Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : junho 2013

História – ‘Enforquem Mandela’, pediram jovens britânicos
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Mário Magalhães

Cartaz do começo dos anos 1980

( Para seguir o blog no Twitter: @mariomagalhaes_ )

“Enforquem Nelson Mandela e todos os terroristas do Congresso Nacional Africano [ANC, nas iniciais em inglês]. Eles são açougueiros.”

O cartaz acima foi distribuído no Reino Unido no início da década de 1980, quando o líder negro sul-africano ainda amargava a prisão iniciada em 1962. A imprensa o atribuiu à Federação dos Estudantes Conservadores, vinculada ao Partido Conservador e sobretudo à primeira-ministra da época, Margaret Thatcher (1925-2013).

A senhora Thatcher também chamou Mandela de terrorista. O CNA era a organização política anti-apartheid à qual Mandela pertencia.

Mandela não foi enforcado e conquistou a liberdade em 1990. De 1994 a 99, presidiu a África do Sul, consagrando o fim do regime de segregação racial, a despeito da enorme desigualdade social que ainda persiste. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

No momento em que Mandela, velhinho, está internado em estado grave aos 94 anos, não custa lembrar que, se dependesse de alguns estudantes britânicos ditos civilizados, ele estaria morto há muito tempo.


O poeta da Urca e o poeta de Copacabana
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Mário Magalhães

“Retrato de Armando Freitas Filho feito por Paulo Monteiro sobre foto de Daniel Marenco” – Folhapress

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Assim Ferreira Gullar abriu sua coluna dominical na “Folha”: “Ao chegar à caixa do supermercado, a moça que ali atendia me falou: ‘É verdade que o senhor vai parar de escrever poesia? Não faça isso, poeta, por favor!’. Não acreditei no que ouvira. Aquela moça, que mal conheço e passa o dia a cobrar pelas compras dos fregueses, sabe quem sou eu e lamenta que eu não vá mais escrever poesia! ‘Mas quem lhe disse isso’, perguntei, e ela: ‘Li naquele jornalzinho que o pessoal distribui de graça’.”

“Na boca dos vizinhos” é uma bela crônica, com esta reflexão: “Escrever ou não escrever poesia não é coisa que se decida”. A coluna pode ser lida aqui.

Na mesma edição, o jornal ofereceu um inspirado perfil do poeta Armando Freitas Filho. Intitulada “O dever do poeta”, a reportagem de Francesca Angiolillo colheu depoimentos como este: “Desde que comecei a escrever publicamente, eu sou um lento escritor. Agora, um escritor de todo dia. Comigo não tem essa coisa de esperar a poesia chegar: eu vou de encontro a ela. Se ela chegar, estou pronto para escrevinhá-la. Se ela não chegar, eu estou sempre em contato com ela, através da leitura, porque fui e sou um leitor compulsivo”.

De certo modo, duas relações distintas com a dita inspiração.

Com o perfil, a “Ilustríssima” trouxe quatro poemas inéditos de Armando.

Carioca, Armando Freitas Filho, 73, cresceu e mora na Urca.

O maranhense Ferreira Gullar, 82, passou boa parte da vida aqui no Rio, mais precisamente em Copacabana, onde ainda vive.

Ninguém pode dizer que o Rio não é uma cidade inspiradora.


De volta ao Rio depois de nove anos, editor vê ‘vagabundagem nos serviços’
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Mário Magalhães

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O jornalista Gilberto Scofield Jr. estreou sábado em “O Globo” a coluna “Panorama Carioca”. Ele é editor de Rio, a seção que cuida das notícias sobre a cidade. O colunista bronqueou: “No Rio, tudo parece tocado pela incompetência ou pela falta de qualidade”. Seu artigo pode ser lido aqui, no site do jornal.

E também abaixo:

Um Rio de serviços ruins

Voltei ao Rio em janeiro depois de nove anos entre as cidades de Pequim, Washington D.C. e São Paulo — nesta última morei três anos — e o tal do distanciamento crítico impôs uma pergunta que me faço todos os dias, desde que botei os pés aqui: por que diabos os serviços são tão ruins no Rio?

É certo que a qualidade dos serviços nunca foi exatamente uma maravilha. Mas, diante dos preços cobrados aos cariocas hoje, esta deficiência se transformou num deboche e numa irritação. Os serviços no Rio são caríssimos e inexplicavelmente ordinários.

Restaurantes cujos garçons não conseguem descrever um prato, bares onde é preciso ser Denise Stoklos para se fazer notar, casas de show incapazes de começar um espetáculo na hora, táxis com motoristas que perguntam antes para onde vai o cliente, balcões de informações com gente que não sabe nada, ônibus que são máquinas de matar, caixas de banco pouco solícitos, caixas de supermercado que jogam suas compras, vendedores de lojas que discriminam, hospitais com técnicos em enfermagem rabugentos.

No Rio, tudo parece tocado pela incompetência ou pela falta de qualidade. Ou os dois juntos. Dia desses, peguei um táxi com o motorista ouvindo um programa religioso. Aos berros. Peço gentilmente ao sujeito que abaixe um pouco o som. E ele: “Mais um sem Jesus no coração”. E eu : “Ele não está no meu coração porque está preso no meu tímpano. O senhor pode baixar o som, por favor?”. Ele abaixou uma coisa ínfima e foi resmungando até chegar ao destino.

No Jobi, o garçom pede uma cadeira vazia na mesa ao lado, ocupada por uma solitária mulher. A ocupante disse que esperava uma amiga, que já estava chegando, mas o garçom garantiu que não tinha problemas, que ele arrumaria outra cadeira. Quando a amiga chegou, a mulher chamou o garçom, mas ele disse que não podia fazer nada. Diante de reclamações indignadas, o garçom apontou a fila na porta: “Se você quiser ir embora, não tem problema. Tem um monte de gente querendo entrar”.

Um amigo vem sofrendo para agendar a entrega de uma estante nova e o conserto da TV a cabo porque as empresas marcam o dia, mas não se comprometem com horário, como se o sujeito tivesse um dia inteiro à disposição.

E há a falta de gentileza. Há coisa de duas semanas, fui à Chocolates Katz do Rio Sul, de que gosto muito, e enquanto bebericava um expresso (R$ 3,80) pedi para provar um cubinho de chocolate extra amargo. Uma delícia. Pedi cem gramas, um potinho de biscoito wafer coberto e a conta. E a atendente: “Vou cobrar seis gramas para incluir o chocolate que o senhor comeu”. Como assim? A prova? Mas se não fosse ela eu não gastaria R$ 35,34 em chocolate!

Um amigo foi ao Cafeína e precisou usar o laptop. Descobriu que a bateria estava acabando e chamou a garçonete: “Você teria uma tomada para eu ligar o meu computador?” E a menina: “Temos, mas o gerente diz que cliente não pode usar”.

Há quem explique essa vagabundagem nos serviços apelando para a História. O Rio sempre padeceu de bons serviços para a população porque sempre foi uma cidade dividida desde a Colônia. Para a elite — os senhores de engenho, a corte, os nobres, os governantes da capital, o topo do funcionalismo, os ricos —, tudo. Para os outros, a resignação. Quem mandou não ser “alguém”? Quem mandou não ter “conexões”? Ou seja: se você frequenta o lugar, é um rei. Se não frequenta, que se vire.

Eu prefiro acreditar nos mais pragmáticos: falta investir em treinamento. O que parece é que uma economia turbinada pelo consumo e por programas de redistribuição de renda saiu contratando quem estivesse disponível para trabalhar. E essa mão de obra simplesmente não foi (não é) treinada adequadamente. Só isso explica um cidadão ir a uma região administrativa da prefeitura e ouvir ali que “é mais fácil ligar para o 1746”.

Uma terceira corrente vê passividade nos cariocas. Para essa gente, o carioca não reivindica e não reclama. Uma cidade cheia de belezas naturais parece ser o suficiente e desculpar todas as falhas. Desde que a cerveja esteja gelada, tudo bem que a mesa é bamba e a cadeira, de plástico.

Está mais do que na hora de mudar isso, não?


‘Apartheid’ impera em estádios da seleção
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Mário Magalhães

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Neste domingo na Arena do Grêmio, como no novo Maracanã na semana passada, imperou a desgraça do tom monocolor: o público que frequenta os estádios onde a seleção joga não tem a cara dos brasileiros, povo mestiço que somos. Parece uma plateia nórdica, de tão branca, e não oriunda da combinação predominante de índios, africanos e europeus que constitui nossa raiz.

Certeiro como sempre, o Juca Kfouri já havia chamado a atenção para a aberração da audiência de elite na partida no Rio, contra a Inglaterra. A segregação racial se repetiu hoje na boa vitória de 3 a 0 sobre a França, em Porto Alegre.

A numerosa imigração portuguesa, italiana e alemã no Rio Grande do Sul criou a falsa ideia de que se trata de uma terra de brancos. Errado: a escravidão foi vasta no Estado. Os farrapos contaram com um batalhão de lanceiros negros na guerra de meados do século XIX. Porto Alegre já teve um prefeito mulato, Alceu Collares. Ronaldinho Gaúcho é o maior jogador revelado pelo Estado em todos os tempos. No começo dos anos 1800, metade dos milhares de moradores da freguesia de Pelotas era formada por escravos, que desembarcavam de navios negreiros no porto de Rio Grande. Não é à toa que o Carnaval desses dois municípios _Pelotas e Rio Grande_ com grande presença negra é dos mais animados da região Sul do Brasil.

Nada disso se viu na arena gremista. É evidente que a cor da torcida presente decorre do preço astronômico dos ingressos, no país onde a cor da pele interfere na renda, como comprovam as estatísticas.

Também é notório que esse ‘apartheid’ não é novidade nas partidas da seleção, sempre com bilhetes mais caros. Mas a brancura dos frequentadores parece ter se acentuado com os novos estádios.

Tecer essas observações seria incentivar o racismo?

Ou racismo é fingir que não se vê o que mostram as imagens na TV e na internet?

É normal o que ocorre? É assim que se constrói um país decente?


Na Casa de Tereza, um banquete baiano
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Mário Magalhães

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Em Salvador

Que santos e orixás me perdoem o sacrilégio, abrir com uma foto da sobremesa o elogio de um magnífico restaurante de comida baiana.

Explico-me. Todas as iguarias salgadas estavam tão boas que eu me esqueci de fotografar, eis a pura e humilhante verdade. Mas observo que o sorvete de tapioca com calda de frutas vermelhas e tuille de chocolate, batizado como Torta Mulata Assanhada, saiu-se esplêndido. E belo, sobre uma mesa coloridíssima, com pintura original.

É assim nesta Galeria Yemanjá, uma das quatro salas temáticas da Casa de Tereza, no bairro boêmio do Rio Vermelho, em Salvador: a pintura das mesas, as peças de arte nas paredes e a decoração têm como autores 11 artistas da Bahia. As outras salas do restaurante reverenciam os terreiros de candomblé, as igrejas barrocas e o artista plástico Bel Borba.

Mais importante que o ambiente, que também conspira para o prazer, são as obras de arte servidas pela cozinha comandada por Tereza Paim, a chef que dá nome ao estabelecimento inaugurado em 2012. É a sua segunda casa, mais propriamente um casarão, reformado durante dois anos. Ela já era dona do Terreiro Bahia, na Praia do Forte, uns 50 quilômetros ao norte de Salvador.

A Torta Mulata Assanhada foi o doce epílogo de um memorável jantar, que eu compartilhei com o a senhora C. e o senhor P., cúmplices de incursões nem sempre bem-sucedidas por mesas Brasil afora.

Tereza Paim se projetou ao introduzir variações em torno dos ingredientes clássicos e essenciais da culinária de sua terra. Esteve há pouco mostrando suas criações como convidada do Madrid Fusión, badalado congresso internacional de gastronomia.

É sempre arriscado. Há quem experimente demais, descaracterizando as raízes. E quem ouse pouco, variando apenas as pitadas de sal e pimenta. Os magos dos últimos anos foram chefs bascos e catalães, com uma revolução no fundo fincada profundamente na comida tradicional daquelas regiões da Espanha.

Com Tereza, os riscos não desandam a receita. Ela celebrou os sabores ancestrais, com um banquete que só não foi mais lauto porque os comensais já haviam se extasiado. E não tivemos disposição de enfrentar a maratona do menu degustação. Ficou para a próxima.

A primeira entrada foi uma telha de beijus com gratinado de siri.

Seguiram-se pequeninos acarajés com vatapá e camarão seco.

Sobrevieram, talvez no ápice da noite, camarões empanados com batata-baroa (chamada aqui, como em São Paulo, de mandioquinha) e caldo de maracujá.

Próximo passo, o mix de fritinhos, com três bolinhos diferentes: de peixe, camarão e feijoada com couve.

Tudo em companhia do branco Esporão Reserva, vinho português honesto.

Depois desse repasto bestial, quem haveria de encarar prato principal?

Nos três, de boa! Repartimos um, porque aqui inexiste o abuso de proibir divisão de prato, tão comum noutras paragens.

Já não lembro quem teve a ideia do vermelhinho frito, mas sei que me pareceu um tanto depressiva, no contexto da exuberância do cardápio. Como a fome já era pouca, não me opus. O peixe chegou à mesa protegido por uma crosta muito crocante. O resultado? Veja o que sobrou:

Enquanto a segunda garrafa de vinho era esvaziada, raspamos a sobremesa, também dividida.

A conta? Menor do que seria na churrascaria rodízio localizada a centenas de metros. E abaixo do que cobraria qualquer restaurante do Rio e de São Paulo com o mesmo padrão.

Para quem quiser conhecer melhor e ver mais fotos… a Casa de Tereza tem um site. Nele há também receitas, como esta de bobó de camarão.


História – Guarnieri e militante que inspirou seu personagem em ‘Anos rebeldes’ foram padrinhos no mesmo casamento
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Mário Magalhães

Guarnieri é o primeiro à esq.; Câmara Ferreira, de perfil, o último à direita… na foto

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Curiosidade histórica no ar, de segunda a sexta-feira, no Canal Viva, às 23h10: o personagem interpretado por Gianfrancesco Guarnieri na minissérie “Anos rebeldes” não é uma criação meramente ficcional, mas foi inspirado em gente de carne e osso.

O doutor Salviano, médico a quem Guarnieri (1934-2006) deu vida, tem no DNA o jornalista Joaquim Câmara Ferreira, assassinado no pau-de-arara em 1970. Outra figura evoca Câmara na minissérie exibida originalmente em 1992: o advogado Toledo, nome de guerra com que o jornalista se tornou conhecido na luta armada contra a ditadura instaurada em 1964.

No fim da década de 1950, Guarnieri e Câmara Ferreira foram padrinhos do mesmo casamento, entre a atriz Vera Gertel e o ator e dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho. Os noivos e os padrinhos militavam então no PCB.

Na foto acima, Guarnieri está à esquerda, de frente. Câmara, de perfil, à direita. O primeiro, como Vianinha, não viria a aderir à guerrilha. O segundo contou com a ajuda de Vera para a logística da Ação Libertadora Nacional, organização armada da qual ele era dirigente.

O doutor Salviano da TV é um veterano comunista que decide pegar em armas contra a ditadura _a mesma trajetória de Câmara. Em um sequestro de embaixador estrangeiro, o médico é o mais velho, espécie de “comissário político”, do mesmo modo que Câmara foi na captura do embaixador dos Estados Unidos, em 1969. Há muitas outras semelhanças.

No sequestro de “Anos rebeldes”, João Alfredo, vivido por Cássio Gabus Mendes, reproduz o comportamento do guerrilheiro Carlos Lamarca em episódio parecido. Lamarca foi morto em 1971.


‘Inferno’ 4 a 1 sobre Padre Marcelo, no novo ranking dos best-sellers
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Mário Magalhães

 

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Acaba de sair o novo ranking do Publishnews, a principal referência do mercado de livros do país. Na semana de 27 de maio a 2 de junho, a principal novidade é que “Kairós”, do Padre Marcelo, perdeu o segundo posto para “O silêncio das montanhas”, de Khaled Hosseini.

“Inferno”, romance de Dan Brown, continua tranquilo em primeiro lugar, com 23.729 exemplares vendidos na semana. “Kairós” somou 6.443. Arredondando, a média é de quatro por um. Embora faça o levantamento mais amplo, o Publishnews  dá conta de 30% a 50% do total de cópias comercializadas, conforme projeções que já ouvi de editores e livreiros.

Suponho que tenham sido feitas muitas brincadeiras com o título do sucesso de Brown e o nome do Padre Marcelo, mas não resisti a perpetrar mais uma, com o “placar” lá em cima. Para conhecer a pesquisa completa do Publishnews, basta clicar aqui.

Registro obrigatório: muitos grandes livros jamais alcançaram as listas de best-sellers, que tantas vezes são ocupadas… deixa pra lá.


Alex, o Peter Parker do futebol, poderia ter ido mais longe
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Mário Magalhães

Alex, na vitória de ontem – Foto Albari Rosa/Agência de Notícias Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo

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Mesmo com mais time e dominando boa parte do jogo, o Fluminense perdeu para o Coritiba de Alex. Ou, melhor, perdeu para o Alex do Coritiba. Porque o meia deu um passe para gol e marcou um golaço na vitória de ontem por 2 a 1, que promoveu a equipe paranaense à liderança do Campeonato Brasileiro.

Foi seu 400º gol na carreira. Como de hábito, esse estilista do meio-campo pareceu um vaga-lume. Em muitos momentos, luminoso, decide. Em outros, apaga-se. É um dos poucos boleiros de clubes do país que honram a palavra craque.

Alex, 35, poderia ter ido ainda mais longe no futebol, não fosse sua ciclotimia. Digo “mais longe” porque ele foi longe, é um vencedor. Mas não manteve, em momentos decisivos e períodos duradouros, o desempenho que é capaz de atingir. Com os milagres que obra com a perna esquerda, merecia uma história mais bem-sucedida na seleção.

Escrevi sobre ele em 2004, na “Folha”. Na época, Tobey Maguire encarnava o Homem-Aranha. Guardo a mesma impressão ainda hoje: Alex, tremendo jogador, é o Peter Parker do nosso futebol.

Eis a croniqueta “Alex e a alma de Peter Parker” (julho de 2004):

Encanta multidões, nas telas de todo o planeta, uma das melhores aventuras de super-herói já filmadas, “Homem-Aranha 2”. Conta a depressão de Peter Parker, sua crise existencial, a perda de poderes, a volta por cima contra o satânico Dr. Octopus e o conforto no colo de Mary Jane.

Os palcos do Peru exibem a bela história de um craque marcado pela fama de sestear durante as partidas. O camisa 10 que submergiu com o time olímpico na Austrália, micou na passagem pelo Flamengo, enrolou-se com uma transferência malograda para o Parma, frustrou-se como deserdado da Família Scolari, renasceu no Cruzeiro, viu Kaká roubar-lhe o lugar na seleção de Parreira e agora constrange, jogando muita bola, aqueles que o secam com olhos de urubu.

O fotógrafo mora numa espelunca. Não tem dinheiro para pagar o aluguel. Deve ao jornal um adiantamento. Fracassa como entregador de pizzas. Sente-se culpado pela morte do tio. Falta-lhe esperteza até para descolar canapé em coquetel. Patina na faculdade. Bate com a moto. Mancha as roupas caretas de Parker ao lavá-las misturadas com a roupinha fashion de Aranha. Nega fogo à mulher que ama. Pior, convive com os moles que uma baranguinha anoréxica lhe dá.

Na Olimpíada de 2000, o estilista do meio-campo virou boneco de Judas em Sábado de Aleluia. Perder para Camarões com dois a menos foi mesmo demais. Naufragou com a equipe improvisada por Felipão na Copa América de 2001. Descuidou-se com o peso e a taxa de gordura, como reconheceu aos repórteres Cosme Rímoli e Silvio Barsetti. Gorducho e irregular, não contestou quem dele dizia alternar genialidades e sonecas em campo.

Peter Parker tocou o fundo quando lhe faltaram as teias. Atirou as vestes de Aranha numa lata de lixo. Tirou o time, rasgou a fantasia. Fotografou o noivado da amada com um bobão.

Alex viu Ronaldinho Gaúcho, parceiro de infortúnio olímpico, ser reabilitado na Copa do penta. Não conseguiu assistir à final na TV. Bem que podia estar lá.

Parker tomou coragem e confidenciou à tia seus fantasmas com o tio morto. Os escrúpulos se impuseram, e ele ressuscitou o Aranha para salvar Nova York e Mary Jane. Ficou com sua garota. Até o próximo grito de socorro.

Alex carregou o Cruzeiro ano passado no Campeonato Brasileiro. No banco da seleção, entrou no fim de alguns confrontos. Como se haveria na Copa América? No domingo, marcou de pênalti. Roubou a bola e a passou para Adriano fazer mais um. Arrumou para Kleberson disparar o chutão, numa jogada que acabou com a bola na rede. Brilhou com quase meia-dúzia de embaixadinhas na coxa. Anteontem, seu pé esquerdo esteve na origem do gol de empate. E acertou o pênalti que eliminou o Uruguai.

O Homem-Aranha reviveu mais forte depois do baixo-astral. Alex escapou do inferno para viver dias inspirados na seleção. Como o Aranha, tem resolvido as paradas. É o nosso Peter Parker.


Site da Fifa ainda erra ao marcar retirada de ingressos da Copa das Confederações
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Mário Magalhães

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Na terça-feira à noite, às vésperas da Copa das Confederações, o cidadão comprou no site da Fifa ingressos para parte da família assistir ao jogo entre Espanha e Taiti, pela primeira fase da competição.

Em um setor mais modesto do novo Maracanã, porque o preço é salgado, e três filhos, o irmão adolescente e o próprio cidadão tornam o programa caro.

Depois de se enrolar com um sem-número de itens do formulário, o cidadão fracassou duas vezes. Na terceira, fez tudo certinho, mas o sistema deu pau na hora do pagamento com cartão de crédito, e foi preciso começar tudo de novo.

Escaldado, o cidadão precisou de menos da metade do tempo limite, 20 minutos, para enfim adquirir as entradas. Chateou-se porque, apesar de informar a data de nascimento dos “convidados” (assim chamados pela Fifa) e enfatizar que são estudantes, todos tiveram que pagar inteira. Inclusive o caçula de seis anos. Mas a garotada queria ir, vida que segue.

Foi então que o cidadão tentou agendar a retirada dos bilhetes, em um hotel no centro do Rio. Como mostra o registro acima, com alguns dados apagados pelo blogueiro, foram oferecidas só duas datas: 26 e 27 de junho.

Apenas um pequeno inconveniente: Espanha (ou Catalunha, região de nascimento da maioria dos prováveis titulares) e Taiti entram em campo uma semana antes, no dia 20 de junho à tarde.

O cidadão persistiu, sem sucesso.

Só na manhã da quarta-feira foi possível resolver, depois da chegada de um e-mail confirmando a compra e pedindo para marcar a a entrega dos tíquetes. Agora, sim, vai dar tempo de buscar.

Para quem exige tanta eficiência do Brasil, a Fifa poderia pelo menos dar exemplo.

P.S., transparência: quem desconfiou está certo, o cidadão sou eu mesmo.


O cara é gênio
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Mário Magalhães

Luis Fernando Verissimo, gênio da raça – Foto Zanone Fraissat/Folhapress

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Luis Fernando Verissimo, hoje:

“MOTIVO

Da série ‘Poesia numa hora dessas?!’

Ele em Porto Alegre

onde o aeroporto

vira e mexe

fecha.

Ela em São Paulo

onde tem nevoeiro

de janeiro a janeiro.

Resultado: o amor acabou.

Por nenhum motivo concreto

_por falta de teto.”

A coluna de Verissimo pode ser lida aqui.