Por que Temer (ainda) não caiu
Mário Magalhães
Michel Temer, o missivista agonizante, ainda não caiu sobretudo por dois motivos.
O primeiro é o interesse em sua permanência, mesmo nas cordas, demonstrado pelo empresariado mais graúdo. Aquele que os louvaminheiros chamam de ''o PIB''. O grosso dos donos das finanças, da indústria, do agronegócio e do comércio mais endinheirado. Receiam que, sem o anfitrião de Joesley Batista, não prosperem as ditas reformas da legislação trabalhista e da Previdência Social. São mudanças, no formato atual, que contribuirão para aumentar a concentração de renda. Portanto, para agravar a desigualdade já obscena. Aos trancos e barrancos, as ''reformas'' avançam, empurradas pelo governo.
O segundo motivo diz respeito aos grandões que integraram a coalizão política e econômica que patrocinou a aventura presidencial de Temer mas já desistiu dele. Por acreditar que o autor da cartinha de queixumes endereçada a Dilma Rousseff não reúne mais poder suficiente para tocar as famigeradas reformas. Esse segmento, contudo, treme ao pensar num vazio político que facilitaria a convocação de eleições diretas antecipadas para o Planalto. Só se dispõe a se desfazer do marido de Marcela quando tiver celebrado um pacto que entregue a Presidência a alguém ungido por deputados e senadores, sem a consulta ao conjunto dos eleitores. Prefere o risco de caos ao imprevisível das urnas. Só dará o pontapé fatal em Temer, que se equilibra à beira do abismo, se tiver fechado um acordo sobre seu sucessor. Um sucessor que imponha as ''reformas'' goela abaixo.
Como as leis da história às vezes são mais fortes do que os conchavos, as manifestações de rua pelo Fora, Temer! e por Diretas Já podem complicar as combinações por cima.
Esse é o quadro da manhã de 1º de junho de 2017 _a situação tem mudado mais rápido que ministro da Justiça de Michel Temer.