Blog do Mario Magalhaes

Deposição de Dilma Rousseff terá para sempre a marca de Eduardo Cunha
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Mário Magalhães

O grande operador do impeachment – Foto Ueslei Marcelino/Folhapress

 

Num país onde viceja a hipocrisia, a safra de hipócritas estabelece recordes em 2016.

A excitação e gozo de muita gente com a recém-anunciada renúncia de Eduardo Cunha à presidência da Câmara contrasta com a excitação e gozo dessa mesma gente nas jornadas em que se bateu ao lado do deputado na conspiração para depor a presidente constitucional Dilma Rousseff.

É gente que encenou ter descoberto a ilegitimidade do velho chapa de Paulo César Farias depois que ele manipulou a tramitação do impeachment e comandou a obscena sessão de 17 de abril.

Aquele domingo sombrio foi decisivo para dar sinal verde à coalização favorável à derrubada da presidente eleita com 54.501.118 votos.

Notório já à época pelo que se sabia e supunha ter ele feito, Cunha foi indispensável para apressar e permitir o avanço do impeachment.

''O impeachment só tá acontecendo por causa do Eduardo Cunha'', reconheceu o deputado Paulinho da Força.

Até hoje inexiste prova ou indício de que Dilma tenha embolsado dinheiro público.

Um tipo enrolado com um sem-número de acusações de roubalheira e patifaria foi seu algoz.

Operou para um consórcio social, político e econômico poderoso.

Até expulsar Dilma do Planalto.

Michel Temer presidente é filho de Eduardo Cunha.

O desastroso segundo mandato da presidente, sobretudo por impor sacrifícios aos mais pobres, não elimina o caráter legítimo do poder chancelado pelo sufrágio popular.

Dilma não cometeu crime. Pedaladas e manobras fiscais são meros pretextos para destituí-la.

No acaso de Cunha, a hipocrisia alcança o paroxismo com o festejo de quem firmara pactos para a sobrevivência do capo da Câmara, desde que ele acossasse Dilma.

A ofensiva de Cunha contra Dilma foi também vingança pela decisão dos deputados petistas de cassar o mandato dele por mentir aos seus pares.

O acordão para salvar Cunha frustrou-se devido à intervenção da Justiça, que o afastou da chefia da Casa _embora tenha permitido que ele permanecesse até o 17 de abril. E por novas descobertas e ações de policiais federais e procuradores da República.

A deposição de Dilma Rousseff, se confirmada pelo Senado, estará para sempre marcada pelas digitais de Eduardo Cunha.

Eis mais uma evidência do golpe contra a democracia maquinado por ele e seus aliados pró-impeachment.

A queda de Cunha, mais ainda a possível perda do mandato, é boa notícia para o Brasil.

Já seria ontem e anteontem, quando muitos dos que agora parecem exultar tramavam abraçados a Cunha a ruína de Dilma.

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Cadê Cabral?
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Mário Magalhães

Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí – Foto Carlos Magno/CCS

 

Não que sejam injustas as manifestações que se ampliam no Rio contra o governador licenciado Luiz Fernando Pezão e o governador em exercício Francisco Dornelles.

Mas elas não fazem justiça plena à história quando omitem ou subestimam a condição protagonista de Sérgio Cabral, o artífice supremo das políticas que empurraram o Estado à bancarrota, às vésperas dos Jogos Olímpicos.

A indigência descrita no decreto de calamidade pública assinado por Dornelles e sentida no cotidiano dos cidadãos é fruto do que o antigo governador semeou.

Foi Cabral quem indicou seu vice para sucedê-lo, bem como quem abençoou a chapa com Dornelles secundando Pezão. Indicara Eduardo Paes para concorrer à Prefeitura do Rio. Costurou os acordos que permitiram até há pouco a convivência desarmada entre os próceres do PMDB fluminense _ele, Paes, Pezão e o cada vez mais influente Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa.

Em vez aproveitar o boom do petróleo e outras commodities para o desenvolvimento social do Rio, Cabral viveu os dias de dinheiro farto em relações promíscuas com empresas privadas.

A farra na França com o empreiteiro Fernando Cavendish retratou o despudor.

As ditas delações premiadas de executivos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez informam a tabela que estimulava a excitação em convescotes como o parisiense: o governador embolsaria propina de 5% do orçamento nominal das obras públicas.

No Maracanã, em cuja reconstrução foi dilapidado R$ 1,2 bilhão, o agrado teria alcançado R$ 60 milhões.

A empreitada foi tocada pelas duas construtoras cujos funcionários agora denunciam corrupção de Cabral, mais a Delta de Cavendish.

Gente próxima a Sérgio Cabral vinha dizendo nos últimos tempos que tudo o que ele desejava daqui em diante era gozar a vida. Sem ambições políticas maiores, ao menos eleitorais.

Desde as Jornadas de Junho de 2013, quando centenas de milhares de pessoas o xingaram, o antigo governador sabe que suas possibilidades nas urnas se extinguiram.

Para emplacar na eleição de 2014, Pezão teve de esconder o padrinho. Só levou devido à rejeição de Marcelo Crivella, decorrente do vínculo do senador com a Igreja Universal do Reino de Deus.

Cabral tornou-se carente de votos, não de poder. O tipo sorridente que gargalhava com Lula articulou os votos da bancada do PMDB do Rio para defenestrar Dilma Rousseff.

Com Cavendish em cana, cresce o perigo para ele, que permanece entocado _e intocado. Já não circulava pelas ruas, por temer reações.

De vez em quando é lembrado. Na semana passada, professores da Uerj protestaram no Leblon em frente ao prédio onde mora o ex-governador. Gritaram ''não tem arrego/ você tira o meu salário/ e eu tiro o seu sossego''.

Não é esse, contudo, o tom geral. Dornelles exerce ou aparenta exercer o governo, Picciani pretende sucedê-lo num arranjo dias após a Olimpíada, Pezão luta para sobreviver. E Sérgio Cabral?

O ex-comunista, ex-tucano e eternamente dono de alma peemedebista continua sumido, sem se pronunciar sobre a ruína do Estado.

Ninguém é tão responsável por tantas desgraças como ele, ainda que os sócios sejam numerosos.

É hora de Sérgio Cabral falar.

E de responder à Justiça, para ser condenado ou absolvido.

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Heber Roberto Lopes e a síndrome de coadjuvante frustrado
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Mário Magalhães

Se queria aparecer, na final da Copa América, o apitador conseguiu – Foto Adam Hunger/Reuters

 

Longe que tenho andado do teatro, ignoro se sobrevive um tipo habitual nos palcos, o do coadjuvante que não se conforma com sua condição e tenta ofuscar o protagonista.

Não com a excelência de atuação, que permite a um ator que vive o Ed Mort ombrear com o intérprete do Analista de Bagé ou mesmo roubar a cena.

Mas abusando de maneirismos e trejeitos até quando seu personagem está calado num canto. Sem propósito algum, a não ser o de aparecer.

Tenho pensado na síndrome de coadjuvante frustrado ao acompanhar o desempenho de Heber Roberto Lopes.

O apitador abusa do expediente de, em vez de empregar cartões e cumprir a regra, entreter-se em conversas infindas com jogadores que adverte verbalmente.

Fala, fala, fala, seja na final da Copa América ou no clássico entre Flamengo e Corinthians.

Enquanto fala, as câmeras focam em um ou outro jogador e, é claro, no juiz.

O comportamento inusual chama a atenção.

Pródigo no conversê, Heber não consegue identificar para quem mostra o vermelho _como na decisão em Nova Jersey.

E não vê _o erro da bandeirinha não justifica_ um impedimento ostensivo de rubro-negro.

Mais: numa tesoura do Fagner sobre o Ederson, seria legítimo discutir se o alvinegro merecia cartão, amarelo ou vermelho.

Mas o soprador não deu nem falta.

Ao ver Zé Ricardo reagir com gestos, expulsou sumariamente o técnico do Flamengo. Que não disse uma só palavra ofensiva que Heber tenha percebido _ou não ofensiva, como se lê na súmula.

Não foi por esse motivo que o Corinthians goleou por 4 a 0.

Mas o fato de a expulsão insana não ter sido determinante para o placar não a torna menos grave.

Heber Roberto Lopes havia dado vexame na Copa América, onde aproveitou para aparecer muito, ao lado de Messi, Vidal e outros craques.

Como prêmio por mais um 7 a 1 do futebol brasileiro, agora com árbitro, escalaram-no para a partida entre os clubes de maior torcida do país.

Se queria aparecer, Heber conseguiu.

Ele aparenta achar que apitador tem de ser protagonista no futebol.

Não tem.

Só se torna protagonista quando abusa de bisonhices e injustiças.

Por isso, Heber Roberto Lopes deixou de ser coadjuvante.

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Apoio de cariocas à Olimpíada não passa de 49%; só 41% dizem ter interesse
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Mário Magalhães

blog - centro olimpico

Mensagem no parque olímpico da Barra, em junho – Foto do blog

 

A poucas semanas da cerimônia de abertura, o apoio dos cariocas à realização da Olimpíada é de 49% _arredondando, a metade. São contrários 31%, e 19% não são contra ou a favor.

É o que mostra pesquisa realizada pelo Sesc RJ e a FGV Projetos publicada pelo jornal ''O Globo'' (''Otimismo que supera barreiras e sobe ao pódio''). Foram entrevistadas 2.400 pessoas, de 19 de maio a 1º de junho.

Somente 41% dos moradores da cidade responderam estar muito interessados ou ao menos interessados nos Jogos (com a proximidade das provas, o índice certamente aumentará).

A maioria, 61%, aposta que ''o desempenho do Rio como sede'' será um sucesso.

Não há informação de levantamento anterior da FGV Projetos sobre a opinião dos cariocas a respeito da Olimpíada.

Do ponto de vista técnico, é incorreto comparar pesquisas de opinião com métodos diferentes.

Mas o abismo com resultado anterior apontado pelo Ibope é tamanho que o bom senso permite afirmar que a aprovação caiu.

Em setembro de 2015, o secretário municipal Pedro Paulo Carvalho anunciou que, de acordo com o Ibope, 73% dos habitantes do Rio apoiavam receber a competição.

O Datafolha havia constatado em 2014 redução do endosso aos Jogos entre a população do Estado do Rio de Janeiro.

Ao contrário do que dá a entender o surto pitaqueiro às vezes precipitado, tecnicamente inepto, partidário, de olho em negócios ou votos, bairrista, mais de torcedor do que de analista, bajulador ou niilista, contra ou a favor da Olimpíada, ainda é cedo para saber como os cariocas reagirão a ela durante o evento e depois do encerramento.

Se houver percepção de que os Jogos sacrificaram os cidadãos, é provável que a maioria lamente a indicação festejada em 2009.

O governador interino Francisco Dornelles, ao decretar o estado de calamidade pública, afirmou que despesas e investimentos com a Olimpíada contribuem para a pindaíba do Estado.

Há muitos compromissos não cumpridos. Com a Rio 2016, trombetearam, viriam a despoluição da baía de Guanabara e de lagoas da zona oeste. Ficou na promessa.

Em contraste, o sistema viário ganha três corredores expressos de ônibus (sistema BRT), a ampliação do metrô até a Barra e os bondes modernosos (VLT) na região central _com atrasos e mudanças problemáticas em linhas de ônibus. Se prevalecer o sentimento de que o transporte melhorou graças à Olimpíada, a aprovação tende a crescer.

Há cenários indefinidos, a despeito de relatos categóricos alardeando que está tudo nos conformes (não está) ou que os atrasos porão tudo a perder (puro chute ou vontade).

A impressão de quem visita o complexo esportivo de Deodoro é de corrida contra o tempo.

Já no parque olímpico da Barra, como testemunhei nas últimas semanas, é cada vez menor o número de operários, o que indica que está quase tudo pronto.

Uma coisa é certa: a imensa chance de desenvolvimento social do Rio oferecida pelos Jogos não foi aproveitada.

Se terá valido a pena ou não, são outros quinhentos.

Por enquanto, cada vez menos cariocas pensam que sim.

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Sabáticas: O narrador errado se deu bem
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Mário Magalhães

O fracasso na cama foi, erradamente, para a conta do Cony – Foto Daniel Marenco/Folhapress

 

O romancista peruano Mario Vargas Llosa viajava no avião rumo a um arquipélago do Atlântico quando outro passageiro o abordou com reverência: “Não sabe quão importante foram o senhor e seus livros na minha vida”. Sem dar tempo para o autor de Tia Julia e o Escrevinhador agradecer, o leitor devotado emendou: “Cem Anos de Solidão foi muito importante”.

Generoso como tantos de seus personagens, o escritor poupou o fã de Gabriel García Márquez, o gênio colombiano que nos legou a obra-prima passada em Macondo, de saber que conversava com o homem errado.

Confusões assim não são incomuns. Numa festa literária brasileira, o jornalista e escritor Zuenir Ventura ouvia elogios rasgados de admiradores, até que um deles chamou um amigo: “Vem ver o Saramago!”. Noutra edição, tomaram-lhe pelo artista e pensador Millôr Fernandes. “Este ano ele não pode vir”, disse Zuenir, certamente rindo por dentro _Millôr morrera dois anos antes.

Às vezes, acaba mal. Na ponte aérea, uma senhora bem-apanhada se achegou ao cronista e compositor Antônio Maria. Ela pensava ter encontrado o escritor que venerava, Carlos Heitor Cony. Com o clima esquentando, o co-autor do samba-canção Ninguém Me Ama manteve a ilusão e, depois de desembarcar, embarcou numa aventura amorosa com a leitora. E então?, perguntou Cony, quando o amigo confidenciou o caso. E então que na hora agá você brochou, contou Maria.

Testemunhei episódio semelhante, duas décadas atrás, num país distante. Uma repórter bebericava no bar do hotel com um narrador esportivo. “Adoro os seus bordões”, ela murmurava, antes de recitá-los um por um. Só que o locutor era outro, e ficou na dele. Antes de tomar o último gole do Kir Royal e partir, vi os dois sorrindo encantados.

(MM, publicado originalmente na revista Azul Magazine, janeiro de 2015)

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Lição de Consuelo de Castro, a amiga epistolar
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Mário Magalhães

Valeu, Consuelo – Foto Danilo Verpa/Folhapress

 

Para quem não conheceu a autora de teatro Consuelo de Castro, conhecendo-a, ou conheceu-a, não conhecendo, uma de suas virtudes mais assombrosas foi não perder a capacidade de se indignar. E também de se comover. Até o fim.

Consuelo morreu de câncer na madrugada de ontem, aos 70 anos, em São Paulo. Seu filho, Pedro Venceslau, escreveu sobre a mãe. Como escreveram Camila AppelNelson de Sá e Aimar Labaki.

Conheci Consuelo lendo sua peça ''À prova de fogo'', escrita nos anos 1960 em meio à incandescência das batalhas contra a ditadura. Censurada, demoraria a ser montada. A dramaturga madura manteria o punch da estreante.

Nunca estivemos juntos, mas de janeiro do ano retrasado até o junho de sua despedida trocamos e-mails. Quase sempre breves e urgentes, as conversas começavam com a recusa de Consuelo ao que tanta gente boa passou a tolerar. Ela rejeitava o comodismo, repelia a mediocridade, cultivava a curiosidade, era amor e fúria.

Acho que não ficaria chateada por eu compartilhar algumas mensagens dela. É um modo de homenageá-la. Suprimi comentários agudos sobre peças, uma prosa de memória romântica endereçada a um colega dramaturgo (belíssima, ignoro se ficcional) e pitacos que só se dão entre amigos.

Releio-a agora: ''Isso aí, amigo querido, pau nesses bostas!'' Boa inspiração, para sempre.

Consuelo não era ligada em futebol, mas viveu com paixão a Copa no Brasil. Reconheceu-se num jogo:

''O futebol está me dando lições: essa virada da Holanda entra num registro muito pessoal: quando, junho do ano passado, descobri que tinha uma recidiva de câncer _só que desta vez inoperável, embora seja, sem modéstia, uma pessoa emocionalmente forte, me abati, vi o beco. Então pensei: e se o Drauzio estiver sendo exato? E se a perspectiva de cura não for só uma esperança gentil? De todo modo, vou botar fé na químio. Não me restava alternativa a não ser acreditar. Fui vencendo todas as etapas da minha copa pessoal e dois meses atrás o último PET SCAN atestou que os tumores regrediram cerca de 80 por cento. A químio passou a quinzenal, estou cheia de energia, fazendo minha própria comida, escrevendo, lendo muitooo, estudando história do Brasil, curtindo os amigos, os colegas de ofício, a família e sobretudo o Antônio, meu netinho E então penso que só quando o árbitro diz é que acabou. Até o último minuto do segundo tempo dá tempo de ganhar''.

A correspondência é de 29 de junho de 2014. Por mais dois anos e um dia Consuelo não se entregou. Que grande e generosa lição.

Valeu, Consuelo!

*

Trechos de mensagens de Consuelo de Castro

 

Quando menina, aprendi com o maestro Mignone, no Colégio Rio Branco, a  ouvir/cantar o hino nacional com a mão no coração. É o que automática e afetivamente ainda faço: a mão vai direto ao peito aos primeiros acordes e quase sempre me emociono. Recentemente tenho percebido que a mão hesita, treme, e as lágrimas já não vêm.

*

Chorei.

*

Será que vamos para o Caos TOTAL? (Agosto de 2014)

*

Que depoimento forte, que mulher forte, que emoção! (Sobre o testemunho da jornalista Miriam Leitão sobre a tortura)

*

Se ele não é essa bola toda e se tem tanto tempo ainda pela frente, por que o escolheram? (Sobre a escolha de Dunga para treinar a seleção, depois da Copa; eu não soube responder)

*

Um vigia caiu moribundo na porta de um hospital da zona leste daqui, ficou gemendo e clamando por socorro por mais de uma hora e ninguém o atendeu porque não tinha plano de saúde. Ele morreu.

*

Te mandei um texto elogiando o Rei Lear do Juca? Saiu na ilustrada ontem! Dá um jeito de ir ver! E uma obra de gênio!

*

Não tiro o sorriso do caminho porque não tenho sorrido.

*

Amigo, juro que vou parar de te encher com minhas perguntas leigas. Mais essa: dizem sites e blogs que os 2 times estão se lixando para o terceiro lugar, estão tão entediados, mas o Brasil não devia estar contente com a chance de, como disse o locutor da Globo, recuperar um pouco a dignidade? Se o Felipão queria fazer valer a tese do apagão, não seria essa a chance, já que a Holanda é um timão? E por que não treinar direito os meninos, se ninguém tem moral ali pra deitar em berço esplêndido? As horas disparatadas são porque a químio provoca muito xixi e acordo muito por isso! (Mensagem enviada de madrugada, antes da disputa entre Brasil e Holanda pelo terceiro lugar na Copa)

*

Já não tenho time brasileiro nem paulista, continuarei não tendo. Estou muito puta com a mistificação toda, me sentindo ridícula, devia ter continuado na filosofia antiga: foda-se copa, foda-se rojão que enche o saco. Vuvuzela, neymares e cristianos milionários, fodam-se equipes e times, vão vender ingresso superfaturado  pra putaqueospariu, seus escrotos, enfiem esses estádios no cu, que se interditem todas as ''obras'' de infra-estrutura pra que não caia mais nenhum viaduto em cima de ninguém! Eu quero ver essas chuteiras penduradas em praça pública tomando cuspe do povo.

*

A cabeça das pessoas, em regime de MANADA, é capaz de demências quase irreais.

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Hoje vai ser foda, tô com um mau presságio, o dia amanheceu chorando e de mau humor.

*

É cada filhadaputaaa! (Quando colombianos acusaram injustamente Neymar de fingir lesão na Copa)

*

Uma das mais gratas emoções que senti foi ver essa imagem do David Luiz e do menino colombiano sem camisa se abraçando. Estou chorando.

*

O futebol está me dando lições: essa virada da Holanda entra num registro muito pessoal: quando, junho do ano passado, descobri que tinha uma recidiva de câncer _só que desta vez inoperável, embora seja, sem modéstia, uma pessoa emocionalmente forte, me abati, vi o beco. Então pensei: e se o Drauzio estiver sendo exato? E se a perspectiva de cura não for só uma esperança gentil? De todo modo, vou botar fé na químio. Não me restava alternativa a não ser acreditar. Fui vencendo todas as etapas da minha copa pessoal e dois meses atrás o último PET SCAN atestou que os tumores regrediram cerca de 80 por cento. A químio passou a quinzenal, estou cheia de energia, fazendo minha própria comida, escrevendo, lendo muitooo, estudando história do Brasil, curtindo os amigos, os colegas de ofício, a família e sobretudo o Antônio, meu netinho E então penso que só quando o árbitro diz é que acabou. Até o último minuto do segundo tempo dá tempo de ganhar.

*

E que lindo o que o Casagrande falou sobre o povo brasileiro merecer esse momento de alegria. Ele falou da ditadura, falou de história, interessante esse Casa.

*

Lugar de demônio é no inferno, mas no inferno terreno! (Sobre o torturador e assassino Paulo Malhães, que morreu sem ter sido punido por seus crimes na ditadura)

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Convocação confirma Brasil favorito ao ouro olímpico no futebol masculino
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Mário Magalhães

Rogério Micale, o técnico olímpico – Foto Rafael Ribeiro/CBF

 

Que favoritismo não ganha jogo é mais sabido que as tramoias do Eduardo Cunha.

E um pouco mais de sensatez não recomenda, depois de tantas bordoadas, apostar na seleção.

Ainda mais se tratando de competição, como o futebol masculino olímpico, em que sempre perdemos.

Mas a vida sensata demais convida ao tédio e carece de graça.

Isso mesmo, a impressão é inescapável: o Brasil é favorito ao ouro nos Jogos do Rio.

A convocação de ontem do técnico Rogério Micale confirmou.

O time tem potencial, em especial no ataque. Neymar e Douglas Costa, titulares do escrete principal, têm lugar garantido, salvo contratempo. Se jogarem três atacantes, Gabigol e Gabriel Jesus parecem ter mais chances na disputa para entrar. Têm estilos diferentes, oferecem opções.

Ignoro o meio-de-campo preferido do treinador. Rodrigo Dourado no centro e Rafinha e Fred pelos lados formariam um trio de encher os olhos.

Marquinhos na zaga é luxo. Idem o coroa Fernando Prass no gol.

Em tese, somos mais fracos _ou menos fortes_ nas laterais.

O favoritismo é reforçado pela ausência de estrelas dos visitantes, que, sem os craques, tornam-se menos competitivos.

E a despeito de Micale não contar com todos os escolhidos, pois alguns foram barrados por seus clubes.

A medalha de bronze do timaço brasileiro de 1996 foi digna, mas frustrante.

Serve de alerta.

Agora, a seleção tem tudo para, enfim, chegar lá.

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Com cerco a Fernando Cavendish, velho ditado faz o poder tremer no Rio
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Mário Magalhães

Fernando Cavendish, da Delta – Foto Eduardo Knapp/Folhapress

 

A Polícia Federal prendeu nesta manhã o empresário e bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Há ordem de prisão contra o empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta.

A construtora tornou-se nos últimos anos, aqui no Estado do Rio, símbolo da promiscuidade entre interesses privados e poder público.

Cavendish tocou obras milionárias durante a administração do governador Sérgio Cabral.

Ao menos uma, bilionária: integrou o consórcio da reconstrução do Maracanã, ao pornográfico custo de R$ 1,2 bilhão.

Executivos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, parceiros da Delta na obra no estádio que virou arena, disseram que Cabral cobrou 5% de propina.

Cavendish nunca contou o que viveu e sabe.

Na Operação Saqueador, a PF investiga lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos.

Por conta do velho ditado, o poder treme no Rio, sobretudo no PMDB, mas também em outros partidos.

Que ditado?

Aquele que diz que quem tem… tem medo.

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Na Alemanha e na Argentina, nunca é tarde para fazer justiça. E no Brasil?
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Mário Magalhães

Reinhold Hanning as an SS soldier and now

Reinhold Hanning, dos tempos da SS a réu – Foto reprodução BBC

 

Qual o sentido de levar ao tribunal um ancião de 94 anos, sentado numa cadeira de rodas, e julgá-lo por crimes cometidos há mais de sete décadas?

Mais ainda, de condená-lo a cinco anos de prisão, apesar do direito de permanecer em liberdade enquanto tramita sua apelação?

O alemão Reinhold Hanning integrou a juventude nazista, militou como voluntário na SS, a tropa de choque hitlerista, e serviu como guarda em Auschwitz.

Permaneceu de janeiro de 1942 a setembro de 1943 no campo de extermínio estabelecido na Polônia.

Foi submetido ao banco dos réus por acusação de cumplicidade na morte de ao menos 170 mil seres humanos, na maioria judeus.

O veterano nazista alegou inocência, mas pediu desculpas por ter pertencido a uma organização criminosa.

Da mesma idade dele, Leon Schwarzbaum, sobrevivente de Auschwitz, respondeu: ''Eu perdi 35 parentes. Como você pode se desculpar por isso?''

Qual o sentido de punir um homem no outono da vida?

Um sentido generoso, justo e escrupuloso: além de honrar as vítimas do passado, desincentivar novos holocaustos.

A punição de Hanning acena às futuras gerações: não repitam as de outrora, porque a impunidade não vingará.

Violações graves de direitos humanos são imprescritíveis.

Leniência com o horror estimula sua permanência e reedição.

A Alemanha, o velho palco da selvageria, acaba de dar exemplo ao julgar o cúmplice da barbárie.

Bem como a Argentina, onde foram condenados participantes da Operação Condor, o consórcio de ditaduras sul-americanas que nos anos 1970 e 1980 perseguiu, torturou, matou e sumiu com opositores políticos, mesmo além de suas fronteiras.

O general Reynaldo Bignone, 88, foi o último presidente da ditadura que vigorou na Argentina de 1976 a 1983.

Em 2011, já havia sido condenado a prisão perpétua por crimes contra a humanidade.

Agora é novamente declarado culpado. Desta vez, pelo desaparecimento de mais de cem cidadãos em ações da Operação Condor.

A pena de 20 anos não vale um só dia a mais de cana, mas contém valor simbólico vigoroso, o de recusar a impunidade.

Dos 18 militares denunciados, 17 receberam penas de oito a 25 anos de prisão.

Entre eles um estrangeiro, o coronel uruguaio Manuel Cordero, 77.

Enquanto Alemanha e Argentina semeiam o porvir escrutinando o passado, o Brasil eterniza a impunidade dos agentes da ditadura (1964-1985).

Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel do Exército Brasileiro, morreu no ano passado aos 82 anos sem ter sido punido por seus crimes imprescritíveis, embora a Justiça o tenha qualificado formalmente como torturador.

De 1970 a 1974, o torturador Ustra chefiou o maior campo de concentração urbano da ditadura, o Destacamento de Operações de Informações do II Exército.

Lá, em São Paulo, o coronel comandou tortura, assassinatos e desaparecimentos de militantes de esquerda.

Nem as leis da ditadura autorizavam tais crimes.

Há muitos sócios de Ustra no aparato de extermínio que estão vivos.

Deveriam ser julgados como o alemão Reinhold Hanning e o argentino Reynaldo Bignone.

Os dois estrangeiros eram agentes do Estado.

Barbarizaram na condição de funcionários públicos.

Ustra, também.

A impunidade é um convite a tudo de novo outra vez.

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Seleção brasileira tem elenco para brilhar como Chile e Argentina
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Mário Magalhães

Neymar, o condutor do Brasil para a volta por cima – Foto Fabrice Coffrini/AFP

 

Tudo bem que o técnico do México deu de inventar de novo, transformando vitalidade em anemia, mas foram inegáveis os méritos da implacável seleção do Chile no chocolate de 7 a 0 pela Copa América.

É claro como o céu californiano que a equipe dos Estados Unidos se enfraqueceu. Porém sua incapacidade de finalizar ao menos uma vez na semifinal decorreu também do eficiente sistema defensivo da Argentina, que no ataque emplacou quatro gols.

Com o estilo de jogo desenhado por Sampaoli e na essência mantido por Pizzi, o Chile campeão é mais time que a soma dos jogadores. Bem treinado, corrente azeitada. Como diziam no tempo em que se falava em tempo do onça, joga por música. Não que careça de talento, como comprovam Vidal, um dos três ou quatro melhores volantes do mundo, Sánchez, atacante de prestígio na Europa, e Bravo, titular do Barcelona no campeonato espanhol. Há outras feras, como Jara, partidaço anteontem, e Díaz, volante de responsa. Até do Medel eu sou fã.

Ainda assim, o coletivo é melhor do que sugere a escalação. Muitos chilenos não defendem clubes europeus de ponta.

Na Argentina, ocorre o oposto. No papel, desprezando o futuro sem alguns deles, Messi, Mascherano, Di María e companhia formam um timaço mais forte que o das três finais mais recentes da Copa América e da Copa do Mundo. Nas duas decisões contra os chilenos, Tata Martino armou um escrete que em muitos momentos foi dominado. Mesmo contando com grupo mais qualificado.

Com suas diferenças, duas seleções admiráveis. Pelo menos até outro dia os argentinos encabeçavam o ranking da Fifa, no qual o Chile ostentava a honrosa quinta posição.

E nós com isso?

Ao contrário do que indicam os malogros recentes, o Brasil tem jogadores bons, muito bons, ótimos e excelentes para dar a volta por cima.

Faltava-nos técnico. Com a queda de Dunga e a ascensão de Tite, não falta mais.

Nossa cartolagem oscila entre a cretinice e o desvio, mas nisso não contrastamos com os adversários sul-americanos e de bandas mais distantes.

Vejamos, então, o que um burocrata corporativo chamaria de recursos humanos.

Nem chilenos nem argentinos podem escalar na defesa tanta gente boa. Na lateral-direita, Daniel Alves é um dos melhores. Na esquerda, Marcelo e Filipe Luís são elite. Montar a zaga com titulares do PSG e da Inter de Milão não é para qualquer um _Thiago Silva e Miranda estão à disposição. Não temos goleiro à altura de Bravo, mas os brasileiros ficam no nível de Romero. Alisson, Jefferson, Grohe, Victor, Prass, Ederson, Diego Alves _são numerosos.

Um ataque com Neymar, Douglas Costa e Willian é de dar inveja. Se Tite quiser, pode recuar o boleiro do Chelsea e abrir ou não nova vaga de atacante.

O meio-campo é o nosso setor mais frágil, rompendo a tradição de craques. Não temos um volante como Vidal ou Mascherano, mas Casemiro evoluiu, como assistimos na Champions deste ano, pelo Real Madrid. Lucas Lima, Philippe Coutinho, Renato Augusto, Elias e outros são bons ou muito bons.

A despeito dos meias não tão bons quanto os defensores e atacantes, podemos lançar uma seleção competitiva. Nosso elenco é melhor que o do Chile.

O desafio, portanto, é sobretudo coletivo.

Sem desprezar a obviedade do caráter decisivo dos desempenhos individuais. Neymar, o dom Sebastião do futebol nacional, precisa amadurecer para conduzir a nossa volta por cima.

Tite é o cara certo no momento certo.

Logo melhoraremos, e um pouco mais tarde também poderemos dar shows como os de chilenos e argentinos.

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