Análise: manobra de Cabral reforça constrangimento à campanha de Lindbergh
Mário Magalhães
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O noticiário político tem enfatizado como propósito determinante do governador Sérgio Cabral (PMDB), ao demitir do governo do Rio de Janeiro militantes do PT, a necessidade de incorporar em postos-chave da administração partidos que se mantêm na coalizão que lançará o vice-governador Luiz Fernando Pezão à sucessão estadual.
É correto, mas parece haver outro objetivo mais relevante: enfraquecer a pregação oposicionista do candidato petista, senador Lindbergh Farias, que se baterá contra Pezão (PMDB) e outros concorrentes.
Como o desgastado governador também deixará nas próximas semanas o Palácio Guanabara, para concorrer ao Senado ou à Câmara dos Deputados, poderá dizer: enquanto exerceu seus dois mandatos, obtidos em eleições em que o PT o apoiou, os partidários de Lindbergh permaneceram confortavelmente no governo fluminense. Hoje os petistas detêm duas secretarias.
A manobra de Cabral foi antecipar sua própria saída, aproximando-a no tempo à das centenas de petistas. Outro proveito da medida é oferecer mais tempo a Pezão, já pele de governador, nos meios de comunicação.
Imaginemos um debate entre Lindbergh e Pezão, à maneira de cavalheiros ou de gladiadores.
Lindbergh criticaria a obscenidade na relação público-privado, cujo retrato icônico é o da farra de cabralistas em Paris.
Condenaria os serviços de baixa qualidade oferecidos pela SuperVia, concessionária de trens controlada pela Odebrecht que teve o contrato estendido pelo governo Cabral.
Recordaria o acidente de helicóptero que expôs as conexões do governador com a empreiteira Delta e seu dono.
Não perdoaria os aumentos das passagens nos transportes públicos e a truculência da Polícia Militar nas manifestações de junho e julho de 2013.
Muito menos a ausência da maior autoridade do Executivo no socorro a tragédias como as das chuvas ou o estouro acintoso da previsão de despesas do Estado com a Copa do Mundo, a começar pelo Maracanã, cuja gestão acabou entregue também aos amigos da Odebrecht.
Evocaria o pedreiro Amarildo e os voos de helicóptero da família do governador.
Serenamente, ou não, Pezão encararia Lindbergh e indagaria: se o governo é tão ruim assim, por que os correligionários do senador ficaram com Cabral do primeiro a praticamente o último dia do governador no palácio?
Evidentemente, Lindbergh já terá ensaiado um sem-número de respostas. Todas com a mesma sinceridade escancarada do vídeo acima, de poucos anos atrás, no qual bajula Cabral e Pezão, aclamado como próximo governador.
É possível que a aliança do PT com Cabral nesses sete anos não cause maior prejuízo a Lindbergh, mas o embaraço será inevitável. Por isso os petistas resolveram se retirar do governo. O problema é que isso só ocorreu no oitavo ano da era Cabral.
Pior para o petista, é muito provável que ele não seja o candidato único da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula no Rio: como Sérgio Cabral deve se incorporar com o PMDB na campanha da reeleição de Dilma, Pezão também será candidato dela no Rio, bem como o ministro Marcelo Crivella (PRB) e talvez outros.