Palavras malditas (22): descontinuar
Mário Magalhães
Outra noite informaram na TV que um programa científico público foi descontinuado.
Pelo rádio, eu soube que ameaçam descontinuar o fornecimento de leite para crianças pobres.
Toda semana noticiam a descontinuação de um periódico impresso.
Está errado? Não.
Mas o propósito do verbo descontinuar não é esclarecer e enfatizar, e sim eufemizar o fato.
Ele é mais suave para contar que preferiram gastar 6 bilhões de reais com veículos militares blindados a investir em ciência.
Falando descontinuar, parece menos imoral o sacrifício da alimentação de estudantes cujas famílias não têm como supri-la em níveis saudáveis.
Quando se escreve descontinuar, em vez de acabar, terminar, extinguir ou fechar, busca-se adoçar a pílula amarga.
Andam empregando tanto esse eufemismo que logo perguntarão a alguém como vai o casamento e ouvirão como resposta:
''Resolvemos descontinuar''.
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Eis as palavras malditas anteriores (clique em cima, se quiser ler):
1) emblemático;
2) instigante;
5) não resistiu;
6) um verdadeiro;
7) amigo pessoal;
8) vítima fatal;
10) evidência;
11) conferência de imprensa; coletiva de imprensa;
13) estrategista;
15) oficial;
17) elo de ligação;
18) literalmente;
19) crime passional;
20) via de regra;
21) inauguração.