Como PCB com Prestes em 1945, PSOL retira Freixo da disputa presidencial
Mário Magalhães
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Quase sete décadas mais tarde, uma decisão do PSOL para a eleição presidencial de 2014 reedita uma opção do PCB no pleito de 1945: os dois partidos de esquerda abriram mão dos seus principais nomes. Luiz Carlos Prestes não disputou o Palácio do Catete. Agora, Marcelo Freixo não concorrerá ao Planalto.
Esta é mais uma boa notícia para Dilma Rousseff, depois da sessão de Justiça que barrou a Rede de Marina Silva. A ausência do deputado estadual do Rio de Janeiro facilita ainda mais a pretensão da presidente de conquistar a reeleição já no primeiro turno. Além de suas próprias ações, determinantes para a liderança nas pesquisas de intenção de votos, Dilma se beneficia do forfait de adversários expressivos. Dividido entre o senador Randolfe Rodrigues e a ex-deputada federal Luciana Genro, o PSOL decide no próximo fim de semana quem será seu candidato.
Em 1945, o recém-libertado Prestes vinha de nove anos de cana. Aclamado no passado como Cavaleiro da Esperança, o mártir do Partido Comunista tinha condições de obter um extraordinário resultado, embora não de vencer. Sua agremiação apresentou-o nas cédulas de deputado e senador em vários Estados, expediente permitido pelas regras. Assim, vitaminou a votação na legenda. Prestes elegeu-se no Distrito Federal (a cidade do Rio de Janeiro) como o senador mais sufragado do Brasil.
Os comunistas lançaram para presidente um zé ninguém, Yedo Fiúza, que nem ao partido pertencia. O “Rato Fiúza”, como o difamava Carlos Lacerda, beirou os 10%. A recusa de Prestes ao confronto com Eurico Dutra, do Exército, e Eduardo Gomes, da Aeronáutica, derivou de dois propósitos: assegurar sua presença na Constituinte que se desenrolaria de fevereiro a setembro de 1946; e não incendiar o cenário político com a candidatura que arrastaria multidões _o slogan do PCB era “ordem e tranquilidade”.
O PSOL, minoritário mesmo na esquerda, está a léguas de rivalizar com a poderosa influência social do PCB de outrora. Assim como Freixo não tem o prestígio de Prestes. Mas, como o legendário dirigente comunista, Freixo tem mais audiência que o seu partido. No pleito para a Prefeitura do Rio, em 2012, transformou o minutinho da propaganda televisiva em perto de 30% dos votos. Ganhou dimensão Brasil afora combatendo as milícias do Estado, em um combate que levou 200 criminosos para a cadeia. Inspirou um dos heróis, o deputado Fraga, do filme “Tropa de Elite 2” _o campeão de bilheteria reconstituiu o choque com os milicianos. Herdaria numerosos eleitores de Marina.
Tudo de que o PSOL precisaria em 2014 seria um candidato com o potencial de Freixo, depois da trôpega campanha de 2010, com Plínio de Arruda Sampaio. Freixo unificaria o pequeno partido, cuja bancada na Câmara se reduz a três deputados. Porém, como Prestes em 1945, ele tentará o parlamento, isto é, a reeleição para a Assembleia Legislativa, virtualmente assegurada. Chico Alencar e Jean Willys concorrerão com boas chances a novo mandato na Câmara, pelo PSOL/RJ.
Procurei Freixo há pouco, por telefone, e o indaguei sobre seus motivos. O primeiro é de segurança: se ele perder o mandato parlamentar, o aparato que o protege de um sem-número de ameaças contra a vida dificilmente poderá ser mantido, e o deputado teria de se mudar para o exterior. Qualquer cidadão que vive no Rio sabe que a milícia costuma cumprir as ameaças que faz, e ninguém é tão odiado por essas quadrilhas quanto Marcelo Freixo.
O segundo motivo aproxima as razões do PSOL de hoje às do PCB de antanho: a ter um bom desempenho na corrida presidencial, mas ficar sem mandato, Freixo prefere permanecer na Assembleia para fortalecer o partido e o projeto da nova candidatura à prefeitura, em 2016. Prestes considerava que o mais importante naquele momento era batalhar no parlamento. Freixo, agora, também. “A vitória para a Prefeitura do Rio é algo no plano do possível”, ele disse. “O que pesa mais, o imediato ou o médio prazo?” O médio prazo é 2016.
Freixo estima que o PSOL pode pular de três para nove membros na Câmara. Ele queria Chico Alencar como postulante a presidente, mas o deputado federal não topou, devido à saúde (colocou pontes no coração). Agora, Freixo chancela Luciana Genro na contenda intestina do seu partido.
Enquanto isso, a presidente Dilma Rousseff reforça seu favoritismo.