Blog do Mario Magalhaes

A profissão de fé de Geneton Moraes Neto
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Mário Magalhães

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Dedicatórias do livro ''Dossiê Brasil'', de Geneton Moraes Neto

 

Foi-se, aos 60 anos, o jornalista Geneton Moraes Neto.

Geneton era caçador, colecionador e contador de histórias.

Em suma, repórter.

Em 1997, ele lançou pela Objetiva o livro ''Dossiê Brasil: As histórias por trás da História recente do país''.

A dedicatória, dupla, foi original.

No padrão tradicional, o autor ofereceu a obra a feras do ''Pasquim'' que despertaram sua paixão pelo jornalismo.

Em formato inovador, espinafrou ''os burocratas de redação que passam a vida destroçando textos ou, simplesmente, jogando no lixo as notícias apuradas pelos repórteres''.

Assim, Geneton renovou sua profissão de fé na reportagem, o gênero jornalístico mais nobre.

A epígrafe do livro, da pena de Belchior, era, ainda é, de arrepiar: ''Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração''.

Valeu, Geneton!

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Pugilista dos EUA perde final, tem crise de choro e comove pavilhão do boxe
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Mário Magalhães

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As fotos borradas e fora de foco não dão conta do drama na penúltima sessão do boxe na Olimpíada do Rio.

O norte-americano Shakur Stevenson teve no sábado uma crise de choro depois de perder por pontos a final do peso galo, até 56 quilos.

Ficou com a medalha de prata. A de ouro, com o cubano Robeisy Ramírez.

O norte-americano de 19 anos acumulava títulos mundiais em categorias de jovens e uma invencibilidade internacional de 23 combates.

A imensa maioria da torcida apoiou Ramírez, 22.

Em Londres-2012, o lutador de Cuba conquistara o título olímpico no peso mosca.

Os dois fizeram três rounds espetaculares.

O resultado, em decisão dividida, pareceu justo.

O desapontamento de Stevenson comoveu o pavilhão do boxe.

O pugilista acabou ovacionado pelo público.

Mais tarde, o garoto disse que pretende abandonar as disputas olímpicas e se restringir ao boxe profissional.

Pior para os Jogos Olímpicos.

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Num sábado eterno, seleção conquista ouro e semeia futuro no Maracanã
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Mário Magalhães

REUTERS/Murad Sezer

Neymar, à moda de Bolt – Foto Murad Sezer/Reuters

 

Tinha que ser num sábado.

Por quê?

Porque hoje é sábado, e o Vinicius sabia que aos sábados ''há um renovar-se de esperanças''.

O mascote dos Jogos do Rio é xará do poetinha.

Tinha que ser no Maracanã.

Porque o Maracanã foi, em 1950, o palco da tragédia suprema do futebol brasileiro _o 7 a 1 do Mineirão constituiu o maior vexame.

Maracanã em cujas cercanias cresceu Renato Augusto, o maestro da seleção campeã.

O primeiro título olímpico não suaviza fiascos recentes em Copa do Mundo e Copa América.

Mas a conquista inédita não é uma façanha menor na história.

Tremendos jogadores não chegaram lá. Em 1996, assisti nos Estados Unidos a uma geração fabulosa se frustrar com o bronze.

Craques como Aldair, Roberto Carlos, Rivaldo, Bebeto, Ronaldo Fenômeno, Juninho Paulista.

O técnico era o grande, imortal Zagallo, que outro dia carregou a tocha.

Tinha que ser sofrido.

Porque o nosso futebol não anda lá essas coisas.

A equipe do técnico Rogério Micale esteve longe de ser espetacular na decisão.

Mas sobrou valentia, como a da guerreira Marta, que testemunhou o épico no estádio.

No empate em 1 a 1 com a Alemanha, o time levou o primeiro gol na competição.

E duas bolas no travessão.

Abriu o placar com Neymar, em falta sofrida por ele.

Diante de Usain Bolt, o camisa 10 comemorou imitando a pose do raio.

Meyer empatou.

Esse não era um timaço alemão.

E daí?

Estava escrito, desde antes de o futebol desembarcar nessas terras, que seria assim.

Weverton defendeu a quinta cobrança alemã nos pênaltis.

E Neymar converteu.

Neymar não é problema, e sim solução.

O escrete olímpico semeia o futuro da seleção principal.

Que o digam Neymar, Marquinhos, Gabriel Jesus, Gabigol, Renato Augusto, Luan e outros.

Tinha que ser no sábado.

Tinha que ser no Maracanã.

Tinha que ser em 2016, o ano do recomeço.

As lágrimas de Neymar, Micale e dos brasileiros regam a semente de um porvir de sucesso.

A medalha de ouro não elimina o 7 a 1.

Mas anuncia um tempo de 7 a 1 nunca mais.

O Maracanã avisou ao mundo: o campeão voltou.

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Seleção feminina, que encantou nos Jogos, termina como a masculina começou
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Mário Magalhães

Paulo Whitaker/Reuters

Gol do Canadá no 1º tempo – Foto Paulo Whitaker/Reuters

 

Nas duas primeiras partidas da Olimpíada, a seleção feminina de futebol emplacou 3 a 0 na China e 5 a 1 na Suécia.

Não anotou nenhum gol contra a África do Sul, a Austrália e a Suécia.

Hoje fez um no Canadá, no belo estádio do Corinthians, mas perdeu por 2 a 1 na disputa do bronze.

Nossas bravas jogadoras partem dos Jogos sem medalhas.

É possível dizer que nos três jogos anteriores o time encontrou antagonistas fechadinhos, impressionados com os oito gols.

As canadenses, ao contrário, ousaram e se deram bem.

Marcaram um com Rose, em contra-ataque, e outro com Sinclair, aproveitando erro na saída de bola.

O Carrossel Tropical de movimentação intensa do começo da competição emperrou.

Transformou-se numa equipe estática e previsível, apesar do admirável espírito de luta.

Em contraste com a seleção masculina, a feminina foi piorando.

O fim do sonho pelo ouro, nos pênaltis da semifinal com as suecas, abateu-a. As cabeças foram para o espaço.

O Canadá acertou duas bolas na trave. Deu um banho no primeiro tempo. O Brasil cresceu após o intervalo.

A seleção de Marta, Formiga e companhia lutou até o fim. Beatriz diminuiu, mas não deu para virar.

Nenhum time, incluindo os de mulheres e os de homens, aliou tanto eficiência e arte quanto a seleção feminina nos dois primeiros jogos.

Só isso já vale a gratidão de quem ama o futebol.

Gracias!

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Desfecho do #Lochtegate é nova goleada sofrida pelo complexo de vira-lata
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Mário Magalhães

Um tremendo cara de pau – Foto Daniel Ochoa De Olza/AP

 

Como já assinalado, a cerimônia de abertura da Olimpíada do Rio representou uma derrota histórica para o complexo de vira-lata.

O mal diagnosticado por Nelson Rodrigues sofreu novo revés, com o desfecho do caso Ryan Lochte.

Ao contrário do que o nadador norte-americano e três colegas contaram, eles não foram assaltados.

Inventaram o assalto.

O Lochtegate deixa lições.

Mais uma vez, certo jornalismo deu a versões alheias o estatuto de fato.

Endossou o relato de Lochte antes de checá-lo.

Outro mico ou erro é o de quem, alegando a cascata dos nadadores, nega a extrema violência no Rio.

O drama não é a Olimpíada, mas o cotidiano.

O vira-latismo se manifestou naqueles que chancelaram, a fim de avacalhar o Rio e o Brasil, a lorota de Lochte.

''Vergonha sem fim'', escreveu um no Twitter, referindo-se aos Jogos.

''Ai que vergonha'', emendou uma tuiteira.

''Vergonha olímpica Brasil'', dardejou outro.

A vergonha é o sentimento de inferioridade.

É a convicção de que o Brasil nasceu para não dar certo.

Ao Rio, com suas injustiças e desigualdades, não faltam problemas.

Mas usar falso assalto para detonar a cidade já é demais.

Até agora, é um vexame o desempenho olímpico do complexo de vira-lata.

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Os primeiros efeitos da Sifo, a Síndrome de Iminência do Fim da Olimpíada
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Mário Magalhães

Cerimônia de abertura dos Jogos, no Maracanã – Foto Diego Padgurschi/Folhapress

 

Os batimentos do coração estão mais apressados.

O suor aumenta, e a causa não é somente o calor do Rio.

Talvez seja impressão, mas as mãos parecem tremer.

Já sei: surgem os primeiros sintomas da Sifo.

A Síndrome de Iminência do Fim da Olimpíada se manifesta de quatro em quatro anos.

Nunca tão severa como agora, com os Jogos em casa.

O melhor é resistir a ela e aproveitar até a cerimônia de encerramento no domingo.

Hoje é dia de ir às regatas decisivas da vela.

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No Maracanã solar, o reencontro com a esperança
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Mário Magalhães

O futuro da seleção deu as caras no Maracanã – Foto Leonhard Foeger/Reuters

 

Na saída do Maracanã, subindo a rampa rumo ao metrô, devotos de uma igreja distribuíam panfletos. Peguei um exemplar e li a pergunta:

''Há esperança para o ser humano?''

Enquanto matutava sobre a questão existencial, reparei no cartaz que um homem exibia, estimulando o apoio ao Brasil ''sempre'' e proclamando ''nunca'' para vaias ao adversário.

Tarde demais. No estádio que vaia até minuto de silêncio, conforme a tirada rodriguiana, os jogadores hondurenhos haviam sido apupados ao entrarem em campo para o aquecimento. Seu hino, contudo, foi ouvido em silêncio e aplaudido no fim da execução.

Matutei mais sobre o ser humano, e olhei para um camelô apregoando a bandeira do Brasil por R$ 10. Pensei: se tivéssemos perdido, não cobrariam mais de R$ 3, e o risco de encalhe seria grande. Lei da oferta e procura.

Antes de pegar o metrô, cujas catracas foram abertas sem exigência de pagamento, cheguei à conclusão sobre a esperança para o ser humano: pode ser que sim, pode ser que não, há controvérsia. Depende do dia. Isto é, nada concluí.

O chocolate de 6 a 0 da seleção brasileira sobre a hondurenha se descortinou pelo meio-dia e meia, quando o escrete dirigido por Rogério Micale batia bola, na preparação para a partida de uma da tarde.

Ao menos para quem acha que poucas coisas combinam tanto quanto o futebol e a música que o celebra.

Os DJs das arenas Rio 2016 andam inspirados. Na noite de anteontem, no Engenhão, os alto-falantes tocaram ''Singing In The Rain'' quando a chuvarada despencou. Clichê? Talvez. Mas um encanto.

Neymar e companhia aqueceram ao som de ''Fio Maravilha'', na voz de Jorge Ben.  E de ''É Uma Partida de Futebol'', do Skank.

Durante a semifinal, o público cantarolou ''Aquarela do Brasil'' e, no embalo da quarta-feira de inverno com pinta de verão, ''Cidade Maravilhosa''.

Uma tarde com a luz irradiada desde o gramado. A julgar por hoje, pertence ao passado longínquo a equipe que não conseguiu marcar um só gol na África do Sul e, valha-me, Deus, no Iraque.

O gol de Neymar com poucos segundos _14, fico sabendo em casa_ facilitou. Mas ele só saiu porque a seleção se determinou a sufocar a saída de bola oponente. De primeira, já deu certo.

O time todo jogou bem, mas é inegável que Neymar se sobressaiu. Um gênio caçado a pontapés.

Este blog reitera desde sempre o mantra: Neymar não é problema, é solução.

Outro prazer é assistir a Marquinhos, zagueiro clássico, que dificilmente perde no mano a mano e distribui passes redondos. Ele fez gol. Não é à toa que há anos o Barcelona sonha em arrancá-lo do PSG.

Para quem só tinha visto o time olímpico pela TV, observá-lo ao vivo permite entender melhor a armação básica. Depois dos quatro da linha de defesa, há três linhas de dois. Os volantes-meias Wallace e Renato Augusto, o maestro. Mais na frente, Gabriel Jesus aberto na esquerda e Gabigol na direita. Entre a primeira e a última linhas ficam Neymar pela esquerda e Luan pela direita, mais centralizados. Estes dois giram o tempo todo, alternando socorro aos de trás, armação para os da frente e infiltrações em direção ao gol.

Luan, muito bem, e Neymar são os maiores trunfos, pois imprevisíveis, para confundir a marcação.

Honduras não passa de um timeco, mas a seleção foi mesmo exuberante.

A torcida empurrou, no entanto não é a que acompanha futebol. Na primeira etapa, com o time com a bola de pé em pé, dando um show, duas sonoras vaias foram escutadas. É possível que os jogadores tenham pensado que eram os destinatários. Não eram. O público condenava quem preferia ver o jogo a participar da ''ola'' mais apropriada para peladas que aborrecem. Tudo bem, sai na urina.

Ainda grogue com o 7 a 1, os brasileiros gritaram ''Alemanha, pode esperar, a tua hora vai chegar!''.

Nem o placar de 14 a 2, em eventual final com os alemães, apagaria o 7 a 1. O futebol olímpico é importante, mas está distante da relevância da Copa do Mundo.

A seleção brilhava no sol covarde do começo da tarde, e eu lembrava que 20 anos atrás estava nem Athens, onde cobri nossa derrota na semi para a Nigéria, que neste momento enfrenta a Alemanha por um lugar na decisão de 2016. Em Atlanta-1996, acabamos com o bronze. Agora é hora do ouro.

Sobre o ser humano eu mantenho as dúvidas.

Para o futebol brasileiro, como o Maracanã solar evidenciou, eu sei que há esperança.

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Das filhas deste solo
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Mário Magalhães

Natacha Pisarenko - 16.ago.2016 / AP

Marta, no Maracanã – Foto Natasha Pisarenko/AP

 

A essa altura, os prontos-socorros de todo o país estão superlotados.

Porque não há exame de coração mais desgastante do que um jogo da nossa seleção feminina de futebol.

O Brasil acaba de ser eliminado nos pênaltis, pela Suécia, em pleno Maracanã.

O time dominou, acumulou muito mais chances, porém voltou a não marcar.

A equipe do técnico Vadão se ressentiu demais das ausências da lateral Fabiana e da atacante Cristiane, contundidas.

Cristiane entrou na prorrogação, com limitações físicas, e desperdiçou uma cobrança de penal.

Andressinha errou a outra.

Ambas foram defendidas pela goleira Lindahl.

Emperrou o Carrossel Tropical das goleadas de 3 a 0 sobre a China e 5 a 1 contra a mesma Suécia de hoje.

As jogadoras se mexeram pouco no ataque, tornando-se mais previsíveis.

A técnica Pia Sundhage montou uma retranca eficiente, um ferrolho de encher os olhos dos defensivistas mais fanáticos.

Em vez de tocar a bola, a seleção insistiu sem êxito em passes longos.

Não foi um Maracanazo.

Os brasileiros jamais se curaram do ressentimento estúpido com o escrete de 1950.

Esse time de mulheres que combinou arte e eficiência encantou.

Seduziu quem cultiva o futebol bem jogado.

Hoje deu Mourinho, e não Guardiola.

As filhas deste solo orgulharam o Brasil.

O futebol, de mulheres, homens e quem mais chegar, precisa de seleções que joguem assim.

Um dia, a bola deixará de bater na trave, e a seleção será campeã olímpica.

A seleção de Marta e companhia vai morar para sempre no coração de sua gente.

Até a próxima, a luta pelo bronze!

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Biografia Havelange: ‘Fico sem mijar, cagar, comer. O senhor vai morrer’
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Mário Magalhães

era havelange

 

Morreu, aos 100 anos, João Havelange.

Ele foi o meu primeiro biografado.

Em 1998, o então editor de Esportes da ''Folha'', Melchíades Filho, propôs um perfil do capo que se despedia do comando da Fifa.

Um dos jornalistas mais criativos que conheci, Melch decidiu que, em vez de vários textos, publicaríamos um só. Em doze páginas das grandes.

Uma ousadia editorial inusitada.

Foram quase 100 mil caracteres, incluindo os espaços. Concluí o trabalho já na França, às vésperas da Copa. Em São Paulo, o colega Ralph Machado caprichou na edição.

A minibiografia, vista de hoje, tem limitações.

Havia suspeitas, mas não provas, de muitas armações de Havelange.

Mas sua trajetória, o homem, o poder, o estilo, tudo isso está lá.

A ''Folha'' lembra hoje, na homepage, o caderno especial ''Era Havelange''.

A frase de estilo mafioso do título, pronunciada pelo chefão, consta da abertura da reportagem.

Para quem quiser ler na íntegra minha primeira biografia, basta clicar aqui.

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