Blog do Mario Magalhaes

Por que a liberação de saia para todos no Colégio Pedro II incomoda tantos
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Mário Magalhães

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Protesto em Lavras (MG) pelo direito de todos usarem saia na faculdade – Foto Thiago Henrique

 

O Colégio Pedro II aboliu a obrigação de uniforme por gênero.

Ficou assim: todos os alunos que quiserem podem usar saia, antes restrita às meninas.

A decisão da reitoria não caiu do céu. É resultado de mobilização civilizatória na tradicionalíssima instituição carioca, fundada em 1837.

Em 2014, uma aluna transgênera foi proibida de vestir saia, e a gurizada foi à luta ao seu lado.

O reitor Oscar Halac afirmou: ''A novidade é que não se determina o que é uniforme masculino e o que é uniforme feminino, apenas são descritas as opções de uniforme do Colégio Pedro II. Propositalmente, deixa-se a critério da identidade de gênero de cada um a escolha do uniforme que lhe couber. Estamos cumprindo a determinação de uma resolução vigente e procuramos de alguma maneira contribuir para que não haja sofrimento desnecessário entre aqueles que se colocam com uma identidade de gênero diferente daquela que a sociedade determina. Creio que a escola não deve estar desvinculada de seu tempo e momento histórico. A tradição não importa em anacronia, mas pode e deve significar nossa capacidade de evoluir e de inovar”.

A íntegra da portaria histórica pode ser lida clicando aqui. A norma considera ''a importância da manutenção da igualdade obtida através do uso do uniforme escolar; a identidade, a diversidade e a segurança do corpo discente; a importância histórica do Colégio Pedro II''.

O uniforme continuará todo certinho, como a paisagem carioca se habituou. A portaria é clara ao especificar as minúcias da vestimenta.

Termina a opressão contra quem prefere se vestir assim ou assado, por ser assim ou assado. É o século 21 dando as caras.

A novidade no CP2 incomoda alguns por ignorância: pensam que a saia se tornou obrigatória aos meninos. Pelo contrário: a mudança nada impõe, transfere a decisão, incentiva a autonomia, celebra e respeita a diferença. É direito, não dever.

Outros se contrariam porque mantêm convicções totalitárias, achando que o Estado deve determinar até a roupa _no fundo, decretar gênero e orientação sexual.

Muita gente ainda está com um pé no século 20 _o outro pé está no 19.

A turma do preconceito é grande.

Estabelecimento público federal, o Colégio Pedro II é velho, mas não velhaco. Sua história é marcada por grandes lutas pela democracia e pela tolerância.

Mais uma vez, dá um bom recado ao Brasil.

Podem escrever: seu exemplo frutificará país afora.

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No Maracanã, Gaby Amarantos maldisse as ‘pragas’ e os ‘homens de mal’
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Mário Magalhães

REUTERS/Sergio Moraes

A hora do adeus, ontem no Maracanã – Foto Sergio Moraes/Reuters

 

Acabou nosso Carnaval, ninguém ouve cantar canções.

Acabou a Paraolimpíada.

Como acabara a Olimpíada.

Acabaram os Jogos do Rio.

Na festança da cerimônia de encerramento, Gaby Amarantos deu o toque ontem no Maracanã.

Cantou ''As forças da natureza'', clássico de Paulo César Pinheiro e João Nogueira eternizado por Clara Nunes:

''As pragas e as ervas daninhas

As armas e os homens de mal

Vão desaparecer nas cinzas de um Carnaval''.

Mandou bem, Gaby.

Que venha logo esse Carnaval.

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Morre político que brigou em peça de Nelson e pediu impeachment de Getulio
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Mário Magalhães

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Wilson Leite Passos, em 2000, com o Municipal ao fundo – Foto Américo Vermelho/Folhapress

 

Há personagens da história que, embora coadjuvantes, às vezes a retratam com mais riqueza do que muitos protagonistas.

Wilson Leite Passos, que morreu aos 89 anos, era um deles.

Por uma eternidade, foi vereador no Rio, com breve passagem pela Câmara dos Deputados.

Dedicou a vida à pregação da eugenia, panaceia nazistoide destinada alegadamente à purificação da raça e ao dito aprimoramento genético.

Militante pioneiro da União Democrática Nacional, protocolou em 1954 o pedido de impeachment do presidente Getulio Vargas, como recordei aqui.

Em 1957, armou um salseiro na estreia da peça ''Perdoa-me por me Traíres'', de Nelson Rodrigues.

Guardava uma pistola alemã, presente de um oficial nazista, conforme me disse em 2000.

Encheu o peito ao falar da arma: ''Deve ter matado muito russo, muito comunista''.

Leite Passos morreu na sexta-feira, de câncer. O que será que a viúva fará com a pistola?

Abaixo, reproduzo uma croniqueta e uma reportagem que escrevi sobre ele.

Mais do que um perfil jornalístico, Wilson Leite Passos vale um livro, uma biografia.

*

A pistola do nazista

A cidade do Rio tem novo vereador, o incansável octogenário Wilson Leite Passos. O suplente assume o oitavo mandato, na vaga de um colega eleito para a Assembleia.

Dos poucos políticos da ativa com atuação inaugurada na ditadura do Estado Novo (1937-1945), da qual foi opositor, ajudou a fundar a UDN. Acompanhá-lo no presente é como viajar no túnel do tempo.

No ano passado, na campanha malsucedida à Câmara Federal, o ex-udenista manteve pelo PFL o slogan, inescrutável para o eleitorado, ''o candidato do brigadeiro''.

Ao contrário do que poderia pensar um vestibulando cujas respostas errantes viram piada na internet, não alardeava o apoio ao comércio de doces. Era isso mesmo: ufanava-se de ser o favorito do falecido brigadeiro Eduardo Gomes, herói do levante tenentista de 1922 e o derrotado mais notável das disputas presidenciais de 1945 e 1950.

Ainda hoje Passos prega a eugenia, a ideia de purificação racial que conheceu certa influência no Brasil na década de 1930 e tem evidente parentesco com o nazismo.

De volta à cena, promete combater a ''degradação moral''. Foi o que fez à sua maneira, já vereador, há meio século. Ao fim de ''Perdoa-me por me Traíres'', no Teatro Municipal, sacou a pistola Walther 7.65. O motivo era defender a honra das ''famílias ofendidas'' pela peça de Nelson Rodrigues. Diz que não chegou a atirar. Há controvérsia.

Alguns anos atrás, segredou que guardava a arma em casa, bem azeitada. Orgulhou-se: ''Como pertenceu a um oficial alemão da Segunda Guerra, deve ter matado muito russo, muito comunista''. Parlamentar conservador e de rara aplicação, não há de ter desleixado _aposto que a Walther continua em forma para novas e peculiares batalhas.

(''Folha de S. Paulo'', 12.fev.2007)

*

O anti-Nelson Rodrigues

Delirante, o tio Raul interpretado por Nelson Rodrigues diz para a sobrinha Glorinha, confundindo-a com Judite, a cunhada envenenada por ele: ''Mas nem teu marido, nem teus amantes, ninguém te beijou na hora em que morrias. Só eu''.

Um minuto depois, quando as cortinas se cerraram em 19 de junho de 1957, ao fim do terceiro e último ato da estreia de ''Perdoa-me por me Traíres'', aplausos e vaias, ovações e urros dividiram o Teatro Municipal do Rio.

Era a nona peça escrita pelo já consagrado Nelson e a primeira em que ele expunha a assumida carência de vocação para ator.

No balcão nobre, segundo andar à esquerda de quem assistia ao espetáculo, o vereador da conservadora UDN (União Democrática Nacional) Wilson Leite Passos gritava: ''É um absurdo ceder o Teatro Municipal para um espetáculo com cenas que ofendem o decoro, a boa linguagem''. Na confusão, revelou-se a pistola Walther, modelo PP, calibre 7.65 que o parlamentar carregava à cintura. A arma era presente de um oficial nazista que lutara na Segunda Guerra.

Um espectador extasiado foi atingido por um soco de Leite Passos, voou sobre três cadeiras e, sempre conforme o vereador, desesperou-se: ''Ele vai atirar!''.

Às vésperas do 20º aniversário da morte de Nelson Falcão Rodrigues, o maior dramaturgo brasileiro, e 43 anos depois do quiproquó do Municipal, Leite Passos, 74, diz à ''Folha'': ''Talvez hoje, na TV, o Nelson fosse considerado uma noviça, e não uma noviça rebelde. Comparando com o que aparece hoje, com o maior despudor e descaramento, Nelson era uma freirinha''.

Nascido em Recife, em 1912, e criado no Rio, Nelson morreu em 21 de dezembro de 1980, aos 68.

Celebrizado como um ''anti-Nelson'' por causa do entrevero que protagonizou em 1957, registrado em três páginas de ''O Anjo Pornográfico'' (Cia. das Letras, 1992), biografia do dramaturgo de autoria de Ruy Castro, o ainda vereador (PPB) _não-reeleito para o sétimo mandato não-consecutivo_ Wilson Leite Passos nem cogita assistir às novas montagens.

Da lavra rodriguiana, tudo o que viu sobre o palco foram alguns minutos do ato final de ''Perdoa-me por me Traíres''. ''Foi o suficiente, a pitada foi forte'', diz Leite Passos.

''No teatro dele não me agradam o estilo e a temática, que ajuda a degradação da sociedade e dissemina práticas que nada acrescentam. Sou conservador.''

O hoje vereador em fim de mandato começou a frequentar óperas (é fã de Richard Wagner), concertos (foi um dos primeiros sócios da Orquestra Sinfônica Brasileira) e peças (admira Arthur de Azevedo) no Municipal em 1943, ano da estreia, no mesmo teatro, de ''Vestido de Noiva'', segunda das 17 peças de Nelson.

Sempre quis distância do que sugerisse pornografia, desejos, taras, mergulhos em certos compartimentos incertos da alma humana. Para ele, isso significava distância de Nelson Rodrigues.

''Eu era muito mais rigoroso do que hoje, mais intransigente'', relembra. Naquele dia de 1957, passava pela calçada do Municipal quando dezenas de pessoas se retiravam, chocadas com ''Perdoa-me por me Traíres''.

Leite Passos entrou, foi para o balcão nobre, acabou imprensado no parapeito ''por um cidadão'', reagiu, deu um soco e deixou ver a pistola alemã.

''Nem peguei nela'', afirma. ''Mas começou uma confusão, inclusive no palco. O Nelson, muito inteligente, espalhou que eu tinha dado um tiro. Incluiu isso nas memórias dele. Eu me divertia muito com isso.''

Até hoje o vereador nega ter sacado a arma. ''O meu velho dizia que ele puxou o revólver'', diz o jornalista Nelson Rodrigues, filho, 55, segundo filho de Nelson com Elza Bretanha Rodrigues. ''O velho gozava a situação, diminuindo a importância de sacar o revólver, dizendo que ele (Leite Passos) queria fuzilar o texto. Como dizia que as senhoras grã-finas cavalgavam nas costas das cadeiras, urravam. Mas nunca disse que houve tiro.''

O ''anti-Nelson'' não fala com rancor do antípoda estético: ''Era uma questão de gosto pessoal. Nelson morava perto de mim, no Leme (zona sul carioca). Tantas vezes passou por mim, nos cumprimentamos''.

O vereador não forma exclusivamente a trincheira dos críticos. Reconhece em Nelson ''alta inteligência, estilo brilhante e grande criatividade''. ''Tirando a dramaturgia, tinha grande admiração por ele. Li suas memórias. As crônicas eram inteligentes e oportunas.'' A raiz dessa concessão é política. ''Nelson defendia teses de ordem política e ideológica com as quais eu concordava. Era anticomunista, e eu sempre fui anticomunista.''

Nos anos 50, Leite Passos andava armado porque temia ataques de esquerdistas. A pistola Walther hoje está em casa, azeitada, pronta para ser usada, se necessário. Com um sorriso, o vereador especula: ''Como pertenceu a um oficial alemão da Segunda Guerra, a arma deve ter matado muito russo, muito comunista''.

(''Folha de S. Paulo'', 1.dez.2000)

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Indio da Costa: candidato a prefeito do Rio já quis multar quem dá esmola
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Mário Magalhães

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Indio da Costa, no estilo Steve Jobs – Gustavo Serebrenick/Brazil Photo Press / Ag. O Globo

 

A maior surpresa até agora da acirrada campanha eleitoral para prefeito do Rio é o desempenho do candidato Indio da Costa (PSD).

Na pesquisa Ibope da semana passada, ele apareceu no segundo lugar, em empate técnico com quatro concorrentes.

Indio marcou 7%, contra 9% de Marcelo Freixo (PSOL) e Pedro Paulo (PMDB) e 8% de Flávio Bolsonaro (PSC) e Jandira Feghali (PC do B).

Tinha 5% no levantamento anterior _desconsiderando a margem de erro, cresceu 40%.

Marcello Crivella (PRB), com 31% do total, é tido como certo no mata-mata derradeiro.

O ascenso de Indio entre os eleitores mais jovens, de 16 a 24 anos, é seu principal combustível. Nessa faixa de idade, ele alcançou 11%. Numericamente, só perde para Crivella (32%) e Freixo (12%).

Indio tem o terceiro maior tempo na TV, atrás de Pedro Paulo e Jandira. Mas não é só isso que explica sua performance.

Numa campanha muito politizada, com alguns candidatos nacionalizando o debate, e às vezes se fortalecendo por agir assim, o discurso do postulante do PSD foca em gestão municipal.

Ele se apresenta como político e administrador experiente, com 25 anos de tarimba.

O deputado federal não veste terno e gravata nos debates, mas camisa preta no estilo Steve Jobs. Alardeia um projeto para formar jovens em cursos de programação de computadores e criação de aplicativos.

Como sua candidatura não era identificada como ameaçadora, os adversários o pouparam, o que o ajudou.

Apenas Crivella lhe deu estocadas, mas quando atacado.

Num debate, Indio ironizou um programa de construção de casas de Crivella sugerindo que o senador bate sempre na mesma tecla.

Crivella respondeu que Indio não se importa com habitação popular porque mora na Vieira Souto (avenida em frente ao mar de Ipanema, o metro quadrado mais caro do país).

Noutra fustigada de Indio, Crivella galhofou da camisa preta. Falou de Steve Jobs, o gênio da Apple, e disse ser apropriada, porque Indio '''steve' no governo [Sérgio] Cabral, 'steve' no governo [Eduardo] Paes, 'steve' no governo [Luiz Fernando] Pezão''.

Ele foi mesmo secretário estadual e secretário municipal. Porém muita gente não se lembra disso.

Nem que concorreu a vice-presidente em 2010, na chapa de José Serra.

A trajetória de Antônio Pedro Indio Da Costa, 45, mostra um político de direita ou centro-direita.

Em 1997, no primeiro mandato como vereador no Rio, apresentou um projeto de lei proibindo pedir e dar esmolas a pedintes.

Ao pé da letra, o projeto determinava: ''Fica proibido esmolar no município, para qualquer fim ou objeto''.

E castigava: ''Quem doar esmola pagará multa a ser definida''.

O projeto foi arquivado.

Se Indio continuar a subir nas pesquisas, esse e outros episódios serão exumados pelos outros candidatos.

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Sabáticas: O dia em que eu quase matei a doutora Nise da Silveira
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Mário Magalhães

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A psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999), orgulho do Brasil – Foto divulgação

 

Apresentei-me, e do outro lado da linha veio a interjeição: “Ahnn?”

Repeti: “Meu nome é Mário Magalhães”.

“Ahnn?!?”, ouvi de novo.

Achei que a senhora de 82 anos não escutava direito e me esgoelei: “Mário Magalhães, repórter!”

E o silêncio sepulcral caiu entre nós.

Sepulcral ao pé da letra. Eu não sabia que a psiquiatra Nise da Silveira, minha interlocutora, era viúva do célebre sanitarista Mário Magalhães. O sobrenome português do médico tinha raiz alagoana. O meu, gaúcha. Éramos homônimos, não parentes. Fiquei com a impressão de que, feito assombração, quase matara Nise de susto.

Procurei-a para entrevistá-la sobre o filme Imagens do Inconsciente, que Leon Hirszman lançava em 1987. Nos três episódios, com três horas e 25 minutos ao todo, o texto era da lavra da médica. A lembrança mais marcante que ficou do documentário foram as cores em profusão, fulgurantes, urgentes.

O cineasta inventariou pinturas, esculturas e desenhos de autoria de doentes esquizofrênicos acompanhados por Nise no Hospital Psiquiátrico Pedro II, no bairro carioca do Engenho de Dentro. Avessa à maluquice da violência de tratamentos em voga no século XX, como lobotomia e choques elétricos, a doutora franzina transformou a seção de terapêutica ocupacional num ateliê de artes.

Por lá passaram Fernando, Adelina, Carlos, Emygdio, Raphael, muita gente. “O pintor é feito um livro que não tem fim”, filosofou Fernando Diniz, o único ainda vivo no lançamento do filme de Leon. O que na origem era psicoterapia revelou artistas plenos, aclamados pelo crítico Mário Pedrosa.

Nise cercava-se de gatos em seu apartamento, na rua Marquês de Abrantes, onde me recebeu no Rio. No Pedro II, ela incentivava a convivência dos internos com animais, sobretudo cachorros, que denominava coterapeutas. Seus desafios e batalhas a levaram a se corresponder com o mestre suíço Carl Gustav Jung.

A psiquiatra rebelde, seus artistas e os Mários Pedrosa e Magalhães voltaram, em Nise: O Coração da Loucura, de Roberto Berliner. O filme retrata o regresso da protagonista ao hospital, em 1944, depois de anos afastada em virtude de perseguição ideológica da ditadura do Estado Novo. Presa política em 1936 e 1937, ela se tornaria personagem de Memórias do Cárcere, obra-prima do escritor Graciliano Ramos, com quem esteve em cana.

Na pele de Glória Pires, Nise ressurge aguerrida e exuberante. Ela viveria até 1999. Sobre Leon Hirszman, a doutora me falou: “É uma pessoa inteligente, lúcida e tranquila”. O diretor morreu três meses mais tarde. Leon dizia que “o desespero da dificuldade já fez sair vários tipos de flor”. Como no Engenho de Dentro.

(MM, publicado originalmente na revista Azul Magazine, junho de 2016)

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Tudo é história: há 50 anos, Setembrada estudantil desafiava a ditadura
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Mário Magalhães

blog - setembrada

''Jornal do Brasil'', 16.set.1966 – Reprodução Hemeroteca Digital Brasileira

 

Breve passeio pela história: em setembro de 1966, milhares de estudantes universitários e secundaristas saíram às ruas em protesto contra a ditadura e sua política educacional.

Foram as primeiras grandes manifestações estudantis no regime parido pelo golpe de Estado de 1964. Constituíram a largada do que viriam a ser as mobilizações gigantescas de 1968.

O movimento de 1966 se tornou conhecido como Setembrada.

Está fazendo 50 anos.

A primeira página do ''Jornal do Brasil'' reproduzida acima é de 16 de setembro de 1966.

Conta que na véspera a polícia prendeu 126 manifestantes no Rio.

Neste meio século, outros setembros vieram, e com eles novas Setembradas.

Nunca é tarde para uma Setembrada.

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O vigor de Crivella, o vídeo que preocupa sua campanha e a força da TV
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Mário Magalhães

 

Antes da largada da campanha oficial para prefeito do Rio, havia uma percepção comum ao conjunto dos candidatos mais competitivos: num segundo turno, o adversário mais conveniente seria o senador Marcello Crivella (PRB).

A experiência de 2014 referendava a preferência: assim que o candidato Luiz Fernando Pezão (PMDB) exibiu na TV a propaganda reproduzida acima, liquidou as chances de Crivella, que se aproximava. O senador acabou perdendo pela diferença de 11,56 pontos.

O anúncio mostra um vídeo antigo, que muitos eleitores desconheciam ou haviam esquecido, do bispo Edir Macedo tratando de arrecadação de dinheiro para a Igreja Universal do Reino de Deus. Crivella é sobrinho de Macedo e bispo licenciado da Iurd. Sua histórica rejeição decorre sobretudo desse vínculo, fatal dois anos atrás.

Crivella perdeu para Pezão, apadrinhado do ex-governador Sérgio Cabral, o político do Rio que mais se desgastou nas Jornadas de Junho de 2013. Se o oponente fosse outro, a hipótese de derrota de Pezão seria maior.

As pesquisas de opinião vêm mostrando, porém, que 2016 não repetirá necessariamente 2014. Crivella aparece mais forte.

O Ibope foi a campo nesta semana e confirmou a pujança do senador. Identificou empate técnico entre cinco candidatos na segunda posição.

Abaixo, os concorrentes que pontuaram, com a variação em relação ao levantamento de agosto:

Marcello Crivella 31% (PRB, + 4 pontos)

Marcelo Freixo 9% (PSOL, – 3)

Pedro Paulo 9% (PMDB, + 3)

Flávio Bolsonaro 8% (PSC, -3)

Jandira Feghalli 8% (PC do B, + 2)

Índio da Costa 7% (PSD, + 2)

Carlos Osório 3% (PSDB, – 1)

Alessandro Molon 1% (Rede, – 1)

Cyro Garcia 1% (PSTU, variação zero)

*

Crivella vence em todos os cenários de segundo turno pesquisados.

Uma distinção de Crivella nesta campanha é o vigor já no primeiro turno. No pleito para governador, ele atropelou na reta final, deixando Anthony Garotinho fora do mata-mata derradeiro. Na disputa para prefeito, o PR de Garotinho integra a coligação de Crivella. Os dois são os políticos de maior votação entre eleitores evangélicos. Têm vasto apoio nos segmentos mais pobres da população.

Outro contraste são as dificuldades do candidato Pedro Paulo, indicado pelo prefeito Eduardo Paes. Embora associado a Cabral, Pezão mantém o jeito bonachão. A rejeição a ele, hoje governador licenciado, existe sobretudo devido à gestão e à política. Pouco tem de pessoal. Pedro Paulo tornou-se mais conhecido devido ao registro policial de agressão à ex-mulher, que resultou em inquérito arquivado pelo STF. Hoje, informa o Ibope, 36% dos cariocas não votariam em Pedro Paulo de jeito nenhum. O índice de Crivella é mais baixo, 24%. Ajuda-o o estilo de bom moço, que evita confrontos diretos e só sobe o tom quando é atacado.

Com perspectiva de poder mais verossímil que em 2014, recebe adesões como a de setores expressivos do PSB.

Contra Pedro Paulo, lembra que Pezão e seus correligionários quebraram o Estado.

Seu maior temor, com qualquer antagonista no segundo turno, é a trajetória de prócer da Igreja Universal lhe custar de novo a vitória. Por isso, dia sim, outro também, recorre ao que os marqueteiros chamam de vacina. Na propaganda eleitoral, divulga sua visita ao cardeal católico Dom Orani Tempesta.

Crivella conta neste ano com a vantagem de ter mais tempo de TV do que antes (1 minuto e 11 segundos), mesmo com a redução do horário gratuito.

Ao contrário do que alguns analistas supunham, a presença na televisão permanece muito importante.

Freixo e Bolsonaro oscilaram três pontos para baixo. O candidato do PSOL tem meros 11 segundos no horário eleitoral. O do PSC, 23 segundos.

Molon, 18 segundos.

Os quatro que subiram ou oscilaram para cima estão entre os cinco com mais tempo: Pedro Paulo (3 minutos e 30 segundos), Jandira (1 minuto e 27 segundos), Índio (1 minuto e 24 segundos) e Crivella.

Osório, 1 minuto e 16 segundos, destoa. O tucano tenta se vitaminar buscando politizar a campanha, nacionalizando-a, ao criticar os ex-presidentes Lula e Dilma e a coalização que os sustentou.

Parece inspirado na ascendente Jandira. A deputada concentra o discurso na condenação ao impeachment e enfatiza a condição de candidata de Dilma e Lula.

Faltam 17 dias para o primeiro turno.

A impressão inicial de que Crivella seria um dos dois primeiros colocados vai se confirmando.

A essa altura, chutar o nome do seu contendor em 30 de outubro é isso mesmo: chute.

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O melhor da segunda temporada de ‘Narcos’ é a solidão de Pablo Escobar
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Mário Magalhães

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Wagner Moura, na pele do facínora Pablo Escobar – Foto divulgação

 

Os dois personagens mais marcantes da carreira de Wagner Moura são o capitão/coronel Nascimento e o traficante de drogas Pablo Escobar.

Até hoje muita gente discute qual foi o melhor dos dois ótimos filmes de José Padilha, ''Tropa de Elite'' 1 ou 2.

Sou mais o primeiro, por muitos motivos, entre os quais o caráter complexo do capitão alucinado, em contraste com o coronel rasgadamente mocinho.

Agora há outra conversa nas rodas, e as preferências se dividem entre as duas temporadas de ''Narcos''.

Fico com a segunda, porque exibe o melhor da série da Netflix, em matéria de dramaturgia, direção e interpretação: a solidão progressiva do facínora Escobar quando sua ruína se aproxima.

Em seu momento supremo como ator, o brasileiro dá densidade ao personagem macambúzio e mau, sem se permitir caras e bocas (leia aqui comentário sobre a primeira temporada).

Uma obra televisiva em dez episódios, como esta em que José Padilha é diretor executivo, não deve se confundir com teses acadêmicas ou tratados históricos. É arte.

Ainda assim, ''Narcos'' 2 tem o mérito de mostrar bandalheiras também de outros contendores, como um cartel do tráfico concorrente, um bando paramilitar, agências dos Estados Unidos como DEA (antidrogas) e CIA, o governo colombiano. Sem matizar os crimes sangrentos de Pablo Escobar, como a explosão de bombas que matam, ferem e amedrontam inocentes.

Dessa vez, o acossado Escobar é o protagonista inequívoco. Na primeira temporada, em sua época de imenso poder, dividia a condição com um agente norte-americano.

Há liberdades em relação aos fatos originais. É óbvio, pois se trata de trama de ficção, e não de reportagem. Baseia-se em personagens e episódios reais, porém os recria com licenças dramatúrgicas.

Belo trabalho, valorizado por um grande ator.

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Água demais matou a planta: a melô do Cunha
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Mário Magalhães

 

No tempo da ditadura, o grande Aluísio Machado compôs ''Minha Filosofia'' e deu o toque.

A obra-prima ajuda a explicar a ruína de Eduardo Cunha e semeia esperança.

Alguns versos:

Vai passar

Esse meu mal-estar

Esse nó na garganta

Deixa estar

O próprio tempo dirá

Água demais mata a planta.

É isso aí: água demais matou a planta.

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Depois de aplaudir Cunha e defender torturador, Bolsonaro ficou em silêncio
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Mário Magalhães

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Em 17 de abril, Bolsonaro elogiou Cunha – Foto Alan Marques/Folhapress

 

Na degradante sessão da Câmara de 17 de abril, decisiva para o avanço do impeachment, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ)  aplaudiu Eduardo Cunha e celebrou a memória do torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Aclamado por seus aliados, o capitão do Exército discursou: ''Nesse dia de glória para o povo brasileiro, tem um nome que entrará para a história nessa data, pela forma como conduziu os trabalhos nessa Casa. Parabéns, presidente Eduardo Cunha!''

''Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra'', emendou Bolsonaro.

Ustra (1932-2015) comandou de 1970 a 1974 o Destacamento de Operações de Informações do II Exército, em São Paulo.

Aquela unidade foi o maior campo de concentração urbano da ditadura (1964-1985).

Lá torturavam, matavam, escondiam corpos. Tudo à margem da lei, até das leis da ditadura,

Na noite de 12 de setembro, Bolsonaro não discursou.

E votou pela cassação do mesmo Eduardo Cunha elogiado por ele em abril.

De lá para cá, mudou Cunha ou mudou Bolsonaro?

Provavelmente, nenhum dos dois.

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