Blog do Mario Magalhaes

Bela sacada de Zubizarreta: Barça de Guardiola era contracultura do futebol
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Mário Magalhães

Zubizarreta, então diretor de futebol, na apresentação de Suárez no Barcelona- Foto reprodução

 

Antigo goleiro da seleção espanhola, o basco Andoni Zubizarreta participou como diretor de futebol do maior turbilhão do mundo da bola no século 21, o Barcelona treinado por Pep Guardiola.

Zubizarreta e Guardiola eram titulares no Barça de Johan Cruijff que perdeu para o São Paulo de Telê Santana o Mundial de 1992.

Desde que o técnico Pep deixou, por vontade própria, o clube catalão em meados de 2012, ele e Andoni nunca mais se falaram.

Foi o que Zubizarreta contou em entrevista ao jornal espanhol ''Marca''.

Ele disse que a partida de Guardiola talvez tenha sido sua maior derrota como executivo.

E olha que ele teve outra grande. Foi demitido em janeiro de 2015, em meio à crise com revés em campo e confronto entre Messi e o treineiro Luis Henrique.

Na sua gestão, chegaram à equipe Neymar e Suárez. Zubizarreta não teve tempo de curtir, no cargo que ocupava, o trio MSN conquistar os títulos europeu e planetário.

Há muita coisa interessante na entrevista. Zubizarreta confirma que Suárez não era a primeira opção para contratar, e sim o Kun Agüero. Sou mais o Suárez, mas falar agora é fácil. Não sei quem escolheria lá atrás.

O momento mais inspirado é este: ''Pep trouxe ao Barça algo totalmente diferente, um olhar inovador, distinto, contracultural. Ele via coisas que nós não víamos''.

Zubizarreta matou a charada: o Barcelona de Guardiola (2008-2012) foi o triunfo da contracultura no futebol.

Como tantas vezes, a contracultura se tornou _ou vai se tornando_ hegemônica e perdeu a condição anterior.

Mas permanece o encanto.

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Verão
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Mário Magalhães

Por Caco Galhardo, na "Folha" (17.jan.2016)

Por Caco Galhardo, na ''Folha'' (17.jan.2016)


Deu zebra
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Mário Magalhães

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Grades enferrujadas na ''casa'' do leão marinho – Foto Gabriel de Paiva/Agência O Globo-out.2015

 

A Maria tinha uns três anos quando desabou em pranto no Museu Nacional, na visita à coleção de animais empalhados. “O que foi, filha?”, perguntei. Aos soluços, ela respondeu com outra pergunta: “Por que eles tinham que morrer?”

Não lembro se colou o meu papo sobre ciclo da vida. Sei que ela chorou até quase se desidratar. Poderia ter sido diferente se não passássemos antes pelo jardim zoológico, vizinho ao museu, na Quinta da Boa Vista. Separados por poucos passos, um recanto de bichos vivos e um de bichos mortos. Talvez naquele dia a Maria tenha descoberto o que é a morte.

Eu a apresentara ao zoológico por onde tantas vezes passeara com a minha mãe e o meu pai. E aonde tanto iria com os irmãos da Maria que ainda estavam por chegar. Acho que as crianças nunca repararam que quem mais se divertia não eram elas. Era eu, que nunca deixei de fazer careta para os macacos imitarem.

Nas últimas vezes, deu dó o abandono dos animais. Como encontrava o leão e o tigre dormindo ou bocejando, arrumei um apelido para preguiçosos irrecuperáveis (e humanos): bicho de zoológico. Uma injustiça, aprendi com os saudáveis hóspedes do zoo de San Diego, na Califórnia.

O do Rio não tem mais leão. Em idade provecta, o único que lá vivia adormeceu para sempre. A girafa Zagallo também, fulminada por uma comida que não superou a prova de obstáculos naquele pescoção. Complicações de coluna liquidaram a zebra.

“Deu zebra no zoo do Rio!”, estampou hoje o Meia Hora. Quem apareceu ontem no lugar sem zebra, leão e girafa surpreendeu-se com o imenso portão fechado. O Ibama interditou o zoológico de grades enferrujadas, bicharada magrela e água suja. A reprodução de espécies raras parou faz tempo. A última reforma acabou em 1993. O Extra bronqueou: “Que mico, prefeito!”

A cidade com caixa para erguer museu high-tech e ginásios esportivos de outra galáxia larga à própria sorte mais de 2.000 animais. Preguiçoso não é o tigre, mas quem o desampara. Preguiçoso e mau, pois é maldade machucar coração de criança. Criado na época do antigo zoológico, em Vila Isabel, o jogo do bicho permanece firme e forte, enquanto na Quinta meninas e meninos se entristecem.

Feito o chileno Santiago, de cinco anos, que queria conhecer araras como as do filme Rio. Voltará para casa frustrado. Nem todas as lembranças do zoológico serão felizes.

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Segundo Muricy, Guerrero regrediu no Fla por falta de aparelho para treinar
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Mário Magalhães

Muricy Ramalho comanda treino do Flamengo durante a pré-temporada em Mangaratiba

 

Inacreditável!

Sabe por que o desempenho do Guerrero foi caindo em 2015?

Por decadência física do atacante!

Qual o motivo dela?

Falta de equipamentos adequados para a preparação atlética do jogador do Flamengo!

Isso mesmo, do Flamengo, não do Grêmio Atlético Farroupilha.

Tal diagnóstico pareceria coisa de intrigante ou paranoico, não fosse o autor.

Ninguém menos que o Muricy, novo técnico rubro-negro.

Entrevistado pelos repórteres Carlos Eduardo Mansur e Eduardo Zobaran, o treinador manteve o estilo nada diplomático.

A pergunta: ''O julgamento foi duro com o Guerrero no ano passado?''

A resposta do Muricy: ''Foi. Estudamos os dados para entender o 12º lugar e por que se ganha seis partidas, com o Guerrero arrebentando, e perde sete em oito. No Flamengo, o cara chegava muito bem treinado. Mas, pela falta de aparelhos, ele destreinava, baixava a parte física. Não pode um jogador desse nível e categoria chegar tão forte e, de repente, cair. Não é por ele, é pela parte física''.

Repetindo: ''pela falta de aparelhos, ele destreinava, baixava a parte física''.

O amadorismo no Flamengo é mais grave do que se imaginava.

A esperança é o tempo verbal, pretérito imperfeito: destreinava.

Logo, supõe-se que os aparelhos enfim foram providenciados…

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Com o perdão dos fãs de Alan Rickman (1946-2016)
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Mário Magalhães

Rickman também vive o rei Luis 14 em "Um Pouco de Caos", estrelado por Kate Winslet

Alan Rickman tinha fãs de todas as gerações – Foto Jemal Countess/Getty Images

 

Às vésperas do aniversário de 70 anos, Alan Rickman morreu hoje.

Suponho, a considerar os amigos mais próximos, que seja imensa a confraria de fãs do ator inglês.

Dos mais velhos aos, apresentados a ele em ''Harry Potter'', mais jovens.

Peço perdão, mas continuo com a velha impressão: Alan Rickman interpretava sempre o mesmo papel, com as mesmas afetações, a tal fleuma britânica.

Mal principiava o filme, já se via Alan Rickman interpretando Alan Rickman.

Do Severo Snape, na saga do bruxinho, ao baixo-astral Harry de ''Love Actually''/''Simplesmente Amor''.

Era um canastrão, acabei de dizer a uma moça que sabe das coisas.

''Não acho, não!'', ela cortou, encerrando a conversa.

Vá em paz, Alan Rickman.

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Tá resolvido
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Mário Magalhães

Por Adão Iturrusgarai, na "Folha" de hoje

Por Adão Iturrusgarai, na ''Folha'' de hoje


Aos 143 anos, 3º jornal mais antigo do Brasil deixa de circular em papel
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Mário Magalhães

blog - o mossoroense

Primeira página da última edição impressa; na internet, a luta continua

 

Faz quase 22 anos que eu mal entrara na residência do jornalista potiguar Lauro da Escóssia Filho quando o anfitrião me chamou para conhecer um móvel de madeira. O belo armário escuro ficava no corredor. Pensei que o dono da casa retiraria um livro ou fotografia para recordar batalhas de outrora. Recordou-as, mas apontando para alguns orifícios. Com o sorriso tímido que nunca o abandona, disse a seco, como um estampido:

''Bala. Tiro''.

Diante do meu espanto, emendou:

''Ser jornalista no Sul é fácil. Quero ver aqui''.

Estávamos em Fortaleza, mas o jornalista falava de Mossoró, segunda cidade mais populosa do Rio Grande do Norte.

Lá, seu bisavô Jeremias da Rocha Nogueira fundou em 1872 o jornal ''O Mossoroense''. A Abolição e a República ainda estavam por vir. A nova publicação, panfletária como era o padrão da época, batia-se por aquelas causas. Como quase todos os periódicos, viveria os seus grandes e pequenos momentos. O armário furado é troféu de guerra, testemunha de um atentado contra o jornal e Escóssia Filho, já no comando da redação.

No dia 31 de dezembro de 2015, há menos de duas semanas, ''O Mossoroense'' publicou sua derradeira edição em papel, 143 anos, dois meses e 15 dias depois da primeira que circulou.

De acordo com o ranking da Associação Nacional dos Jornais, ''O Mossoroense'' é o terceiro jornal mais antigo do Brasil (para ''O Mossoroense'', da América Latina). Mais jovem apenas que o ''Diário de Pernambuco'' e o carioca ''Jornal do Commercio''. Mais velho que os veteraníssimos ''O Estado de S. Paulo'' e o gaúcho ''Correio do Povo''.

A luta de ''O Mossoroense'' continua, 100% na internet. ''O papel de informar não tem limite'', proclamou sua manchete final impressa. O diretor de Redação, Cid Augusto, assinalou: ''Nosso papel é a notícia. E o mundo, nosso limite''.

O silêncio na gráfica não surpreende. O diário ganhou sua versão on line em 1999. No princípio, os acessos somavam uma centena por jornada, em contraste com os 5.000 exemplares impressos. Nos últimos tempos, não rodavam mais de mil jornais por dia, na cidade de 290 mil habitantes, enquanto as visualizações no site alcançam 80 mil. Seus leitores dividem-se por 59 países _a Índia só perde para o Brasil e os Estados Unidos.

A mudança permitirá a ''O Mossoroense'' se concentrar na plataforma com mais leitores. A recessão que castiga o país deve ter contribuído para a extinção do formato impresso. Mas o fim é sobretudo produto da fadiga do dito modelo de negócios que permitiu a pujança das companhias jornalísticas no século 20.

Agora, há menos leitores do jornalismo impresso, cujas tiragens despencam. E menos anunciantes, que costumavam responder pela maior fatia das receitas. As diferentes mídias se concentram numa só plataforma, a internet, onde se colhe mais audiência e se busca, com dificuldades, o faturamento publicitário do passado. O jornal em que eu engatinhei como repórter, a ''Tribuna da Imprensa'', acabou. O ''Boston Globe'', diário norte-americano muito comentado por causa do filme ''Spotlight: Segredos revelados'', foi vendido em 2013 por US$ 70 milhões _custara US$ 1,1 bilhão 20 anos antes. Não vi em nenhum canal de TV o jogo do Barcelona pela Copa do Rei na semana passada, e sim pelo Youtube, de graça (o ''de graça'' é sempre relativo, mas os espectadores não tiveram de pagar pela transmissão).

Em 1917, João da Escóssia, avô de Lauro da Escóssia Filho, importou da França uma impressora Marinoni. Sem impressora, não havia jornal. Foi a Marinoni que rodou a edição em que, num furo histórico de 1927, o repórter Lauro da Escóssia (pai) entrevistou na cadeia o cangaceiro Jararaca, do bando de Lampião. Logo depois, mataram Jararaca, hoje reverenciado como santo por muita gente. A impressora está exposta no museu municipal de Mossoró.

Que jornais ainda se animam a investir em impressoras? Elas são, contudo, vitais às editoras, pois os livros impressos mantêm e devem continuar mantendo a hegemonia em relação aos e-books.

A despedida de ''O Mossoroense'', patrimônio do jornalismo brasileiro, em papel não sugere que todas as publicações impressas terão idêntico destino, que será o de muitas delas. Mas que conviverão cada vez mais jornal em papel e jornal digital, lido (e assistido e ouvido) principalmente em dispositivos móveis.

Lauro da Escóssia Filho, 83, vendeu _ou de alguma forma foi obrigado a vender_ ''O Mossoroense'' na década de 1970. Ele representa a quarta geração consecutiva de jornalistas de sua família. Uma filha assegurou a quinta. Pelo que eu tenho reparado na gurizada lá em casa _uma neta e um neto de Lauro_, dificilmente haverá sexta geração.

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Com Neymar, seleção é favorita ao ouro olímpico. Mas lembrai-vos de 1996
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Mário Magalhães

O garoto tem estilo, dentro e fora do campo – Foto Michael Buholzer/AFP

 

Tudo indica que Neymar, um dos três maiores craques do planeta (para mim, o segundo), disputará mesmo o torneio de futebol olímpico em agosto.

Seria uma tremenda bola fora o Barcelona impedi-lo de jogar a competição que ele quer jogar.

Com Neymar em campo e a torcida lotando os estádios, o Brasil é o favorito ao ouro.

Como se sabe, a única conquista importante do futebol que não temos é a da Olimpíada.

Nosso time deve, portanto, reunir força máxima em casa: a nata dos melhores jogadores até 23 anos, mais os três sem limite de idade, um deles Neymar.

Contrasta com a Argentina, que não trará Messi, que conduziu sua seleção ao topo em Pequim-2008.

O técnico Tata Martino pretende poupá-lo, como a outras estrelas, para as Eliminatórias da Copa de 2018, que continuam no segundo semestre.

A despeito do favoritismo, e de Argentina e Alemanha não contarem com suas elites futebolísticas, nada indica que será fácil.

No meio-campo brasileiro, Fred estará em busca de ritmo, depois do ano de suspensão por doping, a encerrar a semanas da estreia em Brasília, a 4 de agosto.

Rafinha, meia do Barcelona, está parado há meses, em recuperação de cirurgia.

Lucas Silva por enquanto não empolgou nem no Real Madrid, nem no Olympique de Marselha.

Sobre os adversários, sei pouco ou nada sobre vários, inclusive a Nigéria.

Os nigerianos nos ofereceram em 1996 uma lição que não deve ser ignorada vinte anos mais tarde.

Na Olimpíada de Atlanta, o Brasil não conheceu a sede dos Jogos.

A primeira fase foi em Miami, e a semi e a disputa do bronze, em Athens, no mesmo Estado, a Georgia, onde fica Atlanta.

Aqui, se liderar sua chave, na fase inicial, e superar as quartas, a seleção fará a semifinal no Maracanã, mesmo palco da decisão do ouro.

No papel, tínhamos um timaço nos Estados Unidos. No gramado, um time competitivo.

Contávamos com três veteranos da conquista do tetra, dois anos antes: Aldair, Bebeto e Ronaldo (Fenômeno).

Boleiros que participariam das campanhas do vice no Mundial de 1998 e do penta de 2002: Rivaldo, Roberto Carlos, Dida, Luizão e Juninho Paulista.

Além de jogadores bons ou muito bons, como Sávio, Zé Maria, Amaral, Narciso, Zé Elias e André Luís.

Como então ficamos com o bronze, e não o ouro?

Porque futebol não se decide no nome ou na camisa, embora esta pese.

Na estreia, a seleção perdeu do Japão por 1 a 0. Não me lembro de salto alto lá no Orange Bowl, mas é evidente que tal placar só foi possível devido à confiança excessiva da equipe de Zagallo.

A soberba foi deixada de lado, e alcançamos a semifinal contra a Nigéria.

Poderíamos ter vencido os africanos, vencíamos, mas sofremos a virada.

Nosso grupo era de alto nível.

O do adversário, com Kanu, Okocha e companhia, também.

Mas o elenco do Brasil, a história demonstra, era melhor.

Goleamos Portugal por 5 a 0 e saímos em terceiro.

Na finalíssima, a Nigéria bateu a Argentina por 3 a 2.

Trocando em miúdos, a seleção brasileira, com Neymar, é a favorita no Rio-2016.

Mas, se papel decidisse jogo, já teríamos a medalha olímpica de ouro, não somente a de 1996, que ainda nos falta.

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