Blog do Mario Magalhaes

Palavras malditas (14): tantas vezes menor

Mário Magalhães

Máquina de escrever de meados dos anos 1960 – Reprodução “The New York Times''

 

Este é um caso em que o idioma executa o crime, mas não é o autor intelectual.

A língua compartilha a culpa com a física e a matemática. Isto é, com o desconhecimento dessas matérias.

Se uma pilha tem quinhentos tijolos e outra, cem, o sujeito tasca: a segunda é cinco vezes menor que a primeira.

Na papelaria, o freguês escolhe um globo, e o vendedor compara: este é três menor que aquele.

Trata-se, com os tijolos e o globo, de uma impossibilidade.

Um objeto uma vez menor que ele significa zero, ou nada. Não existe.

Tudo só pode ser reduzido até o seu limite físico, portanto uma vez, ou cem por cento _cheque especial são outros quinhentos, até porque aí os juros multiplicam a dívida, e põe multiplica nisso!

A pilha maior representa cinco vezes a primeira, 400% mais.

O globo maior, três vezes o tamanho do pequeno, acréscimo de 200%.

O que o pessoal deveria dizer é que a pilha menor equivale a um quinto da maior, ou 20%.

E o globinho, a um terço ou 33,3% do modelo mais parrudo.

Sabem onde eu mais leio e ouço a fórmula ''tantas vezes menor''?

Não é no desdenhado jornalismo esportivo, clube em que militei por anos e do qual ainda me considero sócio.

Mas na cobertura de economia, seção em que em tese o domínio de números seria maior, para o jornalista não se deixar engambelar por economistas.

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Eis as palavras malditas anteriores (clique em cima, se quiser ler):

1) emblemático;

2) instigante;

3) eu, particularmente;

4) circula com desenvoltura;

5) não resistiu;

6) um verdadeiro;

7) amigo pessoal;

8) vítima fatal;

9) figurinha carimbada;

10) evidência;

11) conferência de imprensa; coletiva de imprensa;

12) barbaramente torturado;

13) estrategista.