Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : maio 2014

Há 50 anos, baleavam Marighella no cinema; leia grátis relato da biografia
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Mário Magalhães

blog - marighella preso cinema 64

9 de maio de 1964: policiais levam Marighella – Foto Correio da Manhã/Arquivo Nacional

 

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9 de maio de 1964 – 9 de maio de 2014.

Hoje faz aniversário de 50 anos o gesto do revolucionário Carlos Marighella de resistir à voz de prisão proferida por agentes da polícia política do Rio, em um cinema na zona norte.

Na sala do Eskye-Tijuca tomada por crianças, Marighella foi baleado, e o sangue jorrou de três perfurações do seu corpo. Ferido, o cinquentão lutou capoeira contra os tiras do Dops. Para sorte dele, escapou com vida.

A atitude de Marighella foi uma resposta pública à ditadura recém-instaurada. Tamanha sua repercussão, e por representar uma síntese do militante marcado pela ação, selecionei esse episódio para abrir a biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras).

Este capítulo/prólogo do livro pode ser lido na íntegra, gratuitamente, no site da Companhia.

Publico-o abaixo. Boa leitura:

* * *

Tiro no cinema

(Prólogo do livro “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”)

Carlos Marighella viu a zeladora do prédio onde morava caminhando em sua direção e pensou que, outra vez, conseguira ludibriar a polícia. Valdelice carregava um embrulho cor-de-rosa. Enfim, ele resolveria o problema da falta de roupa que o apoquentava havia mais de um mês. Na noite de 1º de abril, saíra às carreiras do quarto e sala que alugava no bairro do Catete e pulara com as pernas longas os degraus da escada do sétimo andar até o térreo. Temia ser surpreendido pela polícia política do estado da Guanabara, que talvez já preparasse o bote para capturá-lo.

Estava certo. O presidente João Goulart ainda hesitava no palácio do Planalto sobre o que fazer diante do golpe militar deflagrado na véspera enquanto, no Rio, o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) escalava uma turma tarimbada para farejar o velho freguês da sua carceragem. Antes de despachar seu pessoal à rua, o ex-arremessador de peso Cecil Borer, chefe do Dops, alertou:”Cuidado, que o Marighella é valente.”

Meia hora depois, os policiais invadiram o apartamento no Catete, mas não encontraram ninguém. Por pouco. Se em vez de subir pelo elevador tivessem se arriscado pela escada, teriam dado com quem buscavam. A correria foi tamanha que Marighella só teve tempo de pegar uma troca de roupa. Amassou-a na malinha compartilhada com Clara Charf, sua companheira havia quinze anos. Desceram até a calçada e desapareceram em um táxi. No começo da madrugada, um bimotor Avro da Força Aérea Brasileira (FAB) voou de Brasília para Porto Alegre, onde Goulart jogou a toalha. Na mesma hora, no subúrbio do Méier, Marighella reencontrava a vida clandestina.

Não era novidade para ele. Nas três décadas anteriores, passara mais tempo fugindo da polícia do que mostrando a cara. Também tinha sido assim nas últimas semanas, até o sábado em que finalmente resgataria camisas, calças e cuecas. De meias, não fazia questão. Abominava-as desde a juventude, na Bahia. Era deputado, no Rio de Janeiro ainda capital da República, e as canelas sem meias pareciam aos amigos mais uma das privações decorrentes dos modos franciscanos de quem possuía apenas três ternos, todos doados. Ganhou tantas de presente que se obrigou a mudar de hábito antes que o comércio esgotasse os estoques. No Méier, queria outras peças. Improvisou, comprou uma ou duas, porém lhe faltava o que vestir naquele mês de maio que nem estava tão quente. Na sexta-feira, a máxima mal arranhara os 27 graus.

A temperatura aumentou quando Marighella notou um homem que vigiava Valdelice a uma distância que não chamava a atenção, mas sem perdê-la de vista. Com a mesma rapidez com que superou as escadarias no Catete, comprou dois ingressos na bilheteria do Eskye-Tijuca, o cinema em frente ao qual marcara com a zeladora. Fez-lhe um sinal, e entraram sem dar ao intruso a chance de se chegar.

Marighella se precavera para o encontro, não era para falhar. Como sempre, estava desarmado. Ignorava se havia mais de um tira. Mesmo cercado, poderia escapar, imaginou. Bastaria ganhar a sala de projeção e sumir, com as roupas lavadas e passadas sob o braço, por um caminho desprotegido. Como nas telas, uma fuga cinematográfica. Ele recebeu o embrulho e sentou-se numa poltrona central, mais ao fundo. Mesmo na escuridão, viu que crianças tomavam a matinê.

Leia a íntegra do prólogo clicando aqui.


Em São Paulo, exposição relembrará futebol nos tempos da ditadura
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Mário Magalhães

 

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Dois dias depois de a seleção estrear na Copa, contra a Croácia, no Itaquerão, abrirá em São Paulo uma exposição contando histórias do futebol nos tempos da ditadura (1964-1985).

A mostra, no Memorial da Resistência, irá de 14 de junho a 30 de setembro (terça a domingo, das 10h às 18h).

Em contraste com os preços surreais dos ingressos do Mundial, a entrada será gratuita.

Foi criado um blog para divulgar a exposição (leia aqui), cujos coordenadores são os jornalistas Vanessa Gonçalves e Milton Bellintani.

Eis alguns trechos da apresentação do projeto:

“O foco principal é mostrar como a ditadura de 1964 utilizou a imagem da Seleção Brasileira, especialmente na Copa de 1970, para vender aos brasileiros e ao resto do mundo a falsa ideia de que o Brasil estava se transformando numa potência dentro e fora dos gramados.

Partindo dessa premissa, buscamos apresentar também como os militantes da esquerda – ora clandestinos, presos ou exilados – lidaram com o uso do escrete pela ditadura, uma vez que o futebol, tão arraigado à identidade nacional do brasileiro, dividia as atenções em pé de igualdade com a luta política naquele momento. (…)

Os visitantes acompanharão como o futebol foi utilizado pelo regime militar no Brasil durante os 21 anos da ditadura. E também conhecerão personagens que ousaram bater de frente com os donos do poder em nome de ideias de liberdade e democracia, bem como aqueles que acabaram se aliando aos militares, engrossando as fileiras de torturadores.

Também será possível ver como ao longo dos anos os regimes de exceção se apropriaram deste esporte para fazer valer suas ideologias. Nos quatro cantos do mundo isso aconteceu, embora nem sempre se faça a ligação entre futebol e política”.


Grande notícia: Léo Gerchmann lança livro sobre a Coligay, torcida pioneira
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Mário Magalhães

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Na próxima terça-feira, 13 de maio, o jornalista Léo Gerchmann lança em Porto Alegre seu esperado livro sobre a Coligay, corajosa torcida gremista que agitou e alegrou os anos 1970 e 1980.

O lançamento de “Coligay: Tricolor e de todas as cores” (Libretos) terá um bate-papo entre o autor e Volmar Santos, o pioneiro da torcida (mais dados no convite acima, extensivo a todos).

Em dezembro, o blog publicou uma entrevista do Léo sobre o livro. Ei-la, na íntegra:

* * *

Coligay, torcida formada por homossexuais, tem história contada em livro

Vem aí um grande acerto de contas com a história do futebol e da luta contra a intolerância no Brasil: já estão nas mãos da Editora Libretos os originais do livro que reconstitui a trajetória da Coligay, torcida gremista pioneira dos anos 1970, formada por homossexuais.

Ainda não está batido o martelo, conta o jornalista Léo Gerchmann, autor da obra, mas é possível que título e subtítulo sejam “Coligay – O Grêmio, tricolor e de todas as cores”.

A Coligay nasceu em Porto Alegre, durante a ditadura, no governo do ditador gaúcho Ernesto Geisel, cujo antecessor havia sido outro ditador gaúcho, Emílio Garrastazu Médici. Seus integrantes foram de uma audácia épica, que agora será contada pelo gremista Léo Gerchmann, um dos jornalistas mais talentosos com quem eu tive a oportunidade de trabalhar _cobrimos juntos a Copa de 98, na França, e ao menos uma eleição para governador do Rio Grande do Sul.

O livro será lançado em março. Na entrevista ao blog, o Léo fala sobre seu trabalho e a saga da Coligay.

* * *

O que foi a Coligay? Como a torcida foi recebida em seu tempo?

A Coligay foi uma torcida organizada do Grêmio formada por homossexuais. Mais precisamente, por frequentadores da boate gay Coliseu, de Porto Alegre. Foi a primeira torcida desse tipo que realmente vingou. Dois anos depois, Clóvis Bornay, que ironicamente era vascaíno, fundou a Flagay, que não chegou a vingar. A Coligay existiu de 1977 a 1983, em plena ditadura militar.

Até hoje, torcedores rivais do Grêmio usam a figura da Coligay como motivo de flauta, e, na época, a própria torcida organizada gremista Eurico Lara, que era oficial do Grêmio, a rejeitou. A direção do clube, porém, na medida em que percebeu o jeito que a moçada torcida, até espaço físico no Olímpico lhes cedeu para guardar as bandeiras e instrumentos de percussão. E que jeito era esse? Eles torciam o tempo todo, independentemente de o time estar ou não jogando bem, e não se envolviam com violência. Os jogadores da época dizem que eles os incentivavam muito.

Por que a Coligay acabou?

Basicamente, porque seu idealizador e líder, o Volmar Santos, voltou para Passo Fundo, sua cidade, em 1983. O Volmar, gerente e depois proprietário da Coliseu, era a alma da Coligay.

Por que você fez um livro sobre a Coligay?

Em primeiro lugar, porque sou gremista, e acho que o Grêmio tem nessa história uma página muito edificante. Como torcedor, é uma história que me orgulha. Mas ressalvo: não é um livro somente para gremistas, é um livro para todos, mesmo para quem nem gosta de futebol ou torce para outro clube, independentemente, também, de preferências sexuais. Como costumamos dizer nas reuniões de pautas dos jornais, é uma baita história.

Há flautas homofóbicas? Claro, mas não são essas as reações que me interessam. Elas, aliás, até justificam a importância de uma obra assim. Também porque sou um entusiasta da diversidade e da evolução dos costumes. Para mim, esse é um tema muito caro, provavelmente por ser judeu, neto de sobreviventes do horror nazista e por trazer esse sentimento muito enraizado. Meu pai era conselheiro gremista, e cresci frequentando o Estádio Olímpico. Acho que a Coligay foi um grupo transgressor que contribuiu muito para essa evolução. Levou aos estádios um jeito diferente de torcer, mais comprometido com o time e mais vibrante.

Quais as passagens mais marcantes da torcida?

Foram muitas. Eles surgiram em abril de 1977, quando o Grêmio formava um grande time (Corbo; Eurico, Ancheta, Oberdan e Ladinho; Vitor Hugo, Tadeu e Iúra; Tarciso, André e Éder), que terminou com a hegemonia do Internacional, à época octacampeão gaúcho (na época, os títulos regionais tinham bem mais importância), contando com jogadores como Falcão e Valdomiro.

Sempre tive a opinião de que esse time do Internacional e o do Flamengo do início dos anos 80 foram os melhores que vi jogar, talvez rivalizando com a academia palmeirense de 1972, que mal peguei, porque era ainda muito guri. Hoje, relativizo um pouco essa visão, o próprio Grêmio formou grandes times, que idealizei menos porque a idade já era outra. A Coligay ficou, então, com a fama de pé quente. Mas há muitos episódios interessantes dessa época difícil, em que pessoas eram torturadas nos porões da ditadura, e um grupo de gays se aventurou nas arquibancadas.

Hoje há mais tolerância para a existência de torcidas como a Coligay ou o futebol continua sendo um meio muito preconceituoso?

Apesar da truculência das atuais organizadas, hoje as pessoas ficam mais à vontade para assumir suas preferências sexuais. As próprias mulheres, quando iam ao estádio, 40 anos atrás, eram xingadas. Sim, isso acontecia! Eram chamadas de putas, vadias etc. São coisas, hoje, inconcebíveis, inimagináveis. Espero que quando nossos filhos crescerem eles olhem para trás e pensem, “Pô, por que os caras não podiam se casar, levar a vida como querem, se não prejudicam os outros?” Me parece meio básico.

Tenho dois filhos (um menino de 11 anos e uma menina de seis) e percebo neles que sentimentos como a homofobia e outros preconceitos ficarão como uma triste e incompreensível história, a exemplo da escravidão, o Holocausto e de outras barbáries. A homofobia ainda é aceita socialmente, o que faz dela um grande tema a ser abordado e, evidentemente, repudiado por todos nós que respeitamos as diferenças, quaisquer que sejam elas.

O que fazem hoje os principais integrantes da Coligay? Ainda acompanham o Grêmio onde o Grêmio estiver?

É triste, mas em meio a tudo isso houve a aids. A maioria deles morreu. Os integrantes com quem falei continuam acompanhando o Grêmio de perto. O Volmar Santos é colunista social e agitador cultural em Passo Fundo, outro é cabeleireiro. Todos frequentam a Arena quando possível. O Volmar chega a viajar de Passo Fundo a Porto Alegre no seu carro, mais de 300 quilômetros, e passar a noite num hotel só para ir a jogos do Grêmio.

Para um gremista, como você, qual a principal lembrança da Coligay?

Quando eles surgiram, eu tinha entre 12 e 13 anos. No Olímpico, eu assistia ao jogo das cadeiras, e eles ficavam longe. Mas em Gre-Nais que ocorriam no Beira-Rio, o espaço reservado aos torcedores do Grêmio, os visitantes, era o mesmo. Tchê, era divertidíssimo. Eu e meus colegas dávamos risada com o humor dos caras, que realmente não paravam de incentivar o time e de dançar, com uma charanga muito barulhenta e ritmada.


O vexame da convocação não é Henrique, e sim Marin como chefão da CBF
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Mário Magalhães

Daniel Marenco/Folhapress

Marco Polo Del Nero, Felipão e Marin, na convocação de hoje – Foto Daniel Marenco/Folhapress

 

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É legítima a convocação de Henrique, embora eu considere erro de Felipão não trazer para a Copa o zagueiro brasileiro em melhor forma: Miranda, do Atlético de Madrid, time que ostenta uma tremenda defesa.

Melhor forma entre todos os zagueiros nacionais, incluindo os titulares Thiago Silva e David Luiz.

Isto é, divirjo do técnico, mas sua opção não constitui escândalo algum.

Henrique pode ir bem ou mal na Copa, pode até não jogar.

Escândalo, daqueles de nos envergonhar, é o chefe da cerimônia de convocação ser José Maria Marin.

Seus ares de múmia não se devem à idade, mas à lembrança do seu passado de servidor da ditadura.

Marin foi o deputado da Arena, partido governista, que denunciou “infiltração” na TV Cultura de São Paulo, dias antes de o diretor de jornalismo da emissora, Vladimir Herzog, ser preso, torturado e assassinado.

Como afastar Marin da convocação e do Mundial se ele preside a CBF?

Eis o vexame: depois de se livrar do famigerado Ricardo Teixeira, o futebol brasileiro entregou sua entidade máxima ao inacreditável Marin.

Ele disse que sua prioridade é a seleção.

Pensei _ou vi_ que ele também gosta de medalhas alheias.

Tomara que a miséria existencial de Marin não contagie os jogadores.

Sua presença nos eventos da Copa, contudo, será sempre uma ofensa aos brasileiros que deram a vida lutando contra a ditadura.


Pelé 58, Garrincha 62, Pelé 70, Romário 94, Rivaldo 2002… Neymar 2014?
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Mário Magalhães

Neymar, a esperança suprema – Foto Ueslei Marcelino-15.jun.2013/Reuters

 

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Em 58, Pelé.

Em 62, Garrincha.

Em 70, Pelé de novo.

Em 94, Romário (e Bebeto).

Em 2002, Rivaldo (e Ronaldo).

Em todos os títulos da constelação do penta, algum atacante foi especialmente decisivo. Nos dois triunfos mais recentes, podemos considerar dobradinhas.

Hoje, Neymar é disparado não somente o melhor atacante brasileiro, mas o craque supremo da seleção, em todas as posições.

Como na Copa das Confederações, o Brasil dependerá do seu desempenho.

Agora, será mais difícil, como aprendemos com insucessos em Mundiais que se seguiram a Copas das Confederações que havíamos vencido.

Neymar tem, sim, nas costas, a responsabilidade de desequilibrar.

A atribuição está à altura do futebol fabuloso que ele joga. Por isso, a cria do Santos concentra as esperanças nacionais.

A história prega peças. No Chile-62, Pelé se machucou, e Garrincha acabou resolvendo.

Se não houver surpresas, por mais coletivo que o futebol seja, Neymar terá de fazer a sua parte _a mais importante, a que estabelece a diferença.

Da lista recém-apresentada por Felipão, minha única divergência expressiva foi a rejeição do zagueiro em melhor forma, Miranda.

Henrique disputará o Mundial. Chiadeira grande. Mas, em 94, Márcio Santos, em quem poucos levavam fé, acabou jogando uma grande Copa.


Figurinha desperdiçada: fora da Copa, Robinho só foi ‘convocado’ pelo álbum
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Mário Magalhães

blog - album robinho

 

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Nenhuma figurinha do álbum da Copa 2014 foi tão falada quanto a do Robinho.

Era uma aposta inusitada da editora Panini. Tipo jogar suas fichas no improvável para ganhar sozinho.

Virou chacota.

Outros jogadores foram convocados, mas não estão no álbum.

Que figurinha seria a melhor para o lugar do Robinho, descartado hoje pelo Felipão? A do Jô?

 


Cursos na Companhia – Biografias: polêmicas, diálogos e reflexões
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Mário Magalhães

 

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Do site da Companhia das Letras (aqui):

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Biografias: polêmicas, diálogos e reflexões sobre o gênero, com Mário Magalhães e Paulo Cesar Araújo

Em 2013, um movimento formado por alguns artistas brasileiros em torno da legislação que submete a publicação de biografias à autorização dos biografados colocou na agenda do país um extenso debate a respeito do gênero. Questões éticas, jurídicas, literárias, foram levantadas e expuseram a urgência do debate no país. É com intuito de amadurecer este debate e apresentar ao público todas as implicações do gênero, que a Companhia das Letras convida todos para um encontro com dois dos mais importantes biógrafos do país: Mário Magalhães e Paulo Cesar Araújo. A mediação fica a cargo do publisher Otávio Costa.

Data: 19 e 27 de maio

Horário: 19h30 às 21h

Valor: R$ 150,00

Local: Companhia das Letras – Auditório

Mário Magalhães é jornalista, professor e autor da biografia Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo (Companhia das Letras). Trabalhou nos jornais Tribuna da Imprensa, O Globo, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, no qual foi repórter especial e ombudsman (2007-2008). Recebeu duas dezenas de prêmios e menções honrosas no Brasil e no exterior, entre os quais Every Human Has Rights Media Awards, Prêmio Vladimir Herzog, Lorenzo Natali Prize, Prêmio Esso de Jornalismo, Prêmio da Sociedade Interamericana de Imprensa e Prêmio Dom Hélder Câmara.

Paulo Cesar Araújo nasceu em Vitória da Conquista, em 1962. Jornalista e mestre em História, é autor de Eu não sou cachorro não (Record, 2002), sobre música brega no Brasil.


Míriam Leitão lança romance ‘Tempos Extremos’ nesta quinta-feira
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Mário Magalhães

Foto: MÍRIAM LEITÃO LANÇA ROMANCE 'TEMPOS EXTREMOS' NESTA QUINTA-FEIRA - Aqui: http://uol.com/bydC6V

 

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A jornalista Míriam Leitão buscou nas cicatrizes da memória e nos cacos da história a matéria-prima com que criou seu primeiro romance, “Tempos Extremos”, editado pela Intrínseca.

Do seu tempo de presa política na ditadura, Míriam conserva as cicatrizes da memória.

A repórter que cavuca os cacos da história, e denuncia as heranças perversas da escravidão, ouve o eco das trevas.

O lançamento do livro será nesta quinta-feira, a partir das 19h, na Travessa do Leblon (convite acima, extensivo a todos).

Apareçam!


Felipão chega à convocação para a Copa quase como unanimidade de crítica
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Mário Magalhães

Nesta quarta-feira, Felipão chama os 23 da Copa – Foto Julio Cesar Guimarães/UOL

 

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Não há clamor, no máximo resmungos: Luiz Felipe Scolari chega à véspera da convocação para a Copa do Mundo praticamente como unanimidade da crítica futebolística nacional.

Discute-se o reserva ou o reserva do reserva (para mim, Miranda é o zagueiro em melhor forma). Mas a nação não protesta, a despeito de não serem poucos os que consideram uma temeridade a escalação de Júlio César no gol.

Este é o país, não custa lembrar, que queria um decadente Romário na Copa de 2002 (Felipão deu de ombros aos apelos) e o exuberante Romário nas Eliminatórias para o Mundial de 94 (temeroso do desastre, Parreira cedeu na derradeira partida, na qual uma eventual derrota para o Uruguai nos custaria a vaga).

Já vimos de tudo: para a Copa América de 93, a torcida exigia Palhinha, aquele ingrato que se consagrou nas mãos do Telê e mais tarde deu de falar mal do técnico supremo. O Brasil já implorou por Palhinha…

No jornalismo esportivo, muitos esconjuravam Parreira em 94. Em 2010, outros desconfiavam do Dunga.

Pois agora consolida-se o sentimento de que Felipão é o treinador certo na hora certa, ainda mais tendo Parreira ao seu lado.

Nome por nome, não temos a melhor defesa, o melhor meio-de-campo ou o melhor ataque.

Contudo, como testamos na Copa das Confederações, Felipão montou um conjunto muito competitivo.

Quem, hoje, recusaria incluir o Brasil como um dos quatro favoritos? Mesmo que não jogássemos em casa.

O avanço em relação aos tempos de Mano é mérito sobretudo do seu conterrâneo Scolari. A seleção não costuma encantar, mas sempre é osso duro de roer. A cara do Felipão.

Li que, depois de Brasil, Argentina, Alemanha e Espanha, as bolsas de apostas na Europa colocam a Bélgica, com bom elenco, em quinto lugar.

Em relação aos quatro do núcleo duro, nada a mudar (o Brasil dependerá muito de Neymar; a Argentina, do frágil sistema defensivo; a Espanha, da coragem de Del Bosque para rejuvenescer meio e ataque; a Alemanha, de não se borrar nas calças ao encarar gigantes).

Mas, com o futebol que estão mostrando Cristiano Ronaldo, Coentrão e Pepe, eu trocaria a Bélgica por Portugal para, a pouco mais de um mês da abertura da Copa, definir os cinco favoritos entre os 32.

No essencial, Felipão tem feito a coisa certa. Mas ele não entra em campo (ainda bem, pois era um zagueiro ruim, ao contrário do bom atacante Mortoza, que agora, como auxiliar na seleção, é chamado erradamente de Murtoza, com u).


Ditadura: Dom Tomás Balduino pilotou avião para esconder perseguidos
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Mário Magalhães

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Dom Tomás Balduino dá entrevista sobre assassinato de Dorothy Stang – Foto Sérgio Lima/Folhapress

 

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No finzinho da noite da sexta-feira, morreu Dom Tomás Balduino, frade dominicano, ou da Ordem dos Pregadores, como a Igreja a denomina.

Dom Tomás pregou a vida inteira contra a pobreza e a favor dos pobres. Não somente predicou: transformou a pregação em ação e foi à luta. Tinha 91 anos.

Uma década antes de sua despedida, no dia 3 de maio de 2004, entrevistei-o por telefone para a biografia que eu então preparava, do revolucionário Carlos Marighella (1911-1969).

Eu queria saber sobretudo se era verdade que o dominicano havia sobrevoado regiões da Amazônia e do Brasil Central com Marighella, que como dirigente guerrilheiro procurava áreas propícias à luta armada rural contra a ditadura instaurada em 1964.

“Infelizmente, nunca tive a honra” de estar com Marighella ou pilotar para ele, respondeu-me, bem humorado, o bispo católico.

Ele disse que era de fato piloto-aviador. E que usou seu aviãozinho para “dar fuga” a militantes de esquerda perseguidos pela ditadura. Não os identificou.

Entre os dominicanos, havia um núcleo de militantes da Ação Libertadora Nacional, maior organização armada de combate à ditadura. Dirigiam-na Marighella e o jornalista Joaquim Câmara Ferreira. Dom Tomás, que se opunha valentemente aos governos de então, não a integrava.

Abaixo, reproduzo a nota oficial da Comissão Pastoral da Terra sobre o falecimento do seu fundador e uma breve biografia de Dom Tomás, também distribuída pela CPT.

* * *

Nota de falecimento

Dom Tomás Balduino, fundador da CPT, fez a sua páscoa

 

“Para tudo há uma ocasião certa;

há um tempo certo para cada propósito

debaixo do céu: Tempo de nascer e tempo de morrer,

tempo de plantar

e tempo de arrancar o que se plantou…

tempo de lutar e tempo de viver em paz”.

(Eclesiastes 3:1-8)

 

É com grande pesar e muita tristeza que a Comissão Pastoral da Terra (CPT) comunica a todos e todas o falecimento de Dom Tomás Balduino. Fundador da CPT, bispo emérito da cidade de Goiás e frade dominicano, Dom Tomás lutou por toda sua vida pela defesa dos direitos dos pobres da terra, dos indígenas, das demais comunidades tradicionais, e por justiça social. Nem mesmo com a saúde debilitada e internado no hospital ele deixava de se preocupar com a questão da terra e pedia, em conversas, para saber o que estava acontecendo no mundo.

Aos 91 anos, completados em dezembro passado, Dom Tomás Balduino, o bispo da reforma agrária e dos indígenas, nos deixa seu exemplo de luta, esperança e crença no Deus dos pobres. Ficamos, hoje, todos e todas um pouco órfãos, mas seguimos na certeza de quem Dom Tomás está e estará presente sempre, nos pés que marcham por esse país e nas bandeiras que tremulam por esse mundo em busca de uma sociedade mais justa e igualitária.

Dom Tomás faleceu em decorrência de uma trombo embolia pulmonar, às 23h30 de ontem, 02 de maio de 2014. Ele permaneceu internado entre os dias 14 e 24 de abril último no hospital Anis Rassi, em Goiânia. Teve alta hospitalar dia 24, e no dia seguinte foi novamente internado, porém desta vez no Hospital Neurológico, também em Goiânia.

O Corpo será velado na Igreja São Judas Tadeu, no Setor Coimbra, em Goiânia, até às 10 horas do domingo, dia 4 de maio, momento em que será concelebrada a Eucaristia, e logo em seguida será transladado para a cidade de Goiás (GO), onde será velado na Catedral da cidade até às 9 horas da segunda-feira, 5 de maio, e logo em seguida será sepultado na própria Catedral.

Biografia de Dom Tomás Balduino

Dom Tomás Balduino nasceu em Posse, Goiás, no dia 31 de dezembro de 1922. Ele é filho de José Balduino de Sousa Décio, goiano, e de Felicidade de Sousa Ortiz, paulista. Seu nome de batismo é Paulo, Paulo Balduino de Sousa Décio. Foi o último filho homem de uma família de onze filhos, três homens e oito mulheres. Ao se tornar religioso dominicano recebeu o nome de Frei Tomás, como era costume.

Até os cinco anos de idade viveu em Posse. Depois a família migrou para Formosa, onde seu pai se tornou promotor público, depois juiz e se aposentou como tal.

Fez o Seminário Menor – Escola Apostólica Dominicana – em Juiz de Fora, MG. Fez os estudos secundários no Colégio Diocesano, dirigido pelos irmãos maristas, em Uberaba.  Cursou filosofia em São Paulo e Teologia em Saint Maximin, na França, onde também fez mestrado em Teologia.

Em 1950, lecionou filosofia em Uberaba. Em 1951 foi transferido para Juiz de Fora como vice-reitor da então Escola Apostólica Dominicana e lecionou filosofia, na Faculdade de Filosofia da cidade.

Em 1957, foi nomeado superior da missão dos dominicanos da Prelazia de Conceição do Araguaia, estado do Pará, onde viveu de perto a realidade indígena e sertaneja. Na época a Pastoral da Prelazia acompanhava sete grupos indígenas. Para desenvolver um trabalho mais eficaz junto aos índios, fez mestrado em Antropologia e Linguística, na UNB, que concluiu em 1965. Estudou e aprendeu a língua dos índios Xicrin, do grupo Bacajá, e Kayapó.

Para melhor atender a enorme região da Prelazia que abrangia todo o Vale do Araguaia paraense e parte do baixo Araguaia mato-grossense, fez o curso de piloto de aviação. Amigos solidários da Itália o presentearam com um teco-teco com o qual prestou inestimável serviço, sobretudo no apoio e articulação dos povos indígenas. Também ajudou a salvar pessoas perseguidas pela Ditadura Militar.

Em 1965, ano em que terminou o Concílio Ecumênico Vaticano II, foi nomeado Prelado de Conceição do Araguaia. Lá viveu de maneira determinante e combativa os primeiros conflitos com as grandes empresas agropecuárias que se estabeleciam na região com os incentivos fiscais da então SUDAM, e que invadiam áreas indígenas, expulsavam famílias sertanejas, os posseiros, e traziam trabalhadores braçais de outros Estados, sobretudo do nordeste brasileiro, que eram submetidos, muitas vezes, a regimes análogos ao trabalho escravo.

Em 1967, foi nomeado bispo diocesano da Cidade de Goiás. Nesse mesmo ano foi ordenado bispo e assumiu o pastoreio da Diocese, onde permaneceu durante 31 anos, até 1999 quando, ao completar 75 anos, apresentou sua renúncia e mudou-se para Goiânia. Seu ministério episcopal coincidiu, a maior parte do tempo, com a Ditadura Militar (1964-1985).

Dom Tomás, junto à Diocese de Goiás, procurou adequar a Diocese ao novo espírito do Concílio Ecumênico Vaticano II e de Medellín (1968). Por isso sua atuação, ao lado dos pobres, no espírito da opção pelos pobres, marcou profundamente a Diocese e seu povo. Lavradores se reuniam no Centro de Treinamento onde Dom Tomás morava, para definir suas formas de organização e suas estratégias de luta. Esta atuação provocou a ira do governo militar e dos latifundiários que perseguiram e assassinaram algumas lideranças dos trabalhadores. Em julho de 1976, Dom Tomás foi ao sepultamento do Padre Rodolfo Lunkenbein e do índio Simão Bororo, assassinados pelos jagunços, na aldeia de Merure, Mato Grosso. Em sua agenda estava programada uma outra atividade. Soube depois, por um jornalista, que durante esta atividade programada, estava sendo preparada uma emboscada para eliminá-lo.

Alguns movimentos nacionais como o Movimento do Custo de Vida, a Campanha Nacional pela Reforma Agrária, encontraram apoio e guarida de Dom Tomás e nasceram na Diocese de Goiás.

Dom Tomás foi personagem fundamental no processo de criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975.  Nas duas instituições Dom Tomás sempre teve atuação destacada, tendo sido presidente do CIMI, de 1980 a 1984 e presidente da CPT de 1999 a2005. A Assembleia Geral da CPT, em 2005, o nomeou Conselheiro Permanente.

Depois de deixar a Diocese, além de ser presidente da CPT, desenvolveu uma extensa e longa pauta de conferências e palestras em Seminários, Simpósios e Congressos, tanto no Brasil quanto no exterior. Por sua atuação firme e corajosa recebeu diversas condecorações e homenagens Brasil afora. Em 2002, a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás lhe concedeu a medalha do Mérito Legislativo Pedro Ludovico Teixeira. No mesmo ano recebeu o Título de Cidadão Goianiense, outorgado pela Câmara Municipal de Goiânia.

Foi designado, em 2003, membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, CDES, do Governo Federal, cargo que deixou por sentir que pouco ou nada contribuía para as mudanças almejadas pela nação brasileira. Foi também nomeado membro do Conselho Nacional de Educação.

No dia 8 de novembro de 2006, Dom Tomás recebeu da Universidade Católica de Goiás (UCG) o título de Doutor Honoris Causa, devido ao comprometimento de Dom Tomás com a luta pelo povo pobre de Deus.

No dia 18 de abril de 2008 recebeu em Oklahoma City (EUA), da Oklahoma City National Memorial Foundation, o prêmio Reflections of Hope. A organização considerou que as ações de Dom Tomás são exemplos de esperança na solução das causas que levam a miséria de tantas pessoas em todo o mundo. A premiação Reflections of Hope foi criada em 2005 para lembrar o 10º aniversário do atentado terrorista de Oklahoma – quando um caminhão-bomba explodiu em frente a um edifício, matando 168 pessoas – e para homenagear aqueles que representam a esperança em meio à tragédia e dedicam suas vidas para melhorar a vida do próximo.

De 22 até 29 de março 2009 foi em Roma para participar das palestras em homenagem de Dom Oscar Romero e dos 29 anos do seu assassinato.

Em 2012 a Universidade Federal de Goiás (UFG) também lhe outorgou o título de Doutor Honoris Causa. Em dezembro do mesmo ano, durante as comemorações dos seus 90 anos, a CPT homenageou-o dando o seu nome ao Setor de Documentação da Secretaria Nacional, que passou a se chamar “Centro de Documentação Dom Tomás Balduino”.