Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : novembro 2013

Wallace, do Flamengo: finalista da Copa do Brasil é um devorador de livros
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Mário Magalhães

blog - wallace

Wallace, no “Globo Esporte”, com a biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”

 

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Ao lado de companheiros como Hernane e Elias, o zagueiro Wallace destacou-se no Flamengo, nos triunfos sobre o Goiás que classificaram a equipe à decisão da Copa do Brasil. Wallace jogou muito. O título será vermelho e preto, pois o outro finalista, o forte Atlético Paranaense, também é rubro-negro.

No auge da forma e da carreira, Wallace foi personagem de uma belíssima matéria do repórter Eric Faria, exibida pelo “Globo Esporte”. Para assisti-la, basta clicar aqui.

Eric perfilou um devorador de livros, que só neste ano já leu 60. Em um momento difícil do Flamengo, Wallace distribuiu aos companheiros uma obra de Michael Jordan, e os ensinamentos do cestinha aposentado contribuíram para levantar o ânimo dos jogadores.

Para meu imenso orgulho de autor (e de rubro-negro), um dos livros que Wallace leu foi a biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras). Leu e adorou, contou-me o amigo Eric. Por coincidência, os três times que Wallace defendeu (Vitória, Corinthians e Flamengo) foram os clubes de coração de Carlos Marighella (1911-69), nas três cidades onde o revolucionário viveu.

Wallace me lembra de outro zagueiro raçudo, Ronaldo, ou Ronaldão, campeão mundial pelo São Paulo e pela seleção brasileira. Ronaldo, hoje ex-atleta, também é apaixonado por leitura.


Bienal do Livro da Bahia abre na sexta-feira e no domingo debate biografias
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Mário Magalhães

mariga - bienal do livro da bahia

 

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Com José Carlos Capinam e Antônio Risério na “gala de abertura”, conversando sobre “O Brasil a partir da Bahia”, a Bienal do Livro começa oficialmente nesta sexta-feira, 8 de novembro, às 19h30.

No domingo, também às 19h30, haverá debate sobre biografias, na programação do Café Literário. Participam a jornalista Josélia Aguiar, que conclui biografia de Jorge Amado (Editora Três Estrelas), e este blogueiro, com mediação de Miguel Jost.

A programação completa da Bienal do Livro da Bahia está aqui.


Meu novo livro, obra coletiva, será lançado mês que vem nos Estados Unidos
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Mário Magalhães

blog - crecer a golpes

 

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Compartilho ótima notícia: um ano depois da biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”, volto às estantes das livrarias, embora bem longe daqui. Será lançado em dezembro, nos Estados Unidos, “Crecer a golpes – Crónicas y ensayos de América Latina a 40 años de Allende y Pinochet”.

Como antecipou no sábado a colunista Raquel Cozer, na “Folha de S. Paulo”, o livro sai primeiro em espanhol, pela C.A. Press, editora do Penguin Group.  A versão em inglês está prevista para 2014.

Com organização do jornalista e escritor argentino Diego Fonseca, 13 autores, quase todos latino-americanos, contam as últimas quatro décadas dos seus países. Entre eles (nós), o cubano Leonardo Padura e o argentino Martín Caparrós. O norte-americano Jon Lee Anderson escreve sobre os EUA.

O ponto de partida é o golpe de Estado no Chile, em 1973. No Brasil, essa história principiou em 1964. Reconstituí o período pontuando-o com o épico da seleção. E narrando a paixão de um brasileiro, eu, por seu ídolo supremo, Zico.

Para a eventualidade de alguém se interessar: o livro já está em pré-venda na Amazon (basta clicar aqui).


O sonho não acabou: Mr. Lam, o restaurante de Eike Batista, continua divino
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Mário Magalhães

Guerreiro em terracota, na entrada no restaurante Mr. Lam, no Rio

Guerreiro em terracota, na entrada no restaurante Mr. Lam, no Rio

 

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A OGX rendeu uns pingos de óleo e olhe lá. Triturou o sonho de Eike Batista de se tornar o terráqueo mais endinheirado. E consumiu um naco das economias de uma vizinha gente boa aqui do prédio, que comprou por 18 reais ações que se desmilinguiram até valer 13 centavos.

A MMX entregou muito menos minério do que prometera. Com o colapso da petroleira e o fiasco da mineradora, a holding desabou. O empresário com alma de garimpeiro, o apostador que apostou errado, alardeara todos os empreendimentos em “estado da arte”, porém nada era o que parecia.

Nada? Rematada injustiça. O restaurante Mr. Lam, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, sobrevive como o único reduto de sucesso no inventário de fracassos de Eike. Concedendo aos clichês, é a derradeira joia da coroa do que um dia deu a impressão de constituir um império, mas não passava de tigre de papel.

Mais de três anos depois, regressei sábado à noite à casa de decoração kitsch, embrulhada para nouveaux riches, construída sobre barras de cobre. Dado a ouvir conselhos de cartomantes e bruxas, Eike mandou instalar o cobre por inspiração do feng shui. Pelo visto, a providência de fato espantou más energias. Terá sido das barras subterrâneas o mérito por impedir outro revés?

A primeira surpresa foi ver o estabelecimento lotado, com fila até quase a meia-noite. Não é novidade que Eike investiu 8 milhões de reais no negócio que nunca se pagou. A clientela farta evidencia que a imagem de validade vencida do dono não contaminou seu restaurante.

Será que os comensais buscavam testemunhar a decadência em forma de comida? Ou queriam visitar o Mr. Lam antes que venha a fechar, soterrado pelas ruínas do Grupo X? Quando os pratos chegaram o mistério se desfez: a excelência da cozinha chinesa sobrevive às demais derrotas do antigo conglomerado, como um jogador que consegue brilhar solitariamente em um time que despenca para a terceira divisão.

Quase tudo continua uma maravilha: os espetinhos de frango (melhor) e camarão (talvez tenha sido cozido sem casca, o que rouba sabor) com um molho branco misterioso; os rolinhos primavera; as lulas do Olin (empanadas, receberam o nome de um filho de Eike); e o sqwab (frango cortadinho e molho adocicado que o cliente enrola em folhas de alface americana).

Tudo em várias porções, de novo e de novo. Quando todos à mesa se sentem empanturrados, arriscam uma última concessão à gula, os noodles de frutos do mar. O macarrão chinês fininho é devorado até não restarem vestígios. De sobremesa, o falso ovo frito, no qual o maracujá se finge de gema, e a clara de mentirinha é uma cocada branca mole (no cardápio, intitula-se “uhn ehggi”).

O maior trunfo do restaurante é a cozinha povoada por chineses, importados pelo grande cozinheiro Mr. Lam, que vive longe do Brasil. Eike o descobriu em Nova York. Deliciou-se tanto com o chef que o trouxe para oferecer no Rio as iguarias consagradas nos Estados Unidos. A predileta do empresário quebrado, ele me contou certa vez, é o satay de frango, os divinos espetinhos (leia aqui o  perfil de Eike Batista que eu escrevi em 2009).

Outra vantagem do Mr. Lam é que, embora perfile entre as melhores casas cariocas e deixe para trás os concorrentes (ditos) asiáticos, seus preços ficam aquém dos do restaurante mais simples de Claude Troisgros (CT Trattorie) e são muitíssimos mais baixos que os do Gero, do Antiquarius e do Cipriani.

Éramos cinco à mesa redonda. Com o consumo de água mineral italiana e quatro garrafas de vinho tinto francês beaujolais, além de cerveja, a conta somou 1.045 reais, ou 209 por cabeça, incluindo a gorjeta. Hoje como antes, o serviço se mantém de primeira.

Se a OGX mostrou que Eike Batista nada entende de petróleo, o Mr. Lam sugere que o empresário é bom de boca. Se pensar somente no restaurante ainda ótimo, talvez ele possa fantasiar que o seu sonho não acabou.


Faltam dez dias para o Festival de Biografias (programação atualizada)
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Mário Magalhães

Tomada quase só por biografias, vitrine de uma loja da Livraria da Travessa, no Rio – Foto divulgação

Tomada quase só por biografias, vitrine de uma loja da Livraria da Travessa, no Rio – Foto divulgação

 

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Faltam dez dias para a abertura do Festival de Biografias, em Fortaleza. O evento vai de 14 a 17 de novembro.

Abaixo está, atualizada, a programação do segmento literário, republicada com o post em que anunciei a novidade aqui no blog.

A audiência pública do STF sobre biografias não autorizadas será em 21 e 22 de novembro. Começa quatro dias depois do encerramento do festival.

Até o dia 14, ou quinta-feira da semana que vem!

* * *

Daqui a menos de um mês, no feriadão de 14 a 17 de novembro, Fortaleza sediará o primeiro Festival de Biografias, com quatro segmentos: literatura, cinema, música e artes visuais. Poucos dias mais tarde, o Supremo Tribunal Federal promoverá audiência pública para tratar de biografias não autorizadas.

A proximidade dos eventos é uma tremenda coincidência. A audiência foi recém-convocada pela ministra Carmem Lúcia. O festival estava marcado antes de esquentar a controvérsia sobre censura prévia a biografias.

Transparência: convidado pelo Iris (Instituto de Referência da Imagem e do Som), aceitei ser o curador do segmento literário, entendido como não ficção biográfica. A primeira edição do festival tem o mote “histórias de vida”.

Numa tenda na praia de Iracema, reduto boêmio da capital cearense, haverá projeção de filmes e debates com cineastas e autores de livros. Em um palco vizinho, shows ao ar livre. O Estoril, espaço cultural, receberá uma exposição interativa, com vídeos, fotos e textos, sobre vida e obra de artistas visuais retratados na literatura e no cinema. O ingresso é gratuito para toda a programação.

Entre as atrações cinematográficas, haverá mostra e debate sobre a obra do cinebiógrafo Silvio Tendler. O diretor estará presente à homenagem. O destaque em música será um show conjunto de Jorge Mautner e Jards Macalé. Os dois já mereceram documentários contando suas vidas.

Uma seleção de 11 biógrafos _e autores de perfis_ consagrados ou que preparam sua estreia no gênero debaterá a produção biográfica em livros. São eles, em ordem alfabética: Fernando Morais (autor de Olga, Chatô: O Rei do Brasil, Montenegro, O Mago); Guilherme Fiuza (Meu nome não é Johnny, Bussunda, Giane); Humberto Werneck (Chico Buarque: Tantas palavras – Todas as letras & reportagem biográfica de Humberto Werneck, O santo sujo: A vida de Jayme Ovalle); João Máximo (Gigantes do futebol brasileiro _com Marcos de Castro, Noel Rosa: Uma biografia _com Carlos Didier, João Saldanha: Sobre nuvens de fantasia); Josélia Aguiar (Jorge Amado: Uma biografia, a sair pela Editora Três Estrelas); Lira Neto (O poder e a peste: A vida de Rodolfo Teófilo, O inimigo do rei: Uma biografia de José de Alencar, Castello: A marcha para a ditadura, Maysa: Só numa multidão de amores, Padre Cícero: Poder, fé e guerra no sertão, Getúlio, tomos I e II); Lucas Figueiredo (biografia de Tiradentes, a sair pela Companhia das Letras, Morcegos negros: PC Farias, Collor, máfias e a história que o Brasil não conheceu, O operador: Como e a mando de quem Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e do PT); Luiz Fernando Vianna (Zeca Pagodinho, Aldir Blanc: Resposta ao tempo – Vida e letras, João Nogueira: Discobiografia); Paulo Cesar de Araújo (Roberto Carlos em detalhes); Regina Zappa (Hugo Carvana; Cancioneiro Chico Buarque, vols. 1, 2 e 3; Para seguir minha jornada: Chico Buarque; Gilberto bem perto _com Gilberto Gil); e Ruy Castro (O Anjo Pornográfico: A vida de Nelson Rodrigues; Estrela solitária: Um brasileiro chamado Garrincha; Ela é carioca: Uma enciclopédia de Ipanema; Carmem: Uma biografia)

Na estreia, o festival reunirá biógrafos jornalistas, cuja influência no gênero é notável, sobretudo no Brasil. Na próxima edição, serão incorporados historiadores biógrafos, também responsáveis por obras fundamentais para conhecer o país.

Os autores que estarão em Fortaleza têm características distintas, mas todos são reconhecidos pelo talento para apurar e escrever.

Idealizei um evento com que eu, devorador de biografias, sempre sonhei: os grandes autores conversando sobre seu ofício.  Embora a discussão sobre o marco legal da produção biográfica vá ter óbvia relevância, a reflexão sobre “como se faz” e “por que se faz” não se diluirá. Para que os leitores não se frustrem, em bate-papos com escritores em excesso, que acabam com pouco tempo para falar, escalamos no máximo dois debatedores, com um mediador.

Uma pequena feira do livro será montada, com o máximo possível de títulos dos autores em catálogo, e não somente biografias. Depois dos bate-papos, estão previstas sessões de autógrafos.

* * * * *

Eis a programação literária:

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14 de novembro de 2013, quinta-feira

16h

A próxima biografia é sempre a melhor

Com Fernando Morais

Mediação Paulo Cesar de Araújo

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15 de novembro, sexta-feira

16h

Ciência e arte da biografia

Com Ruy Castro

Mediação Mário Magalhães

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16 de novembro, sábado

10h

No compasso da história: vidas de artistas

Com Regina Zappa e Humberto Werneck

Mediação Lucas Figueiredo

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16 de novembro, sábado

16h

De Noel a Roberto: como biografar mitos

Com João Máximo e Paulo Cesar de Araújo

Mediação Luiz Fernando Vianna

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17 de novembro, domingo

16h

De Maysa a Bussunda, de Getúlio a Giane: como escolher um personagem

Com Guilherme Fiuza e Lira Neto

Mediação Josélia Aguiar


Há 44 anos, Carlos Marighella era assassinado por agentes da ditadura
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Mário Magalhães

 

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Hoje faz 44 anos que o guerrilheiro Carlos Marighella foi assassinado em uma emboscada, na noite de 4 de novembro de 1969, da qual participaram ao menos 29 agentes da ditadura. Na alameda Casa Branca, em São Paulo, eles mataram o revolucionário de 57 anos que estava sozinho e desarmado.

A versão oficial da morte de Marighella foi uma das farsas mais longevas fabricadas pelo aparato repressivo de então. Mesmo partidários do veterano militante comunista referendaram falsificações, como o relato de que ele portaria um revólver _não carregava nem um canivete.

Ex-membro da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles inovou: antes de investigar o fuzilamento de Marighella, veiculou um relatório sobre o episódio. Vergonhosamente, reiterou cascatas plantadas há mais de quatro décadas pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, o comandante da tocaia.

As únicas imagens em movimento nas quais Marighella (1911-69) aparece são as acima, feitas pela TV Tupi. Nelas, o inimigo público número 1 da ditadura é mostrado morto. É possível que haja filmes de outras épocas, com ele vivo, mas não são conhecidos.

Nos nove anos em que me dediquei à biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras), dei três vezes com a voz do protagonista do livro, em áudios de 1946, 1967 e 1969.

As imagens da TV Tupi estão no site Banco de Conteúdos Culturais, um tesouro histórico. Na origem, elas foram classificadas como referentes à morte de Marighella “em combate com a polícia”. Mentira: ele estava desarmado e não contava com seguranças.

Outro filmete que sobreviveu é o da reportagem _difícil saber se foi ao ar_ do local onde Marighella foi enterrado, o cemitério da Vila Formosa (em 1979, seus restos foram transferidos para o cemitério Quinta dos Lázaros, em Salvador). A vinheta fala em enterro como indigente, mas na verdade ele recebeu uma sepultura de quarta classe. Na prática, inexistia diferença. O recado era o mesmo: quem ousasse, de que modo fosse, desafiar a ditadura acabaria em um lugar assim.

Quarenta e quatro anos depois, minha impressão é que, mais do que descrever Carlos Marighella como um bandido sanguinário e inescrupuloso, certa historiografia oficial tentou eliminá-lo da história.

Não conseguiu, como é fácil constatar, goste-se ou não de Marighella.


Ridícula não é a pergunta do repórter, mas a reação intolerante de Felipão
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Mário Magalhães

 

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Como se fosse um piá dando um chilique porque a mãe colocou rabanete na salada, Luís Felipe Scolari teve um faniquito ontem em entrevista coletiva, ao ser indagado sobre o caso Diego Costa. O atacante do Atlético de Madri, nascido em Sergipe, preferiu vestir a camisa da seleção espanhola, em vez da brasileira. Contrariou Felipão, que o chamara para amistosos.

Na introdução à pergunta que faria, o repórter Sérgio Rangel, da “Folha de S. Paulo”, mencionou o anúncio do técnico na antevéspera, cancelando a convocação de Diego. “Você ficou muito irritado”, disse o jornalista.

Scolari não reagiu, até Rangel avançar: “E você foi treinador da seleção de Portugal…”.

Só então Felipão chiou, como se vê no vídeo acima (para assistir, basta clicar na imagem): “Eu fiquei irritado?”. “Não coloquem palavras na minha boca.” “Não podem julgar a minha imagem. Têm que julgar as minhas palavras.”

Rangel prosseguiu: “Você foi treinador da seleção portuguesa, e o Parreira foi treinador de outras seleções… Qual é a diferença entre o caso dele e o caso de vocês?”

O entrevistado estrilou: “Não faça uma pergunta ridícula que vai ser meia (sic) chata. É uma desconexão total sobre o que tu tá perguntando”.

Com serenidade, o repórter insistiu, e o técnico declarou, sem explicar: “Eu vou te responder daqui a uns quatro, cinco anos”.

Alongando o piti, Scolari ameaçou terminar a entrevista e reiterou: “É ridícula”.

Não é o mais importante, mas registro: ao qualificar o técnico como “irritado” ao desconvocar Diego Costa, Sérgio Rangel foi fiel à imagem e às palavras de Felipão. O treinador afirmara, no vídeo veiculado no site da CBF: “Tratando-se de um atleta brasileiro, que não deseja jogar pelo seu país, numa Copa que será realizada no seu país, esse atleta está desconvocado automaticamente”.

O anúncio da terça-feira demonstrara irritação. Alguma dúvida? Basta assistir aqui.

O que se destaca no episódio de ontem é a intolerância de Scolari com qualquer atitude que não seja a bajulação a que se habituou, ainda mais depois do seu excelente trabalho na conquista do penta, em 2002, e da bem-sucedida passagem pela seleção portuguesa.

Acontece que nem todos os jornalistas são sabujos dos poderosos, no caso, do futebol. A pergunta era não apenas legítima, mas pertinente. Como Scolari trata Diego Costa como um traidor _é o que está implícito na menção repetida ao “seu país”_, se ele mesmo dirigiu Portugal em Copa do Mundo na qual o time canarinho competia e transformou em jogadores da seleção portuguesa dois atletas nascidos no Brasil?

Seu argumento de que Deco e Pepe não haviam jogado antes pela seleção brasileira é pueril, mas coberto de legitimidade. Nem por isso Sérgio Rangel carimba a desculpa como “ridícula”.

Se Felipão é fã do falecido Augusto Pinochet, problema dele. Mas o técnico da seleção brasileira não tem o direito de agir de modo intolerante como ontem.

O repórter não pergunta porque obrigatoriamente tem alguma curiosidade própria, mas para informar os leitores (e espectadores, ouvintes, internautas). Este é o seu ofício.

É também direito de Felipão preferir que o adulem. Mas constitui seu dever respeitar quem rejeita o servilismo e pratica jornalismo, não entretenimento.

Deve saber igualmente que é direito de todos os cidadãos, inclusive jornalistas, interpretar manifestações alheias. Mesmo que Scolari não se considerasse irritado com a opção de Diego Costa _mas estava_, um repórter tem o direito constitucional de expressar opinião contrária.

É inacreditável que em pleno século XXI ainda seja necessário bater nas mesmas teclas civilizatórias, ainda estranhas a redutos primitivos, intolerantes e autoritários do país.

Espero que a ira de Scolari contra o repórter da “Folha” nada tenha a ver com o costume saudável do jornalista de investigar falcatruas na CBF, tanto na gestão anterior quanto na que lhe deu continuidade. Sérgio Rangel integra a equipe vencedora em 2012 da principal categoria do mais tradicional prêmio jornalístico do país, o Esso. As reportagens premiadas desvendaram jogadas de Ricardo Teixeira.

No mais, continuo com o prognóstico para o Mundial elaborado ainda antes da Copa das Confederações. Está aqui.