Odebrecht omite de comunicado a palavra ‘crimes’ e diz que cometeu ‘erros’
Mário Magalhães

Odebrecht: protagonista de roubo de dinheiro público, como corruptora – Foto Janine Costa/Reuters
Seria inacreditável se não se tratasse da Odebrecht: a empreiteira aproveitou a divulgação da lista gorda do ministro Edson Fachin, determinando a abertura de inquéritos, para contar vantagem.
Isso mesmo: numa petulância assombrosa, emitiu comunicado se jactando de contribuir para a operação Lava Jato.
Como vão comprovando as investigações e as confissões dos figurões da construtora, a Odebrecht consagrou-se campeã nas décadas recentes em roubalheira de dinheiro público.
É ou foi corruptora do imenso clube de corruptos que não poupa nenhum dos partidos grandes, do PT ao PSDB, do PMDB ao PP e o DEM.
Eis a abertura da nota [leia a íntegra clicando aqui]: ''As providências agora adotadas no Supremo Tribunal Federal decorrem de uma decisão tomada de forma consciente pela Odebrecht há pouco mais de um ano. Em março de 2016, sob o título 'Compromisso com o Brasil', a Odebrecht anunciou, em comunicado público, que tomara a decisão 'por uma colaboração definitiva com as investigações da Operação Lava Jato'. Estava escrito nesse comunicado, e a Odebrecht reafirma agora: 'Esperamos que os esclarecimentos da colaboração contribuam significativamente com a Justiça brasileira e com a construção de um Brasil melhor'''.
A Odebrecht, seus donos e executivos cometeram crimes de várias espécies, uma suruba de arromba com o Código Penal.
Ainda assim, a declaração de ontem não contém a palavra crime. A empresa de tantos crimes limitou-se a mencionar ''erros''. Sem perder a pose: ''Desde então, após a colaboração dos executivos e ex-executivos, a Odebrecht reconheceu seus erros, pediu desculpas públicas e assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça, e também com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Esse acordo impôs rigorosas multas e sanções para que a empresa continue em atividade''.
Deveria reconhecer, ontem, hoje e sempre, os crimes de sua autoria. Não somente nos tribunais, mas também em manifestações públicas.
A companhia alardeia: ''A Odebrecht está fazendo a sua parte neste Compromisso com o Brasil. Já adotou um novo modelo de governança e está implantando normas rígidas de combate à corrupção, com vigilância permanente para que todas as suas ações, principalmente na relação com agentes públicos, ocorram sempre dentro da ética, da integridade e da transparência''.
Para ser de fato levada a sério, a empreiteira não deveria esconder as palavras ''crime'', ''criminosos'' e variantes.
Não é a primeira vez que a Odebrecht se pronuncia e se recusa a escrever com todas as letras o que fez.
Nota de dezembro falou em ''vícios'', ''grande erro'', ''desvios'' e ''prática imprópria''. Fugiu da palavra certa.
Como o blog assinalou então, prática imprópria é coçar o patrimônio em público. Crime é outra coisa.
Pelo visto, não foi um tropeço, mas jogada pensada. Os comunicados da Odebrecht calam sobre crimes.
Parece que a empreiteira supõe que Marcelo Odebrecht está preso por causa de ''erros''.
Errar todo mundo erra, e nem sempre vai ou tem de ir em cana.
Quando o erro é crime, aí é outro papo.