Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : fevereiro 2014

50 anos depois, agenda do Itaú ainda trata golpe como ‘revolução de 1964’
Comentários Comente

Mário Magalhães

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

Não constitui novidade histórica a intensa participação dos banqueiros e seus bancos privados no golpe de Estado que depôs em 1964 o presidente constitucional João Goulart.

Nem o financiamento do aparato repressivo de tortura, morte e desaparecimentos forçados, por parcela expressiva de donos de instituições financeiras, nas décadas de 1960 e 70.

O que é incrível, a julgar pela agenda 2014 distribuída pelo Itaú a clientes, é que o tempo pareça ter congelado. No dia 31 de março, a agenda registra o “aniversário da revolução de 1964”.

Como reconhecem as consciências dignas, não houve uma “revolução” meio século atrás, e sim um golpe desferido com as armas da sociedade golpista entre segmentos militares e civis, como os banqueiros (alguns viraram ministros).

“Revolução”, em referência à instauração da ditadura, é palavra consagrada na boca de marechais e generais como Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo, os presidentes-ditadores do ciclo encerrado em 1985.

Quem falava “revolução” eram torturadores como o delegado Fleury, o policial Borer e o então major Ustra _este, vivo, fala até hoje.

A agenda do Itaú também reproduz a data da versão golpista, 31 de março, mas Goulart ainda estava no Palácio Laranjeiras no começo da tarde de 1º de abril. O golpe foi mesmo em 1º de abril, o dia da mentira _os golpistas diziam salvar a democracia.

Pior ainda, o “aniversário da revolução de 1964” está na agenda no mesmo contexto festivo de outras datas: deveria ser celebrado, feito o dia internacional do livro infantil (2 de abril) e o dia do obstetra (12 de abril).

Já se passaram 50 anos. Passaram mesmo?

Outro lado

Na tarde desta quinta-feira, a pedido do blog, o Itaú se pronunciou sobre o post acima, publicado ontem.

Eis a íntegra da manifestação, solicitada na quarta-feira:

“O Itaú Unibanco informa que a agenda distribuída aos clientes conta com informações sobre datas relevantes ao longo do ano. O banco é apartidário e, em hipótese alguma, pretende defender uma posição política no conteúdo entregue aos correntistas.”


História: o banquinho das ex-escravas sexuais
Comentários Comente

Mário Magalhães

blog - escravas sexuais

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

Como o UOL mostra hoje (veja aqui), o fotógrafo Ahn Young-joon documentou moradoras de um lar para idosos onde vivem coreanas escravizadas sexualmente pelas tropas japonesas durante a Segunda Guerra.

Em 2002, eu testemunhei em Seul a manifestação semanal das antigas escravas.

A íntegra da reportagem está abaixo.

* * *

O banquinho das ex-escravas sexuais

Vendo essas mulheres assim de perto, ao vivo, de carne e osso, custa-se a acreditar que tudo tenha se passado como se passou. E tudo aconteceu exatamente como se sabe hoje. Depoimentos são centenas. Fotografias documentam. Organismos multilaterais, como a Comissão sobre os Direitos Humanos das Nações Unidas, escarafuncharam até reconstituir as passagens mais sórdidas. O vínculo supremo com o passado é a memória destas octogenárias e septuagenárias. O que para alguns parece remoto, para elas foi ontem, quando muito, anteontem. Não cicatrizou.

É pontualmente meio-dia de uma quarta-feira no centro de Seul, e o sol de verão incendeia a primavera. Sentadas em banquinhos, uma dezena de mulheres se posta na calçada defronte à embaixada do Japão. Diante delas, uma tropa de policiais coreanos, com idade para serem seus netos ou bisnetos, contempla-as expondo cassetetes de dimensões pornográficas e escudos de batalhão de choque. Começa a 511ª manifestação semanal das ex-escravas sexuais.

São sobreviventes. De 1932 a 45, o Exército Imperial Japonês recrutou à força 200 mil mulheres para servirem sexualmente aos seus soldados e oficiais nos fronts asiáticos. Coreanas compunham a maioria, pois ficava mais fácil. Em 1910, o Japão anexara a Coreia na marra. Sairia corrido em 1945. Em 1992, contaram apenas trezentas anciãs vivas.

Com as mulheres em silêncio, sentadas em seus banquinhos, integrantes de um movimento de apoio à punição de criminosos de guerra narram ao microfone coisas do passado. De escravas que estão ali, que não estão, que morreram. Chung Seo-woon foi arrastada para a Indonésia. Contaria não ter entendido o que um médico militar japonês pretendeu ao lhe penetrar uma barra de ferro quente. Descobriu que fora uma das 3.000 esterilizadas em Jacarta. De segunda a sexta, suportava cinquenta militares por dia. Sábado e domingo, cem. Nunca pôde ter filhos.

Chong Ok-sun foi carregada aos treze anos. Resistiu, e defloraram-na com um cassetete. Viu uma amiga coreana reclamar e ter a cabeça arrancada com uma espada. Uma escrava foi retalhada. Chong nunca mais teve intercurso, impedido pela dor e o trauma.

Cessam os discursos. Os oitenta presentes, dos quais dezesseis freiras católicas, entoam cânticos e gritam palavras de ordem, de punhos cerrados. Levanta do banquinho a única ex-escrava a discursar hoje: Yoon Sun-man, de 83 anos. Recomeça, de costas para as companheiras e de frente para a representação diplomática, a reviver sua saga.

Boa parte das mais de 100 mil coreanas foi sequestrada quando tinha de catorze a dezoito anos. O Exército Imperial Japonês temia a proliferação de doenças venéreas. Assim, ansiava por virgens. Não adiantava mentir, falar em marido. Os cabelos denunciavam a condição conjugal. Casada penteava-se de um jeito, solteira de outro.

Em 1932, o Japão passou a construir o que foi designado pelo eufemismo “estações de conforto”. Nelas estariam as “comfort women”, expressão em inglês que significa mulheres que provêm conforto. A primeira estação foi erigida em Shangai, na China. Seguiram-se as demais, espalhadas por toda a Ásia, porém não na Coreia. Por isso, desavisadas, coreanas aceitavam convites para trabalhar em fábricas longínquas, aliviando em uma boca famílias famélicas. Em vez de ir para fábricas, eram despejadas nessa espécie pouco alardeada de campos de concentração, as ditas estações de conforto.

Não se tratava de prostíbulos nem de prostitutas. Não havia negócio, nem nada elas recebiam para “confortar” os militares. Submetidas a trabalho forçado, não podiam sair. Era escravidão. Apanhadas, as que tentaram fugir foram executadas. Numa só estação, em 1945, os japoneses assassinaram setenta escravas, horas antes do resgate por tropas dos Estados Unidos. Várias se suicidaram, ainda presas nas estações ou, nas décadas seguintes, aprisionadas pela memória.

Agora, de frente para a embaixada, Yoon Sun-man desfila as reivindicações essenciais: que o Japão peça desculpas, puna os responsáveis ainda vivos, reconheça que houve crimes de guerra, compense as vítimas e corrija os livros que escamoteiam a tragédia das “comfort women”. O governo de Tóquio afirma que não pode responder com base nas leis sobre guerra aprovadas em 1949, em Genebra. E que os acordos posteriores à Segunda Guerra Mundial (1939-45) zeraram o jogo.

Para muitas sobreviventes, o tempo não passou. Suas histórias permanecem tabu até na Coreia. Após a guerra, elas eram tidas como vagabundas dissimuladas. Ocultavam o passado. Na manifestação, uma delas encobre o rosto com uma folha de papel. Quatro compartilham uma casa no interior. Até tempos atrás, faltava coragem para reaparecer e exigir o que consideram seus direitos. O primeiro protesto ocorreu em janeiro de 1992, numa quarta-feira. Não pararam mais. Sempre ao meio-dia.

Yoon Sun-man, escravizada em 1941, conclui o discurso. Ao meio-dia e meia, nem um minuto a mais ou a menos, elas partem com os banquinhos. Kim Sun-duk, de 79 anos, diz ao estrangeiro persistir porque injustiças devem ser punidas. E Yoon Sun-man, numa última frase, se vira e acrescenta: “Eu não posso morrer antes de ouvir desculpas.”

(Mário Magalhães, “Folha de S. Paulo”, 29.mai.2002)


Por que derrubaram Jango (4)
Comentários Comente

Mário Magalhães

"JB", 10.fev.1964

“JB”, 09.fev.1964

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

“Brasil vai reconhecer China de Mao”, titulava a primeira página do “Jornal do Brasil” de 9 de fevereiro de 1964.

O governo Eurico Gaspar Dutra (1946-51) havia sido tão conservador que em 1949 rompera relações com a China, pois uma revolução comunista havia ocorrido no país asiático.

Em 1964, até o papa Paulo VI afirmava que não era possível ao mundo ignorar a existência da nação liderada por Mao Tsé-tung.

Ainda como vice-presidente, João Goulart a visitara em 1961. Preparava-se, como presidente da República, para o restabelecimento das relações diplomáticas.

A medida indicava uma política externa mais independente dos interesses do Departamento de Estado norte-americano.

As relações acabariam sendo retomadas na ditadura, no governo Ernesto Geisel, em 1974. A iniciativa já não motivava ou servia de pretexto para golpes de Estado.

Quando a reportagem do “JB” foi publicada, em 1964, faltavam 53 dias para o presidente constitucional Jango ser deposto pelos militares e seus sócios civis.


No Botafogo, muito competitivo, o jogo coletivo é a estrela
Comentários Comente

Mário Magalhães

aaaa -ferreyra

O atacante Ferreyra, derrubado por um jogador do San Lorenzo – Foto EFE/Marcelo Sayão

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

Na vitória de 2 a 0 sobre o San Lorenzo, campeão argentino, o Botafogo fez sua melhor exibição na Libertadores 2014, na primeira partida pela fase de grupos e terceira na competição. Jogara mal contra o Deportivo Quito, no Equador, e bem contra o mesmo adversário, no Maracanã. Também aqui no Rio, foi muito bem ontem à noite.

Como a maioria do elenco é a mesma, permanecem semelhanças com o time que encantou em seus momentos mais inspirados, no ano passado. Mas se confirmam mudanças expressivas.

Em 2013, o alvinegro tinha uma estrela inegável, Seedorf. Fatigado pelos anos, o veterano holandês foi decaindo, até pendurar as chuteiras e se transformar no técnico do Milan. Inexiste sucessor à sua altura.

Outra virtude era a busca permanente pela bola e o cultivo de sua posse, o que fazia com que torcedores rivais e até mesmo alvinegros ironizassem o “Barcelona carioca” montado por Oswaldo Oliveira. Como tripudiavam, só faltava o Messi.

Acabou o jogo vistoso, de encher os olhos. Ontem o Botafogo teve menos posse de bola (47% a 53%), acertou menos passes (263 a 373), driblou menos (8 a 17) e se equiparou em finalizações (9 a 10) _números Footstats, via “O Globo”.

A despeito das estatísticas, mereceu vencer um adversário de mais qualidades que o anterior. O time atual do Botafogo, dirigido por Eduardo Húngaro, mostrou-se muito competitivo. Repleto de jogadores cascudos, alguns com várias disputas de Libertadores no currículo, batalha o tempo todo, luta em cada palmo do campo, é objetivo ao atacar. No novo Botafogo, que se impõe, a estrela é o coletivo.

Embora tenha concedido chances, o time se apresentou seguro, mesmo nos momentos de pressão argentina. Nos dois gols, soube aproveitar a marcação deficiente fora da área.

Só adivinhos sabem se irá longe ou não, mas merece a confiança da torcida que o incentivou intensamente _tomara que da próxima vez compareçam mais do que os 32 mil presentes de ontem.

Húngaro mudou o estilo botafoguense, o que até agora vem dando certo. Embora a dupla Ferreyra e Wallyson tenha marcado ontem, tenho um reparo ao treinador: no jogo passado, Elias entrou no segundo tempo e teve desempenho excelente, participando de gols. Ontem, não ficou nem no banco. A não ser que tenha ocorrido algum problema que eu ignore, fica a impressão, para os atletas, de que não adianta ir bem, porque nem com mérito o jogador se estabelece. Em vez de ser promovido, Elias acabou punido.

Atualização: na página do blog no Facebook, o Daniel Leite envia reportagem do Lancenet informando que o Elias não ficou no banco devido a “problema intestinal”. Está explicado.


Factoide contra Marcelo Freixo anuncia temporada de vale-tudo no Rio
Comentários Comente

Mário Magalhães

Deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) – Foto Daniel Marenco/Folhapress

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

Até os recém-nascidos das maternidades cariocas sabem do ódio que os integrantes das milícias paramilitares nutrem contra o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Para quem não é daqui, basta assistir ao filme “Tropa de Elite 2” para entender. O _ao lado do coronel Nascimento_ coprotagonista Fraga é personagem inspirado em Freixo.

O advogado Jonas Tadeu, que não é miliciano, prestou serviços legais e legítimos ao ex-deputado Natalino José Guimarães _este, sim, notório miliciano que acabou em cana. Num momento em que se sentiu, conforme palavra sua, “desestabilizado”, o advogado plantou anteontem uma informação contra Freixo, ex-presidente da CPI que investigou as milícias. E o jornalismo embaralhou o nome do deputado no noticiário sobre o assassinato do repórter cinematográfico Santiago Andrade.

Jonas Tadeu defende o tatuador Fábio Raposo, que aparentemente participou da morte do cinegrafista ao entregar ao atirador a arma do crime, um rojão. Domingo, numa delegacia policial, Tadeu afirmou que uma militante dos protestos deflagrados em junho de 2013, conhecida como Sininho, teria telefonado oferecendo, em nome de Marcelo Freixo, apoio jurídico a Raposo. Mais grave, ela teria confidenciado que o detonador do fogo de artifício teria conexões com Freixo. Sentindo-se ofendido, pois haveria causídico querendo roubar-lhe o cliente, Tadeu denunciou o alegado telefonema. Fez uma declaração formal à Polícia Civil e, em seguida, permitiu que um (ou uma) repórter fotografasse o documento. A partir daí, Freixo entrou na linha de tiro.

O vínculo de Freixo com o assassinato de Santiago é tão inverossímil que ontem de manhã, na Rádio Globo, Jonas Tadeu disse, em conversa com o deputado, intermediada com brilho pelo radialista Roberto Canazio (ouça aqui):  “Peço desculpas por ter sido levado pela emoção, pelo desequilíbrio e ter entregue isso [a declaração mencionando Freixo] à jornalista”.

Mas o estrago já estava e continua a ser feito.

É de se desconfiar de eventual proximidade dos black-blocs com um deputado filiado a partido político, pois aquele movimento dito anarquista é avesso a agremiações partidárias. Portanto, já haveria uma pulga a pinicar atrás da orelha.

Sininho negou ter envolvido o nome de Freixo ao propor auxílio jurídico. Outra pulga.

Estranhamente, quem assinou a declaração não foi Jonas Tadeu, mas um estagiário do seu escritório. Trocando em miúdos, o estagiário disse que o advogado disse que Sininho disse algo que ela sustenta não ter dito. Um pulgueiro espalha-se pelas orelhas.

A condição de antigo advogado de miliciano deveria no mínimo redobrar o ceticismo, valor caro ao jornalismo. Não significa que Jonas Tadeu tenha mentido ou não, mas a suspeição é evidente. Superpopulação de pulgas.

A despeito dos escrúpulos que pautam tantos policiais, uma legião de tiras e PMs considera Freixo o inimigo a derrotar, em virtude de suas incansáveis denúncias de violência ilegal, corrupção e abusos de autoria de agentes públicos do setor de segurança. O pulgueiro cobre as orelhas e toma o pescoço.

O ex-advogado de parlamentar representante das milícias foi considerado fonte confiável e profissional em legítimo exercício da profissão. De fato, a defesa é direito constitucional dos cidadãos, inclusive de Fábio Raposo. Portanto, o advogado de um suposto participante do homicídio não comete crime ou erro algum. De acordo.

Hoje, no entanto, a informação de que um assessor de Freixo presta (por meio de uma ong) assistência jurídica a presos em protestos virou escândalo. O deputado contou que o trabalho não ocorre em nome do seu gabinete.

É curioso que a seccional fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil montou uma equipe para socorrer detidos em manifestações, e o jornalismo não apenas não fez escarcéu, como não chiou nem discretamente. Faz muito bem a OAB: a defesa é direito a ser assegurado a todos, e boa parte dos presos não participa de atos de violência. A presença da OAB inibe a carnificina às vezes insinuada pelo aparato repressivo.

Ou seja, Jonas Tadeu e a OAB podem, mas não um advogado associado a Freixo.

O deputado nunca fez apologia do emprego de violência em plena democracia. Mesmo se fosse um irmão, primo ou filho seu que tivesse participado da morte de Santiago Andrade, como responsabilizá-lo?

Pior: no domingo, era ignorada a identidade do suspeito de acender o rojão. Freixo não podia nem se defender com mais objetividade, por desconhecer o nome da pessoa.

Ecoa o jornalismo marrom, com a célebre pergunta marota, sem lastro factual: “O senhor é ladrão?”. E imprime-se a manchete: “Fulano diz que não é ladrão”. E só se fala nisso.

O factoide contra Freixo sugere um vale-tudo, às vésperas da eleição de 2014 e na antevéspera da de 2016, quando o deputado pretende, como já declarou, candidatar-se novamente à Prefeitura do Rio.

Até o advogado Jonas Tadeu pediu desculpas. Enquanto isso, o jornalismo eleva Freixo a protagonista de um episódio revoltante.

À distância, talvez o governador Sérgio Cabral (PMDB) sorria.


Boa notícia: canal Arte 1 corrige falha na exibição de ‘Edifício Master’
Comentários Comente

Mário Magalhães

Eduardo Coutinho, gigante do cinema – Foto Eduardo Anizelli/Folhapress

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

No domingo à noite, o blog publicou a post “‘Homenagem’ a Eduardo Coutinho exibe versão mutilada de ‘Edifício Master'” (leia aqui).

Procurado, o canal Arte 1 respondeu:

“O canal Arte 1 lamenta o que aconteceu durante a exibição do documentário ‘Edifício Master’, de Eduardo Coutinho. Devido a um problema técnico, o conteúdo teve sua exibição prejudicada. A falha já foi resolvida e o Arte 1 dá continuidade à homenagem ao cineasta com o documentário ‘Jogo de Cena’ nesta terça feira, dia 11, às 21h30.”

Comentário do blog (1): a atitude do canal é exemplar, ao reconhecer o erro e corrigi-lo imediatamente. O canal Arte 1 deveria inspirar outras emissoras. Erros acontecem, e, quando a gente erra, reconhece, pede desculpas, corrige e aprende com o tropeço.

Comentário do blog (2): graças a espectadores do canal Arte 1 que comentaram o post, é possível entender o que aconteceu. “Edifício Master” foi exibido sem 32 minutos. Depois dos créditos, portanto após o fim do filme do grande Eduardo Coutinho, houve a transmissão da parte mutilada. Por isso, algumas pessoas estranharam o post, dizendo que haviam visto personagens das sequências suprimidas. Viram mesmo, só que depois de o filme terminar.

No mais, eis um ótimo programa: “Jogo de Cena”, hoje à noite, no canal Arte 1.


Por que derrubaram Jango (3)
Comentários Comente

Mário Magalhães

blog - jango mensalidades

 

( Agora o blog está no Facebook e no Twitter )

Meio século e três dias atrás, em 8 de fevereiro de 1964, a manchete da “Folha” anunciava o congelamento dos valores cobrados por colégios particulares.

A reportagem, na página 5, começava assim: “Estão congeladas as anuidades escolares: o chefe do governo, em decreto hoje baixado, manteve inalteradas as taxas dos estabelecimentos de ensino médio (…), ‘até que sejam aprovadas, pelo Ministério da Educação e Cultura, as tabelas propostas pelos referidos estabelecimentos para o corrente ano'”.

Acrescentou: “Nos considerandos do ato, o sr. João Goulart lembra que, pela Constituição, ‘o uso da propriedade será condicionado ao bem-estar social, reprimindo a lei toda e qualquer forma de abuso do poder econômico””.

Para aprovar o aumento das mensalidades dos estabelecimentos privados, o governo checaria o percentual dos reajustes salariais. Isto é, os proprietários não poderiam reajustar os preços sem que a remuneração de professores e funcionários acompanhasse a receita da empresa.

A decisão do presidente João Goulart contrariou os donos de escolas.

O contrário de hoje, quando, no ensino superior, o governo transfere fábulas de dinheiro para instituições privadas, em detrimento da rede pública de universidades federais.

Em 11 de fevereiro de 1964, faltavam 51 dias para o golpe de Estado que deporia Jango e instalaria a ditadura.


Mataram um repórter! Mataram um trabalhador! Justiça!
Comentários Comente

Mário Magalhães

Cinegrafista foi ferido na cabeça por um artefato explosivo e perdeu parte da orelha

Santiago Andrade, repórter cinematográfico assassinado – Fotos BOL / Kátia Carvalho / Parceira / Agência O Globo

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

O repórter cinematográfico Santiago Andrade está morto. A Secretaria Municipal de Saúde do Rio anunciou que ele teve morte cerebral.

Mais precisamente: Santiago não está morto; ele foi morto.

Assassinado.

Mataram-no quando ele cobria um protesto contra o aumento das passagens de ônibus e o confronto entre a Polícia Militar e alguns ditos manifestantes.

Assim como o conjunto dos PMs não pode ser equiparado aos colegas primitivos que executaram na tortura o pedreiro Amarildo, os alegados manifestantes que atiraram o fogo de artifício que trucidou Santiago não representam os milhões de brasileiros que desde junho de 2013 saem às ruas para protestar.

Está claro que foram autoproclamados manifestantes que dispararam o rojão. Cabe às autoridades identificá-los com rigor e escrúpulos.

E à Justiça puni-los, na forma da lei _assim como devem ser condenados agentes públicos que ferem e matam ilegalmente.

Multidões de autênticos manifestantes devem aos repórteres de texto e imagem que cobriram os atos nos últimos meses a inibição da parcela de trogloditas da PM que preferiria  barbarizar. As imagens dos abusos criminosos contribuíram para minimizar o surto policial repressivo à margem da lei.

Por dever de ofício e vocação para buscar a verdade, os jornalistas se arriscaram e se arriscam. Foi um deles que assassinaram.

Muitas e muitas vidas foram sacrificadas na história do nosso país, século após século, para que trabalhadores não fossem mortos no exercício do seu trabalho honesto, inclusive jornalistas.

As pessoas que vão às ruas para fustigar com armas a PM, além de cometer crimes, servem ao que há de mais reacionário e covarde na sociedade. Dão-lhes argumentos e lhe conferem ares _falsos_ de legitimidade.

Não há legitimidade nos ataques armados aos policiais. O Brasil não vive uma ditadura. É legítimo recorrer às armas contra tiranias, como reconhecem teólogos relevantes. Por mais injusto que o país seja, a ditadura acabou na década de 1980. Jornalistas, como Vladimir Herzog, foram mortos na luta pela democracia.

No caso da morte de Santiago, atingido nas cercanias da Central do Brasil, mataram um assalariado. E ainda há mentecaptos, supostamente esquerdistas, que ameaçam repórteres _e não patrões ou empresas.

Até onde aprendi nos livros de história, ser de esquerda implica opção de classe. Mas não para gente como os matadores de Santiago. Como dizia João Saldanha, a estupidez humana não tem limites.

Os sindicatos dos jornalistas não podem contemporizar com bandos de alma fascista, embora estes possam se dizer, liricamente, anarquistas _os velhos e verdadeiros anarquistas, ao contrário dos tais black-blocs, também faziam opção pelos assalariados.

Santiago tinha 49 anos (como eu, não consigo esquecer).

Para sempre, inspirará aqueles que batalham pela liberdade de informar e contar histórias.

Valeu, companheiro!


‘Homenagem’ a Eduardo Coutinho exibe versão mutilada de ‘Edifício Master’
Comentários Comente

Mário Magalhães

Cristina, personagem do filme “Edifício Master”: ela não aparece na versão exibida pelo canal Arte 1

 

( O blog agora está no Facebook e no Twitter )

O canal Arte 1 exibiu na virada de sábado para domingo, a pretexto de “homenagear” o recém-falecido cineasta Eduardo Coutinho, uma ofensa à obra do artista: dos 110 minutos de duração de um dos seus filmes maiores, “Edifício Master”, o canal suprimiu 32 minutos.

Isso mesmo: mutilou a obra-prima, do 55º ao 87º minuto. A morte poupou Coutinho de testemunhar o crime de lesa-arte.

A moça da imagem acima, Cristina, personagem do documentário de 2002, foi limada.

Os espectadores do Arte 1, da grade da Net, também não viram o pessoal da produção batendo em um apartamento para pedir silêncio; o aparente casal Rita e Lúcia; Jasson cantando “Favela”, música de sua autoria gravada em 1959 por Marisa Gata Mansa; Marcelo e a diarista Natalina; as vizinhas levando bolo e cantando os parabéns para uma moradora; o ator Fernando José, então com 62 filmes e mais de 30 novelas no currículo; o casal Dalva e José Carlos; o porteiro-chefe Luiz.

Todas as histórias dessas pessoas, que viviam ou trabalhavam no prédio de Copacabana, foram brutalmente silenciadas.

O pior é que o depoimento de Henrique, que contou ter cantado no palco com Frank Sinatra, também não foi mostrado na TV. Para mim, a sequência mais emocionante do filme é ele cantando “My Way”.

A exibição começou às 23h do sábado (8 de fevereiro) e terminou à 0h20 deste domingo. Houve intervalos comerciais.

A divulgação do canal alardeou uma “homenagem a Eduardo Coutinho”. Cascata. Houve desrespeito a ele e aos assinantes.

Na cara-de-pau, o texto promocional evocou 37 entrevistados. A conta não fecha: vários deles não apareceram.

Eduardo Coutinho não merecia tamanha barbaridade.