Palavras malditas (14): tantas vezes menor
Mário Magalhães
Este é um caso em que o idioma executa o crime, mas não é o autor intelectual.
A língua compartilha a culpa com a física e a matemática. Isto é, com o desconhecimento dessas matérias.
Se uma pilha tem quinhentos tijolos e outra, cem, o sujeito tasca: a segunda é cinco vezes menor que a primeira.
Na papelaria, o freguês escolhe um globo, e o vendedor compara: este é três menor que aquele.
Trata-se, com os tijolos e o globo, de uma impossibilidade.
Um objeto uma vez menor que ele significa zero, ou nada. Não existe.
Tudo só pode ser reduzido até o seu limite físico, portanto uma vez, ou cem por cento _cheque especial são outros quinhentos, até porque aí os juros multiplicam a dívida, e põe multiplica nisso!
A pilha maior representa cinco vezes a primeira, 400% mais.
O globo maior, três vezes o tamanho do pequeno, acréscimo de 200%.
O que o pessoal deveria dizer é que a pilha menor equivale a um quinto da maior, ou 20%.
E o globinho, a um terço ou 33,3% do modelo mais parrudo.
Sabem onde eu mais leio e ouço a fórmula ''tantas vezes menor''?
Não é no desdenhado jornalismo esportivo, clube em que militei por anos e do qual ainda me considero sócio.
Mas na cobertura de economia, seção em que em tese o domínio de números seria maior, para o jornalista não se deixar engambelar por economistas.
( O blog está no Facebook e no Twitter )
*
Eis as palavras malditas anteriores (clique em cima, se quiser ler):
1) emblemático;
2) instigante;
5) não resistiu;
6) um verdadeiro;
7) amigo pessoal;
8) vítima fatal;
10) evidência;
11) conferência de imprensa; coletiva de imprensa;
13) estrategista.