Para entender os ataques de Doria contra Lula e de Ciro contra Moro
Mário Magalhães
São mais do que parecem os ataques virulentos de João Doria contra Luiz Inácio Lula da Silva e de Ciro Gomes contra Sergio Moro.
O prefeito atira no ex-presidente, mas seus alvos principais são outros.
O ex-ministro fustiga o juiz, no entanto seu foco está longe do Paraná.
Não que o tucano Doria não ache que o petista Lula seja ''mentiroso'', ''o maior cara de pau do Brasil'', ''sem vergonha'', como tem dito (além de prometer ''visitá-lo em Curitiba'', com Lula em cana).
Pode até achar, e aqui não se trata do mérito das declarações, e sim dos propósitos.
Doria busca se cacifar como grande antagonista de Lula para derrotar no PSDB os três arraigados pretendentes à Presidência. A impressão no partido é que Aécio Neves e José Serra terão as pretensões frustradas pela Lava Jato. Geraldo Alckmin sairia ferido, porém vivo _não é prognóstico do blog, mas avaliação entre próceres peessedebistas. Portanto, Doria competiria sobretudo com o governador, seu padrinho político. Bate em Lula para crescer na disputa intestina com Alckmin. O prefeito vai virando o porta-voz de segmentos sociais com aversão ao ex-presidente e ao petismo.
Noutro contexto, acontece o mesmo com Ciro Gomes. O pedetista chama Sergio Moro de exibicionista, de autor de decisões contrárias à democracia. Proclama que, se o juiz tentar prendê-lo, receberá ''a turma dele na bala''.
Também não há motivo para supor que o ex-ministro e ex-governador não pense de fato o que fala sobre Moro _despreze-se a bravata da bala, assim como é bravata a eventual visita de Doria a Lula preso.
Mas há um interesse, mais do que complementar, prioritário de Ciro Gomes. O PDT mantém duas convicções: uma nova candidatura de Lula ao Planalto tornaria pouco viável a de Ciro; é provável, na opinião dos pedetistas, que a Justiça impeça Lula de concorrer. Na hipótese de o ex-presidente ficar fora, Ciro ocuparia o seu lugar como o predileto de milhões de eleitores, em especial no Nordeste _é o que consideram seus correligionários. Ainda que o PT encabeçasse chapa própria, não teria um nome com força para sufocar o do antigo governador do Ceará.
Confrontando Moro, Ciro marca pontos com a base lulista que maldiz como injustas e persecutórias as sentenças do juiz contra o ex-presidente. Ciro age para se fortalecer como herdeiro dos votos que não poderiam ser dados a Lula, de quem foi ministro, em caso de barração pela Justiça.
As urnas estão distantes, mas o jogo de 2018 vai sendo jogado.