Blog do Mario Magalhaes

Palavras malditas (13): estrategista

Mário Magalhães

Na “Tribuna da Imprensa”, em 1986, eu escrevia a máquina – Foto multtclique.com.br

 

Tinha deixado pra lá as palavras malditas, não por carência de matéria-prima, sempre abundante, mas porque eu me sinto um cri-cri, tratando de trivialidades em meio a episódios relevantes.

Relevantes como a lista do Dunga (cadê o Thiago Silva?!?) ou o jogo do Flamengo hoje à noite contra o Coritiba, recorde de público do Campeonato Brasileiro deste ano. A chance de ficar a dez pontos do líder. E de dormir embalado pelo sonho utópico de chegar lá.

Mas se o Luis Fernando Verissimo, que é craque, arrisca poesia numa hora dessas, um jogador apenas esforçado, como eu, também tem direito de cometer umas rimas.

Na verdade, inexiste rima, mas maltrata os tímpanos como versos sem inspiração: em campanhas eleitorais e crises, não há mais em ação marqueteiros, publicitários, consultores, assessores. Essa turma agora é ''estrategista''.

De acordo com o ''Houaiss'', estrategista é  ''aquele que é versado em estratégia'', ''pessoa a quem é atribuída determinada estratégia''. A palavra tem registro em português ao menos desde 1873. Mas é apropriada a assuntos militares, enfatiza o dicionário.

Eu poderia culpar a CNN por ter contribuído para o jornalismo brasileiro adotar a tradução literal de ''strategist''. James Carville foi o strategist-estrategista de campanha presidencial do Bill Clinton.

Mas assim se fala nos Estados Unidos. O Brasil nomeava os especialistas em marketing político com outras denominações, até bolarem uma supimpa: marqueteiro.

Dilma, Aécio, Marina não têm estrategistas, mas marqueteiros, que cuidam de publicidade e propaganda. Participam da definição de estratégias e táticas, na condição de marqueteiros.

A culpa não é da CNN, mas nossa.

Noutros ramos, como o das finanças, ''estrategista'' também vingou, porém não me incomoda tanto (o ''estrategista-chefe'' de um banco).

Na política, agride os ouvidos, despreza a sacada ''marqueteiro'' e renova a mania de imitar por imitar.

O problema não é o inglês: ''marketing'' é palavra inglesa que incorporamos sem culpas.

O pior é que estrategista não parece modismo. Veio para ficar.

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Eis as palavras malditas anteriores (clique em cima, se quiser ler):

1) emblemático;

2) instigante;

3) eu, particularmente;

4) circula com desenvoltura;

5) não resistiu;

6) um verdadeiro;

7) amigo pessoal;

8) vítima fatal;

9) figurinha carimbada;

10) evidência;

11) conferência de imprensa; coletiva de imprensa;

12) barbaramente torturado.