Chuteiras: a cabeça do Neymar parece ainda não estar à altura dos pés
Mário Magalhães
Antes que algum idiota da objetividade advirta que a cabeça do Neymar só estará à altura dos pés quando ele estiver deitado, cabe enfatizar que o craque brasileiro supremo parece mesmo padecer mais de limitações em cima do que embaixo.
O amadurecimento do Neymar, 25, tem contribuído para sua ascensão rumo à condição de maior jogador do Barcelona e do mundo.
Pelo visto, contudo, o atacante ainda está um pouquinho verde.
Dias depois de repetir que o Messi o ensinou a ser mais tolerante com apitadores cretinos e a manter o foco no jogo, o Neymar vacilou.
Anteontem, levou um amarelo, depois outro, e acabou na rua.
Não foi o único responsável pela derrota desmoralizante do seu clube frente ao Málaga, porém contribuiu para o revés.
Quando o Barça precisou da sua estrela hoje em melhor forma, não contou com ela. Perdeu por 2 a 0, em partida na terra do Picasso.
Para piorar, o aplauso irônico e irresponsável para a arbitragem ao sair pode custar a presença do Neymar no clássico contra o Real Madrid. A decisão deve sair amanhã.
O segundo amarelo poderia ter sido evitado. Já sancionado na primeira etapa, o Neymar atropelou o Diego Llorente numa disputa secundária, na esquerda do ataque blaugrana.
O primeiro cartão reforçou especulações. O amarelo foi mostrado depois de o Neymar permanecer diante da bola numa cobrança de falta para o adversário. O juiz Gil Manzano escreveu que lhe pediu para se afastar, e o brasileiro não obedeceu. O que fazia o Neymar? Amarrava as chuteiras.
O diário ''Mundo Deportivo'' contabilizou: nas últimas semanas, foi a sexta vez que Neymar se abaixou para amarrar as chuteiras ou trocá-las.
De tão amiúde, o gesto provocou reações.
Em entrevista na sexta-feira, o técnico Luis Enrique deixou por menos.
O ''Mundo Deportivo'' publicou o que é talk of the town em Barcelona: ''Neymar não se pronunciou, mas cresce a sensação de que suas interrupções para cuidar das chuteiras se devem a uma questão comercial, para promover a empresa que o patrocina (Nike)''.
O jornal não é de Madrid, onde vigora aversão pelo time do Messi, mas sim da cidade catalã. É pró, e põe pró nisso, Futbol Club Barcelona.
Será o fim da picada se o Neymar tiver sido amarelado para aparecer, diante da bola parada, com suas chuteiras estilosas.
Mesmo que não tenha sido esse o motivo, foi irresponsabilidade dar dois moles para receber dois amarelos _e o vermelho. E ''aplaudir'' a expulsão.
Mais ainda sabendo que o Gil Manzano tem um histórico, ao menos recente, de favorecimentos ao Real Madrid.
No sábado, com razão, o Luis Enrique reclamou dos critérios distintos do apitador ao castigar o Neymar, enquanto as botinadas contra o brasileiro e o Messi eram toleradas quase sempre sem punição.
O Neymar vacilou, o Barcelona não jogou nada, idem o Messi, e o título espanhol ficou mais distante.
Amanhã tem Champions, com visita à Juventus, em Turim.
Se a cabeça estiver à altura dos pés, o Neymar tem tudo para repetir os desempenhos espetaculares deste ano.
Quando ele quer, consegue: a expulsão em Málaga foi sua primeira na equipe catalã.
Nunca o Barcelona dependeu tanto dele.