vibrou:

''Isso mesmo!''

Ele mencionava categorias de grevistas, e eu o interrompi:

''Esses professores são abusados! Ganham tão bem…''

Só então a ficha caiu, e ele reparou que eu não falava sério.

Ao desembarcar, o taxista reaça e eu nos despedimos com simpatia, e uma rubro-negra de 13 anos comentou:

''O mais incrível é que a Bolívia nem tá na Copa''.