Flamengo e Maracanã nasceram um para o outro, mas turma da pesada atrapalha
Mário Magalhães

Maracanã em festa na noite da 4ª-feira – Foto Pedro Ivo Almeida/UOL
Com primeiro tempo de candidato a campeão da Libertadores e segundo de time pouco inspirado do Estadual, o Flamengo venceu o Atlético-PR por 2 a 1.
Avassaladora na metade inicial da primeira etapa, a equipe mostrou que sabe como se deve jogar a competição continental conquistada em 1981.
Porém precisa aprender que, se é fisicamente impossível acelerar o tempo todo, não se pode desacelerar em excesso, senão passam por cima.
Foi a terceira boa atuação na Libertadores. A derrota na segunda rodada, quando foi melhor que a Universidad Catolica, decorreu de deficiência técnica _desperdício de numerosas chances de gol.
O Diego foi um monstro na largada, com um gol, uma bola na trave e um passe que deixou o Guerrero na cara do Weverton. Saiu contundido mais tarde.
O peruano marcou depois de um passe do seu compatriota Trauco. O centroavante ganhou duas vezes do Thiago Heleno, até colocar a bola no gol.
O Trauco, que passou da lateral à meia ou à ponta esquerda devido a um piriri do Mancuello, foi muito bem.
Quando se recuperar, o Éverton terá de disputar posição com o Trauco (se o Éverton retomar seu lugar, supõe-se que o Renê sairá, com o Trauco regressando à lateral).
A dobradinha Renê-Trauco pela esquerda funcionou, ótima sacada do Zé Ricardo.
Apesar de o Renê ter vacilado no lance em que o Nikão, impedido, anotou para os visitantes _o Furacão ficou mais com a bola, contudo pouco ameaçou.
O Márcio Araújo reforçou a convicção: entre um volante com mais técnica e outro com menos, ambos com sangue fervendo nas veias, fico com o de mais técnica.
Mas se o de mais técnica não lutar como o de menos técnica, prefiro este, que honra a camisa que veste.
O Márcio Araújo, volante menos técnico que dá gosto de ver se matando pelo time, esteve muito bem no Maracanã.
A noite confirmou o que já se sabia: o Flamengo e o Maracanã nasceram um para o outro.
No Maracanã, o Flamengo é mais Flamengo.
E o Maracanã é mais Maracanã quando os rubro-negros pelejam no gramado e a torcida colore o estádio.
É lamentável que no Campeonato Estadual e talvez no Brasileiro (regras a definir) o Flamengo deixe de jogar no Maracanã.
Possibilidade que existe mesmo na Libertadores.
A concessão do estádio inaugurado 67 atrás deveria voltar à estaca zero.
Na reconstrução, Odebrecht e Andrade Gutierrez pagaram R$ 60 milhões de propina ao ex-governador Sérgio Cabral, de acordo com executivos das empreiteiras.
A Odebrecht dominava o consórcio que ganhou a concessão para operar o Maracanã.
Ainda hoje a Odebrecht controla a concessionária.
Até outro dia o secretário estadual de Esportes era Marco Antônio Cabral, filho do presidiário Sérgio Cabral.
O atual governador é Luiz Fernando Pezão, afilhado político de Sérgio Cabral e alvo de delações por corrupção.
Com esse pessoal, como encarar a concessão do Maracanã em vigor?
É imprescindível recomeçar. Há meios judiciais para isso.
Com os clubes, qualquer clube, tendo o direito de protagonizar a disputa pelo estádio.
Também o Flamengo.
Porque, sem o Flamengo, o Maracanã não é Maracanã.
E o Flamengo necessita do Maracanã, onde jogou e venceu duas vezes na Libertadores 2017.
Só não pode ser vítima de esquemas da turma da pesada.
À empresa francesa Lagardère, que talvez assuma o estádio, interessaria um acordo com o Flamengo.
O clube não deveria, no entanto, aceitar condições escorchantes.
Quem passaria o Maracanã para a Lagardère não seria o Estado do Rio de Janeiro, mas a Odebrecht.
Depois de tudo que se sabe sobre as tramoias com o Maracanã, quem leva isso a sério?
Séria é esta certeza: o lugar do Flamengo é o Maracanã.